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Capítulo Dois

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Ao ouvir a frase, o coração de Emma esteve a ponto de sair do peito. A senhora de Nathan Case?

– Estás louco? – exclamou, levando os dedos à testa porque, de repente, sentia como se lhe estivessem a bater com um martelo na cabeça.

– Não, de modo algum – respondeu ele.

– Isto não é pelo que se passou na outra noite, pois não? Asseguro-te que uma noite de sexo não requer um gesto nobre da tua parte. Além do mais, eu não era virgem.

Nathan sorriu.

– Obviamente, não te comportavas como se o fosses.

Emma não disse nada enquanto tentava encontrar sentido ao que acabava de propor-lhe. Infelizmente, era quase impossível pensar racionalmente quando a desprezada rapariga de dezasseis anos que havia dentro dela estava quase a saltar de alegria. Mas tentou conter o entusiasmo e concentrar-se na realidade.

Casar-se com Nathan? Impossível. A sua capacidade para fazer com que uma mulher se sentisse especial não o tornava num bom candidato para marido.

– O meu pai convenceu-te, não foi?

– Foi sobre isso que falámos esta tarde – respondeu ele. – Acha que está na hora de te casares.

– Com alguém que ele escolha, claro.

– Estás a pensar em mais alguém?

Emma deixou escapar um gemido de horror.

– Eu não quero casar-me contigo. Nem com ninguém.

Não ia casar-se sem amor, só isso.

– O teu pai parece um homem muito decidido.

– Nem fazes ideia – murmurou ela. – Mas não penso fazê-lo.

Emma olhou para o enorme escritório, desejando poder sentar-se no sofá. Falar daquilo seria mais fácil se não tivesse o musculoso corpo de Nathan a um centímetro dela, apertando-a contra a porta.

De imediato, lembrou-se do que tinha acontecido três semanas antes, colada a outra porta, o coração a bater como um louco e todos os seus sentidos alerta enquanto faziam amor. Com absoluta autoridade, tinha derrubado todas as suas defesas enquanto lhe fazia coisas que a deixavam ofegante.

Emma tentou afastar essa lembrança e apertou as pernas quando ameaçaram dobrar-se.

– Porque é que aceitaste casar-te comigo? – perguntou.

– A Investimentos Case quer fazer negócios com a empresa petrolífera Montgomery.

– E o meu pai impôs como condição que te casasses comigo.

Um acordo comercial. Devia ter imaginado. Como podia o seu pai voltar a fazer-lhe algo assim? Não tinha aprendido nada da última vez que tentou intrometer-se na sua vida amorosa?

No verão em que se licenciou na universidade, estava noiva de um executivo da empresa Montgomery, mas logo descobriu que Jackson Orr tinha pedido a sua mão depois de fazer um acordo com o seu pai pelo que obteria um cargo melhor na empresa se se casasse com ela. Quando o descobriu, Emma desfez o compromisso e decidiu não voltar a repetir o mesmo erro.

– Deve ser um acordo muito interessante para ti – disse-lhe, estendendo uma mão para acender as luzes.

– O mais importante da minha vida – respondeu Nathan.

– Então, imagino que casar-te comigo é um preço que estás disposto a pagar.

– O que se passa, Emma?

– Não quero casar-me contigo assim.

– Assim? – repetiu ele. – Gostarias de casar-te comigo de alguma outra maneira?

Ela afastou o olhar.

– Não quero casar-me com ninguém – respondeu. Não queria casar-se com nenhum homem que o seu pai pudesse manipular porque não o respeitaria e jamais confiaria nele. – Não gosto de ser utilizada como ferramenta para negociar.

– E eu não gosto de ser um peão que o teu pai utiliza para manipular-te – disse Nathan, falando como se tudo aquilo lhe parecesse razoável. – Mas talvez devêssemos aproveitar a situação.

Brilhavam-lhe os olhos enquanto localizava o fecho do vestido e o abria.

– Permite que te lembre como nos entendemos – murmurou, beijando os seus ombros.

