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Capítulo 4

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André ficou de pé no corredor, ofegando e com os punhos cerrados. Não fora a sua intenção fechá-la no quarto, mas, assim que a abraçara e a beijara, soubera que, se não se afastasse dela, teria de a possuir ali mesmo. Sabendo de antemão qual era a reacção feminina cada vez que se aproximava dela ou lhe tocava, o desejo de a possuir era mais forte do que nunca.

Por isso fechara a porta, para evitar que o seguisse.

Nunca sentira uma intensidade sensual como aquela com nenhuma mulher. Com Kira, alcançara um nível de prazer que sempre temera, mas que sempre conseguira controlar com uma força de vontade poderosa.

Fora apenas uma noite de paixão. Só uma, mas ele recordava cada detalhe. O sabor da sua pele, a força sedosa dos músculos femininos tensos contra os dele, a reacção apaixonada a cada carícia das suas mãos, da sua boca, do seu corpo.

Mas não, ele não repetiria os erros do seu pai. Ele não ficaria cego de paixão por uma mulher.

Ele não tropeçaria na mesma pedra que o seu pai.

Além disso, Kira era a amante do seu inimigo. Fora lá para o seduzir, para arrastar o seu nome pela lama. E conseguira, destruíra o negócio mais lucrativo da sua vida e fizera com que fizesse uma figura ridícula com a sua noiva e com o mundo.

O seu inimigo ganhara a primeira batalha, mas não ganharia a guerra.

Praguejando, André foi para o seu quarto para tomar um duche para relaxar.

Estava cansado, excitado e enojado consigo próprio. Passar boa parte do dia perto de Kira estava a enlouquecê-lo de lascívia.

Entrou na casa de banho do seu quarto e pôs-se sob a água fria do duche. Apoiou as duas mãos nos azulejos e baixou a cabeça, deixando que a água fria diminuísse o seu ardor e a sua raiva. As emoções intensas que lutavam no seu interior eram totalmente novas e ele detestava ter voltado a perder o controlo com ela.

Sim, aquilo tinha de ser semelhante ao inferno que o seu pai suportara durante o seu casamento. E André não estava disposto a passar pelo mesmo.

Reviu a situação. Levara Kira para Petit Saint Marc, o que significava que Peter Bellamy tinha de estar furioso, sabendo que a tinha prisioneira e que ele podia usar qualquer meio necessário para lhe tirar a informação que quisesse sobre a Bellamy Enterprises. No entanto, Bellamy não dera sinais de vida. Mais ainda, continuara com a sua vida como se não tivesse acontecido nada. Quais eram os seus planos?

André não podia descartar que Bellamy antecipara a sua reacção, que tentaria usar Kira para o vencer. Talvez fosse por isso que Kira não mostrara muita resistência a deixar o Château.

Era uma possibilidade que não podia ignorar.

Talvez o seu plano fosse deixar que os paparazzi o surpreendessem novamente na ilha junto da amante bela e sedutora do seu inimigo. Com raiva, fechou a água, decidido a não se deixar iludir outra vez.

Saiu para o quarto encharcado e ainda meio excitado. Olhou para o painel de segurança, sorriu e depois escreveu os números que desactivavam a fechadura da porta de Kira.

A aparente falta de interesse de Bellamy face ao desaparecimento de Kira despertava as suas suspeitas. Se ela não tentasse fugir, provavelmente significava que já tinha outro plano preparado com Bellamy, no caso de André tentar usar Kira para destruir Bellamy.

Mas não voltariam a gozar com ele. Alertara os guardas de que ninguém podia aproximar-se da ilha excepto os clientes do hotel e dispusera patrulhas costeiras pela mesma razão.

Kira apoiou uma mão na porta da casa de banho do quarto e segurou a maçaneta da porta com a outra, com o coração acelerado. Fora precisamente quando ia tomar um duche que ouvira o barulho da fechadura da porta, embora não ouvisse que se abrira a porta.

Com o coração cada vez mais acelerado, ouviu com atenção, mas o único som que detectou foi o barulho da ventoinha do tecto e os batimentos do seu coração.

Esperou pelo aparecimento de André com uma mistura de ansiedade e receio, mas a espera foi em vão. Com um suspiro de resignação, saiu para o quarto e verificou que a porta já se abria.

Espreitou para o corredor, mas não viu ninguém.

