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Capítulo 5

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André observava Kira com intensidade. Ela estava tão pálida que parecia prestes a desmaiar. Viu-a cambalear ligeiramente, tudo por lhe confessar a sua intenção de destruir o império de Edouard Bellamy.

– Foi um dia muito difícil – disse ela, finalmente. – Preciso de dormir.

Ele também, mas estava furioso com o relatório inicial do seu detective privado.

– Acabei de descobrir que Edouard Bellamy pagou a tua educação e o teu carro e que, além disso, te deu o apartamento espaçoso que tinha sido o lar do Peter durante mais de um ano.

– Investigaste-me? – perguntou ela, tensa e sem esconder a sua preocupação.

– Sim.

Era filha de mãe solteira, de «pai desconhecido», tal como dizia na sua certidão de nascimento e fora educada num internato britânico.

– Bellamy deu-te o teu primeiro emprego no hotel de luxo Cygne em Londres. Então, já eras a amante de Peter?

– Não! – protestou ela, com as faces acesas. – Edouard ofereceu-me uma bolsa para continuar com a minha formação, mas eu consegui o emprego através das minhas notas. Não fazia ideia de que o seu filho tinha vivido antes no apartamento que me deram.

André não acreditava em nenhuma palavra.

– Como conseguiu ficar com quarenta e nove por cento do Château Mystique?

– Falaremos disso mais tarde – declarou ela, sem querer dar mais explicações.

Virando-se, quis ir para a porta, mas os seus passos eram incertos e os seus movimentos cambaleantes. André segurou-a, alarmado com a sua palidez e a sua fraqueza.

– Devias ter comido mais – disse ele.

– Não teria conseguido engolir a comida.

– Estás doente? – perguntou ele, preocupado. – Devo chamar um médico?

– Não, a única coisa que tenho é sede e cansaço. O médico disse-me que no meu estado devia tentar beber mais e… – interrompeu-se de repente, ao aperceber-se de que falara mais do que devia.

André fixou os seus olhos semicerrados nela.

– Que estado?

Kira engoliu em seco, mas não desviou o olhar.

– Estou grávida de três meses.

Grávida! André passou os dedos pelo cabelo. Se soubesse, se tivesse a mínima suspeita, nunca a teria obrigado a deixar o Château.

– Claro, estás grávida de Peter.

– Não, de Peter não – disse ela, escapando da sua mão. – Tu és o pai.

Era mentira. Tinha de ser. Contudo, na sua mente, apareceu a imagem clara da única vez na sua vida que se esquecera de usar protecção. Desejara-a tanto que nem sequer lhe passara pela cabeça até ser demasiado tarde.

Agora, pagaria as consequências. Se fosse verdade.

– Quando tencionavas contar-me, ma chérie?

– Ainda não tinha decidido – declarou ela, recriminando-se por não ter sabido guardar o segredo.

Mas ela fora uma filha não desejada, abandonada pela sua mãe e vista pelo seu pai como uma obrigação e não ia permitir que o seu filho passasse pela mesma situação.

– Há provas que demonstrarão se o filho que esperas é do teu amante ou…

– Não porei o meu filho em perigo para satisfazer a tua curiosidade – interrompeu-a ela, levando uma mão protectora à barriga.

– Mon Dieu! Achas que quero pôr a vida de um bebé em perigo?

– Não sei – respondeu ela, sem se deixar intimidar. – Não fizeste nada para ganhar a minha confiança.

– Está bem – admitiu André, passando uma mão pelo queixo e amaldiçoando o leve tremor que lhe agitava o braço.

De certeza que o bebé era de Bellamy, mas também podia ser dele.

– Para mim, o mais importante é a saúde do meu filho – disse ela e ele assentiu em silêncio. – Deixa-me voltar para o Château. Tenho de ver o meu médico regularmente…

– Farei com que venha um obstetra de Martinica ver-te semanalmente…

– Semanalmente? Não pensarás deixar-me aqui raptada?

– Não raptada, mas sim, ficarás na ilha durante a gravidez.

«Até se provar a paternidade», pensou Kira, com irritação. Petit Saint Marc seria a sua prisão durante os próximos seis meses, a menos que ela fosse capaz de derrubar o muro de ódio que André erguera. Até ela conseguir ganhar a sua confiança.

– Não era a minha intenção deixar que descobrisses assim – disse, finalmente.

– Perdoa-me por não acreditar em ti – disse ele, com uma gargalhada amarga, e puxou-a pelo braço. – Vamos, acompanhar-te-ei ao teu quarto.