– Não necessito que mo recordes, Nathan – disse ela, tentando dissimular que a ansiedade era como um exército de borboletas no seu estômago. Apesar de a razão para se casar com ele ser completamente absurda, a recordação do seu corpo era um poderoso afrodisíaco. Casar-se com Nathan seria como montar um cavalo selvagem; perigoso, emocionante, incerto. Nathan dar-lhe-ia um coice no coração sem se aperceber de como isso magoava e em seguida partiria para o seu próximo objetivo. – Mas o sexo não é suficiente para começar um matrimónio.

Nathan levantou o queixo com um dedo para olhá-la nos olhos.

– Se tiveres expetativas pouco realistas, não.

Emma quase desatou a rir.

Nos momentos mais escuros, quando contemplava o que seria a sua vida se acedesse aos planos do seu pai, imaginava-se a si mesma a viver como o tinha feito a sua mãe, casada com um empresário que trabalhava sem descanso. Imaginava-se a passar as manhãs às compras e depois a almoçar no clube com as amigas. E algum dia, por fim, teria uma tórrida aventura com o seu treinador de ténis ou com o tutor da filha. O marido e ela viveriam vidas separadas, mas iriam juntos a jantares e eventos sociais. O sexo seria escasso e aconteceria apenas se um dos dois tivesse bebido demasiado.

Claro que essa não seria a vida que teria com Nathan Case, um homem que podia fazer com que os seus joelhos tremessem apenas com um olhar. Por ele, compraria roupa interior sexy e iria ao ginásio para ter uma figura perfeita. Via-se a si mesma a organizar jantares para dois e férias em lugares exóticos. Tornar-se-ia na sua vida, na sua obsessão.

Emma sentiu um arrepio.

E o que conseguiria em troca? Seria Nathan um marido fiel ou as suas aventuras extra conjugais fariam com que acabasse por ser como a sua mãe, ciumenta e possessiva até ao ponto de afastá-lo da sua vida? Tinha-a visto sofrer até ao primeiro ano da secundária, quando pediu o divórcio e se mudou para Los Angeles. Nunca tinha voltado a casar-se, apesar de Emma não saber se era por medo a perder a pensão que lhe dava o seu pai ou por medo a arriscar o seu coração outra vez.

Recordando os jogos de Nathan com a loura na biblioteca, Emma tinha as suas dúvidas.

– Expetativas pouco realistas? – repetiu. – Como a fidelidade, por exemplo?

– Quero que o nosso seja um casamento a sério – replicou ele. – Serás a única mulher na minha cama.

Mas e no seu coração? Como podia ser real um casamento sem amor?

Emma imaginou o turbilhão emocional que a esperaria como esposa de Nathan. Quando o seu pai lhe impediu o acesso ao seu fideicomisso dez meses antes, dizendo que o dinheiro que gastava em roupa demonstrava que era uma irresponsável, Emma pensou que estava a tentar dar-lhe uma lição, mas jamais pensou que a forçaria a casar-se com alguém.

Nervosa, levantou uma mão para brincar com o seu brinco, mas em seguida se lembrou que Nathan os tinha guardado no bolso. Eram um dos seus primeiros desenhos, de safiras e diamantes. Desenhava joias desde que terminou a licenciatura, mas dois anos a trabalhar como ajudante de um joalheiro tinham anulado o seu entusiasmo por executar os desenhos de outros.

Quando o seu pai começou a pôr-lhe entraves com o dinheiro, tinha decidido viver do que ganhasse a fazer a sua própria linha de joias, mas seis meses depois apercebeu-se de que mesmo vivendo sem luxos como a roupa de design ou as visitas ao spa, teria de trabalhar muito mais do que tinha feito até então para pagar o empréstimo, pôr gasolina no carro e ter comida no frigorífico. E não apenas durante um ano, mas durante o resto da sua vida.

Ou poderia recuperar o seu fideicomisso. Se fizesse o que o seu pai queria e casasse. Nesse mesmo ano. Essa era a condição que tinha imposto.

