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A canção da cerejeira

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Disse Deus na primavera: «Ponham a mesa ás lagartas!» E a cereijeira cobriu-se immediatamente de folhas, milhões de folhas, fresquinhas e verdejantes.


A lagarta, que estava dormindo dentro de casa, acordou, espreguiçou-se, abriu a bocca, esfregou os olhos e poz-se a comer tranquillamente as folhinhas tenras, dizendo: «Não se póde a gente despegar d'ellas. Quem é que me arranjou este banquete?»


Então Deus disse de novo: «Ponham a mesa ás abelhas!» E a cereijeira cobriu-se immediatamente de flores, milhões de flores delicadas e brancas.


E a abelha matinal aos primeiros raios da aurora pousou sobre ellas, dizendo: «Vamos tomar o nosso café; e que chávenas tão bonitas em que o deitaram!»


Provou com a linguita, exclamando: «Que deliciosa bebida! Não pouparam o assucar!»


No verão disse Deus: «Ponham a mesa aos passarinhos!» E a cereijeira cobriu-se de mil fructos appetitosos e vermelhos.


«Ah! ah! exclamaram os passarinhos, foi em boa occasião; temos appetite, e isto dar-nos-ha novas forças para podermos cantar uma nova canção.» No outono disse Deus: «Levantae a mesa, já estão satisfeitos.» E o vento frio das montanhas começou a soprar, e fez estremecer a arvore.


As folhas tornaram-se amarellas e avermelhadas, cairam uma a uma, e o vento que as lançou ao chão erguia-as novamente, fazendo-as esvoaçar.


Chegou o inverno e disse Deus: «Cobri o resto!» E os turbilhões dos ventos trouxeram a neve, sob cuja mortalha tudo dorme e descança.



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