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Capítulo 2

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Em que se estava a meter? Será que os seus neurónios tinham entrado em curto-circuito quando descobriu que Mike e Janey eram amantes? Aparentemente, sim. Caso contrário, por que se tinha prestado à insensatez de apresentar os seus amigos?

Tinha a sensação de que tinha saltado da frigideira para o fogo, e contemplava a cena como se não estivesse ali, como se não fosse real. Mas era: Kris tinha mudado tanto que já não parecia o ditador da praia.

Que se estava a passar? Por que se mostrava tão amável?

– É encantador – disse uma das suas amigas.

– Sim, suponho que não está mal – replicou ela.

Durante a meia hora seguinte, dedicou-se a observar o deus grego que tinha conhecido na praia. Tinha a certeza de que estava a tramar algo, mas o seu comportamento deitava por terra qualquer suspeita: tratava os homens com uma cordialidade sem condescendências, e não tentava namoriscar as mulheres, apesar de algumas serem bastante bonitas. Parecia um bom tipo; nada mais e nada menos que um bom tipo.

Estaria a tornar-se paranoica? Talvez, embora a sua experiência com Mike lhe tivesse ensinado que as aparências enganavam.

– Bom, podemos ficar na praia? Ou teremos de ir embora quando te fores embora? – perguntou-lhe a dado momento.

– Os teus amigos podem ficar, mas tu não.

– Estás louco? Eu não vou a lado nenhum. Fico com eles.

– Então, terão de sair todos.

Kimmie ficou atónita, e a sua surpresa aumentou quando ele fez um gesto para que o seguisse e disse:

– Anda, vem comigo.

Ela olhou para ele furiosa. Por quem a tomava? Pensaria que era uma cadelinha, feliz por poder seguir o seu dono?

– De modo algum – resmungou, cravando os pés na areia.

– Não queres vir comigo?

Para dizer a verdade, Kimmie ardia de desejo de ir com ele. Mas, se Mike a tinha traído sendo tão confiável como parecia ser, que faria aquela maravilha com corpo de gladiador, tatuagens nos braços e uma argola na orelha? Kris era a quintessência do perigo.

E vendo bem, não era isso de que precisava? Uma distração amorosa. Se funcionava com as suas amigas, funcionaria com ela.

– Pois é uma pena – continuou ele. – Pensava que quererias falar um pouco mais.

Ela ficou em silêncio. Estavam tão perto que podia sentir o seu calor, e imaginou-se abraçada ao seu moreno corpo.

– Oh, vamos, só te estou a pedir para darmos um passeio e conversarmos um pouco.

Kimmie lançou um olhar aos seus amigos. Tinham visto Kris, e iriam reconhecê-lo se tivessem algum problema com ele.

Além disso, que podia acontecer? Iam apenas conversar, e sentia-se perfeitamente capaz de controlar a situação.

Convencida de que não corria nenhum risco, aceitou o convite e seguiu-o. Momentos depois, Kris começou a subir por uma duna e, ao ver que ela ficava para trás, deteve-se e disse:

– Estou a ir demasiado depressa?

Kimmie olhou para ele e perguntou-se se Kris estaria consciente do caos hormonal que lhe estava a provocar. Mas, apesar do seu incómodo, disse-se que falar lhe faria bem. Tinha demasiadas coisas na cabeça, e precisava de desabafar de algum modo.

– Faz como a Xerazade – disse ele com um sorriso. – Conta-me histórias. Assim, poderás manter-me entretido e os teus amigos poderão estar mais tempo na praia.

– Se só se trata de falar…

– Claro.

Kimmie voltou a pensar que estava a cometer um erro, mas esqueceu os seus temores ao ver o sorriso do seu acompanhante. Depois, ele estendeu-lhe mão para ajudá-la a subir e ela aceitou.

Kimmie estava sem fôlego quando chegaram ao alto da duna. Ainda conseguia ver os seus amigos, mas perdeu-os de vista ao descer pela ladeira contrária.

– És uma mulher surpreendente. A maioria das noivas fechar-se-iam em casa e desatariam a chorar se o seu noivo as tivesse traído.

– Sim, mas não estou em minha casa. E tenho de cuidar dos meus convidados.

– Pois eu diria que conseguiste – replicou. – Para de te torturar.

– Quem disse que me estou a torturar?

– Eu.

Ela arqueou uma sobrancelha.

– Sou assim tão transparente?

– Receio que sim.

Kris levou-a a um lugar relativamente recolhido e convidou-a a sentar-se, o que fez. Depois, acomodou-se ao seu lado e disse:

– Vamos, abre-me o teu coração.

– Só vamos conversar – recordou-lhe ela, olhando para ele com desconfiança.

– Era esse o acordo.

Kris perguntou-se quem seria Kimmie Lancaster. Em princípio, não se parecia nada com as mulheres com que estava habituado a sair. Tinha todos os traços de uma ingénua sem experiência, como indicava o unicórnio que tinha tatuado no ombro. Mas comportava-se como se fosse capaz de enfrentar qualquer desgraça.

– Quero perguntar-te uma coisa.

– Só uma? – ironizou ele.

