Читать книгу Apenas negócios? - O segredo de alex - Maureen Child - Страница 7
Capítulo Três
ОглавлениеEmma estava sentada no meio do seu closet, rodeada de cabides e sacos do lixo cheios de roupa de marca, a lutar contra uma avassaladora sensação de angústia. Tinha de conseguir trinta e cinco mil dólares em cinco semanas e não sabia como fazê-lo.
Então tocou o seu telemóvel.
– Estou a ligar para te convidar para jantar – disse Addison. – O Paul vai levar os miúdos ao basebol esta noite, portanto tenho umas horas livres.
Emma imaginou a sua melhor amiga sentada no seu elegante escritório, a rever os detalhes do evento que estivera a organizar. Durante os últimos cinco anos, Addison tinha criado uma empresa de organização de eventos na qual trabalhava muitas horas, marcando objetivos e conseguindo-os todos. Com uma ética profissional admirável e grande determinação, era a inspiração de Emma e, ao mesmo tempo, fazia-a sentir-se culpada por não trabalhar mais.
– Não sei se posso – disse-lhe, quando o que na verdade queria dizer era que não tinha dinheiro para pagar um jantar. Graças ao seu pai, tinha passado de gastar dinheiro às mãos cheias a contá-lo como uma tacanha. A mudança era enorme, mas devia reconhecer que tinha sido uma boa lição. – Estou a olhar para o meu armário para ver o que posso vender.
– Estás a chorar?
Emma passou uma mão pela cara.
– Não.
– A mim parece-me que sim. Porque não me deixas emprestar-te dinheiro, querida?
– O Paul e tu não podem emprestar-me dinheiro. E mesmo que pudessem não aceitaria, necessito de consegui-lo por mim mesma.
Nunca conseguiria que o seu pai deixasse de meter-se na sua vida se não o ganhasse sozinha.
– Não vais ganhar dinheiro suficiente em cinco semanas vendendo a tua roupa. Soubeste algo da exposição de arte e design de Baton Rouge?
Uns meses antes, Addison tinha-a convencido a solicitar um expositor no prestigioso congresso de arte de Baton Rouge, Florida. E sem saber como receberiam o seu trabalho, Emma estava nervosa porque no dia anterior tinha sido aceite.
– Sim, mas não tenho suficiente material. Está quase tudo na Biella’s.
De acordo com os seus cálculos, tinha pelo menos cinquenta mil dólares em joias sem vender e quase todas na montra da Biella’s, a mais prestigiada joalharia de Houston.
– Vai buscá-las. Eu acho que a exposição de Baton Rouge é o melhor que podes fazer.
– Mas poderei conseguir dinheiro suficiente? – Emma mandou uma mala ao chão e começou a pôr vestidos nos cabides. – O meu pai diz que não tenho garra para triunfar sozinha e talvez tenha razão.
– Não tem razão – disse Addison. – Eu sei que podes fazê-lo e, no fundo, tu também.
Teria? Emma não tinha tanta certeza. Ser independente e manter-se sem ajuda de ninguém não era fácil e a dimensão da tarefa que tinha pela frente assustava-a.
– Além do mais – continuou Addison, – não queres ver a cara do teu pai quando tiver de devolver-te o fideicomisso? Isso não teria preço.
O entusiasmo da sua amiga animou um pouco Emma.
– Que faria eu sem ti?
– Felizmente, nunca terás que averiguar. Vá, veste um Prada e vamos jantar.
Uma hora depois, Emma entrava na joalharia Biella’s e, brincando com os seus brincos de ouro, olhava à sua volta. A exclusiva joalharia no centro de Houston tinha sido dividida em duas zonas: diamantes e pedras preciosas ocupavam uma ala do estabelecimento enquanto os colares, pulseiras e relógios de ouro ocupavam a outra. Os grandes espelhos com molduras de ouro refletiam a luz dos lustres e os pés de Emma afundavam-se nos tapetes fofos enquanto passeava de um lado para o outro.
