Читать книгу "Casamento de sociedade" Comprometida com um xeque - A Esposa Secreta - Kate Walker - Страница 6

Capítulo 1

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Por alguma razão chamavam «Leão do Deserto» ao homem cuja silhueta se apoiava na janela. A sua pele bronzeada era sinal de boa saúde e o seu cabelo preto era como uma crina de ébano. A magnificência do seu corpo musculoso deixara mais do que uma mulher a suspirar, enquanto ele se movimentava com a graça de um leão.

O xeque Rashid de Quador era um homem a quem era melhor não contrariar, costumava ser imperturbável, como um leão, e tinha a certeza de ser o rei de tudo o que havia à sua volta.

Mas naquele momento os seus olhos brilharam de desagrado.

– Repete o que disseste, Abdullah – ordenou, com uma voz profunda e controlada.

O seu criado engoliu em seco, nervosamente, e começou a dizer:

– Desculpe-me, Excelência…

– Repete o que disseste – voltou a dizer.

Abdullah tossiu e declarou:

– Correm boatos… Correm boatos pela cidade, xeque.

– Atreves-te a falar-me de boatos? – inquiriu, com impaciência.

– Quando se trata da sua Excelência, sim… Preciso de o fazer.

– E?

– O seu povo está inquieto, xeque.

O xeque franziu as sobrancelhas pretas e declarou:

– Há mais rebeliões? Insurreições que deva controlar?

– Não, não… Não é nada disso, xeque. O seu povo aceita ser governado com mão de ferro. O povo de Quador vive feliz. Tem comida suficiente e a certeza de que o nosso perfil no mundo moderno é brilhante…

– Deixa-te de elogios! – protestou Rashid. – Não preciso deles!

– Sim, xeque… – suspirou Abdullah. – O povo de Quador quer saber porque é que ainda não tem esposa – concluiu, com um sorriso fraco.

– Esposa? – Rashid ficou tenso. – O meu povo não tem o direito de se meter nesses assuntos! Terei esposa quando for o momento certo… E serei eu a decidir isso! – pensou nos olhos de Jenna e mudou o tom de voz para um tom mais suave e com um entoar de desconfiança. – No entanto, há mais qualquer coisa que não me estás a dizer, não é, Abdullah?

– Sim – replicou o empregado, engolindo em seco. – Apareceram alguns artigos de jornais estrangeiros através da Internet…

– Através da Internet! Essa Internet é obra do demónio! – exclamou Rashid. – Deveria ser proibida!

– Sim, mas é impossível impedir o progresso.

– E o que é que se diz exactamente na Internet? – quis saber Rashid.

– Humm… a sua relação com uma certa mulher de Paris está a causar certa inquietude.

– A minha relação com Chantal? – Rashid sentiu uma pontada de desejo, ao pensar nos atributos físicos da sua amante. – A minha amizade com Chantal não é novidade.

– Precisamente! – replicou Abdullah. – É uma relação demasiado duradoura e estão preocupados que se possa tornar na sua esposa!

Rashid praguejou em francês, uma das sete línguas que dominava.

– O meu povo é doido? Tu sabes quem é a minha noiva!

– Sem dúvida – murmurou Abdullah.

– Não sabem que um homem tem muitas necessidades? – continuou Rashid. – O que Chantal me dá não tem nada a ver com casamento! – franziu a boca. – O meu destino não é casar com uma mulher dez anos mais velha do que eu! Não me poderia dar a descendência numerosa que precisarei ter um dia!

– Foi o que pensei, Excelência – replicou Abdullah, com um suspiro de alívio, quase imperceptível. – Porque é que não esclarece isso perante todo o mundo? Ainda não terá chegado o momento de ter descendência?

Rashid suspirou e virou-se mais uma vez para a janela.

Teria chegado o momento? Sentir-se-ia preparado?

Era conhecido pela sua natureza resoluta e pela sua inteligência e poder de decisão. Não demorou mais do que um segundo a lembrar-se do que estava planeado para ele desde a sua infância. E, como resposta, inclinou silenciosamente a cabeça.

Abdullah era o seu conselheiro de maior confiança e os boatos deveriam estar a ter certo peso para que ele tivesse tido a coragem de os transmitir.

E não era boa ideia que prevalecesse sobre a sua imagem um ar de incerteza que enfraquecesse a sua posição.

Rashid virou-se e, com um gesto imperturbável, declarou:

– Está bem. Que se cumpra o meu destino – os seus olhos brilharam com fria aceitação. – Mandarei buscar Jenna – declarou, suavemente. – O casamento celebrar-se-á quando estiver tudo pronto.

