Читать книгу Escuras emoções - O mais escuro dos segredos - Kate Hewitt - Страница 8
Capítulo 4
ОглавлениеO que estava a fazer? Sergei viu o brilho de desejo que havia nos olhos de Hannah e voltou a sentir-se culpado. Estava farto. Desde quando tinha consciência? Não poderia ter feito as coisas que fizera ao longo da sua vida e continuar a ter consciência. No entanto, parecia que era assim, pelo menos, no que se referia a Hannah Pearl.
Fazia-o pensar em Alyona, pelo modo como lhe brilhavam os olhos e como sorria como se na vida ainda houvesse coisas maravilhosas. Com esperança. Até o fizera mencionar Alyona e isso era algo que Sergei nunca fazia.
Levantou-se com raiva e deu-lhe uma mão para a ajudar a levantar-se da cadeira, ela aceitou-a sem hesitar, com os olhos esbugalhados. Teria a menor ideia do efeito que tinha nele a sua doçura, de como desatava a sua culpa e ao mesmo tempo o enchia de desejo? Ansiava acreditar na sua ilusão, mas também queria acabar com ela.
– Anda.
– Para onde?
Sergei afastou-lhe uma madeixa de cabelo da cara. Tinha a pele muito suave e conseguia sentir o cheiro do seu cabelo.
– Tenho um salão privado para meu uso particular – disse. – Vamos beber um copo.
– Eu já bebi o suficiente – disse Hannah, rindo-se.
Sergei sorriu.
– Então, comeremos a sobremesa.
Hannah olhou para ele fixamente e, apesar da sua inocência, Sergei apercebeu-se de que sabia perfeitamente o que ia acontecer. Mordeu o lábio inferior e baixou o olhar por um segundo durante o qual Sergei quase a deixou ir.
Pensou em dizer-lhe para se esquecer dele. Mas, então, levantou o olhar e viu muita determinação nos seus olhos azuis.
– Sigo-te – disse, com um ar despreocupado.
Sergei entrelaçou os dedos com os dela e levou-a para a sala privada. Uma vez lá, fechou a porta atrás dele e virou-se para ela, sem se incomodar em fingir que tinham ido comer sobremesa ou beber um copo.
– O que...? – começou a dizer.
– O que estou a fazer? – acabou ele, ao ver que não continuava. – Vou beijar-te.
– Beijar-me – murmurou Hannah, com um desejo surpreendente. Mal conseguia acreditar que estava a acontecer, que um homem tão poderoso e atraente como Sergei Kholodov a desejava. Parou e emitiu um suspiro que parecia de rendição. Queria que acontecesse. O beijo e muito mais, o que fosse. Era muito inocente e ingénua, mas não tanto ao ponto de não saber onde conduziria aquele beijo. Sabia o que Sergei queria... O mesmo que ela.
– Sim – murmurou ele, ao mesmo tempo que segurava no seu rosto. Acariciou-lhe os lábios com o polegar. – Queres que te beije?
Hannah riu-se suavemente.
– Pareces um homem experiente. O que achas?
Ele também se riu e Hannah esperou com impaciência. Desejava que acontecesse, mas preferia que fosse ele a dar o primeiro passo.
Sergei passou as mãos pelo seu cabelo e puxou-a. Ela deixou-se levar e, entre os batimentos fortes do seu coração, inclinou a cabeça e aguardou para sentir o toque da sua boca.
Foi tão fácil. Muito. Talvez estivesse a enganar-se, mas não queria pensar nisso. Não ia começar a pensar na sua inocência, no seu otimismo e em como o fazia recordar. Ia limitar-se a aceitar o que lhe oferecia porque era o que fazia sempre e assim conseguira sobreviver.
Era a única coisa que podia fazer e não podia mudar.
Acariciou-lhe o queixo, a pele quente e suave. Deslizou as mãos pelo seu pescoço, sob o cabelo, e quando a aproximou dele, ela deixou-se levar, tal como Sergei imaginara que faria.