Estava cansada de lutar contra os desejos do pai, contra a tentação de gastar dinheiro, farta de não poder pagar as faturas. Aquele ano tinha sido um inferno. Seria tão fácil render-se, fazer o que o seu pai queria e casar-se com Nathan. Então não teria que estar doze horas sentada em frente à secretária, não teria de poupar cada cêntimo para conseguir ir às aulas de ioga.

Emma encolheu os ombros.

– Devolves-me os meus brincos?

– Não, acho que os guardarei durante mais um tempo.

– Porquê?

– Desapareceste da minha vida há três semanas e não quero que isso volte a acontecer.

– Não desapareci – disse ela. Mas sim, tinha desaparecido. O desejo que sentia por ele tinha-a feito fugir espavorida qual coelho assustado. – Por favor, Nathan, não podemos falar amanhã? Estou cansada e necessito tempo para pensar. Podemos tomar o pequeno-almoço juntos amanhã.

O seu tom cansado devia tê-lo afetado porque afastou as mãos da porta e manteve-se em silêncio enquanto ela subia o fecho do vestido.

– Venho buscar-te às dez – disse Nathan, poderoso e seguro de si mesmo, perigoso e sexy: tudo isso sabotando a sua resolução de se afastar sem olhar para trás.

– Sim, claro.

Emma saiu do estúdio antes de poder detê-la. Não tinha forças suficientes para resistir nem mais um minuto. Tinha de sair dali, nessa mesma noite.

Correndo pelas escadas acima, com o coração a bater a toda a velocidade por medo a que Nathan a seguisse, deteve-se no segundo andar para respirar.

O patamar do segundo andar rodeava o salão de quatro andares terminando numa cúpula pintada com nuvens. O seu pai tinha gasto cinquenta milhões de dólares para recrear uma mansão de estilo francês numa quinta de noventa hectares ao norte de Dallas. A mansão, de oito mil metros quadrados, estava inspirada em Versalhes em estilo e grandiosidade e mobilada com antiguidades francesas. Tinham demorado quase três anos em construí-la, graças à obsessão do seu pai por comprovar pessoalmente cada detalhe, mas assim pelo menos tinha-se esquecido do divórcio da sua quarta mulher e, durante um tempo, tinha deixado de meter-se na vida de Emma.

Infelizmente, nada durava para sempre. E quando chegou o último móvel a finais de fevereiro, Silas tinha voltado a intrometer-se na sua vida.

– E queixa-se de que eu gasto muito dinheiro – murmurou, irónica.

A festa continuava em todo o seu apogeu no andar de baixo, como um mosaico de elegantes vestidos e joias que a deixavam tonta.

– Ah, estás aqui.

Emma voltou a ouvir a voz do seu pai, que se dirigia a ela pelo corredor. Aos sessenta e três anos, tinha o aspeto atlético e a energia de um homem vinte anos mais jovem. Silas Montgomery usava a sua estatura e a sua personalidade para intimidar tanto os seus adversários como os seus familiares.

– Olá, papá.

– Vi-te com o Nathan – disse ele, olhando para o seu cabelo despenteado com a sobrancelha franzida. – Falaram?

– Sim, falámos – respondeu Emma, sentindo que lhe ardia a cara.

– Maravilhoso. Anda, vamos ao salão. Quero anunciar a toda a gente.

Emma odiava os confrontos e desde pequena tinha aprendido a afastar-se quando os seus pais discutiam. Mas nesta ocasião não estava disposta a ceder.

– Agora não, papá. Estou cansada.

– Patetices. Será um anúncio rápido e um brinde, mais nada.

Mesmo não gostando de discutir com o seu pai, Emma estava decidida a manter-se firme.

– Não há nada para anunciar.

Silas Montgomery cravou nela os seus brilhantes olhos azuis.

– Não te pediu que te cases com ele?

