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CAPÍTULO 2

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Para a reunião, Caroline decidira vestir o seu único fato, que era preto e com saia, e uma blusa de seda creme. Tinha-o comprado para a sua primeira venda a uns armazéns de Londres, que tinham vendido os seus trabalhos no ano anterior. Desde então, perdera peso e o fato ficava-lhe largo. Tinha apanhado o cabelo e maquilhara-se para disfarçar a noite quase sem dormir.

– Olá, senhora Bailey – cumprimentou-a Jill, uma das recepcionistas da Hales Transport. – Não lhe parece que é um dia muito emocionante?

Caroline afastou uma madeixa de cabelo da cara.

– É?

– O novo chefe virá cá. Vamos fazer parte de um grande grupo empresarial que vale milhares de milhões. É uma boa notícia para nós – disse Jill, contente.

– Não esteja assim tão certa disso – advertiu Laura, a recepcionista mais velha. – Não é certo que mantenhamos os nossos empregos, nem que esta empresa continue a existir daqui a seis meses.

Caroline sentiu um calafrio. Preocupava-a o que aconteceria com os empregados da Hales Transport. E sentia-se culpada ao saber que o seu falecido marido tinha uma grande fatia de culpa.

Respirou fundo e sentou-se na sala de espera.

– Esperemos que corra tudo o melhor possível – comentou Laura.

– Pode subir e esperar lá em cima no escritório – disse Jill a Caroline, com inocência. – Sabe onde é.

A sua colega de trabalho franziu o sobrolho ao ouvir aquilo.

– Eu acho que a senhora Bailey estará mais cómoda aqui.

– Sim, estou bem aqui – apressou-se a dizer ela.

Sorriu ao ver que um grupo de empregados a olhava com curiosidade a caminho das escadas. Sentiu calor ao ouvir que sussurravam e inclusive vergonha.

Caroline tinha evitado ir à Hales Transport durante os últimos meses de vida de Matthew e também não tinha vindo desde que ele falecera num acidente automóvel. Tinha temido que falassem dela, inclusive que se rissem dela. Os seus sogros tinham-na criticado por não ter assistido a um evento relacionado com o trabalho, mas ela não quisera passar pela pobre viúva de Matthew.

Ao fim e ao cabo, devia haver mais pessoas que soubessem ou que, pelo menos, suspeitassem dos interesses extra-conjugais de Matthew, já que ele tinha sido cada vez menos discreto. Todos aqueles momentos de vergonha e dor tinham-na marcado. Fora tola e cega. E tinha-a enganado. Quase não recordava a época em que Matthew era o seu melhor amigo, já que o seu casamento tinha acabado com a sua amizade. Tentou controlar os seus pensamentos.

– Já chegou! – exclamou a recepcionista mais jovem, entusiasmada ao ver que uma limusina preta parava diante da porta. Ao mesmo tempo, chegaram dois Mercedes e uma série de homens de fato alinhou-se para deixar passar um homem alto e poderoso, vestido com um casaco de caxemira, apesar do sol da Primavera.

– Ainda é mais bonito em pessoa do que nas fotografias – suspirou Jill.

Caroline conteve a respiração enquanto observava a figura magra, o rosto duro, o cabelo escuro e encaracolado. Um cabelo pelo qual tinha gostado de passar os dedos. A verdade era que Caroline deixara de respirar por completo. Ver Valente, quando tinha pensado que jamais voltaria a vê-lo, estava a ser uma experiência surrealista.

Teve de admitir que era um homem incrivelmente bonito. Tinha uns olhos escuros e profundos, tão quentes como o sol, as maçãs do rosto marcadas e um nariz arrogante. Com aquele fato, emanava uma elegância e uma segurança inconfundivelmente italianas. «Até de calças de ganga e t-shirt», recordou Carolina, «Valente parecia sempre saído de uma passarela».

– Caroline – murmurou ele, com a sua voz sensual, parando no cimo das escadas. – Vem até ao meu escritório, receber-te-ei imediatamente.