Pouco tinha mudado desde o tempo em tinha trabalhado ali como aprendiz há cinco anos atrás. O ambiente continuava a ser luxuoso, elegante e exclusivo. A joalharia devia o seu êxito tanto à mercadoria que vendia como à experiência extraordinária que era comprar ali.
Uma sorridente empregada ruiva aproximou-se nesse momento. Devia ser nova porque não a conhecia.
– São lindos, não são? – disse a jovem, apontando uns colares. – São de uma artista local. Quer ver algo especial?
Pensando que já tinha visto cada peça de muito perto, Emma sorriu, agradecendo o seu entusiasmo.
– Gostaria de falar com Thomas McMann.
McMann era o gerente de Biella’s e seu antigo chefe. Tinha sido ele a sugerir que colocasse as suas joias na loja apesar de ser um risco para a joalharia, considerando o preço que tinha atribuído a cada peça, a qualidade do design e, sobretudo, que ela ainda não tinha um nome conhecido,.
– Vou buscá-lo.
– Obrigada.
Enquanto a jovem desaparecia por uma porta, Emma contou as peças que faltavam na montra para ver quantas se tinham vendido. E ao ver que faltavam três anéis deixou escapar um suspiro de alívio. Isso significava outros três mil dólares no banco.
Mas tinha de conseguir trinta e cinco mil. Era muito dinheiro para conseguir em cinco semanas e mentiria se dissesse que não a assustava a situação, mas se fracassasse, não poderia demonstrar ao seu pai e a Nathan que era uma mulher independente, capaz de ganhar a vida por sua conta e, obviamente, capaz de decidir com quem se queria casar.
Uma pena que não soubesse nada dos planos do seu pai cinco meses antes porque talvez então não estivesse naquela situação. Quando Silas Montgomery decidiu impedi-la de tocar no seu fideicomisso, Emma demorou dois meses a gastar uma quarta parte do dinheiro e outros trinta dias antes de entender a realidade da sua situação.
Ela desfrutava a desenhar e a criar joias, mas nunca lhe teria passado pela cabeça que pudesse ser uma carreira a sério. Tinha sido Addison a sugerir que poderia ganhar dinheiro suficiente se criasse peças únicas e espetaculares.
Infelizmente, tinha tido de gastar grande parte do dinheiro a comprar o equipamento e os materiais necessários e tinham passado outros trinta dias antes de poder produzir suficientes peças para mostrá-las ao gerente de Biella’s. Mas no final o seu trabalho tinha dado resultado e quando vendeu a primeira peça sentiu-se emocionada.
– Olá, Emma – cumprimentou-a Thomas, com a sua peculiar voz anasalada. Alto e magro como uma personagem de desenhos animados, Thomas McMann tinha umas pestanas tão compridas como uma modelo. – Viste que vendemos mais três peças? – perguntou-lhe logo, oferecendo-lhe um envelope.
– Sim, vi – Emma sorriu, contendo o desejo de rasgar o envelope para olhar para o cheque.
– Espero que tenhas trazido mais peças.
– Na realidade, eu esperava levar as que vocês têm aqui. Convidaram-me para participar numa exposição na Florida e vocês têm todo o meu catálogo.
– Isso vai ser um problema – disse Thomas. – As tuas joias estão a começar a vender-se e, de acordo com o contrato, ainda temos dois meses.
Com isso queria dizer que não estava disposto a perder quarenta por cento da sua comissão, pensou Emma, mordendo os lábios.
– Devolvo-te tudo o que não se vender na exposição e desenharei novas peças – sugeriu.
Recuperar os colares, pulseiras e anéis de diamantes e outras pedras preciosas era crucial para o seu plano.
– Podes levar tudo o que não se tiver vendido dentro de dois meses – insistiu Thomas. Era a sua determinação que o mantinha ainda como gerente da joalharia mais exclusiva de Houston e também a razão pela qual ela se tinha ido embora dali.
Com o coração encolhido, Emma deixou escapar um suspiro. Ia ter que engendrar um plano B se queria escapar da armadilha que o seu pai lhe tinha preparado.