– Disse-me que vamos casar-nos e eu disse-lhe que não – respondeu Emma, com o ressentimento a dar-lhe coragem. Devia encontrar a forma de escapar dos planos do seu pai porque não tinha intenção de tornar-se na esposa de Nathan Case. – Não vou casar-me com ele como parte de um acordo entre vocês os dois.

– No dia de São Valentim dei-te um ano para encontrares marido, Emma. O prazo está quase a finalizar e ainda não encontraste ninguém. Mas eu encontrei alguém para ti.

– Não quero casar-me com o Nathan – insistiu ela. O seu pai e o Nathan tinham em comum a arrogância e a total despreocupação pelos sentimentos dos demais. – De facto, é o último homem do mundo a quem eu teria escolhido.

Silas franziu a sobrancelha.

– Essa não foi a minha impressão quando ouvi uma conversa entre Jamie e tu este Natal.

Emma conteve um suspiro. Como se tudo aquilo não fosse suficientemente humilhante, agora descobria que o seu pai tinha ouvido a conversa entre ela e a sua cunhada depois do que se passou na festa de Grant.

– Estavas a espiar-me?

– Nenhuma das duas falava precisamente em voz baixa.

– Pensei que estávamos sozinhas em casa.

– Voltei para procurar uns papéis – o rosto do seu pai não mostrava a menor compaixão. Lidava com ela com a mesma determinação com que dirigia os seus negócios. – Sei que gostas do Nathan há muito tempo, filha. Lembro-me como te portavas quando voltava com o teu irmão da universidade.

E ela também, pensou Emma, com as faces a arder.

– Nessa altura tinha dezasseis anos, papá. Não sabia o que queria.

– E agora tens vinte e oito, é hora de decidires o que queres fazer com a tua vida – Silas puxou os punhos da camisa, como se desse por finalizada a discussão. – Nathan será um bom marido.

– Não estou apaixonada por ele e ele não está apaixonado por mim. Como é que vai ser um bom marido?

– Mas está disposto a casar-se contigo.

– Porque tu o estás a chantagear – Emma teve de se concentrar para não desatar a chorar. – Não me faças isto, papá. Não seria bom para nenhum dos dois.

– Necessitas que alguém cuide de ti, filha. E o Nathan é o homem perfeito para isso.

– Não necessito que ninguém cuide de mim.

– Sim, necessitas. Como nunca tiveste de ganhar o teu próprio dinheiro, gasta-lo como se não fosse terminar nunca. Não quero nem pensar o que se passaria se não estivesses limitada por um fideicomisso. E pelo que me conta Cody, o teu loft em Houston é um desastre. Cuidei de ti durante vinte e oito anos, é hora de dar esse trabalho ao teu marido.

O seu loft não era um desastre, só necessitava de uma casa de banho e cozinha novas… e mudar a canalização e a instalação elétrica. Tinha-o comprado antes de perder o acesso ao dinheiro do fideicomisso e como com o seu negócio de joalharia mal chegava para os gastos, não tinha dinheiro para fazer obras.

– Não preciso de um marido, eu consigo cuidar de mim mesma. O meu negócio de joalharia está a começar a levantar voo – disse. Era um exagero, mas necessário se queria convencer o seu pai a deixar de tentar casá-la.

– Quanto dinheiro te sobra dos cem mil dólares que te dei em fevereiro?

– A maior parte – Emma não queria ser específica. Quando o seu pai lhe negou o acesso ao fideicomisso não tinha querido acreditar e ainda não tinha aprendido a ser cuidadosa com os seus gastos. Dizer-lhe qual era a verba real só serviria para reforçar a sua opinião de que gastava dinheiro de um modo frívolo.

– Já só tens um terço – replicou Silas.

– E se o tivesse todo?

O desafio despertou um brilho especulativo nos olhos do seu pai.

– O que queres dizer?

Isso, o que queria dizer? Emma queria retirar as suas palavras, mas era demasiado tarde.

– Dizes que não sei cuidar de mim mesma e eu digo-te que estás enganado – Emma respirou profundamente. – E se te devolvesse os cem mil dólares no dia de São Valentim?

