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Astronave Theos – O Presidente
Оглавление— Mas da onde extrai energia para criar um campo de força tão potente? — perguntou o Coronel intrigado, ao observar atentamente o suporte de vela que acabara de ser criado.
— A energia está em tudo, em todos os lugares do Universo — respondeu Azakis. — Tudo que o forma, é feito de matéria, e a matéria não é nada mais que uma forma de energia e vice-versa. Mesmo os seres vivos não passam de formas simples de energia e matéria.
— Somos feitos da mesma substância que as estrelas — sussurrou Elisa extasiada, lembrando uma velha frase de alguém cujo nome não lhe via à mente naquele instante.
— Concordo, mas a partir desse ponto até a possibilidade de aproveitá-la desse modo, é um grande salto — disse o Coronel.
Ele estava quase pedindo mais esclarecimento, quando um som de blues, do seu celular, o interrompeu.
— Agora quem diabos será? — disse em voz alta, enquanto lia o nome do autor da chamada: "Camp Adder—Prisão."
— Coronel Hudson — respondeu secamente no microfone.
— Coronel, finalmente.
Imediatamente Jack reconheceu a voz do sargento negro que o acompanhara em muitas missões. — Sargento, o que é?
— Estive lhe procurando por horas. Onde está?
— Ah, direi que estou correndo por aí como o vento. Mas, Sargento, qual é o problema?
— Apenas queria informar-lhe de que seu pedido de transferência do General foi conduzido sem quaisquer transtornos.
— Pedido de transferência do General? Que diabos está falando?
— Tenho em minhas mãos uma ordem por escrito, assinada pelo senhor, autorizando o General Richard Wright e o Coronel Oliver Morris a transferir o General Campbell para um lugar ultrassecreto. Verifiquei e é a sua assinatura.
— Mas eu não autorizei nada desse tipo — O Coronel fez uma breve pausa e então disse: — Onde está o General agora?
— Não tenho ideia, senhor. Os oficiais que mencionei levaram-no sob custódia.
— Droga, ele conseguiu fugir — Então teve um palpite e disse: — Sargento, seria capaz de descrever os dois soldados que levaram o General?
— Certamente. Um era alto e magro e o outro mais baixo e obeso. Eles tinham...
— Ok, Sargento, é suficiente. Eu compreendo. Obrigado.
— Espero não ter feito asneira.
— Não se preocupe, não foi culpa sua — e encerrou a conversa.
— O que houve? — perguntou Elisa preocupada.
— Aqueles dois que nos atacaram e que capturamos, fugiram e conseguiram que aquele desgraçado do General Campbell também escapasse.
— Lamento, querido, de verdade, mas não deixe isso te perturbar. Temos problemas muito mais sérios para nos concentrarmos neste instante, não é?
— Você tem razão — e assim dizendo, fez o suporte de vela deslizar pelas mãos de Elisa, e mostrando para Azakis, perguntou: — Onde nós paramos?
— A fonte de energia.
— Certo. Eu queria dizer, como diabos essa coisa funciona?
— Bem, não é tão simples de explicar, mas podemos dizer que ela absorve toda a energia em volta e a molda no formato para o qual foi programada.
— Bom — disse Jack, confuso. — Não posso dizer que entendi muita coisa. Mas o fato é que funciona, e muito bem. Acha que essa tecnologia também poderia ser reproduzida na Terra?
— Sem dúvida. Não vejo nenhum problema. Quando chegar a hora, direi a Petri para transferir todas as informações necessárias para você.
— Fantástico. Fico só pensando nas expressões dos nossos cientistas quando estiverem diante de uma revelação como essa. Atualmente, ainda não conseguimos produzir grandes quantidades de energia, a não ser de combustíveis fósseis ou energia nuclear. Acho que sua visita vai revolucionar muitas coisas no nosso planeta.
— Como sempre fizeram — acrescentou Azakis, com um pequeno sorriso.
— Se me lembro bem — disse Elisa entrando na conversa, — não foi um cientista chamado Nikola Tesla, que viveu entre 1800 e 1900, que imaginou uma forma de energia que permeava o cosmo inteiro?
— Uau — respondeu Jack, impressionado. — Não sabia que você era especialista.
— Há uma porção de coisas que ainda descobrirá a meu respeito, querido — e com um gesto bem ousado, ela passou a mão pelos longos cabelos.