– Sim, só uma – respondeu. – Como é possível que possas estar neste lugar e nós não? O cartaz que assinalaste antes diz que é uma reserva natural, e que só se pode aceder com licença do proprietário.

– Uma permissão que tenho – disse Kris –, embora agora não a possa mostrar.

– Pois não me parece justo.

– Poderias mudar de assunto?

– Porquê?

– Porque esse começa a aborrecer-me.

Ele pôs-lhe uma mão no braço, e ela olhou para ele com uma mistura de horror e fascínio, como se tivesse medo de que ele a fosse beijar e, ao mesmo tempo, o estivesse a desejar.

Naturalmente, Kris reparou, e disse-se que o seu carácter romântico lhe podia ser de grande utilidade se no final fosse em frente com a ideia que acabava de ter. O seu tio ficaria petrificado se ele a apresentasse como sua noiva. Tinha-lhe ordenado que se casasse, mas tinha a certeza que ele não estaria a pensar numa mulher como Kimmie.

– Já está na altura de deixares os teus engates e procurares uma boa esposa – dissera-lhe Theo. – Precisamos de um herdeiro.

Seria Kimmie a solução dos seus problemas?

Depois de pensar por um momento, desistiu da ideia. Queria fazer feliz o homem que o tinha criado como se fosse seu filho, mas casar com Kimmie era uma extravagância. Afinal, acabavam de conhecer-se. E, por outro lado, suspeitava que uma mulher tão obstinada recusaria a sua proposta sem hesitar.

Kris não a beijou, e Kimmie sentiu-se estúpida por dois motivos: porque tinha a certeza de que a ia beijar e porque queria que a beijasse. Estaria destinada a ser vítima das circunstâncias? Ou reagiria em algum momento e recuperaria o controlo da sua vida?

– É melhor eu ir-me embora – disse, levantando-se do chão.

– Para onde?

– Para ao pé dos meus amigos.

– Mas se ainda nem começámos a falar…

– Talvez tenha mudado de opinião.

– Pois não devias.

Kris levantou-se e pôs-lhe as mãos nos ombros.

Durante uns segundos, Kimmie desejou render-se ao calor do seu contacto. Precisava de estar com alguém forte que ouvisse o que tinha a dizer e a ajudasse a manter o seu precário equilíbrio emocional. Além disso, afastar-se dos seus amigos era um alívio. Por muito que tentassem dissimular, era visível que sentiam pena dela. E não queria a pena de ninguém.

O seu plano para esquecer Mike tinha sido um desastre. Como poderia ter-lhe ocorrido que organizar uma festa e dançar como uma louca apagaria a imagem de o ter encontrado com Janey? Era uma ideia patética. Só tinha servido para que se sentisse pior.

– Sentes-te bem? – perguntou ele, franzindo o sobrolho.

Kimmie optou por ficar em silêncio, porque a sua pergunta tinha tantas respostas que não soube o que dizer. E, quando o olhou nos olhos, teve a sensação de que todos seus problemas desapareciam de repente.

– Tens medo do sexo, Kimmie? Foi por isso que o teu noivo te traiu?

Kimmie ficou tão desorientada que deu um passo atrás.

– Como te atreves a perguntar-me isso?

Ele encolheu os ombros.

– Não é para tanto.

– Claro que é. E não tens direito a perguntar nada.

Desta vez foi Kris que ficou calado.

– Será melhor eu ir-me embora – repetiu ela.

– Se é o que queres, vai. Mas também tens a possibilidade de falares comigo – disse. – Pensa bem. Não tenho pressa.

– Que queres que te conte?

– Não sei. Começa pela tua infância.

– Quem és tu, uma espécie de psicólogo?

– Não, mas sei que botões devo carregar – respondeu. – Anda, senta-te.

– Posso confiar em ti?

– O que tens a perder se confiares em mim?

– Suponho que nada.

– Então, comecemos outra vez.

– Está bem, mas antes quero fazer-te umas perguntas – disse ela, voltando a sentar-se.

– Força.

– És um pescador local?

Kris soltou uma gargalhada.

– És ou não és? – insistiu Kimmie.

– Sou o teu sultão, e tu és a Xerazade que me conta histórias para que os teus amigos possam estar mais tempo na praia.

– Deixa-te de tolices. Chateias-me com isso – declarou ela. – Além disso, não tenho muito tempo. Os meus amigos virão à minha procura a qualquer momento.

– Duvido. Sabem que estás comigo. E não quererás estragar-lhes a festa, não é?

– Não, claro que não – admitiu.

– Pois começa pelo princípio, pelo capítulo um da história de Kimmie Lancaster.

– Está bem…

– Falar é terapêutico, não achas?

Kimmie demorou um pouco a relaxar, mas descobriu que desabafar com um desconhecido era mais fácil do que com outra pessoa.

De facto, foi como curar uma ferida e, quanto mais falava, mais vontade tinha de falar.

Longe de deprimir-se ou afundar-se na tristeza, deu por si a rir enquanto lhe contava episódios da sua infância. E Kris ficou em silêncio e ouviu-a com atenção, completamente concentrado nela.

O mar dos teus sonhos

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