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2. PLANEJANDO A TRAMOIA
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m Pyongyang, Coreia do Norte, Laurent Belcour relaxava dentro de uma enorme banheira. Duas mulheres asiáticas, uma de cada lado, murmuravam enquanto acariciavam seu tórax peludo de maneira sedutora. No outro lado da banheira, Kim Jong-un, o LÃder Supremo da Coreia do Norte, recebia o mesmo tratamento de duas mulheres loiras muito altas. Kim estava em tratamento para gota. Glutão, havia engordado a ponto de pesar quase 150 kg, e sofria de vários males causados pelo seu estilo de vida desregrado. Ao redor deles havia muitas belas mulheres, todas jovens, que compunham a âtrupe dos prazeresâ de Kim. Elas apenas ficavam paradas ali, em prontidão para atender a qualquer desejo do ditador.
Quando chegou ao poder, o LÃder Supremo desmanchou um grupo de mulheres escolhidas a dedo por seu pai e antecessor, Kim Jong-il. Ao final do perÃodo de três anos de luto oficial pela morte de seu pai, o novo ditador norte-coreano ficou livre para escolher uma nova geração de companheiras femininas. Enviou agentes em busca das mulheres mais atraentes do paÃs, que as distribuÃram pelas muitas mansões do ditador, onde se esperava que ficassem à disposição dele.
Embora a maioria das mulheres tivesse habilidades, como cantoras, dançarinas ou serviçais, a elite norte-coreana transformava as consideradas mais bonitas em concubinas. Segundo a imprensa estrangeira, muitas das mulheres que âse aposentaramâ desse serviço aos vinte e poucos anos de idade, foram parar nos braços de oficiais militares que queriam alguém com quem se casar.
Até o ano anterior, Laurent Belcour era o chefe da International Development Organization (IDO). Teve de renunciar ao cargo em decorrência de um episódio desagradável nos tribunais da França, quando teve de se defender de acusações de usar prostitutas em orgias que ele organizava. Esta era a mais leve das suas contravenções que, na vida real, incluÃam o tráfico de menores para prostituição. Ele e seus comparsas conseguiram escapar da condenação, porém o dano estava feito. Ele não só perdera aquele cargo de grande prestÃgio, mas sua reputação ficara arruinada. Contudo esse infortúnio não o impediu de prosseguir em suas aventuras sexuais, nem com o tráfico de pessoas.
O passado desairoso de Belcour não afetou seu valor como um arguto estrategista financeiro. Rapidamente montou um escritório de consultoria focado nos desafios econômicos dos paÃses em desenvolvimento. Era habilidoso em criar estratégias que, na maioria dos casos, geravam bons resultados. A notÃcia se espalhou, e ele se encontrava bem atarefado, dando assessoria a muitos chefes de estado.
Seu projeto mais recente envolvia a Coreia do Norte, ajudar a achar soluções para as condições econômicas miseráveis que afligiam esse paÃs. Acabara de concluir sua análise dos principais aspectos financeiros, e o que constatou não era nada promissor.
O LÃder Supremo continuava apreciando os préstimos das duas esplêndidas beldades ucranianas.
- Está gostando das mulheres que eu lhe trouxe, Grande LÃder? â perguntou Belcour.
- Muito mesmo. - respondeu o tirano gorducho. - à bom experimentar mulheres altas e lindas de vez em quando. Está satisfeito com as nossas mulheres locais?
- São agradáveis e obedientes, Grande LÃder. Não deixam nada a desejar.
Os dois conversavam em francês, que Kim aprendera na SuÃça, onde estudou quando jovem.
- Monsieur Belcour, tenho a impressão de que já analisou nossos dados financeiros e as estatÃsticas econômicas. Chegou a alguma conclusão?
- Cheguei, sim, Grande LÃder, mas receio que a situação não seja promissora. Não sei se devo estragar esta tarde agradável com a chatice de um monte de números.
- Foi por isso que eu o convidei para me visitar, Belcour. Meus oficiais são medrosos, não têm coragem de conversar sobre coisas desagradáveis.
Uma verdade, visto que Kim tinha propensão a mandar executar sumariamente quem lhe dissesse qualquer coisa que não fosse do seu agrado.
- Bem, você disse que queria uma opinião sem censura da situação atual, e que eu lhe sugerisse possÃveis soluções. Vou fazer um resumo de onde estamos. Há as sanções impostas pelos Estados Unidos e outros paÃses do Ocidente, porque o seu programa nuclear e de mÃsseis impediram seu paÃs de participar da comunidade financeira internacional. Para compensar, a China tem apoiado a Coreia do Norte, permitindo que o seu povo trabalhe nas fábricas deles, localizadas fora das suas fronteiras. Os chineses pagam o salário deles para o seu governo, e você paga aos trabalhadores o quanto quer. Você tinha um acordo semelhante com a Coreia do Sul para as fábricas dentro do seu paÃs, mas os sul-coreanos se retiraram depois que começou a lançar mÃsseis para a estratosfera. Isso não ajudou. Você precisa muito dos dólares gerados pela cooperação com a Coreia do Sul.