Quando saiu de Biella’s, decidiu passar pelo escritório da Investimentos Case para recuperar os seus brincos. Se queria conseguir o dinheiro de que necessitava, teria de desfazer-se de algumas das suas peças favoritas e esses brincos faziam parte dessa coleção.
Enquanto subia no elevador, passou uma mão pelo seu simples vestido bege. Estava mais do que nervosa, teve de reconhecer. O estado da sua economia preocupava-a tanto que não tinha voltado a pensar no facto de o ter deixado pendurado no dia de Ano Novo. Mas o que podia fazer quando tinha estado a ponto de render-se outra vez na passagem de ano?
Pensar nele, lembrar-se das coisas que lhe tinha dito… Nathan sabia como fazê-la perder a cabeça e não estava disposta a repetir a cena.
Emma entrou nos escritórios da Investimentos Case muito decidida, mas os quadros que estavam pendurados no vestíbulo distraíram-na da sua missão. Aproximou-se a um deles, surpreendida por reconhecer a obra de Julian Onderdonk, um dos pintores texanos mais reconhecidos do século xx.
Sempre tinha sido um dos seus favoritos porque sabia capturar a subtil beleza do sul do Texas. Ela mesma tinha incentivado o seu pai a comprar três dos seus quadros, que Silas tinha pendurado no escritório. Costumava dizer que, apesar de ao princípio não ter gostado demasiado, tinha aprendido a reconhecer a sua beleza com o tempo.
– Em que posso ajudá-la? – perguntou-lhe a rececionista.
– Um momento, por favor – murmurou Emma, olhando para o seguinte quadro.
Era um Adrian Brewer pintado a finais do século xx, um campo de campainhas azuis que parecia perder-se no interminável horizonte do Texas. Alguém naquele escritório tinha bom olho para a arte, pensou. Quem seria?
– Tem hora marcada? – insistiu a jovem da receção.
– Creio que veio para me ver – respondeu uma voz masculina.
Nathan acabava de aparecer no vestíbulo e Emma sentiu arrepios nas costas.
Que fácil seria apoiar-se nele, e deixar que os seus beijos a fizessem esquecer tudo o resto.
Mas não o ia fazer.
– Sempre pensei que Julian Onderdonk era o mestre das campainhas azuis – disse por fim, surpreendida ao notar que sua voz soava firme. – Mas depois de ver a interpretação de Brewer, talvez tenha mudado de opinião.
– Eu não sei nada sobre isso – disse ele com um tom impaciente. – Comprámo-los porque nos pareceram um bom investimento.
Emma olhou para o seu perfil. Apesar da sua expressão séria detetava um esboço de sorriso… que desapareceu quando voltou a olhar para ela.
Agarrando-a pelo braço, Nathan levou-a pelo corredor, passando por diante da receção. Emma não podia concentrar-se em mais nada além do calor da sua mão. Evidentemente, ir ali tinha sido um erro.
Por fim, chegaram a um enorme escritório e Nathan soltou-a para sentar-se em frente à secretária. Havia mais quadros nas paredes de artistas que ela não conhecia e mais meia dúzia apoiados numa mesa, como se não tivesse havido tempo para os pendurar. Sentia curiosidade, mas mais ainda pelo dono desses quadros.
Nathan estava em frente à janela, com as mãos nas costas, admirando a panorâmica da cidade de Houston. Os seus ombros largos eram impressionantes sob um fato cinzento-escuro quase a combinar com os seus olhos e a luz do sol fazia reflexos claros no seu cabelo castanho.
– A que devo o prazer da tua visita?
– Vim buscar os meus brincos.
– Estão na minha casa, não aqui. Mas podemos ir buscá-los.
Estar sozinha com ele na sua casa só levaria a uma coisa.
– Não faz falta – disse Emma. – Porque não mos trazes amanhã? Posso vir buscá-los.
– Que tal se jantarmos juntos esta noite?
Jantar com ele era, evidentemente, um prelúdio à sedução.
– Que tal se tomamos o pequeno-almoço amanhã?
Pela primeira vez desde que entrou no escritório, Nathan virou-se para olhar para ela.
