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CAPÍTULO OITO

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No começo da tarde do dia seguinte, Riley estava sentada no escritório do chefe de polícia de Atlanta, Elmo Stiles. O homem grande e rude não parecia nada feliz com o que Riley lhe estava dizendo.

Ele finalmente rosnou, “Deixe-me ver se entendi, Agente Paige. Você veio até aqui de Quantico para entrevistar privadamente Morgan Farrell, que temos sob custódia pelo assassinato de seu marido. Mas nós não pedimos a ajuda do FBI. Na verdade, o caso agora está encerrado. Temos uma confissão. Morgan é culpada e pouco mais há a dizer. Então, o que a traz aqui?

Riley tentou projetar um ar de confiança.

"Eu já tinha dito" Disse ela. “Preciso falar com ela sobre um assunto completamente separado – um caso completamente diferente".

Stiles piscou os olhos com ceticismo e disse, "Um caso diferente sobre o qual não pode me dizer nada".

"Isso mesmo" Confirmou Riley.

Era mentira, claro. Pela milésima vez desde que ela voara de DC naquela manhã, ela se perguntava o que estava fazendo. Estava acostumada a contornar as regras, mas estava a ultrapassar os limites, fingindo estar ali em trabalho oficial do FBI.

Por que ela pensou que isso poderia ser uma boa ideia?

"E se eu disser não?" Perguntou Stiles.

Riley sabia perfeitamente bem que essa era a prerrogativa do chefe e se ele dissesse não, ela teria que obedecer. Mas não queria dizer isso. Teve que se preparar para fazer algum bluff.

Disse, "Chefe Stiles, acredite em mim, eu não estaria aqui se não fosse uma questão de extrema importância e urgência. Mas não posso dizer de que se trata”.

O chefe Stiles tamborilou os dedos na mesa por alguns instantes.

Então disse, "Sua reputação precede você, Agente Paige."

Riley se encolheu um pouco.

Isso pode ser uma coisa boa ou ruim, Pensou.

Ela era bem conhecida e respeitada entre os seus pares por seus instintos aguçados, sua capacidade de entrar na mente de um assassino e seu talento para resolver casos aparentemente insolúveis.

Ela também era conhecida por às vezes ser um incômodo e as autoridades locais que tinham que trabalhar com ela muitas vezes não gostavam de seus métodos.

Ela não sabia a qual dessas reputações o chefe Stiles poderia estar se referindo.

Gostaria de poder ler melhor a expressão dele, mas ele tinha um daqueles rostos que provavelmente nunca pareciam satisfeitos com muita coisa.

O que Riley realmente temia naquele momento era a possibilidade de Stiles fazer a coisa mais lógica – pegar o telefone e ligar para Quantico para confirmar que ela estava ali ao serviço do FBI. Se ele o fizesse, ninguém a cobriria. Na verdade, acabaria com muitos problemas.

Bem, não seria a primeira vez, Pensou.

Finalmente, o chefe Stiles parou de tamborilar e levantou-se da mesa.

Resmungou, “Bem, longe de mim ficar no caminho de questões do FBI. Vamos lá, vou levá-la para a cela de Morgan Farrell.”

Suprimindo um suspiro de alívio, Riley se levantou e seguiu Stiles para fora de seu escritório. Enquanto ele a conduzia pela movimentada delegacia, Riley se perguntou se algum dos policiais ao seu redor poderia ser Jared Ruhl, o oficial que lhe telefonara na noite anterior. Ela não o reconheceria se o visse. Mas poderia ele saber quem ela era?

Riley esperava que não, tanto pelo bem dele quanto pelo dela. Ela se lembrou de lhe contar pelo telefone sobre a morte de Morgan Farrell…

"Francamente, não é da minha conta."

Tinha sido exatamente a coisa certa a dizer e seria melhor para Ruhl se ele achasse que Riley estava se agarrando à sua decisão. Poderia ser um grande problema para ele se o chefe Stiles descobrisse que ele estava a fazer consultas fora do departamento.

Enquanto Stiles a levava para a parte feminina da prisão, Riley quase ensurdecia com o barulho. Prisioneiros estavam batendo em barras e discutindo em voz alta uns com os outros, e começaram a gritar com Riley enquanto ela passava por suas celas.

Finalmente, Stiles ordenou que um guarda abrisse a cela ocupada por Morgan Farrell e Riley entrou. A mulher estava sentada na cama olhando para o chão, aparentemente sem saber que alguém tinha chegado.

Riley ficou chocada com sua aparência. Morgan, como Riley lembrava, era extremamente magra e de aparência frágil. Ela parecia ainda mais agora, vestida com um macacão laranja que parecia grande demais para ela.

Também parecia estar profundamente exausta. A última vez que Riley a tinha visto, ela estava maquiada e parecia a modelo que tinha sido antes de se casar com Andrew Farrell. Sem maquiagem, ela parecia chocantemente desleixada. Riley pensou que alguém que não sabia nada sobre ela poderia confundi-la com uma sem-abrigo.

