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D. Filippa

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Como dissemos, D. João de Castella transpozera a fronteira, preparando-se para cingir a corôa de Affonso Henriques. O paiz achava-se desunido e fraco, abatido pelo contagio da maldade que de tão alto o enervava; a nobreza, na maior parte, seguia o castelhano; só o povo se mostrava contrario ao usurpador e á rainha, que sempre odiára altivamente, apesar dos laços da forca apertados pelas bellas mas ferozes mãos de D. Leonor. No entanto, n’este cahos em que Portugal se encontrava, quatro homens appareceram destinados pela Providencia para a restauração da patria—o Mestre d’Aviz, João das Regras, Alvaro Paes e Nuno Alvares—quatro vultos cujos nomes a historia gravou em letras de ouro e a arte na sua linguagem sublime esculpiu homericamente no mosteiro da Batalha, echo perpetuo dos vencedores d’Aljubarrota, padrão eterno de uma das maravilhas do universo, portal da gloria que Camões immortalisou nos Lusiadas; que é e será sempre o santuario do portuguez, romeiro patriota que, como o mahometano, pelo menos uma vez na vida, se prostra ante o tumulo do propheta.

O Mestre d’Aviz foi o instrumento da independencia; João das Regras, o defensor da sua causa; Alvaro Paes, o instigador tenaz e prepotente; o Condestavel, o general habilissimo que soube vencer os exercitos, como o advogado soubéra dominar a legislação.

Esta foi a gente que capitaneou a hoste popular, exaltada e patriotica, symbolo vivo de toda a nobreza de caracter. Juntos, alliando o direito com a melicia e a diplomacia, venceram o estrangeiro, conservaram a autonomia e encetaram o progresso no nosso torrão. A posteridade não lhes foi injusta—honra lhe seja—mas nos tempos de hoje, em que os chatins têem estatuas, elles dormem tranquillos nos seus tumulos, sem que nas praças publicas o povo, outrora soldado das suas fileiras, os venere no bronze, como em vida lhes votou todo o seu amor!

Apezar da nossa decidida abnegação e de termos vencido o inimigo (14 d’agosto de 1385), entendeu D. João I ser conveniente uma alliança politica; fôra ella tractada com o Duque de Lencastre, João de Gant, pretendente de Castella e consumado pelo casamento do rei com D. Filippa, filha do principe inglez, a qual recebeu em dote o senhorio de Alemquer, Cintra, Obidos, Torres Vedras e outras villas.

O consorcio realisou-se na cidade do Porto (2 de fevereiro de 1387), debaixo das bençãos dos prelados e dos applausos dos populares, que adivinhavam uma nova éra para a corôa e para o paiz.

Fóra de duvida, foi mais que vergonhosa a scena do reinado anterior; mas se a mancha da impudicicia póde ser apagada na historia d’um povo, certamente a virtude que se lhe seguiu, que rivalisava em fortaleza com o desbragamento de Leonor Telles, compensou o interregno infame em que o pudor não só foi olvidado mas tambem escarnecido.

D. Filippa de Lencastre reatou os laços de honestidade que sempre existiram no throno. Mãe de heroes, que soube crear, esposa d’um soberano illustre, que sempre allumiou com o facho da virtude; rainha, mas dona de casa, sem se intrometter na politica, como desastradamente depois fez sua nora Leonor d’Aragão, ella é o symbolo do que ha de mais grandioso na nossa historia e do que ha de mais nobre n’uma mulher.

Como tudo tem fim, esse brilhante ornamento da nossa monarchia succumbiu em Odivellas (19 de julho de 1415) d’um ataque de peste que assolava Lisboa; depois de vinte e oito annos ter sido a fiel companheira do rei de boa memoria, e de ter gerado em seu ventre

As donatarias d'Alemquer

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