– Mas se começamos por jantar juntos esta noite, tomar o pequeno-almoço juntos amanhã seria inevitável.
– Já tenho planos para jantar – disse Emma, tentando não se deixar fascinar pelo seu atraente rosto. – Que tal se nos vemos amanhã às dez, depois da minha aula de ioga? No café Carlhey’s.
– Da última vez que combinámos tomar o pequeno-almoço deixaste-me pendurado.
Emma duvidava que alguma vez o tivessem deixado pendurado. Cody tinha-lhe contado suficientes histórias sobre o seu amigo, o Don Juan, para saber que saía com muitas mulheres e que ele decidia quanto durava a relação, não ao contrário.
Sabia isso três semanas atrás, quando se foi embora da festa de passagem de ano, e não pensava esperar que Nathan se cansasse dela como se cansava das outras.
– Lamento. Tive de voltar para Houston com urgência.
– E porque é que não me ligaste para avisar?
– Porque sei que tu não aceitas um não como resposta – respondeu ela.
– Mas isso não parece evitar que tu me digas que não.
Emma teve de apertar os lábios para não lhe dizer a verdade, que depois de fazerem amor no seu apartamento se tinha sentido consumida pelo irracional desejo de ver onde a levava uma relação com ele. Estava quase a retribuir as chamadas quando a intromissão do seu pai a tinha salvado de cometer um erro.
– Até há três semanas não me tinhas dado a oportunidade de o fazer – disse. E lamentou logo tê-lo feito.
– Não sabia que estivesses interessada – murmurou Nathan, dando um passo na sua direção.
– Não estou – replicou Emma, dando um passo atrás.
– Não?
O seu pulso acelerou-se quando chocou contra a parede e afastou o cabelo da cara num gesto de frustração.
– Olha, o que se passou na noite da festa do Grant foi muito agradável…
– Agradável?
– Fechei desse modo um capítulo da minha vida.
Nathan pôs uma mão na parede, sobre a sua cabeça.
– Que capítulo?
– Queria saber… como seria estar contigo – confessou Emma. – Agora já sei…
– Vamos ver se eu entendo: sentias curiosidade por saber como seria o sexo comigo e agora que já sabes já não te interessa? – interrompeu-a Nathan.
– Não, bem…
– O problema é que eu continuo interessado.
O brilho dos seus olhos era tão tentador que Emma, sem pensar, alçou uma mão para pô-la sobre o casaco…
Mas nesse momento uma morena entrou no escritório.
– Espero que estejas livre para almoçar, Nathan.
Emma afastou a mão e ele deu um passo atrás, esticando a gravata.
– O que fazes aqui, Gabrielle?
– Passei a manhã toda a sonhar com o creme de caranguejo do Rolando’s – a morena colocou a sua mala sobre a secretária e tirou um espelho, como se estivessem sozinhos no escritório.
Emma engoliu em seco. Tinha sido uma tola ao pensar, nem que fosse só durante um segundo, que ela era a única mulher em quem Nathan estava interessado.
Ele olhou para Gabrielle e depois para ela, como se as estivesse a comparar. A quem escolheria? A rapariga tensa e pálida com um simples vestido bege ou a elegante morena com saia travada, top de gola halter e sandálias de Manolo Blahnik?
– Estás-me a ouvir, Nathan? – Gabrielle virou-se e só então viu Emma. – Ah, desculpa. Tu és a nova ajudante? Ainda bem que finalmente deste ouvidos ao Sebastian. Diz-lhe que reserve mesa no Rolando’s.
– Gabrielle, apresento-te Emma Montgomery. E não é a minha nova ajudante, é a filha de Silas Montgomery, da companhia petrolífera Montgomery.
– Ah, sim? – a morena cravou nela os seus olhos azuis. – O meu pai é o presidente da empresa Parker.
O que era aquilo, uma batalha entre herdeiras? Além do mais, Nathan tinha-a apresentado como se fosse a filha de um sócio em vez de… quê? A sua amante, a sua namorada? O que era ela?
Emma fez um esforço para sorrir.