No entanto alguém abrira as cortinas pesadas do hall e abrira as janelas para deixar entrar a brisa do oceano. Aguçou o ouvido, mas só ouviu um ligeiro murmúrio de vozes no andar inferior.

Kira fechou a porta e passeou pelo quarto, nervosa. Porque a fechara ali? Porque não a deixava em paz?

Não, ela não teria paz até André aceitar um acordo a respeito do seu filho. Ainda que, tendo em conta quem ela era, soubesse que a odiaria quando descobrisse. E o que seria do bebé?

Não tinha a menor dúvida de que insistiria em ter um papel fundamental na vida do seu filho. E na dela também?

Se fosse sincera consigo própria, tinha de reconhecer que queria o conto de fadas completo: constituir uma família com um homem maravilhoso que a amasse.

Queria André.

Ele achava que era a amante de Peter, o seu inimigo. O que tencionava fazer com ela? O que faria quando descobrisse a verdade?

O fascínio perigoso que sentia por ele não tinha explicação. Na verdade, detestava a sua infidelidade, a sua arrogância, as suas contínuas intenções de pegar no que queria sem pensar nos seus sentimentos.

Levou uma mão à barriga e sentiu que os seus olhos se enchiam de lágrimas. André já fazia parte dela, no filho que os uniria para sempre, mas que futuro os esperava? Encontrariam uma forma de resolver as suas divergências pelo bem do bebé?

André era demasiado dominante.

Demasiado viril.

Demasiado viciante para os seus sentidos.

Ela precisava de relaxar, de desabafar a tensão que a dominava e de procurar o equilíbrio emocional para poder enfrentá-lo.

Aproximou-se do terraço e viu a piscina enorme que havia no meio dos jardins.

Não sabia se tinha de jantar com André ou sozinha no seu quarto. A verdade era que não tinha a certeza de nada, mas pensou que tinha tempo para nadar na piscina.

Rebuscou na mala e encontrou um simples fato-de-banho cor de coral. Dentro de pouco tempo, a sua gravidez não lhe permitiria vestir uma coisa tão reveladora, pensou, portanto, bem podia aproveitar aquela oportunidade.

Sem se dar tempo para pensar, vestiu um fato-de-banho e viu-se ao espelho. Ainda não se notava nada.

Da casa de banho tirou uma toalha e embrulhou-se nela em jeito de pareo.

Por um instante, permaneceu imóvel, ouvindo, receando que André aparecesse de um momento para o outro.

Ou pior. Que a abraçasse, beijasse e derrubasse todas as suas defesas.

Mas não viu nem ouviu ninguém. Sem fazer barulho, correu pela escada e saiu para o jardim.

Hesitou por um momento, até verificar que não havia ninguém. Com passos rápidos, dirigiu-se para a piscina. Lá, deixou cair a toalha, aproximou-se da parte mais profunda e atirou-se de cabeça. Embora estivesse cansada, começou a nadar, com uns movimentos monótonos e controlados com que tentou apagar a imagem de André da sua mente.

André observava o monitor, excitado com a mulher de corpo esbelto e atlético que percorria várias vezes a sua piscina olímpica. Não parara para estudar o seu corpo com imparcialidade. Se o tivesse feito, teria percebido que tinha um corpo de atleta.

O fato-de-banho elegante fora desenhado para minimizar a resistência da água e colava-se ao corpo feminino sem deixar nada à imaginação. Embora ele não tivesse de adivinhar o que havia por baixo.

Recordava cada centímetro da sua pele, cada curva do seu corpo e não conseguiu evitar a forte reacção do seu sexo enquanto a observava a deslizar elegantemente pela água várias vezes. Era como uma ninfa marinha a seduzi-lo com cada movimento, a convidá-lo a aproximar-se. Provavelmente, esse era o seu plano, voltar a seduzi-lo, contudo, dessa vez, ele estava preparado. Dessa vez, usaria o desejo feminino contra ela. Dessa vez, daria a volta ao jogo.

Ele era um tubarão, enquanto ela era um golfinho elegante, esbelto, veloz e muito desejável. Ardiloso também?

Levantou-se da cadeira e saiu do quarto, com apenas uns calções de ganga, com os pés e o peito tão nus como a sua excitação.

Com a ajuda de Bellamy, Kira conseguira derrubar as suas defesas. O desejo que sentia por ela tivera mais poder do que o seu controlo e as suas defesas. Nunca se sentira tão atraído por uma mulher.