— Na realidade — continuou Jack, — Tesla fez muito mais. Além da realização de toda uma série de invenções que ainda usamos até os dias atuais, teorizou a possibilidade de usar o que ele chamava de "éter”, como uma fonte inexaurível de energia. Se essa substância, que supostamente permeia o Universo inteiro, for adequadamente estimulada, proveria energia em qualquer lugar, a qualquer hora — Satisfeito em ver a amada o admirar cada vez mais, orgulhosamente continuou a sua explicação: — Entretanto, depois de embates com a hipocrisia e a ganância dos que estavam no poder na época, o acadêmico declarou que a humanidade ainda não estava pronta para uma reviravolta desse tipo e abandonou o projeto, fazendo desaparecer todos os seus vestígios. Somente depois de mais de 100 anos, nossos cientistas começaram a postular a presença de uma "substância", isto é, a "matéria negra", e também uma espécie de energia, a "energia negra", que aparentemente, compõem mais de 70% da densidade do Universo.
— Estou impressionada — disse a doutora, o olhando com espanto. — Também não pensava que conhecia tanto sobre esse assunto.
— Há muitas coisas que ainda descobrirá a meu respeito, querida — respondeu Jack com a mesma gracinha e o mesmo gesto, embora seu cabelo fosse muito curto para obter o efeito desejado.
— Talvez estejamos falando sobre a mesma coisa — declarou Azakis, satisfeito.
— Energia ilimitada, disponível para todos, em todo o Universo e sem custo... incrível — Jack estava absorto na avaliação de todas as possíveis implicações dessa nova revelação catastrófica, quando seu celular começou a tocar a mesma musiquinha de novo.
— E agora, quem será? — exclamou um pouco irritado. Então viu quem estava ligando e seu rosto se iluminou. — Almirante, não esperava seu telefonema tão cedo.
— Rapaz, consegui contatar o Presidente e expliquei a situação. Está aqui agora, na minha frente. Se quiser passo para ele.
— Claro, claro — ele respondeu um pouco constrangido, acenando para Petri, apontando seu telefone celular. Alguns segundos se passaram, então uma voz calma e grave apareceu no telefone: — Coronel Jack Hudson?
— Sim, Senhor Presidente. Sou eu, Senhor. Às suas ordens, Senhor — ao responder, não pôde evitar uma posição de sentido, provocando um sorriso discreto de Elisa.
— Coronel, somente o respeito e a confiança que tenho pelo Almirante Wilson possibilitaram esta chamada. O que me contaram é tão absurdo que pode até ser verdade.
— Sr. Presidente, solicito que ajuste o telescópio mais próximo para as coordenadas que vou lhe enviar.
Petri já havia posicionado a Theos num paralelo perto do Polo Norte, para que fosse vista numa área ainda escura da Terra, fazendo uma série de números aparecerem na grande tela. Rapidamente, Jack inseriu e enviou esses números no celular. — Essa é a posição atual da nossa astronave. Acho que seus engenheiros não terão problemas em nos localizar.
O Presidente assentiu brevemente para um assistente alto e robusto com quem estava na Sala Oval da Casa Branca. Mostrou-lhe os números que apareceram no telefone e sussurrou algo em seu ouvido. O homem, que estava de terno preto, camisa branca como neve e uma gravata cinza de listras coloridas, colocou o punho na altura da boca e proferiu uma série de instruções.
— Sr. Presidente — continuou Jack. — A situação é muito grave. Nosso planeta está em risco de uma enorme reviravolta, e com a ajuda dessas pessoas que vieram de muito longe, poderíamos evitar isso. Compreendo perfeitamente todas as suas reservas, mas realmente estou aqui em cima e posso provar ao senhor.
Petri ativou os sensores de curto alcance, apontando para as coordenadas que o Coronel forneceu antes e apareceu na tela da ponte de comando a visão de cima da Sala Oval.
— Senhor, neste momento está inclinado em sua mesa com a mão direita, o Almirante está ao seu lado e há mais duas pessoas na sala.
O Presidente instintivamente olhou em volta para descobrir se alguém estava espionando. Ele hesitou um pouco e então disse, desconcertado: — Mas isso é absurdo. Como sabe disso tudo?
— Simplesmente porque estou vendo vocês.