– Como vais fazer isso em seis semanas? – o seu pai soltou uma gargalhada.

– Vendendo as minhas joias.

– Não poderás fazê-lo, querida. Tens jeito para gastar dinheiro, não para o ganhar. Não tens garra para triunfar na vida por tua conta.

O comentário depreciativo fez com que o seu coração se encolhesse e sentiu-se presa aos erros que tinha cometido na vida. Seria demasiado tarde para fazer com que o seu pai mudasse de opinião? Se não o tentasse, teria de viver do que ganhava ou casar-se com Nathan. Ambas as possibilidades eram horríveis.

– Mas se o fizesse, devolver-me-ias o fideicomisso?

O seu pai franziu a sobrancelha.

– Vi o estado da tua conta, filha. Não poderás devolver-me o dinheiro.

Certamente tinha razão, mas Emma decidiu tentar.

– Logo vemos isso no dia de São Valentim – afirmou, com uma confiança que não sentia na realidade. – Mais uma coisa: quando eu tiver os cem mil dólares na minha conta, terás de prometer que nunca mais voltarás a meter-te na minha vida – propôs-lhe, oferecendo a mão para selar o acordo. – Concordas?

– Desde que não peças o dinheiro emprestado a ninguém, estou de acordo – Silas apertou a sua mão com um sorriso. – Só faço o que sei que é melhor para ti, filha.

– O que tu achas que é melhor para mim – disse ela, afastando a mão. – E enganas-te. Mas é melhor voltares para o pé dos teus convidados.

– Tu não vais descer?

Emma negou com a cabeça.

– Vou para Houston esta noite.

– É muito tarde e as estradas são perigosas.

Mais perigoso seria ficar, pensou ela.

– Terei cuidado.

O seu pai franziu a sobrancelha.

– Emma….

– De uma forma ou de outra, em seis semanas deixarei de ser da tua responsabilidade, papá. Já é hora de soltares as rédeas.

– Claro que sim – Silas beijou-a na testa antes de se afastar pelo corredor.

Quando chegou ao seu quarto, Emma tirou o vestido com sumo cuidado. Tinha-lhe sido emprestado por Jamie e não se perdoaria a si mesma se tivesse que o devolver com alguma nódoa.

Enquanto o guardava num saco para fatos, pensou na reviravolta que a sua vida tinha dado. Um ano antes, não teria tido tanto cuidado com a roupa. Qualquer nódoa, qualquer falta de botão e algumas vezes só porque já os tinha usado uma vez, levava os seus vestidos diretamente para o fundo do armário.

Era curioso… algo que Jamie lhe tinha emprestado com total despreocupação e ela tratava-o como se fosse o vestido mágico da sua fada madrinha.

Felizmente, aquele vestido não tinha desaparecido à meia-noite.

Apesar das suas turbulentas emoções, Emma teve de sorrir.

Depois de vestir umas calças de ganga e uma camisola, guardou o resto das coisas numa mala. Até ao seu encontro com Nathan tinha pensado em ficar a dormir ali, mas depois do que tinha estado a ponto de acontecer outra vez, precisava de tempo para pensar e as quatro horas e meia até Houston seriam uma oportunidade estupenda para o fazer.

Não se preocupava com a possibilidade de adormecer ao volante. Não tinha bebido álcool e, depois do seu encontro com Nathan, a descarga de adrenalina mantê-la-ia acordada.

Sentindo-se como uma ladra, desceu ao primeiro andar colada à parede para que ninguém a visse. Então lembrou-se dos seus brincos no bolso de Nathan… sair de sua casa com os bolsos vazios quando tinha chegado com eles cheios deixava claro que a ladra não era ela.

Só quando entrou na estrada iluminada pela lua é que a pressão do seu peito diminuiu. Custasse o que custasse, teria esses cem mil dólares antes do dia de São Valentim. Demonstraria ao seu pai que era capaz de cuidar de si mesma e Nathan Case teria de encontrar outra forma de fazer acordos com Silas Montgomery.