Em um tom bastante educado, o chefe Stiles disse a Morgan, “Senhora, há uma visitante aqui para ver você. Agente Especial Riley Paige do FBI.”

Morgan olhou para Riley e fixou o olhar nela, como se não tivesse certeza se estaria sonhando.

O chefe Stiles então se virou para Riley e disse, "Avise-me quando você terminar."

Stiles saiu da cela e pediu ao guarda que fechasse a porta atrás de si. Riley olhou em volta para ver que tipo de vigilância a cela poderia ter. Não ficou surpresa ao ver uma câmera. Esperava que houvesse algum dispositivo de áudio também. A última coisa que queria naquele momento era que Stiles ou qualquer outra pessoa escutasse sua conversa com Morgan Farrell. Mas agora que estava ali, tinha que aproveitar essa chance.

Quando Riley se sentou na cama ao lado dela, Morgan continuou a olhar para ela incrédula.

Com uma voz cansada, disse, “Agente Paige. Eu não esperava você. É gentil da sua parte vir me ver, mas na verdade, não era de todo necessário.”

Riley disse, "Eu só queria…"

Sua voz sumiu quando deu por si a pensar…

O que eu quero exatamente?

Ela realmente tinha alguma ideia clara do que estava fazendo ali?

Finalmente, Riley disse, "Você poderia me dizer o que aconteceu?"

Morgan suspirou profundamente.

“Não há muito para contar, popis não? Eu matei meu marido. Eu não sinto muito, acredite em mim. Mas agora que está feito… bem, eu realmente gostaria de ir para casa agora."

Riley ficou chocada com as palavras dela. A mulher não entendia a situação terrível em que estava?

Ela não sabia que a Geórgia era um estado com pena de morte?

Morgan parecia estar tendo problemas em manter a cabeça erguida. Estremeceu ao ouvir o som agudo de uma mulher gritando em uma cela próxima.

Disse, "Eu pensei que seria capaz de dormir aqui na cadeia. Mas ouça toda esse barulho! Isso acontece o tempo todo, vinte e quatro horas por dia.”

Riley estudou o rosto cansado da mulher.

Perguntou, "Você não dormiu muito, pois não? Talvez não o consiga fazer há muito tempo?”

Morgan sacudiu a cabeça.

“Já faz duas ou três semanas – antes mesmo de eu chegar aqui. Andrew entrou em um de seus humores sádicos e decidiu não me deixar sozinha ou me deixar dormir, noite ou dia. É fácil para ele fazer…”

Fez uma pausa, aparentemente percebendo seu erro, e então disse, “Foi fácil para ele. Ele tinha um metabolismo que alguns homens de poder têm. Ele podia sobreviver com três ou quatro horas de sono todos os dias. E ultimamente passava a maior parte do tempo em casa. Então ele me persegua por toda a casa, nunca me dando nenhuma privacidade, entrando no meu quarto a qualquer hora, me obrigando a fazer… todos os tipos de coisas…”

Riley se sentiu indisposta só de pensar o que essas "coisas" não ditas poderiam ser. Ela tinha a certeza de que Andrew tinha atormentado sexualmente Morgan.

Morgan encolheu os ombros.

"Acho que finalmente explodi" Disse ela. “E matei-o. Pelo que ouvi, eu o esfaqueei umas boas doze ou treze vezes.”

“Pelo que você ouviu?” Perguntou Riley. "Você não se lembra?"

Morgan soltou um gemido de desespero.

“Temos que entrar no que eu lembro e não lembro? Eu bebera e tomara comprimidos antes de acontecer e é tudo uma névoa. A polícia me fez perguntas até eu me perder. Se você quiser saber os detalhes, tenho a certeza que eles vão deixar você ler minha confissão.”

Riley sentiu um formigueiro estranho ao ouvir essas palavras. Ainda não tinha certeza do porquê.

"Eu realmente gostaria que você me contasse" Insistiu Riley.

Morgan franziu a testa, pensando por um momento.

Então ela disse, “Eu acho que decidi… que tinha que fazer alguma coisa. Esperei até que ele fosse ao seu quarto naquela noite. Mesmo assim, eu não tinha certeza se ele estava dormindo. Eu bati na porta dele levemente e ele não respondeu. Abri a porta e olhei para dentro, e lá estava ele em sua cama, dormindo profundamente.”

Ela parecia estar a pensar com mais profundidade.

“Eu acho que devo ter procurado por algo para fazer isso – matá-lo, quero dizer. Acho que não vi nada. Então acho que desci a cozinha e peguei aquela faca. Então voltei para cima e – bem, acho que enlouqueci e esfaqueei-o, porque acabei com sangue por toda a parte, inclusive em cima de mim.”

Riley tomou nota de quantas vezes ela estava dizendo essas palavras…

"Eu acho."

Então Morgan soltou um suspiro de aborrecimento.

“Que bagunça que foi! Espero que os empregados já tenham limpo tudo agora. Eu tentei fazer isso sozinha, mas é claro que não sou boa nesse tipo de coisa.”