– Muito prazer em conhecer-te, Gabrielle – disse, olhando para Nathan enquanto abria a porta do escritório. – No café Carlhey’s às dez. Leva os meus brincos, por favor.
Com a sensação de que algo acabava de correr muito mal, Nathan foi ao corredor, ao ver Emma praticamente a correr para o elevador, teve de conter o desejo de ir atrás dela. Irritado, voltou a entrar no seu escritório para encontrar Gabrielle sentada, mostrando as suas fabulosas pernas.
– Vamos comer ou não? Estou morta de fome.
– Vai ver se o Max está livre.
– Não quero almoçar com o Max, quero almoçar contigo.
E isso significava que tinham discutido outra vez. Gabrielle e Max tinham uma relação que Nathan não entendia. Havia muitas mulheres em Houston, porque é que o seu meio-irmão aguentava as contínuas exigências e o mau génio de Gabrielle?
Só queria almoçar com ele porque achava que isso ia incomodar o Max, mas não era verdade.
– Não tenho tempo, lamento.
Chateado, Nathan sentou-se à secretária e levantou o telefone para dissimular.
– Max, a Gabrielle quer almoçar contigo.
Ela levantou-se de um salto.
– Disse que não…
– Ótimo – Nathan desligou o telefone. – Vem cá.
Esperava que fosse a última vez que Gabrielle o incomodava no escritório porque não estava nada interessado.
Na manhã seguinte, no escritório de Sebastian houve uma discussão muito acesa.
– Vi os números de Smythe e a mim parece-me um acordo muito sólido – estava a dizer o seu meio-irmão. – E isso significa que podemos esquecer a companhia petrolífera Montgomery.
Nathan bateu no caderno com a sua caneta de ouro, tentando acalmar-se.
– Telefonei a um colega de Chicago que se dedica a investimentos bancários e ele tem informação confidencial sobre Smythe… não vai vender.
– E supõe-se que devemos acreditar no teu colega? – replicou Max.
Nathan encolheu os ombros.
– A questão é que, se Smythe vendesse, não teríamos a mesma margem de lucro do que com a petrolífera Montgomery. E se vocês deixassem de agir como duas velhas, talvez entendessem o valor do risco.
– Não nos dês lições – replicou Max. – Não passas de um recém-chegado que não estaria aqui se não fosse porque…
Sebastian interrompeu-o com um gesto. Max sempre tinha sido muito direto. Ele, por outro lado, era mais calado e mais ofensivo.
– Tenho a certeza que o Nathan entende qual é a sua posição na empresa.
Sim, ele entendia muito bem a sua posição: era o estranho. Era indiferente que tivessem o mesmo apelido. A sua mãe tinha sido a amante de Brandon Case e tanto Sebastian como Max odiavam ter de partilhar o seu pai com ele. Além da empresa familiar, claro.
– Não deixem de lado o possível acordo com Montgomery – insistiu Nathan. – Disse-vos que tenho de solucionar umas quantas coisas antes de o assinar, deem-me mais umas semanas.
– Esquece – disse Max. – Tentaste e não saiu bem. Fim do assunto.
– Não sejas idiota. Tu viste os números e sabes quanto poderíamos ganhar – Nathan inclinou-se para a frente. – Sei que estás chateado porque o nosso pai não te consultou sobre a minha vinda para a empresa, tal como sei que queres que me vá embora. Mas isso não vai acontecer, portanto podes deixar de fazer esses joguinhos.
– Que joguinhos? – exclamou Sebastian.
– Desde que éramos crianças que vocês decidiram unir-se contra mim. E eu entendo, eu era o filho ilegítimo, a prova de que nosso pai tinha enganado a vossa mãe. Mas a minha mãe já morreu há vinte anos. Não acham que já vai sendo hora de esquecer tudo?
Os dois irmãos olharam-se, surpreendidos pela sua veemência. Nathan odiava que o deixassem de fora continuamente e isso renovava a sua determinação de ficar com o controlo da empresa.
– O que sabemos dessa tecnologia em que queres investir? – murmurou Max. – Nós não sabemos nada sobre tecnologia de ponta.