O primeiro contacto com os seus lábios foi deliciosamente doloroso porque Sergei não esperava beijá-la com tanta suavidade, nem que lhe provocasse tantas sensações. Por isso começou a beijá-la de um modo mais intenso, inundando a língua na sua boca, para afastar tanta doçura e substitui-la por uma coisa mais primária e menos perigosa.
Dos seus lábios saiu um som leve, a meio caminho entre a surpresa e o gemido de prazer. Pôs-lhe as mãos nos ombros, mas Sergei não soube se o fazia para se agarrar a ele ou simplesmente procurava um ponto de apoio.
Queria ser racional, mas o seu modo de agir, a inocência e a naturalidade com que respondia faziam com que fosse muito difícil pensar de um modo racional ou simplesmente pensar.
Baixou as mãos pelo seu corpo e pô-las por baixo do vestido. Ela voltou a fazer o mesmo som de surpresa ao sentir a sua mão em contacto com a pele da coxa. Era tão sincera com o seu corpo como com tudo o resto. Levantou-lhe a perna para que a pusesse à volta da cintura e apertou-a contra a sua excitação inconfundível.
Aquilo bastou para pôr um travão à situação que, de certo modo, era o que Sergei queria, embora todo o seu corpo protestasse por causa do desejo não satisfeito.
Por muito que tivesse tentado demonstrar-se alguma coisa, continuava a sentir-se culpado.
Hannah afastou-se ligeiramente. Tinha a respiração acelerada e os lábios entreabertos, o cabelo despenteado e as faces coradas. Estava linda.
– Tudo isto é um pouco rápido para mim.
Sergei sorriu.
– A sério?
– É maravilhoso – afirmou, com a mesma sinceridade de sempre. – Mas eu... Não estou habituada.
– Eu sei – disse ele. – És virgem, não és?
Hannah esbugalhou os olhos e corou ainda mais, se era possível.
– Suponho que é evidente.
– Sim.
Ela desviou o olhar e riu-se com certo desconforto.
– Deves pensar que sou uma parva.
Sergei poderia ter dito que não, podia tê-la abraçado e ter-lhe dito que era linda, atraente, perfeita. Tudo teria sido verdade. Depois, podia tê-la levado para a cama e ter feito amor com ela durante toda a noite. De manhã, ela ir-se-ia embora. Muito fácil.
Mas Sergei não disse nada.
Ela baixou a cabeça. Parecia tão jovem e frágil. Sergei ainda sentia o sabor da sua boca nos lábios. Quase falou, mas então ela deu um passo em frente, pôs-lhe as mãos no peito e fez com que lhe acelerasse o coração.
– O que quero saber é se te incomoda – disse suavemente, olhando para ele nos olhos.
– Incomodar-me?
Aquele olhar e o modo como se aproximou dele depois de a rejeitar com o seu silêncio fizeram com que Sergei não conseguisse pensar.
Nenhuma mulher o cegara daquela maneira. Hannah parecia tão disposta a deixar-se magoar que Sergei sentiu vergonha, admiração e raiva ao mesmo tempo. Ninguém devia ser tão vulnerável porque só poderia trazer-lhe dor e deceção.
– Que seja uma parva – esclareceu, com um sussurro suave.
Sergei sentiu o tremor dos seus dedos e soube que tinha de pôr fim àquela situação e sabia bem como fazê-lo.
– Não me incomoda – assegurou e fez desaparecer o espaço que separava as suas bocas para a beijar de uma maneira que nada tinha a ver com a doçura do beijo anterior.
Sentiu a sua surpresa antes de voltar a intensificar o beijo, exigindo que se rendesse.
E ela fê-lo, o seu corpo tornou-se suave e pôs-lhe as mãos à volta do pescoço. Sergei perdeu qualquer vestígio de consciência, arrastado por um desejo que não era só físico. Porque é que aquela mulher tão irritantemente otimista o fazia sentir tanto? Porque despertava aquela necessidade nele e as suas lembranças?
Pôs-lhe as mãos por baixo do rabo e levantou-a do chão, apertando-a contra a parede. Rodeou-lhe a cintura com as pernas. Sergei esqueceu-se de que a única coisa que pretendia era que ela o afastasse, continuou a acariciá-la, já tinha as mãos sobre a renda da sua roupa interior.