Mas não voltaria a cometer o mesmo erro. Dessa vez, conhecia muito bem as suas intenções.

Quando acabasse com ela, Kira Montgomery estaria economicamente arruinada e emocionalmente humilhada. Quanto ao seu amante, ele ocupar-se-ia de deixar Peter Bellamy sem a sua fortuna e sem o seu império.

Só então é que a sua vingança seria completa.

Kira sentiu a mudança na pressão da água atrás dela e soube que não estava sozinha.

Alguém se atirara para a piscina e abria caminho sob a água. André?

A ideia de ele estar na piscina toldava-lhe os sentidos. Tinha de ser ele, porque até a água estava carregada de uma energia nova e poderosa.

O seu coração acelerou e começou a nadar mais depressa, decidida a não deixar que André a alcançasse.

Ganhando forças, Kira continuou a nadar à mesma velocidade, concentrando-se em alcançar a beira antes dele.

Tinha de sair da água. Para o enfrentar, tinha de estar em terra firme.

Nadar esclarecera a sua cabeça e alegrava-se por não lhe ter contado a verdade. André estava demasiado furioso para poder raciocinar com ela, demasiado decidido a seduzi-la por algum plano estranho de vingança. Não era o momento de tentar falar com ele sobre o futuro.

Haveria tempo mais adiante para lhe explicar tudo. Ela conseguiria fazê-lo e conseguiria fazê-lo entender que não participara nos planos de Peter Bellamy. Que ela era tão vítima das suas maquinações como ele.

Que, apesar do confronto entre os Bellamy e ele, entre os dois tinham criado algo bonito e que tinham a oportunidade de um futuro maravilhoso.

Mas não era o momento de falar disso. Estava cansada e não se sentia com forças para o enfrentar.

Esperaria até ao dia seguinte.

Mexendo os braços na água com precisão, continuou a avançar, ignorando o ardor dos ombros, a tensão das coxas e a pressão dos pulmões.

À frente dela apareceram os azulejos intrincados do extremo da piscina, em tons vermelhos, azuis e amarelos, cada vez mais intensos. Já quase chegara. Quase.

No entanto, sentiu a pressão da água a empurrá-la por baixo e, em pânico, percebeu que estava prestes a colidir com ele. Um enorme tubarão branco a persegui-la, a preparar-se para o ataque.

Alguns segundos depois, sentiu o corpo masculino e potente a elevar-se do fundo, deslocando a água e segurando-a pela cintura. Sem poder fazer nada, sentiu umas mãos fortes que a elevavam para fora da água.

A brisa nocturna sussurrou por um momento sobre a sua pele e apoiou-lhe as duas mãos no peito para o empurrar, contudo, o desejo descarnado reflectido nos olhos masculinos parou-a.

André sorriu, arrogante e irresistível, e, em seguida, beijou-a. Kira rendeu-se com um gemido.

Juntos caíram novamente à água. André segurou-lhe o pescoço com a mão e, juntos, mergulharam sob a água, sem se afastarem, intensificando o beijo cada vez mais.

Ele era a sua âncora e a sua perdição e, como em vezes anteriores, Kira sentiu que o beijo lhe dava vida, enchendo-a de ar, lançando ondas de paixão por todo o seu corpo e derrubando os muros de contenção que se apressara a levantar.

Não havia razão para continuar a resistir. André ganhara a batalha.

Ela desejava-o e detestava-se por ser tão fraca com ele.

Só um beijo e rendera-se por completo a ele. Com apenas um beijo, André reduzira o seu mundo a eles e ao bebé que esperara.

Mas ele ainda não sabia.

Impulsionando-se com os pés contra o fundo da piscina, André empurrou-os para cima.

E para outro confronto com André.

André era accionista maioritário do seu hotel e tinha-a totalmente nas suas mãos.

Ela devia receá-lo, mas estava convencida de que ele a protegeria, mesmo apesar de a sua intuição a avisar de que, a nível pessoal, só ela seria a perdedora.

Mesmo sabendo o perigo que corria, deixou que lhe arrebatasse o coração.

Saíram à superfície, procurando ar, com os corpos colados, o de André nu e excitado contra ela, coberta apenas pelo fato-de-banho.

– És uma excelente nadadora – ele ofegou, muito perto da sua boca.

– É um bom exercício.