- Eu não me preocuparia muito com as minhas discussões com meus camaradas do sul; eles são fracos e medrosos. Sabem que sou capaz de apagar Seul do mapa em um ou dois dias, porque a cidade fica muito perto da nossa fronteira. Dependo da China, e me divirto aborrecendo os chineses. Eles sabem muito bem que não têm outra opção a não ser apoiar o meu regime, porque a última coisa que podem querer é uma Coreia reunificada, apoiada e armada pelos Estados Unidos logo atrás da fronteira. De qualquer modo, você sabe que boa parte do nosso comércio é com a China, que fornece os artigos de luxo de que eu preciso para manter o meu alto escalão contente.
- Com o devido respeito, Grande LÃder, a situação não é sustentável no longo prazo. Quanto mais ameaçar uma guerra com suas armas nucleares, mais os aliados irão apertar o nó. Em algum momento você será forçado a capitular, a menos que encontremos soluções criativas.
- Gosto da sua linha de raciocÃnio, Belcour. Soluções criativas é um ingrediente em falta nos meus cÃrculos. Conte-me as suas ideias.
- Será um prazer lhe dar as minhas ideias, mas primeiro tenho de sair desta banheira, antes que seja cozido vivo.
O LÃder Supremo fez um aceno com a mão, e várias mulheres lhes trouxeram grandes toalhas. Kim e Belcour passaram para uma mesa de canto, enfeitada com um belo arranjo de flores. Outras mulheres trouxeram duas taças e serviram de uma garrafa de Dom Perignon.
Belcour deu um gole e se preparou para mostrar o seu plano.
- Grande LÃder, precisamos pensar de maneira pouco convencional, se quisermos avançar e superar os obstáculos à nossa frente. Os Estados Unidos e seus aliados vão continuar impondo sanções, e não irão afrouxar até você abandonar seu programa de armas nucleares. Eles conseguiram forçar o Irã a abandonar o programa deles, e agora acham que podem usar a mesma estratégia com seu paÃs.
- Os iranianos não tinham as bombas, mas eu tenho. Meus militares estão trabalhando na miniaturização de armas nucleares neste exato momento. Em breve, terei condições de lançar mÃsseis capazes de atingir o oeste dos Estados Unidos. Isso conseguirá chamar a atenção deles.
- Grande LÃder, já está atraindo mais atenção do que deveria. A Frota do PacÃfico dos Estados Unidos está no mar do sul da China. Seu objetivo principal é enviar uma mensagem aos chineses depois de eles terem ocupado ilegalmente algumas ilhas desertas, mas também estão lá para deixá-lo cercado. Voaram impunemente dentro do seu espaço aéreo com caças invisÃveis F-22, e estão trazendo bombardeiros B-52, capazes de transportar armas nucleares. Se lançar um mÃssil rumo a qualquer lugar próximo à zona de interesse deles, os americanos irão atacá-lo com tudo para se vingar. Se lançar suas armas nucleares para onde elas não deveriam ir, os americanos irão transformar o seu paÃs num enorme pátio de estacionamento.
- Não antes de eu ter apagado Seul do mapa.
Belcour começava a perder a paciência com a obstinação daquele CalÃgula asiático. Sabia que precisava encontrar alguma solução para demovê-lo daquela irracionalidade.
- Grande LÃder, não pode esperar que a China continue a apoiá-lo se soltar bombas atômicas nos seus vizinhos, nem precisa ser nos Estados Unidos. A China agora tem laços econômicos muito fortes com os Estados Unidos e a Europa. Não teriam nada a ganhar entrando em guerra com seus maiores clientes.
- Os chineses continuarão me apoiando, porque não têm outra opção.
- Novamente, eu não contaria mais com isso. De qualquer modo, se começar uma guerra, você não tem recursos para resistir por mais do que umas poucas semanas. Pode se vangloriar de suas armas nucleares mas, se chegar a usá-las, isso causará o fim do seu regime e do seu povo. Peço desculpas se estiver sendo demasiadamente direto e objetivo.
- Vamos supor que você tenha razão, Belcour. Qual é o seu plano?
Belcour sorveu mais um gole de champanhe e falou como se estivesse dando uma aula.
- Grande LÃder, precisamos desviar a atenção dos poderes ocidentais de sua pessoa, para permitir a execução de certas ações destinadas a melhorar a situação estratégica do seu paÃs. Esta é a minha sugestão: use um dos seus valiosos ativos para criar um tumulto capaz de forçar os aliados a posicionarem seu aparato bélico em outro lugar e prestarem menos atenção no que você pretende fazer.
- De que ativos está falando, Belcour?
- Das suas bombas nucleares, é claro. Tudo o que precisamos é âperderâ uma delas, ganhar uns trocados vendendo-as aos terroristas do Oriente Médio, e deixar as coisas acontecerem.
Kim parou para pensar.
- Sem dúvida, os terroristas irão usar essas armas, e pouco me importa se o fizerem. O problema é que os americanos serão capazes de rastrear o material nuclear até sua origem. Então eles virão atrás do meu paÃs.
- Ã verdade, Grande LÃder, a menos que sejamos suficientemente espertos com a maneira de fazer isso.
- Sou todo ouvidos. â respondeu Kim.