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PROLOGO DA 3.ª EDIÇÃO

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Este é um dos romances da minha mocidade. Foi publicado pelos editores da Bibliotheca Universal, de Lisboa, em 1873. Precederam-n'o os Idyllios á beira d'agua, (1870), a minha primeira tentativa no romance, e O testamento de sangue, escripto aos vinte e trez annos.

Estas datas desculpam hoje, aos meus proprios olhos, tudo quanto ha de hesitante e incorrecto em todas as trez novellas, que foram as primicias litterarias de um rapaz educado n'uma terra essencialmente commercial, avessa a idealidades romanescas e ao convivio e apreço de escriptores, bons ou simplesmente toleraveis.

Pelo que especialmente respeita ao Annel mysterioso, se quando agora o reli me não descontentou a acção dramatica, achei-lhe comtudo algum excesso de floração declamatoria, que é um defeito peculiar a todos os estreantes.

A grande arte de escrever está na ponderada sobriedade da expressão, no equilibrio estavel entre a phrase e o pensamento.

Fóra d'isto ha rhetoricos, mas não ha escriptores.

Se eu, no decorrer dos annos, consegui aproximar-me d'este requisito essencial, não perdi de todo o meu tempo. Mas, ainda n'esse caso, é defensavel a reimpressão de uma novella, que póde fornecer elementos de confronto entre duas épocas da vida de um escriptor.{6}

Como quer que seja, o Anel mysterioso agradou quando foi publicado em 1873. A breve trecho sahiu a segunda edicção. E os mesmos editores me convidaram a escrever logo em seguida outro romance, que foi A Porta do Paraizo.[1]

Ambos estes livros me abriram caminho entre o publico de Lisboa.

O exito da Porta do Paraizo explica-se facilmente pelo interesse que inspirava ainda então o reinado de D. Pedro V.

Quanto ao Annel mysterioso, que não é senão a biographia de uma celebridade das ruas do Porto, parece que foi o entrecho commovente que no espirito dos leitores lisbonenses suppriu a falta de conhecimento directo do protagonista.

Quando eu escrevia este romance, muitas pessoas d'aquella cidade se lembravam ainda de ter visto frequentes vezes o Desgraça.

Uma d'essas pessoas era Camillo Castello Branco, que, seis annos depois da publicação do Anel mysterioso, dizia a pag. 296 do livro Sentimentalismo e historia: «A um canto (do botequim da Aguia d'ouro) estava um velho de semblante livido, muito desgraçado, com um chapeu enorme de sêda d'um azulado decrepito, com um grande cigarro no canto da bocca. Ao lado, sobre um mocho, via-se uma guitarra com manchas gordurosas de suor que punham brilhos, e aos pés um cão d'agua com o felpo encarvoado, cheio de torçidas, encaroçado, dormia, e acordava de salto, apanhando com muita furia, no ar, as moscas que lhe picavam as orelhas. Era o José das Desgraças, o legendario mendigo, que morreu de saudades do seu cão, aggravadas pela fome».

Esta referencia authentíca hoje o retrato de uma individualidade popular, cujos contemporaneos dormem, como ella, o somno eterno da morte.

Lisboa, 10 de abril de 1903.

Alberto Pimentel.

[1] A quarta edicção, luxuosa, d'este romance, foi por nós publicada em 1900.

(Nota dos editores.)

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O Annel Mysterioso, Scenas da Guerra Peninsular

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