– Não está aqui? Quando é que se foi embora? – perplexo, Nathan olhou para o salão que umas horas antes estava cheio com centenas de convidados.

A empregada negou com a cabeça.

– Não tenho a certeza.

– Nathan! – chamou Cody Montgomery, que descia nesse momento pelas escadas. – Que raio fazes aqui?

A empregada afastou-se enquanto Nathan apertava a mão ao seu amigo.

– A tua irmã combinou tomar o pequeno-almoço comigo esta manhã.

– Tens a certeza? O meu pai disse-me que ela tinha regressado a Houston ontem à noite.

– Sim, tenho a certeza – Nathan exalou um suspiro de frustração. Tinha voltado a desaparecer. Devia ter feito caso ao seu instinto na noite anterior e tê-la convencido a voltar ao hotel com ele. – Tínhamos de falar.

– Sobre o quê? Vão marcar uma data para o casamento? – Cody soltou uma gargalhada. – O meu pai disse-me que vocês vão casar. Francamente, jamais pensei que algum dia admitirias que estás louco pela minha irmã desde os dezasseis anos.

Nathan apertou os dentes enquanto o seu melhor amigo se ria dele.

– Eu não diria isso.

Cody franziu a sobrancelha.

– Mas estás apaixonado por ela, ou não?

Essa pergunta não o surpreendeu. Depois de cinco anos de casamento, Cody e Jamie continuavam loucos um pelo outro e estavam à espera do primeiro filho. Nathan não sabia que tipo de água bebiam aqueles dois, mas ele pensava continuar com o uísque.

– Já sabes o que penso sobre o amor – disse. Ele não pensava cair nessa esparrela. – A mim não me vai apanhar.

– Mas vais casar-te – insistiu Cody, agarrando-o pelo braço para o levar para o alpendre. – A Emma sabe que não estás apaixonado por ela?

Nathan não ia mentir ao seu amigo:

– Sim, sabe.

– Não posso acreditar que a minha irmã esteja de acordo.

– Porquê?

– Depois de ver como o casamento do nosso pai e da mãe dela se degradava, a Emma estava decidida a casar-se só por amor.

Cody tinha-lhe contado que, na sua opinião, a terceira esposa de Silas Montgomery se tinha casado com ele por razões económicas.

– Acostumar-se-á à ideia.

– Não, não acredito. A Emma está louca por ti desde que era uma criança, mas tem esse sonho romântico de conto de fadas. Não vai casar-se a menos que ache que estás louco por ela.

– Tem um pouco de fé no meu poder de persuasão – disse Nathan, com um sorriso nos lábios.

Mas o sorriso desapareceu enquanto ia para o seu carro. As palavras de Cody repetiam-se no seu cérebro quando as rodas do potente BMW voavam sobre a autoestrada.

Amor.

Emma não se casaria a menos que fosse por amor. Mas ele não se casaria por amor, de modo que tinham um problema.

Não sabia quando tinha decidido que nunca tomaria esse caminho. Tinha sido nessa manhã de Natal, quando perguntou porque é que o seu pai não passava o Natal com eles e a sua mãe desatou a chorar?

Tinha oito anos.

Ou talvez quando fez dez anos e a mulher de Brandon Case tinha aparecido em sua casa para conhecer a lambisgoia com quem o seu marido tinha uma aventura. No dia seguinte, a sua mãe tinha-lhe dado uma bofetada quando disse que odiava o seu pai e queria que apodrecesse no inferno.

O amor destruía a vida das pessoas. Fazia com que criassem expetativas irreais e as expetativas levavam à desilusão, a desilusão à infidelidade e a infidelidade ao divórcio… exceto Cody, todos os seus amigos enganavam as suas esposas ou ao contrário. E todos tinham começado loucamente apaixonados.

Estava a uma hora de Dallas quando tocou o seu telemóvel.

– Estou – respondeu, pondo em alta voz.

– Olá, Nat, como foi tudo?