Caroline levantou-se, consciente de que era o centro das atenções. A informalidade com que lhe tinha falado mostrara que já se conheciam, embora ela tivesse a esperança de que ninguém recordasse a sua história. Uma história pela qual Valente só podia odiá-la. Sempre soubera que jamais lhe perdoaria pelo que lhe tinha feito.

Valente sorriu com ironia ao vê-la com aquele fato tão largo e com o cabelo apanhado numa trança. Queria vê-la com o cabelo solto e com roupa que realçasse a sua figura esbelta e a sua pele pálida. Pa-recia um espectro de preto e não queria vê-la como a pobre viúva de Matthew Bailey. Queria tantas coisas... E, naquele momento, até vinte e quatro horas de espera lhe pareciam demasiado.

Um dos seus assistentes pessoais adiantou-se para lhes abrir a porta do escritório. Era um lugar que Caroline conhecia bem, uma demonstração do gosto de Matthew por móveis ultramodernos, apesar de não combinar com o estilo do edifício.

Valente tirou o casaco e o seu assistente levou-o. Depois, virou-se para Caroline, que também estava a olhar para ele com os seus olhos cinzentos, e pa-recia zangada e tensa. Valente sentiu desejo e agradeceu por usar um casaco comprido que lhe disfarçava a erecção. Estava desejoso de lhe dar a lingerie que lhe tinha comprado.

Caroline também sentiu que o seu corpo reagia de um modo que tinha acreditado que jamais voltaria a reagir. Matthew dissera-lhe que era inútil na cama, que o excitava tão pouco que nem sequer queria partilhar o quarto com ela. Tinha sido muito directo e cruel. Era irónico que Caroline, naquele momento, se sentisse excitada perante um homem que prometia ser ainda mais cruel. O seu corpo, que tinha estado morto durante anos, voltara a viver e isso deixava-a ainda de pior humor.

– Portanto, agora é tudo teu – comentou, com crispação, tentando controlar aquela atracção.

– Sim, piccola mia – respondeu-lhe Valente, enquanto observava a perfeição pálida da sua pele e os seus lábios carnudos e rosados.

Viu vulnerabilidade nela e isso despertou o predador que havia nele. Porque, no fundo, sabia que não passava de uma cruel caçadora de fortunas que fingia muito bem. Era o seu oposto, tanto a nível do aspecto como da personalidade, mas, mesmo assim, tinha-a desejado ao vê-la.

– Devias ter tido mais fé em mim – acrescentou ele, com a mesma frieza.

– O que queres que te diga? Que lamento? Ou...

– Não quero um pedido de desculpas – interrompeu-a ele.

O rosto de Caroline estava inexpressivo. Tinha mudado, transformara-se numa mulher cujo rosto não reflectia sentimentos. Devia ter crescido, já não era a filha mimada de uns pais idosos e devia ter aprendido a sustentar-se sozinha. Valente também reparou que tinha os pés muito pequenos, calçados com uns sapatos rasos que não tinham nenhum poder de sedução. Nesse momento, Valente decidiu que queimaria todo o seu guarda-roupa.

– Não entendo porque queres tudo o que pertencia à minha família – admitiu Caroline.

– Não sejas tão modesta...

Caroline não mudou de expressão.

– Não estou a ser modesta. Nem sequer sei para que quiseste que nos encontrássemos aqui.

– É muito simples – murmurou Valente. – Esperava chegar a um acordo civilizado contigo com o qual ambos conseguíssemos o que mais desejamos. Eu quero ter-te na minha cama.

Caroline surpreendeu-se tanto que abriu a boca e voltou a fechá-la.

– É uma brincadeira? – perguntou-lhe, finalmente.

– Trabalho a sério e jogo a sério. E levo a minha vida sexual demasiado a sério para brincar com ela. Infelizmente, não poderei dedicar-te muito tempo esta manhã. No entanto, tenho consciência de que os teus pais e tu estão a passar por um momento difícil.