André não tencionava perdê-la de vista até ter total certeza de que estava grávida e de que o filho era dele.

Kira acordou quando já amanhecera e espreguiçou-se lentamente na cama. Há muito tempo que não se sentia tão descansada e suspirou com satisfação. O rangido de uma poltrona de vime fê-la ficar tensa. Não estava sozinha. Tapou-se com o lençol até ao queixo e olhou para a poltrona.

– Bom dia! – cumprimentou André, levantando-se e aproximando-se da cama. Lá, deixou uma caixinha na mesa-de-cabeceira. – Acho que estes testes são de confiança.

– Queres que faça um teste de gravidez? – perguntou ela, com incredulidade.

– Sim. E aqui sugere que se faça logo de manhã.

Coisa que ela sabia perfeitamente, visto que já o fizera ao princípio da sua gravidez, para ser confirmado mais tarde pelo seu médico. Mas se André queria outro teste, fá-lo-ia.

Dez minutos mais tarde, André tinha a confirmação inequívoca da gravidez.

– Continuarás a ser minha convidada até teres o bebé.

– Quererás dizer tua prisioneira.

– Se quiseres chamar-lhe assim – disse ele, dirigindo-se para a porta.

Kira não queria montar uma cena e deixar-se levar pela histeria, portanto, respirou fundo e manteve a calma.

– Está bem, posso trabalhar com o meu portátil daqui sem nenhum problema.

– O teu único trabalho até dares à luz é cuidares de ti e do bebé – disse ele, abrindo a porta.

– Ainda faltam seis meses de gravidez! – protestou ela. – Se não tiver nada para fazer, ficarei louca.

André esboçou um sorriso lento, carregado de insinuação.

– Eu farei com que não te aborreças, ma chérie – garantiu e desapareceu.

Kira levou os punhos às têmporas, com vontade de gritar. Se ficasse ali, acabaria por ser sua amante, mas, quando André descobrisse que era uma Bellamy, tratá-la-ia com o mesmo ódio que sentia por Edouard e Peter. E o seu filho também. Tinha de entrar em contacto com o seu advogado e descobrir quem urdira o plano para que André achasse que era cúmplice de Peter.

Depois de tomar o pequeno-almoço, saiu para dar um passeio pelos arredores da casa. Petit Saint Marc era uma bonita prisão, um bosque tropical exuberante de diferentes tonalidades de verde e rodeado de uma franja de areias brancas. O mar turquesa prolongava-se interminavelmente para o horizonte, salpicado de vez em quando pela passagem de algum barco. Kira caminhou pela areia até à água e chegou até um recife isolado.

Viu um guarda a patrulhar a praia e, mais perto dela, um jovem caribenho estava sobre um montículo a observar o horizonte. Kira seguiu o seu olhar e, não longe da margem, avistou um caiaque que deslizava sobre a água com aparente facilidade. Certamente, era o que o jovem esperava. Ao longe, viu também o inconfundível verde das árvores. Seria outra ilha? É claro. Provavelmente, o caiaque vinha de lá.

Quando o caiaque chegou à margem, o rapaz de pele morena saltou para a água e, com a ajuda do outro jovem, puxou a embarcação até à areia. Depois, os dois rapazes viraram-se e desapareceram no bosque.

Certa de que na outra ilha haveria um telefone para telefonar ao seu advogado, Kira ignorou o pânico que sentia das embarcações pequenas e aproximou-se do caiaque. Com determinação, empurrou-o até à água, dizendo para si que, se um jovem adolescente conseguia manipulá-lo, ela também.

Uma vez na água, segurou com força no remo e afundou-o na água, mexendo-o ritmicamente e fazendo avançar o caiaque para o seu destino. Só virou a cabeça uma vez para olhar para Petit Saint Marc, mas continuou a remar para a frente, para a pequena ilha que se elevava à frente dela, ainda demasiado distante e pequena.

Demasiado tarde, viu as nuvens cinzentas que se aproximavam pelo horizonte com uma velocidade inesperada e o pânico voltou a apoderar-se dela. Seria impossível chegar a terra firme antes de começar a tempestade.

O vento começou a levantar ondas cada vez mais altas e era difícil manter o rumo. Um relâmpago rasgou silenciosamente o céu, como um aviso mudo do que se aproximava. Kira segurou com força o remo, pensando que talvez aquilo fosse um erro que podia pôr em perigo a sua vida e a do seu filho, mas decidida a seguir em frente.