Ao ouvir a voz de Max, Nathan conteve um suspiro. Pelo tom, estava claro que o seu meio-irmão esperava que tivesse fracassado.

– Correu bem.

– Assinaste o acordo com Montgomery? – a voz de Max perdeu a alegria.

Se os seus meios-irmãos descobrissem a condição que Silas tinha imposto para esse acordo, Nathan teria que dar muitas explicações. Mas pensava consegui-lo sem contar a ninguém.

– Tenho de solucionar alguns problemas de última hora, mas eu diria que a coisa tem boa pinta – Nathan relaxou as mãos sobre o volante.

Tinha passado quase um ano no circuito de torneios de póquer aos vinte anos, aprendendo a esconder os seus pensamentos e adivinhar os dos demais. Além de ganhar a dois dos melhores jogadores do país, ganhara meio milhão de dólares e o que aprendeu durante esse tempo tinha sido muito valioso para lidar com os seus meios-irmãos nos últimos meses. Sobretudo, tinha aprendido a não deixar que ninguém o visse suar.

– Mas ainda não assinaste – insistiu Max.

Nathan apertou os dentes. Só o irmão do meio dos Case podia ser tão assertivo.

– Como já disse, só faltam alguns detalhes para dar por finalizada a negociação.

– Mas tinhas a certeza de que voltarias com o acordo assinado. Montgomery não ficou impressionado com a tua proposta?

Nathan suspirou. Os seus meios-irmãos tinham aprendido a fazer negócios nos escritórios do mundo empresarial; ele tinha tido que fazê-lo por sua conta. Ganhara a fortuna na Bolsa, investindo capital em empresas de risco, mas por mais legítimos que fossem os seus investimentos, Max e Sebastian negavam-se a dar-lhe crédito por ter uma boa cabeça para os negócios. Não podiam esquecer que a sua fortuna tinha começado nos campeonatos de póquer.

– O Silas está a comprovar os números, mas dar-me-á a sua resposta em seis semanas – disse por fim.

No dia de São Valentim. Nathan não tinha entendido a importância dessa data até que Emma lho explicou.

– Tanto tempo? Com certeza está tão preocupado com o risco como eu e o Sebastian. Duzentos milhões é muito dinheiro. Se te enganares, podemos perder tudo.

Quando o seu pai se retirou, Sebastian e Max tinham decidido mudar a estratégia empresarial dos Investimentos Case e torná-la numa empresa ultraconservadora. Nathan seria o primeiro a admitir que a temeridade do seu pai e a sua obsessão por conseguir enormes lucros o tinham levado a fazer negócios menos que claros, mas os seus irmãos tinham exagerado.

E por isso, a sua ideia de unir-se à companhia petrolífera Montgomery para criar uma nova empresa em vez de continuar a comprar pequenas companhias tinha sido recebida com ceticismo.

– Não estou enganado, Max.

Tinha sido um tolo ao deixar que o seu pai o convencesse a trabalhar com os seus meios-irmãos. Brandon Case parecia pensar que Sebastian e Max precisavam dele, mas não era certo. Só precisavam um do outro e das suas estratégias seguras.

– Tu gostas de riscos – disse Max então. – Nós não.

– Gosto dos riscos depois de uma calculada análise.

O seu irmão suspirou.

– Isso era o que fazias nas mesas de póquer? Calculadas análises?

Nathan odiava que alguém reduzisse o seu êxito a um cúmulo de circunstâncias fortuitas, mas não pensava gabar-se de nada. Ia demonstrar aos seus meios-irmãos quão enganados estavam por o subestimarem.

– Não vais conseguir esse acordo com Silas Montgomery – disse Max. – E isso leva-me à razão pela qual te telefonei: Lucas Smythe está disposto a reunir-se connosco.

Essa notícia enfureceu Nathan. Sebastian e Max estavam há uns anos a desejar uma fusão com a empresa Smythe. Comprar esse negócio familiar diversificaria a carteira de investimentos de Case e era o passo perfeito para os seus meios-irmãos, que odiavam o perigo.