– Sim – admitiu ela, perguntando-se se devia dizer-lhe que era a mulher menos capaz de cumprir as expectativas de um homem na cama.

– É óbvio que eu poderia fazer muitas coisas para aliviar a vossa situação actual – garantiu-lhe ele, – mas tens de me convencer de que valerá a pena.

– Não creio que consiga convencer-te de alguma coisa e não entendo o que queres dizer – disse-lhe Caroline.

– Ainda desejo passar contigo a noite de núpcias que me negaste...

– Mas nem sequer nos casámos! – exclamou ela.

– Precisamente por isso... mas esse facto não impediu que te desejasse – replicou Valente. – E deves ter consciência de que a resposta que me deres agora influenciará a vida de todas as pessoas relacionadas com esta empresa.

Caroline franziu o sobrolho, consternada.

– A resposta a que pergunta? – perguntou, com frustração.

Valente abanou a sua cabeça arrogante.

– Já te disse o que quero.

– Sexo? – perguntou ela, com incredulidade.

Valente era jovem, bonito como uma estrela de cinema e rico. Qualquer mulher bonita e sofisticada se ofereceria para fazer sexo com ele sem nenhum compromisso. Porque a queria a ela?

– Serei directo. Quero que sejas minha amante.

Ela riu-se. Sabia que a sua gargalhada tinha parecido histérica e receosa, sentia-se perdida. Aproximou-se da janela e a vista tranquilizou-a um pouco. Como podia Valente querê-la como amante? Era verdade que a tinha desejado cinco anos antes. Naquele momento, tal como no passado, questionou-se se teria perdido o interesse por ela depois de a ter na cama. Seria tão desajeitada com ele como fora com Matthew? Franziu o sobrolho por ter feito aquela pergunta a si mesma, já que era demasiado tarde para mudar alguma coisa. E, além disso, não queria recordar o seu casamento sem sexo, não queria pensar nele, nem culpar-se de nada.

– Se aceitasse, defraudar-te-ia muito – respondeu-lhe, trémula. – Não tenho o necessário para as-sumir semelhante papel. Algumas mulheres são mais sexuais do que outras. E eu encontro-me na segunda categoria.

Valente apoiou os seus braços fortes nos ombros dela e virou-a. Estava muito perto dela e o seu cheiro esteve prestes a fazer com que Caroline sentisse náuseas.

– Jamais poderias decepcionar-me – disse-lhe ele. – Por acaso, decepcionaste Matthew?

Caroline escapou dele e afastou-se, nervosa. Depois, voltou a olhar para ele.

– Não estás a ouvir-me, pois não? O que tenho de dizer para te convencer?

Exasperado pelo afastamento dela, quando todo o seu corpo ardia de desejo, Valente fulminou-a com o olhar.

– Os actos convencer-me-iam mais do que as palavras. Vem comigo até ao meu hotel e faz-me uma demonstração da tua incapacidade.

Ela esbugalhou os olhos.

– O que pensas que sou? Uma prostituta? – perguntou-lhe, furiosa.

– O júri ainda não decidiu, mas, sejamos realistas, talvez não sejas uma prostituta, mas há cinco anos vendeste-te ao maior licitador – argumentou ele, sem hesitar.

Caroline empalideceu.

– Não foi assim...

– Porque haveria de querer saber agora como foi? – perguntou-lhe ele. – Deves saber que te agradeço por teres evitado que cometesse o erro de me casar contigo. Não quero uma esposa que seja uma caçadora de fortunas.

– Como te atreves? – perguntou Caroline, recuperando a cor com a indignação. – Esse não foi o motivo pelo qual me casei com Matthew! Não o fiz por dinheiro.

– E por estatuto social? – quis saber Valente, encolhendo os ombros, antes de olhar para o relógio. – Só posso dedicar-te mais dois minutos. Estás a perder tempo a discutir comigo. Sei o que és e, embora pareça estranho, não é preciso insultarmo-nos. Ao fim e ao cabo, estou disposto a pagar muito dinheiro por ter o privilégio de te ter na minha cama.