– Sergei – sussurrou ela, num tom cheio de desejo.
Sentia tal mistura de emoções que já não sabia distingui-las, mas, de repente, golpeou-o a lucidez e deixou-o gelado.
Era virgem.
E ele estava a esmagá-la contra a porta, a beijá-la de um modo que certamente lhe deixaria os lábios inchados e possivelmente arroxeados.
O que estava a fazer? O que fizera? A sua intenção fora assustá-la com um beijo, mas aquilo... Na verdade, ela ainda não sabia o que fazia.
Ele sabia.
Afastou-se dela e detestou-se com tal força que foi como se um ácido estivesse a corroer-lhe a alma que achava estar perdida há muito tempo.
– Sergei – disse Hannah novamente, mas desta vez parecia uma pergunta.
Uma pergunta que ele não podia responder. Passou as mãos pelo cabelo, respirou fundo e expirou de repente. Hannah alisou o vestido com mãos trémulas.
Era melhor assim, pensou Sergei, sem olhar para ela. Era melhor pôr fim a algo que nunca deveria ter começado, pelo bem dos dois.
Não era isso que devia acontecer. Talvez fosse virgem, inocente e otimista, como Sergei dissera, mas por muito positiva que fosse, Hannah sabia que aquilo não tinha bom aspeto.
– Tenho a impressão de que sou mais parva do que pensava – disse, num tom fraco, mas tentando sorrir porque não sabia que outra coisa fazer.
– Sim – replicou Sergei, num tom furioso.
Hannah não esperava tal resposta. Não conseguia tirar da cabeça o que acabara de a fazer sentir enquanto a acariciava. Perguntou-se o que teria acontecido se ele não tivesse parado e soube que, se tivesse continuado, ela não o teria lamentado.
– Sergei, porquê...?
– Vai para o teu quarto – disse, como se fosse uma menina desobediente. – Grigori encarregar-se-á de ti amanhã.
– Como se encarregará de mim?
– Do teu passaporte e do voo – explicou e esboçou um sorriso sombrio. – Amanhã a estas horas estarás muito longe daqui, milaya moya.
Hannah sabia que aquelas palavras queriam dizer «minha doce». Sergei nunca lhe parecera tão cínico como quando pronunciou aquele apelativo carinhoso.
– Porque me afastaste? – perguntou-lhe.
– Não sejas tão ingénua, Hannah! – deu um passo para ela, com os olhos cheios de fúria.
– Diz-mo.
– Queres mesmo sabê-lo? Vou dizer-te. Afastei-te porque não gosto de virgens, milaya moya, especialmente das que nem sequer sabem beijar.
Isso magoou-a.
– Não acredito...
Sergei riu-se.
– Uma coisa é ser otimista e outra é enganares-te a ti própria.
Hannah cruzou os braços e olhou para ele com a cabeça bem erguida. O comportamento de Sergei não fazia sentido. Já sabia de antes que não tinha nenhuma experiência e, no entanto, ela fora testemunha da sua excitação. Sentira-a nos seus beijos, nas suas carícias. Não se afastara dela porque não a desejava. Então, porquê?
Porque não queria magoá-la.
A ideia surgiu na sua mente de repente. Talvez fosse verdade que estava a enganar-se, mas Hannah tinha a sensação de que o que acontecia era que Sergei era a pessoa mais fria e cínica que vira na sua vida.
– Não acredito – disse.
Ele voltou a rir-se.
– É incrível que te empenhes desse modo em querer ver o melhor das pessoas. Comigo não tens de te esforçar.
– Foste muito amável comigo.
– Já te disse que todos têm algum motivo e que não costuma ser nada bom – deu outro passo para ela, com atitude ameaçadora. – Queres saber qual era o meu motivo, milaya moya?
– Não me chames assim.
– És muito doce – tocou-lhe na face de um modo que a fez tremer. – Porque achas que intervim quando as crianças te roubaram? Só queria levar-te para a cama.
Hannah engoliu em seco, pois não gostava nada do que estava a fazer.
– Então, parece-me que tens de melhorar bastante as tuas técnicas de sedução porque ao princípio foste muito desagradável comigo.