Então Morgan respirou lenta e demoradamente.

“E então eu te chamei. E você chamou a polícia. Obrigado por cuidar disso para mim.”

Então ela sorriu curiosamente para Riley e acrescentou, “E obrigado novamente por vir me ver. Foi muito gentil da sua parte. Eu ainda não entendo o que é isso tudo.”

Riley estava se sentindo cada vez mais perturbada pela descrição de Morgan sobre suas próprias ações.

Algo não está bem, Pensou.

Riley parou para pensar por um momento e depois perguntou…

"Morgan, que tipo de faca era?"

Morgan franziu a sobrancelha.

"Apenas uma faca, eu acho" Respondeu ela. “Eu não sei muito sobre utensílios de cozinha. Eu acho que a polícia disse que era uma faca de corte. Era longa e afiada.”

Riley estava se sentindo cada vez mais desconfortável com todas as coisas que Morgan não sabia ou não tinha certeza.

Quanto a ela, Riley já não tratava das refeições da família, mas certamente sabia tudo o que tinha a sua cozinha e onde tudo se encontrava. Tudo era mantido em seu lugar especial, especialmente porque Gabriela estava no comando. A sua faca de corte era mantida em um suporte de madeira com outras facas afiadas.

Riley perguntou, "Onde exatamente você encontrou a faca?"

Morgan soltou uma risada desconfortável.

"Não acabei de o dizer? Na cozinha."

"Não, eu quero dizer onde na cozinha?"

Os olhos de Morgan se arregalaram.

"Por que você está me perguntando isso?" Disse com uma voz suave e suplicante.

"Não me consegue dizer?" Perguntou Rileycom gentil insistência.

Morgan estava começando a parecer angustiada naquele momento.

“Por que você está me fazendo essas perguntas? Como eu te disse, tudo está na minha confissão. Você pode lê-la se ainda não o fez. Realmente, Agente Paige, isso não é gentil de sua parte. E eu realmente gostaria de saber o que você está fazendo aqui. De alguma forma, me parece que não é apenas por gentileza.”

A voz de Morgan tremeu com raiva silenciosa. “Eu já tive que responder a todos os tipos de perguntas – mais do que posso contar. Eu não mereço mais isso, e não posso dizer que gosto.”

Ela se endireitou e acrescentou, “Eu fiz o que tinha que ser feito. Mimi, sua esposa antes de mim, se suicidou, você sabe. Saiu em toda a mídia. Também o seu filho o fez. Todo o resto de suas esposas – eu não sei ao certo quantas foram – apenas esperaram até lhes aparecerem algumas rugas e ele decidir que elas já não prestavam para se exibir, e então ele se livrou delas. Que tipo de mulher aceita isso? Que tipo de mulher acha que merece isso?”

Então, com um grunhido baixo, ela acrescentou…

"Eu não sou esse tipo de mulher. E acho que Andrew sabe disso agora.”

Então o rosto dela ficou confuso de novo.

"Eu não gosto disso" Sussurrou. "Acho melhor você sair."

"Morgan…"

"Eu disse que quero que você saia agora."

“Quem é seu advogado? Você foi examinada por um psiquiatra?”

Morgan quase gritou, “Estou falando sério. Vai."

Riley desejou poder fazer muito mais perguntas. Mas ela podia ver que não adiantava tentar. Chamou um guarda que a deixou sair da cela. Então voltou para o gabinete do chefe Stiles e olhou para dentro da porta aberta.

Stiles olhou para ela da sua papelada com uma expressão desconfiada.

"Você descobriu o que precisava saber?" Perguntou a Riley.

Por um momento, Riley não soube o que dizer.

Ela queria manter aberta a possibilidade de conversar com Morgan novamente.

Ela estava tentada a dizer…

"Não, e eu preciso voltar e falar com ela um pouco mais."

Mas isso podia levar o ceticismo de Stiles a um ponto de ruptura, e ele podia acabar ligando para Quantico.

Em vez disso ela disse…

“Obrigada pela sua cooperação. Vou andando.”

Quando saiu da estação, ela se lembrou da estranha conversa que tivera com Morgan sobre a faca e como a mulher ficara defensiva sobre isso…

"Por que você está me fazendo essas perguntas?"

Riley tinha a certeza de uma coisa. Morgan não tinha ideia de onde a faca se localizava na cozinha. E se ela se tivesse dado ao trabalho de encontrá-la, teria sido capaz de dizer a Riley onde a tinha encontrado.

Ela também se lembrou do que Morgan lhe dissera no telefone…

"A faca está ao lado dele."

Naquele momento, Morgan certamente não sabia de onde tinha vindo.

Ela não é culpada, Riley percebeu quando entrou em seu carro alugado.

Ela sabia disso em seu íntimo, mesmo que a própria Morgan não acreditasse nisso.

E ninguém mais iria questionar sua culpa. Estavam todos felizes por ter o assunto resolvido.

Cabia a Riley resolver aquele enigma.

Sem Saída

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