– Não podes comprar...

– Não? Se a tua resposta for negativa, fecharei esta empresa e mandarei todos para a rua. E não farei nenhum esforço para melhorar a situação financeira dos teus pais...

– Isso seria imoral e injusto...

– Por outro lado, se a tua resposta for positiva, investirei neste negócio e certificar-me-ei de que prospere – informou-a em tom doce. – Também permitirei que os teus pais continuem a viver em Winterwood por minha conta.

– A escolha que queres que faça é horrível! – exclamou Caroline, com incredulidade. – Estás a tentar chantagear-me!

– Achas? – perguntou-lhe ele, sem deixar de olhar para a sua cara com os seus olhos escuros. – Depende do que quiseres, não é? Aceita as minhas condições e serás bem tratada, terás tudo o que quiseres. É uma oferta muito generosa, sobretudo, procedendo de um homem que não tem nenhum motivo para gostar de ti e muito menos para te respeitar.

– Se gostasses de mim ou me respeitasse, não me desejarias tanto! – exclamou ela.

– Mas desejo.

Antes que lhe tivesse dado tempo para reagir, Valente estava a agarrá-la e a aproximá-la dele. Ela escapou e foi apoiou-se contra a parede.

– O que se passa contigo? – perguntou-lhe Va-lente, zangado. – Achavas que ia atacar-te?

Caroline estava envergonhada da reacção do seu corpo e, de repente, aterrava-a que Valente adivinhasse que não era capaz de ter intimidade.

– É claro que não... Desculpa – balbuciou. – Passou muito tempo desde a última vez que um homem me tocou.

Valente observou-a, como se pressentisse que havia mais alguma coisa. Caroline estava muito tensa e nervosa. Não se parecia em nada com a jovem tranquila de vinte e um anos que ele recordava. Nunca tinha querido saber como fora o seu casamento, mas suspeitava que não tinha sido fácil para ela. Bailey tinha gerido mal o negócio, gastara uma fortuna que não tinha em bens de luxo e tinha deixado a mulher sem nada. Além disso, dizia-se que ia para a cama com outras mulheres.

– A sério, não sei o que me aconteceu – murmurou Caroline, afastando-se da parede e alisando a saia.

O seu orgulho tinha surgido em seu auxílio. Não podia permitir que Valente suspeitasse que era pior na cama do que as outras mulheres. Esse era o seu segredo e a sua vergonha. Como poderia sentir-se, sendo ainda virgem, depois de quase quatro anos de casamento? No entanto, era algo que não estava preparada para partilhar.

– Não? – perguntou-lhe ele, aproximando-se dela, agarrando-lhe a mão e beijando-lha.

Ela ficou quieta, à espera, curiosa.

Tinha esquecido como eram os beijos de Valente. O fôlego dele aqueceu-lhe a face e falharam-lhe os joelhos. Ele não lhe tocou, não tentou abraçá-la, e isso fez com que se acalmasse. Reparou que os seus mamilos endureciam e gemeu sem querer.

Ao ouvi-la, Valente levantou a cabeça, semicerrou os olhos e observou-a. Depois, afastou-se dela. Talvez estivesse tensa. Talvez estivesse nervosa, mas estava pronta para o receber, desejava-o. E isso satisfê-lo. Estava tão excitado com o seu cheiro e o seu sabor que não teria hesitado em sentá-la na secretária e possuí-la ali mesmo. Só de pensar em fazer sexo com Caroline, quando e onde quisesse, excitou-se ainda mais.

– Acabou-se o tempo, piccola mia – disse-lhe suavemente, enquanto batiam à porta.

Caroline voltou a alisar a saia com as mãos húmidas, assustada.

– Não pode ser verdade o que disseste... O que sugeriste – balbuciou.

– Ao contrário de ti, eu gosto muito de sexo – confessou-lhe.

A porta abriu-se e um homem jovem desculpou-se. Valente fê-lo calar-se com um gesto.