Mas agora já não era a sua paixão. O seu sonho de competir em desportos aquáticos morrera há muito tempo, em princípio de forma temporária devido a uma lesão, mas, depois, de maneira definitiva por causa dos planos que Edouard tinha para ela.

Não voltaria a deixar os seus sonhos por um homem, por muito que o desejasse. No entanto, tinha de reconhecer que queria ter uma família, que queria ser amada.

André mexeu-se, elevando-a para lhe acariciar os seios através do tecido fino do fato-de-banho. Kira pôs-lhe os dedos nos ombros, tremendo e arqueando-se para trás, oferecendo a sua boca.

– Desejo-te – disse ele, mordiscando um dos mamilos com os dentes. – E tu a mim.

Kira gemeu, recusando-se a esconder ou a negar o que sentia.

– Isso é evidente.

Ele franziu o sobrolho, como se as suas palavras o irritassem.

– Mas não te farei minha, agora não.

Ouvira bem?, perguntou-se Kira.

Ele deu-lhe a resposta ao afastar-se dela, fechando a porta ao desejo que Kira vira a brilhar nos seus olhos.

– Então, o que foi isto? – perguntou ela, consciente de que tinha as faces acesas e o corpo a tremer de desejo.

– Precisava de um aperitivo – André deixou-a a flutuar na água e nadou até à beira. – Desfrutaremos do manjar completo mais tarde.

Saiu da piscina, encharcado, totalmente nu e excitado.

– Não irei para a cama contigo.

– Oh, sim, é claro que o farás – garantiu ele. – Mas esta noite preciso de descanso e de comida – disse ele, deslizando os olhos famintos pelo corpo feminino. – Agora ambos estamos cansados. Quando fizermos amor, será de forma lenta, sensual e interminável.

Kira tremeu ao ouvir aquela promessa, sem saber como reagir para não trair os seus verdadeiros desejos.

Também não sabia se devia enfurecer-se com a sua arrogância ou deixar-se levar pela paixão.

– O jantar será servido dentro de quinze minutos – disse ele.

Sem se incomodar em secar-se, vestiu os calções de ganga afastou-se para a casa sem olhar para trás.

Completamente frustrada, Kira começou novamente a percorrer a piscina de uma ponta à outra, apesar de os seus músculos lhe pedirem um descanso.

Depois de um duche rápido, Kira vestiu um vestido estampado em tons azuis e uma cor castanha intensa que condizia com os olhos de André. O facto de fazer aquela comparação confirmava que ainda continuava em terreno pantanoso com ele. E o facto de as suas emoções dançarem como num carrossel devido à gravidez também não a ajudava muito.

Tão depressa o odiava como desejava as suas carícias, os seus beijos. Até pensara em iniciar um debate com ele, mas rapidamente o descartou. O seu primeiro confronto verbal levara-os directamente para a cama.

Tendo em conta como se derretera nos seus braços na piscina, Kira receou o momento de se sentar em frente dele na mesa. Mas os seus receios foram em vão.

Pouco depois de se sentar à mesa com ele, André recebeu uma chamada que não podia esperar.

Kira olhou para ele, alarmada. O seu primeiro receio foi que estivesse a levar a cabo as ameaças de destruir o hotel.

– Se isto tem a ver com o Château… – começou ela.

– Nada disso – disse ele e, depois de acabar o seu copo de vinho, levantou-se. – Desfruta do jantar.

E, sem olhar para trás, saiu da sala de jantar sem tocar na comida.

Kira tinha os nervos à flor da pele. Não sabia se André lhe contaria a verdade, já que estava convencido de que era a cúmplice vingativa de Peter Bellamy.

Seria por alguma coisa relacionada com o Château? E a que se referia quando dissera que tinha provas electrónicas das suas maquinações com Peter Bellamy? Não podia ser verdade, a não ser que alguém as tivesse criado sem ela saber. Sabia que muitos empregados do Château a desprezavam, mas ninguém tinha o poder de vender as acções de Edouard Bellamy.

Ninguém, excepto Peter. O seu filho e testamenteiro do testamento do seu pai. Seria ele quem quereria arrebatar-lhe a sua herança? Kira deixou o garfo no prato e esfregou as têmporas. Talvez Peter tivesse descoberto a sua verdadeira relação com Edouard e a odiasse tanto como Edouard previra.