A chuva não demorou a chegar, em forma de uma cortina densa que a cercava várias vezes. Tinha a roupa encharcada e o cabelo colado à cara e às costas. O caiaque encheu-se de água. Cansada, continuou a remar, consciente de que parar significaria o lançamento do caiaque contra as rochas. Mas cada vez tinha menos forças.

Sem saber o que fazer nem para onde se dirigir, à mercê do vento e da chuva, Kira achou ouvir o ruído de um motor. Alguém saíra para o alto-mar com a tempestade! Seria o pai do jovem caribenho que vira na praia? Talvez alguém que pudesse ajudá-la? Arriscou-se a virar a cabeça, com a esperança de ver alguém por perto que pudesse ajudá-la. Ofegou de cansaço, mas verificou, aliviada, que alguém viera ajudá-la.

Era André! Não! Como a encontrara tão rapidamente?

Mas o importante era que estivesse ali. Confiava totalmente nele, mesmo que fosse apenas para a salvar das garras daquela tempestade.

Naquele momento, a natureza pareceu gozar com ela e uma rajada de vento virou o caiaque de costas e a força da água arrancou-lhe o remo das mãos. O vento apagou os seus gritos. E, de repente, o caiaque virou-se. As ondas envolveram-na e arrastaram-na para baixo e, então, viu-se novamente a afogar-se num lugar escuro que lhe arrancava a vida.

O seu pesadelo voltava a tornar-se realidade.

O coração de André parou, embora fosse apenas por um instante, e pensou em matá-la por fazer semelhante loucura, por se pôr em perigo.

Mas, antes de a estrangular com as suas próprias mãos, tinha de a salvar das ondas e de a levar sã e salva para Noir Creux, a ilhota desabitada que era uma reserva natural. Desligou o motor da mota aquática e mergulhou de cabeça no lugar onde a vira desaparecer sob as ondas, contando os segundos, consciente de que o tempo era de vital importância. Procurou no redemoinho e, finalmente, conseguiu tocar numas madeixas de seda. Segurou o cabelo dela e puxou-a com ele para cima, contra a força das ondas.

Saíram juntos para a superfície, sob a chuva e a fúria das ondas e, então, viu o receio e o alívio nos olhos femininos.

Muitas emoções invadiram-no, mas tentou ignorá-lo. Não queria sentir mais do que simples desejo físico por ela. Porque agora, depois da reunião em Martinica com o seu advogado, sabia que Kira era apenas uma oportunista, que passava de um benfeitor para outro, tentando tirar o máximo proveito.

Mas não com ele e muito menos agora que tinha consciência de que era apenas uma encantadora de serpentes que não hesitaria em usar a fraqueza que sentia por ela para tentar destruí-lo.

Passando-lhe um braço pela estreita cintura, nadou para terra firme e, depois do que pareceu uma eternidade, sentiu a areia vulcânica da margem sob os pés. A chuva continuava a cair com força e ele dirigiu-se para a gruta que se abria atrás das rochas. Vendo-se finalmente a salvo da força das ondas, André respirou fundo e olhou para ela.

– Estás bem? – atreveu-se a perguntar, sem conseguir compreender como se atrevera a entrar no mar com o pânico que sentia pela água, pondo a sua vida e a do seu filho em perigo.

– Sim – respondeu ela. – Estamos bem.

Ela e o seu filho. Os três estavam a salvo.

– Só queria telefonar e voltar para Petit Saint Marc.

Sem dúvida, estava desesperada por entrar em contacto com Peter e confirmar que conseguira o seu objectivo.

– Terias esperado uma eternidade – respondeu ele. – Noir Creux está desabitada. É um santuário natural sob protecção francesa e a minha também.

Kira olhou para ele com incredulidade.

– Tu vigias um espaço protegido?

– Um espaço protegido e muito mais coisas – disse ele. – Como o Château Mystique. Na verdade, esta manhã recebi uma chamada a oferecer-me as tuas acções, tal como aconteceu com as de Edouard.

– Isso é impossível – disse ela. – Quem te telefonou?

– Isso não importa.

– Sim, claro que importa, porque as minhas acções não estão à venda nem nunca estarão.

– Agora não podes voltar atrás.

– Não é necessário. Nunca autorizei nenhuma venda – disse ela, esfregando os braços. – Tenho de telefonar ao meu advogado e parar tudo isto antes de…

– Já é demasiado tarde. Paguei o preço que pediam – disse ele. – Há uma hora, o Château Mystique é meu a cem por cento.

Paixão cruel - Três semanas em atenas

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