– Porquê agora precisamente? Há um ano recusou a nossa proposta.

– Não mo disse e não importa. Tanto eu como o Sebastian gostamos da empresa de Lucas e não há um grande risco.

Nem uma grande recompensa.

– Só preciso de seis semanas para assinar o acordo com Silas – disse Nathan. – Se me derem esse tempo, posso fazê-lo.

– Isto não tem nada a ver contigo, Nat, estamos a falar do que é melhor para a empresa. Deixa de te portares como um lobo solitário e demonstra-nos que podes pôr o interesse da empresa por cima do teu ego.

– Isso é o que estou a fazer.

A injustiça dessa crítica incomodava-o sobremaneira porque ele sempre tinha sido o estranho, o que ficava de fora. E a longa aventura da sua mãe com Brandon Case tinha-lhe roubado uma vida familiar normal.

Depois da morte da sua mãe, quando ele tinha doze anos, tinha ido viver com a família do seu pai, mas nem a mulher de Brandon nem os seus meios-irmãos se tinham mostrado felizes por partilharem casa com a prova viva da infidelidade do seu pai.

Sebastian e Max tinham apenas treze meses de diferença e eram como unha e carne, de modo que o tinham deixado totalmente de fora.

– Não é fácil portar-se como parte de uma equipa quando sempre me trataram como se fosse a concorrência.

Um longo silêncio seguiu-se a essa frase e quando Max falou de novo parecia mais frio do que nunca:

– Vemo-nos no escritório.

– Sim, claro.

– Vou ligar ao Sebastian para que vá ao escritório esta tarde, assim poderás contar-nos como foi a tua reunião com Silas Montgomery.

Sem esperar resposta, Max cortou a comunicação e Nathan murmurou um rol de asneiras enquanto inseria um CD no leitor. Os últimos seis meses tinham sido um inferno, mas seguramente não teria aguentado tanto se não gostasse dos desafios.

Então, de repente, na sua mente apareceu a imagem de Emma com a tanga preta na noite da festa de Grant. A pele dela era como seda ardente sob os seus dedos enquanto lha tirava. Era exatamente o tipo de mulher de que ele gostava: sofisticada, sexy, apaixonada…

A primeira vez que a viu tinha dezasseis anos e a diferença de quatro anos entre eles deveria ter feito com que não olhasse para ela, mas Emma tinha-o perseguido.

Uma criatura atraente, muito atrevida, que pintava os lábios de vermelho para chamar a sua atenção, pestanejava o tempo todo e aproveitava todas as ocasiões para usar biquíni.

Divertido com as suas brincadeiras, Nathan tinha deixado que praticasse a sua recém-descoberta feminilidade com ele… mantendo as distâncias, obviamente.

Mas Emma ganhara coragem.

Uma tarde, com uma saia curtíssima e uns sapatos de salto alto, tinha passado ao seu lado na cozinha, tentando excitá-lo com as suas exibições.

Se soubesse qual era a sua intenção, teria saído a correr, mas jamais lhe ocorreu que o pudesse empurrar contra a parede para apertar a sua boca contra a dele. Nathan olhou para aquelas longas pestanas pintando meias luas de ébano sobre as suas faces e sentiu a tentação de dar-lhe uma lição sobre os perigos de seduzir homens mais velhos do que ela. Mas era a irmã de Cody, de modo que a tinha recusado sem nenhuma elegância, dizendo-lhe que fosse lavar a cara antes de ele dar a volta.

Doze anos depois, Emma já não era a fruta proibida.

Três semanas antes tinha-a provado pela primeira vez e agora estava faminto dela.

Deixando escapar um impaciente suspiro, Nathan afastou da sua mente tão provocantes imagens e concentrou-se no problema que devia solucionar: convencer Emma para que se casasse com ele.

Porque não poderia assinar o acordo com Silas Montgomery e assumir o controlo de Investimentos Case a menos que o fizesse.

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