– Abramo, já sei que estou atrasado. Acompanha a senhora Bailey ao seu carro...

– Não será necessário! – protestou ela. – Temos de falar sobre o que me disseste...

Valente olhou-a, com frieza.

– Sobre o que queres falar? Não é nenhuma negociação. Vejo-te esta tarde em Winterwood.

– Em... Winterwood? – repetiu ela, horrorizada.

– A propriedade é minha. Vejo-te às quatro horas, para que me faças uma visita guiada.

Caroline sentiu-se consternada.

Valente sorriu-lhe de tal maneira que a fez recuar.

– E adverte a tua família que não utilizarei a porta de serviço para entrar, piccola mia.

– Senhora Bailey? – perguntou-lhe o assistente, abrindo-lhe a porta para que saísse.

Ao ver que não tinha opção, Caroline saiu do escritório. Estava a tremer de raiva. Ela, que nunca praguejava, desejou dedicar todo o tipo de impropérios a Valente. Desejou ter a força física necessária para o agarrar pelas lapelas do casaco e encostá-lo à parede para que a ouvisse.

Mas era evidente que Valente estava a deixar-se levar pelas ânsias de vingança. Cinco anos antes, ti-nha-o deixado plantado no altar. A sua confiança errada noutra pessoa e a sua doença tinham feito com que o humilhasse. As circunstâncias não tinham permitido que Valente fosse informado do que ia acontecer antes que tivesse chegado à igreja. Portanto, sempre a culpara do que tinha acontecido naquele dia. E não estranhava. Ao fim e ao cabo, ela continuava a sentir-se culpada. Valente tinha lutado por ela e perdera, mas não voltaria a aceitar a derrota.

Caroline continuou a tremer a caminho de casa. Valente tinha crescido a lutar contra a pobreza e para conseguir tudo o que queria. Isso tinha feito com que houvesse nele uma crueldade e uma força que a tinham intimidado ao conhecê-lo. Era um homem sem tempo para os refinamentos e sempre desprezara a lealdade que ela tinha aos seus pais, que tinham feito tudo para arruinar a sua relação.

«Se realmente me amares, conseguirás superar tudo», tinha-lhe dito Valente, cinco anos antes.

Esperara demasiado dela, que tinha crescido com todas as facilidades e que não era capaz de rejeitar e ignorar os sentimentos daquelas pessoas que não partilhavam os seus objectivos.

Enquanto as suas emoções passavam do passado para o presente, Caroline recordou coisas que tinha tentado esquecer há muito tempo.

No Verão depois de acabar o estágio com um designer de jóias, tinha desejado ter o capital necessário para montar o seu próprio negócio. Essas aspirações tinham decepcionado muito os seus pais, que teriam preferido uma filha mais feminina e frívola, desejosa de desfrutar do seu estatuto social e de encontrar um marido adequado. Decidida a não pedir dinheiro aos seus pais para uma coisa que não aprovavam, Caroline começara a trabalhar nos escritórios da Hales. Ironicamente, essa decisão incomodara ainda mais Joe e Isabel.

Dois dias depois de ter começado a trabalhar lá, Caroline tinha levantado o olhar e vira Valente pela primeira vez. O sotaque tinha sido a primeira coisa a chamar-lhe a atenção, mas fora o seu rosto magro e moreno que tinha feito com que cravasse o olhar nele. Não conseguiria descrever com palavras o fascínio que tinha sentido ao ver aquele rosto tão belo. Valente tinha ignorado a colega, que tentava se-duzi-lo, e reparara em Caroline. Ela tinha ficado tão fascinada com o seu olhar, que lhe fora indiferente quem ou o que era. Tinha-a cativado com um único olhar e ela tê-lo-ia seguido até ao fim do mundo.

– E tu és...? – tinha-lhe perguntado Valente, num murmúrio.

– Caroline.

– A filha do chefe... Pobre menina rica... – tinha comentado outro camionista, fazendo com que ela corasse.

– Até logo, Caroline – tinha-se despedido Va-lente.