— Mas isso não é possível. Nada pode penetrar a blindagem desta sala.
— Nada na Terra, Sr. Presidente — Jack corrigiu. Então Petri se aproximou e disse algo em seu ouvido. O Coronel arregalou os olhos, e num tom decisivo, disse no microfone: — Acho que isto também não é possível com a nossa tecnologia.
Mal teve tempo de terminar a frase quando a mesa histórica do século XIX, conhecida mundialmente como a "secretária Resolute", começou a levitar lentamente. O Presidente pulou para trás e olhou perplexo para o Almirante, que retribuiu com um olhar igualmente assombrado.
— A mesa está flutuando no ar — exclamou ele. — É como se a gravidade não tivesse nenhum efeito sobre ela.
Um outro homem na sala, de estatura mais baixa que o anterior, mas igualmente robusto, instintivamente sacou a arma do coldre sob a axila, em um gesto para proteger seu chefe. Olhou rapidamente para a esquerda e a direita, como se estivesse tentando detectar um fantasma, mas não pôde ver nada suspeito.
— Guarde a arma — o Presidente disse em voz baixa. — Não acho que há nenhum perigo. Isso é obra dos nossos amigos lá em cima.
Por instinto, todos olharam para o teto branco da sala, exceto o assistente mais alto, que depois de colocar os dedos no fone da orelha direita, num tom sem emoção, disse: — Temos as imagens, Senhor — e retirou um grande tablet da mala, tocou algumas instruções na tela, olhou por alguns segundos e então polidamente entregou ao Presidente. O homem, considerado por muitos, como o mais poderoso do mundo, tomou o tablet na mão esquerda e começou a olhar atentamente a tela. O Almirante Wilson, decididamente intrigado, colocou os óculos de ler, aproximou-se e também tentou ver o que podia.
O dispositivo mostrou as imagens via satélite de um telescópio, não muito potente, instalado num pequeno observatório secreto, construído no sul da Finlândia. Já havia anoitecido nessa área e a escuridão impossibilitaria ver o ponto indicado com facilidade.
— Me dê uns segundos mais, Coronel. Estou prestes a exibir a área correspondente às coordenadas que mandou agora há pouco.
A visualização ainda não estava focalizada, quando de repente, no meio da negritude do espaço repleto de milhões de estrelas, uma pequena esfera prateada, metade iluminada pela luz do sol, apareceu no monitor.
Alguns segundos se passaram e a visão mudou. O nível de ampliação foi elevado. Agora a esfera ocupava quase o monitor inteiro, e era possível admirar muitos tons de cores, desde roxo até azul escuro, que pareciam se mesclar na superfície prateada.
Enquanto isso, a bordo da Theos, os dois terráqueos e os dois alienígenas estavam apreciando a vista na grande tela, olhando abaixo para a Sala Oval. Tocando os controles no console central, Petri ampliou o tablet do Presidente e exibiu sua tela. — Estão olhando para nós — exclamou. Depois, percebendo que o ângulo estava muito lateral, posicionou a astronave para a direita cerca de vinte graus e acrescentou: — Agora está perfeito. Querem olhar pela janela e acenar para eles?
Elisa e Jack o olharam com espanto, mas quando viram Azakis se dirigindo para a grande janela elíptica que dava para o espaço, seguiram-no sem falar. Os três se inclinaram na borda e não conseguiam evitar de olhar, maravilhados. Diante deles, em todo o seu majestoso esplendor, estava a Terra.
— É maravilhoso — Elisa conseguiu sussurrar, extasiada.
— E agora, acenem — disse Petri animadamente.
A imagem no monitor da Sala Oval mudou de novo. Agora o nível do zoom era máximo.
— Coronel, não posso acreditar... — murmurou o Presidente num fio de voz. — Posso vê-los — Então virou-se para o Almirante, que assombrado, deixou cair a caneta que segurava e acrescentou: — Isso é absolutamente incrível.
— Eu disse, não foi? — respondeu Wilson, decididamente satisfeito.
— À minha esquerda, pode ver a Doutora Elisa Hunter e à minha direita, está o capitão desta astronave, o Sr. Azakis.
Ambos fizeram um gesto com as mãos e o homem mais poderoso do mundo somente conseguiu responder, embaraçado: — Ahn, prazer em conhecê-los...