Parou os dedos por um instante, depois sorriu e Hannah também não gostou do seu sorriso. Era frio e calculista.
– Mas funcionou, não foi? Há uns segundos podia ter-te feito minha aqui mesmo, contra a porta – recordou-lhe, sorrindo ainda mais.
– Então, porque paraste?
– Porque deixaste de me interessar.
Ao ouvir aquilo, Hannah atreveu-se a baixar o olhar até ao lugar da sua anatomia que demonstrava como a desejava.
– Talvez seja virgem, Sergei, mas não sou assim tão inocente.
Sergei baixou o olhar também, não demorou a reagir.
– É óbvio que poderia ter ficado satisfeito, mas tenho gostos mais sofisticados e a verdade é que não vale a pena tanto esforço. É muito cansativo ir para a cama com uma virgem e depois costumam ser muito sentimentais. Não quero ter de aguentar o teu pranto.
Cada uma das suas palavras era como um murro no estômago. Talvez estivesse mesmo a enganar-se.
Mas, então, levantou o olhar e viu como estava tenso. Se realmente sentia o que dizia, se lhe despertasse tanto aborrecimento, já se teria ido embora e tê-la-ia deixado ali em vez de continuar a olhar para ela com o corpo rígido, como se estivesse à espera.
Dessa vez, foi ela que se aproximou e lhe pôs a mão na face.
– Não, Sergei. Não acredito. Estás a tentar afastar-me do teu lado, mas não compreendo porquê. Talvez tenhas medo de me magoar ou simplesmente tenhas medo. Não sou suficientemente parva para pensar que o que se passou esta noite podia ser nada mais do que isso, uma noite, mas... – engoliu em seco e sentiu como ele cerrava os dentes. – Mas também sei que não estás a dizer-me a verdade – assegurou com a certeza de que não era imaginação dela.
– Sergei.
Hannah ficou imóvel ao ouvir que se abria a porta e ao ver aparecer uma mulher. Vestia um vestido preto e justo que mal lhe cobria as coxas, tinha umas botas altas com salto de agulha e muita maquilhagem na cara. Era muito bonita, mas tinha um aspeto barato e muito explícito. Pelo modo como sorriu para Sergei, estava claro que se conheciam bem.
Disse algo em russo, entre gargalhadas que faziam pensar que estava bêbada.
– Não – disse, afastando-se de Hannah, mas abandonando o russo para que ela pudesse entender o que dizia. – Não interrompes nada, Varya. Na verdade, estava à tua espera – acrescentou, com mais suavidade.
Hannah presenciou com horror como Sergei se aproximava daquela mulher e lhe passava o braço pela cintura. Ela deixou-se abraçar e apoiou a cabeça no seu ombro como se fosse algo habitual. Não compreendia porquê, mas ao ver aquilo foi como se o mundo inteiro se derrubasse.
Era estranho, como tudo o que acontecera naquela noite. Era como se a atitude de Sergei demonstrasse que os valores em que Hannah baseava a sua vida não tinham nenhum valor. De repente, tudo em que acreditava parecia falso e todas as afirmações de Sergei se tornavam realidade. O seu otimismo era apenas um conjunto de falsas ilusões de uma ingénua.
Era verdade que se enganara.
– Será melhor ir-me embora e deixar-vos a sós – disse, quando encontrou forças para falar.
Varya olhou para ela com os olhos cheios de lágrimas, mas Sergei sorriu com frieza.
– Sim, vai – disse e virou-se para Varya.
Hannah saiu da sala e ouviu que Sergei sussurrava algo carinhoso a Varya. Então, parou porque havia algo que não encaixava. Um homem de gostos sofisticados, como ele próprio dissera, não teria escolhido uma mulher com um aspeto tão vulgar como Varya.
O que estava a acontecer?
Ainda tinha a mão na maçaneta, portanto voltou a entrar. Varya ainda tinha a cabeça apoiada no ombro de Sergei, que olhava para ela com uma enorme tristeza. Nesse momento, levantou o olhar e, ao vê-la novamente à porta, ficou gelado, mais frio do que nunca.