No interior do bonito apartamento de Nova Iorque, o telefone começou a tocar e Jenna deu um salto.

– Brad, podes responder o telefone, por favor? – gritou.

– Já vou.

Ainda húmida do duche, Jenna entrou na sala envolta numa toalha. Era ele, sabia-o. Não sabia como, mas sabia.

Ficou tensa. Depois lembrou-se de que a sua vida tinha mudado. Aquelas promessas que tinham sido feitas poderiam quebrar-se. O laço que existira entre eles enfraquecera. Seria inconcebível que ele agora exigisse o que ela tinha mais desejado e que naquele momento receava.

– Jenna? – ouviu Brad dizer, com a sua pronúncia americana. – Sim, está aqui. Um momento, por favor – entregou o auscultador a Jenna.

Ainda a tremer, Jenna agarrou no auscultador.

– Sim?

Fez-se um silêncio do outro lado.

– Jenna?

Era ele. Teria reconhecido aquela voz em qualquer ponto do planeta. Talvez porque nenhum homem falava como ele. Com a suavidade do aço e a sensualidade de um predador.

Jenna engoliu em seco. A sua faceta de mulher moderna sentiu a tentação de dizer: «Quem é?», mas pensou melhor. Fingir que não o reconhecera teria sido uma injustificada mancha ao seu ego… e todos sabiam que o xeque Rashid de Quador tinha um ego tão grande como a área dos Estados Unidos!

– Rashid – replicou ela, com cautela. Ouviu uma exclamação como resposta e soube que, de alguma maneira, o incomodara.

– Como estás? – inquiriu ela, em inglês.

– Quem atendeu o telefone? – inquiriu ele, inesperadamente na mesma língua.

Jenna pensou dizer que aquilo não era da sua conta, mas percebeu que era inútil. Ele achava-se no direito de tudo.

– Um amigo. Brad.

– Brad? Um homem? Tens um homem no teu apartamento?

Jenna sentiu irritação. O que era válido para ele, não era válido para ela. Mas seria melhor tomá-lo com bom humor. Não o fizera rir muitas vezes no passado, quando todos os seus sonhos de juventude tinham explodido ao saber que género de homem é que ele era? E o que fizera.

– Parece que sim! – brincou ela. – A não ser que esteja disfarçado e eu não tenha dado por isso!

Rashid sentiu-se incomodado.

– E há quanto tempo é que esse tal Brad é teu amigo?

Jenna apertou o auscultador com fúria. Ela não lhe pertencia! Mas ele tinha a astúcia de uma raposa e sabia dar-lhe a volta. Ainda não sabia o que Rashid queria e até àquela altura seria melhor seguir o seu jogo e responder como ele esperava que ela fizesse.

– Oh, há muito tempo que somos amigos! Telefonaste para conversar? Ou queres alguma coisa em particular?

Na realidade, o que Rashid teria gostado de fazer naquele momento era atirar Brad para fora do apartamento dela com um soco, mas preferiu não mostrar as suas emoções e ciúmes. Tinha a certeza de uma coisa, Jenna era pura como a neve das montanhas de Quador. Jenna…

Era dele, só dele…

– Não gosto nada disso – declarou ele. – Queres explicar-me o que é que está a fazer aí? Ou costumas receber homens no teu apartamento?

«Outra vez a sua arrogância», pensou Jenna.

Lembrou-se dos seus sonhos em relação a ele e o que sofrera ao descobrir a verdade sobre Rashid. Não permitiria que ele derrubasse as defesas que tanto lhe tinham custado construir!

– O que é que queres, Rashid? – inquiriu ela.

– Acho que foi um erro ter-te deixado estudar na América – observou ele.

– Não concordo.

– Atreves-te a descordar do teu xeque? – interrogou, trocista.

Jenna forçou um tom de prazer e declarou:

– Noutras alturas não puseste nenhuma objecção.

– Porque convenceste o teu pai de que te deveria deixar viajar! És muito persuasiva, Jenna!

– O que está feito, feito está. O passado é passado – murmurou ela. – Então, Rashid… Diz-me a que é que devo o prazer deste telefonema. Que surpresa!

Rashid franziu o sobrolho. Uma grande surpresa e ainda ficavam várias coisas para explicar.

– E onde está a tua irmã? Ela concorda que esse teu amigo esteja no teu apartamento, numa relação tão íntima contigo que até atende o telefone? – gritou Rashid.

– Oh, não sejas antiquado!