Desde o acidente de Edouard e da sua morte, o mundo de Kira ficara destruído. As suas acções tinham desaparecido quando André comprara as acções do Château.

Fora por isso que tivera de ir à ilha pela primeira vez, para falar com ele, embora André jurasse que ele nunca acedera àquela reunião. Ter-lhe-iam armado uma cilada?

André estava convencido de que ela estava a conspirar com Peter para o arruinar. Não era verdade, mas ela não sabia como provar a sua inocência. Não sabia o que fazer, nem em quem confiar, para além de Claude, o seu advogado.

Recostou-se na cadeira. Já perdera todo o apetite e também a pouca energia que restava. Só queria deitar-se na cama e dormir. Queria esquecer aquele pesadelo em que se transformara a sua vida.

Levou a mão à barriga. Apesar dos seus receios e preocupações, sorriu. Acima de tudo, o mais importante era proteger o seu filho. E a melhor maneira de o fazer era descansar.

Deixou o guardanapo na mesa e levantou-se. O seu olhar encontrou-se com o de André.

Como antes, a postura dele era aparentemente indiferente, apoiado na ombreira da porta, com os braços para baixo e um pé cruzado sobre o tornozelo.

Mas a sua expressão era sombria e implacável e, nos seus olhos, via-se uma clara expressão de censura. Estava furioso e Kira perguntou-se se se devia à conversa telefónica ou a ela.

– Há quanto tempo estás aí? – perguntou ela.

– Há tempo suficiente para saber que não comeste praticamente nada – reprovou-a ele.

– Não tenho muito apetite – disse ela.

– Sim, claro. Tens de fazer com que o teu corpo continue a ser desejável – disse ele, brincalhão.

O belo rosto masculino aparecera em muitas revistas económicas, mas ela só vira aquela expressão feroz uma vez. Há três meses, quando ela fugira de Petit Saint Marc.

Depois, tinham acontecido tantas coisas… Parecia quase surreal como ela passara de ser relações públicas no Cygne em Londres a accionista do Château Mystique de Las Vegas e a amante inesperada de André.

Embora tudo estivesse tão longe que parecia ter acontecido noutra vida.

Ele estava furioso, totalmente rígido, com os dentes cerrados. A sua expressão era mais a de um pirata sanguinário do que a de um magnata internacional.

– Passa-se alguma coisa? – perguntou ela, ao vê-lo tão tenso.

– Os meus guardas interceptaram um grupo de paparazzi à frente da ilha – respondeu ele, encolhendo os ombros, embora a sua desconfiança fosse evidente.

– Isso devia agradar-te – disse ela, suspeitando que a presença dos meios de comunicação social era frequente na ilha.

Ele endireitou-se e entrou na sala de jantar como um predador a cercar a sua presa.

– Quanto te pagam por continuares com esta farsa? – perguntou ele, furioso, aproximando da mesa.

– Suponho que te referes a Peter – disse ela, com um sorriso amargo. – Mas a resposta é a mesma. Não conheço Peter Bellamy pessoalmente e nunca segui as suas ordens.

– Claro, só de Edouard – disse ele, cuspindo as palavras com raiva. – Escolheu-te bem quando te seleccionou para o seu filho – acrescentou.

Kira sentiu vontade de lhe atirar o jarro de água à cabeça.

– Porque o odeias tanto? – Kira percebeu que, antes de contar o seu segredo a André, devia conhecê-lo muito melhor.

– Porquê? – à pergunta seguiu-se uma gargalhada cáustica e carente de humor. – Edouard Bellamy destruiu a minha família.

Kira sentiu náuseas.

– Foi por isso que planeaste ficar com o Château e destruir Bellamy?

– Pura vingança, ma chérie.

– Mas Edouard morreu.

O sorriso de André fê-la sentir-se como se a tivessem atirado para um mar de gelo.

– Não sabes que os pecados dos pais recaem sempre sobre os filhos?

Kira conseguiu assentir fracamente, embora lhe tremessem os joelhos.

– Mas o que é que Peter te fez?

– É um Bellamy.

Aquela resposta dizia tudo. Porque ela também era uma Bellamy, a filha de Edouard. E o seu filho, o filho dos dois, tinha o sangue dos Bellamy nas veias. Tinha de fugir de Petit Saint Marc antes que descobrisse a verdade, antes que a sua vingança contra os Bellamy a destruísse, a ela e ao seu filho.

Paixão cruel - Três semanas em atenas

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