Hannah não teria sabido dizer onde encontrou aquelas palavras, só sabia que falava completamente a sério.
– És uma pessoa melhor do que pensas, Sergei.
Algo mudou no seu rosto, mas Hannah não teve tempo de o interpretar.
– Enganas-te – murmurou ele e virou-se.
Hannah pensou que devia ter razão e foi-se embora sem dizer mais nada.
Sergei ouviu a porta a fechar-se e expirou o ar que, sem se aperceber, estivera a conter.
– És sempre tão bom comigo – murmurou Varya em russo.
Cheirava a vodca barato.
– Viste Grigori?
– Não quero que me veja assim – disse ela, entre soluços. Ficava sempre muito sentimental quando bebia.
Sergei levou-a dali, mas não conseguia esquecer o rosto de Hannah, a dor dos seus olhos queimava-lhe a alma e enchia-o de remorsos. Remorsos que não podia sentir. Sabia que era melhor assim. Varya não poderia ter aparecido em melhor momento para o ajudar a livrar-se de Hannah e destruir as ilusões que ela própria criara com o seu otimismo desmesurado.
«És uma pessoa melhor do que pensas.»
Era incrivelmente ingénua.
Chegaram ao quarto reservado para uso exclusivo de Varya quando aparecia de maneira regular, mas imprevisível. Todos os empregados do hotel sabiam que deviam deixá-la entrar em qualquer momento e chegasse nas condições em que chegasse. Ninguém tinha um acesso tão ilimitado e tão fácil.
– És tão bom comigo – voltou a dizer-lhe, enquanto lhe preparava um banho quente. – Devias fingir que não me conheces e não voltar a falar comigo.
– Nunca poderia fazer isso, Varya. Conhecemo-nos desde a infância.
– Se é que podemos chamar-lhe infância – respondeu ela.
Cada vez que aparecia tinha pior aspeto. As rugas, os olhos vermelhos... Eram sinais de uma vida que Sergei tentara mudar várias vezes, mas Varya sentia-se incomodada no novo ambiente de Sergei, por isso só ia ter com ele quando estava desesperada e ia-se embora assim que podia.
– És muito bom, mas estás sozinho, Serozyha – disse, chamando-o pela sua alcunha de criança. – Não deixas que ninguém se aproxime de ti realmente, nem sequer eu.
– É difícil livrar-me dos maus costumes, Varya.
– Quero que sejas feliz.
Feliz? Sergei não recordava a última vez que sentira tal emoção ou se alguma vez a sentira. Sentira satisfação, triunfo, mas nunca uma alegria intensa e sincera.
– Vamos ocupar-nos de ti – ajudou-a a despir-se como se fosse uma criança e, uma vez na banheira, deixou-a a sós para que pudesse relaxar, mas deixou a porta entreaberta para se assegurar de que estava bem.
Mal saíra da casa de banho quando chegou Grigori. Estava muito pálido, à exceção da mancha de nascimento que levara os seus pais a abandoná-lo e que tinha enchido a sua passagem pelo orfanato de sofrimento.
– Sergei, lamento que Varya te tenha interrompido quando...
– Não faz mal – interrompeu. – Fico feliz por me ter encontrado.
O seu assistente parecia muito preocupado. Grigori nunca lhe dissera que estava apaixonado por Varya, mas era mais do que evidente.
– Está...?
– Precisa de um banho, de uma refeição quente e de algumas horas de sono.
Grigori assentiu, embora ambos soubessem que Varya precisava de muito mais do que isso, assim como sabiam que nunca aceitaria a sua ajuda. A vida na rua sempre fora muito mais árdua para ela, uma mulher era mais vulnerável.
– E a menina Pearl...? – perguntou o seu assistente, hesitando.
Sergei desviou o olhar. Ainda conseguia sentir a suavidade da sua mão na cara, a amabilidade das suas palavras. Quisera acreditar nele, mas Sergei alegrava-se por ter podido demonstrar-lhe que não valia a pena.
– Quero que amanhã a ajudes a conseguir um novo passaporte e um visto de saída do país – disse a Grigori. – Eu não tenho intenção de voltar a vê-la.