E depois passara a tarde toda a pensar nele.

Naquela época, também não tinha experiência em assuntos amorosos, já que quase não tinha saído com rapazes e, sempre que precisava de um acompanhante, recorria ao seu vizinho do lado, Matthew Bailey, que, além disso, era o seu melhor amigo. Era introvertida, tímida e prudente, já então se sentia muito culpada por ter decepcionado os seus pais. A primeira vez que não tinha cumprido a vontade deles fora ao não ir para a universidade. E Valente tinha sido a segunda e mais séria demonstração de que precisava de ser livre.

Recusou-se a agonizar com a situação presente e disse a si mesma que Valente não podia ter falado a sério. Para se manter ocupada, foi fazer as suas compras semanais, antes de voltar para casa. Ao chegar a casa, viu um bilhete da sua mãe na bancada da cozinha, dizendo-lhe que o seu pai tinha uma consulta no hospital. Os seus pais não estavam. Lamentou não ter recordado a consulta e guardou as compras. E já não foi capaz de continuar sem pensar que Va-lente tinha ameaçado fechar a Hales Transport.

Duzentas pessoas perderiam o seu emprego, para não falar do efeito que teria noutras empresas do bairro. E o stress causado pelo desemprego e pela perda de salários estragaria casamentos e separaria famílias. Permitir que isso acontecesse tendo uma alternativa, por mais atroz que fosse, seria uma responsabilidade enorme.

Embora Caroline pensasse que merecia essa responsabilidade. Matt não tinha feito nenhum esforço para reduzir os gastos quando a Hales começara a perder contratos. Antes pelo contrário. E não tinha feito nenhum favor ao negócio da sua família ao manter a boca fechada sobre o comportamento do seu marido. Sentia-se culpada por não ter dito aos seus pais que não se podia confiar em Matthew. No entanto, também sabia que não a teriam ouvido, nem teriam feito caso da sua opinião. Ambos os lados da sua família eram muito machistas e os pais de Matthew sempre o tinham idolatrado.

Valente dissera-lhe que queria sexo, mas ela não entendia como podia continuar a atraí-lo a esse ponto. O que queria na realidade era vingança. E se permitindo que se vingasse pudesse proteger os seus pais e salvar duzentos postos de trabalho, teria o direito de o rejeitar?

Como era possível que estivesse a pensar em tornar-se amante de Valente Lorenzatto?

Escapou-lhe uma gargalhada amarga. Valente dar-se-ia conta rapidamente de que tinha feito um mau negócio. Caroline sentiu náuseas só de pensar em sofrer semelhante humilhação, mas não podia permitir que outras pessoas sofressem. Se Valente estava zangado, era por sua causa e de mais ninguém. Tinha-o decepcionado.

No entanto, se acedesse à proposta de Valente, os seus pais sofreriam muito, mas talvez conseguisse convencer Valente a contentar-se apenas com uma noite e a mantê-la em segredo. Depois, questionou-se se lhe pediria que lhe devolvesse o dinheiro quando se desse conta de que não era capaz de lhe agradar na cama.

Só de pensar nisso sentiu-se como a prostituta que ele tinha sugerido que era e soube que o seu orgulho estava de rastos. Mas, ao fim e ao cabo, um corpo não passava de um corpo e era pouco provável que Valente fosse agressivo com ela. De qualquer forma, queria que ela também o desejasse, não era? Que o desejasse para que sofresse quando ele a abandonasse? Sentiu que os olhos se enchiam de lágrimas e tentou fechar a porta às lembranças dolorosas. Matthew não teria arranjado amantes se ela tivesse sido uma boa esposa. Não lho dissera centenas de vezes? Era um grande peso para a sua consciência.

Por outro lado, Valente estava a oferecer-lhe um acordo que a fazia sentir que não lhe devia nada em termos de honra. Estava a fazer um jogo cruel com ela. Teria a coragem de lutar para conseguir condições que tornassem o acordo possível?

Segundo casamento - Aliança por um herdeiro

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