– Eu sou antiquado e ainda não respondeste à minha pergunta. A tua irmã aprova que o teu amigo esteja aí contigo?

– Nadia aprova a minha relação com Brad – declarou Jenna, com certo receio, ao imaginar a expressão do rosto de Brad.

Se Rashid soubesse que a sua irmã estava apaixonada por Brad! E que estavam a morar naquele apartamento como marido e mulher!

– É um bom homem – replicou Jenna, tentado dissimular o tremor da sua voz.

– Era um bom homem – corrigiu Rashid.

– O que é que queres dizer com isso?

– Oh, estou só a afirmar um facto, minha doce Jenna… Simplesmente, que a tua vida em Nova Iorque e Brad serão uma coisa do passado.

– Acho que és tu quem deve dar explicações – declarou Jenna.

– Não adivinhas? – ele lembrou-se com saudades do cabelo castanho dourado e dos olhos cor de âmbar de Jenna, tão diferentes dos olhos das outras mulheres de Quador.

Mas ela devia à sua herança americana por parte da sua mãe algo mais do que o seu aspecto. Perguntou-se como seria a sua vida de mulher independente em Nova Iorque e quantos amigos masculinos teria.

– Chegou o momento, Jenna – declarou ele, suavemente.

O sentido do inevitável começou a bater no seu sangue. Rashid aceitara o seu destino apaixonadamente e aquele destino não era duro para ele.

Jenna não podia acreditar que ele estivesse a referir-se ao que ela suspeitava.

– O momento de quê?

A boca de Rashid torceu-se. Tinham tido pouco contacto nos últimos quatro anos. Alguns encontros formais em companhia dos seus tutores, quando ela fora visitar a sua família. E quando vira o seu cabelo dourado e as curvas quase pecadoras do seu corpo, que a roupa folgada de Quador não conseguira esconder. Rashid quase ficara contente pela presença da sua escolta. Compreendera perfeitamente a necessidade dos seus acompanhantes.

Ela enviara-lhe algumas cartas desde Nova Iorque, nas quais descrevia uma vida que parecia aborrecida com o excesso de trabalho. E, por isso, tinha estado disposto a suportar a sua curta temporada de liberdade. Como esposa dele, esperariam que dedicasse a sua vida a obras de caridade e aquela mudança parecera-lhe uma boa maneira de se habituar.

Jenna era uma mulher inteligente. Tinha sido melhor permitir-lhe uma pequena porção de liberdade do que amarrar completamente as suas asas.

Rashid franziu o sobrolho e replicou:

– Acho que sabes muito bem ao que me refiro, Jenna. Está na altura de voltares para Quador e tornares-te na minha esposa!

A mão de Jenna tremeu.

– Que proposta tão romântica! – ela riu, quase histérica. E viu que Brad abria os olhos incrédulo.

– Se o que procuras em mim é um romance, será melhor que esqueças – declarou ele. A oposição de Jenna começava a excitá-lo.

Ela tentou manter a calma e acrescentou, com desespero:

– Não podes querer que seja a tua esposa, Rashid.

A excitação de Rashid tornou-se em irritação. Um pouco de resistência ficava bem, mas tanta começava a irritá-lo. Ela deveria estar a suspirar de gratidão!

– Os meus desejos não são o mais importante – acrescentou Rashid, com frieza. – O acordo foi feito há muito tempo, como sabes. Mas podes ter a certeza de que eu satisfarei todas as tuas necessidades como minha esposa, Jenna, não duvides.

Ela ouviu o tom profundo e sensual da sua voz e começou a tremer. Sabia bem ao que ele se referia. A sua mestria na cama era bem conhecida.

Mas Jenna duvidava que pudesse dar mais, dar amor. Para ele amar seria um sinal de fraqueza.

– Rashid… não podes falar a sério…

– Achas que te tornas provocante opondo-te… mas deixa-me dizer-te uma coisa, Jenna. Vais ser minha e voltarás para Quador imediatamente, percebeste?

Ela fez um esforço para aceitar o inevitável, sabendo que era uma parvoíce negar-lhe pelo menos a segunda parte da sua ordem. Ela voltaria para Quador e seguir-lhe-ia o jogo. Dentro em breve, Rashid não quereria casar com ela, mas sentir-se-ia satisfeito consigo mesmo por ter tomado aquela decisão.

– Ainda hesitas? – acrescentou Rashid. – Talvez queiras que manda alguém buscar-te…

– Não! – protestou ela. – Reservarei uma passagem no próximo voo.

– Terás um carro à tua espera em Quador para que te leve ao palácio.

E desligou a comunicação.



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