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D. Beatriz de Gusmão
ОглавлениеComo fica dito, Affonso II falleceu em 25 de março de 1223. Subira ao throno pela morte de seu pae, o rei D. Sancho (27 de março de 1211), de quem foi herdeiro, conforme o direito de primogenitura.
Ainda infante, casou com D. Urraca, filha de Affonso VIII, de Castella, e de D. Leonor, filha de Henrique II, rei d’Inglaterra.[9]
D’este consorcio nasceram quatro filhos: Sancho, que herdou a corôa e foi o segundo no nome; Affonso, que casou em França com Mathilde, Condessa de Bolonha; Leonor, esposa de Valdemaro III, de Dinamarca; e D. Fernando, o infante de Serpa, desposado de D. Sancha de Lara, filha do Alferes-mór de Castella.
O Conde de Bolonha foi o primeiro principe que deu exemplo de perfidia na corôa portugueza. Instrumento e ao mesmo tempo alma dos magnates que depozeram D. Sancho (1245), por não lhe servir as ambições, negando a politica do avô, investira o poder depois de exilado o irmão, conquistador valeroso, a quem a patria, mesmo depois de seiscentos annos, só tem dispensado palavras vãs, recusando-lhe quatro palmos de terra no pantheon dos monarchas![10]
Póde ser que nos ultimos tempos do seu governo D. Sancho cedesse á amante a vontade de rei; póde ser—e foi—que o soberano, inebriado pelos fascinadores olhares de Mecia, olvidasse a justiça e o bem do seu povo; mas Juromenha, Serpa, Aljezur e Ayamonte, praças que tomou ao islamismo, mereciam melhor recompensa que a proscripção e o exilio em Castella.
Que tempos os medievaes! No castello de Coimbra, depois do osculo de mais intenso amor; depois de mutuas juras de fidelidade, passadas as scenas que tornam celestial o remanso do lár, um vulto de guerreiro assoma á camara real. Approxima-se D. Mecia, contempla o marido, que dorme, e, tão bella como perfida, lança-se nos braços de Raymundo Viegas de Portocarrero, cavalga o fogoso corcel do raptor, e amparada no corpo do cavalleiro, que a roubára pela politica do infante bolonhez, penetra os muros d’Ourem, onde esforços do apaixonado D. Sancho não conseguem escalar!
Abandonado pela mulher a quem confiára o seu coração, perseguido pelo clero que o intrigava na Curia, deposto pelo proprio Pontifice, refugiou-se em Toledo, onde falleceu aos 4 de janeiro de 1248. Conhecida a sua morte, o conde de Bolonha tomou o titulo de rei. Este soberano para quem a historia só encontrou o cognome de bolonhez, apezar de ter conseguido a libertação do Algarve, foi tão perfido com a condessa Mathilde, como traidor ao irmão.
Desprezada a esposa, Affonso III, em 1253, contrahiu segundas nupcias com D. Beatriz de Gusmão, filha bastarda d’Affonso X, de Castella, e de D. Maria Guillen de Gusmão.
Embora fosse o primeiro coito damnado que se sentou no throno, D. Brites foi um anjo de paz como a sua successora, Santa Izabel. Ella serviu de medianeira quando a guerra rebentou entre Castella e Portugal, e mais tarde Affonso X, desthronado pelo herdeiro ambicioso, encontrou na filha um thesouro de virtudes, unico lenitivo no meio da desgraça.
O marido, que a idolatrava, fez-lhe doação d’Alemquer, em 1267.[11] A estima de Affonso III demonstra a importancia que a villa então possuia, pois é licito acreditar que a generosidade do rei condissesse com o amor consagrado á esposa. Dezesete annos estivera Alemquer annexa á corôa, encontrando na mercê do monarcha uma donataria virtuosa, digna herdeira de D. Dulce e de suas filhas, D. Sancha e D. Thereza. Mas para a terra em si, embora as suas virtudes lhe servissem d’ornamento, materialmente nada lucraria, se a rainha só cuidasse de receber as rendas, deixando no olvido os beneficios com que a poderia dotar. Não foi assim; D. Brites alcançára do esposo (28 de junho de 1277)[12] o padroado das egrejas e capellas do seu senhorio, e, conscia do cumprimento dos deveres, deu principio á construcção da egreja de S. Francisco, onde outr’ora foram os paços reaes, em que Santa Sancha recebeu os cinco martyres de Marrocos.
Acanhado e pequeno o primitivo templo, começou-se a obra da nova egreja, em 1280. Não a poude vêr concluida a rainha, que falleceu em 7 d’agosto de 1300, e a egreja só foi sagrada cinco annos depois. No emtanto, seu filho, el-rei D. Diniz, continuou, dignamente, o empenho da mãe, como o attesta a seguinte inscripção:
Esta igreja fundou A muy nobre rai(nh)a Dona Beatr(ix) e acabou a o muy jostiçoso seu filho nobre Rey de Port(ugal) comprido de vertude Do(m) Denis [13]