– Eu sim.
– Desculpa, mas não acredito em ti.
Sebastian silenciou o seu irmão mais novo com um gesto.
– Até falarmos com Smythe, tínhamos decidido dar-lhe a oportunidade de negociar com Montgomery sobre essa possível joint venture. O Silas ainda não tomou uma decisão e acho que deveríamos dar-lhe até meados de fevereiro.
– E eu acho que é melhor deixar esse tipo de investimentos para os peritos – replicou Max, sarcástico.
Nathan conteve o desejo de replicar como gostaria. Ele não tinha um mestrado em Gestão de Empresas nem as credenciais que tinham os seus meios-irmãos, mas ganhara muito dinheiro graças à sua habilidade para investigar companhias novas e descobrir o seu potencial.
– Porque é que não falam entre vocês? – sugeriu, levantando-se. – Eu tenho um encontro agora mesmo. Mais tarde contam-me o que decidiram.
Nathan agarrou no seu casaco e saiu do escritório. O café Carlhey’s ficava a três quarteirões dali e deixou que o frio acalmasse a sua fúria. Pela primeira vez em meses, talvez em anos, tinha um projeto no qual podia ferrar o dente e não o abandonaria por causa da timidez dos seus meios-irmãos, nem pela falta de imaginação.
Não estava de bom humor quando entrou no café, mas o seu pulso acelerou-se ao pensar que ia ver Emma. Um tempo depois, quando a empregada lhe perguntou se queria outro café, Nathan olhou para o relógio. Onde se teria metido? Eram dez e meia.
Chateado, tirou uma nota e deixou-a sobre a mesa, pôs o casaco e saiu.
Cody tinha-lhe dado a sua morada umas semanas antes porque, depois da festa de Clark, tinha pensado enviar-lhe flores, balões, algo tolo e romântico. E esse impulso perturbava-o porque ele não era dado a gestos românticos. Afinal não tinha feito nada e, depois ao ver que Emma não lhe devolvia as chamadas, alegrava-se por não o ter feito.
Nathan dirigiu-se ao seu loft e entrou sem ter que tocar à campainha graças a uma mulher que saía nesse momento, imaginando a surpresa de Emma quando o visse.
Quando chegou ao quarto andar, tocou à campainha mas não obteve resposta. Quase sem se aperceber, empurrou a porta e ficou surpreendido ao ver que cedia.
– Emma?
Ela não respondeu mas pareceu-lhe ouvir algo na casa de banho.
Nathan atravessou o salão, observando distraidamente a abundância de projetos de remodelação que parecia ter deixado a meias. E o que encontrou ao final do corredor deixou-o gelado.
Alguém tinha destruído a casa de banho com um martelo pneumático, destruindo as paredes e parte do teto, deixando à vista os cabos e a canalização. Não havia chuveiro nem banheira e só estavam de pé o lavatório e a sanita. E aí era onde estava Emma, inclinada sobre a sanita, a vomitar.
– Estás doente?
– Nathan! – exclamou ela, levantando a cabeça. – O que estás aqui a fazer?
– Tinha vindo para perguntar porque é que me tinhas voltado a deixar pendurado, mas agora entendo.
– Pronto, agora que já me viste, podes ir embora.
– E deixar-te assim? Nem pensar – Nathan olhou à sua volta, à procura de uma toalha. – Volto já.
Foi até ao corredor e entrou numa cozinha diminuta. Os velhos armários e os eletrodomésticos antiquados deixavam claro que o seu projeto de obra não tinha chegado muito longe. Por fim encontrou um pano de cozinha e, depois de o pôr sob a torneira, voltou à casa de banho, onde Emma estava na mesma posição.
– Toma, põe isto na testa – disse. – O que é que estiveste a celebrar?
– Nada, isto não é uma ressaca. É uma gastroenterite ou algo parecido.
Nathan sentou-se ao seu lado, sem se preocupar em sujar o fato. Incomodava-o vê-la a viver nessas condições… era lógico que o seu pai quisesse casá-la porque, evidentemente, necessitava que alguém cuidasse dela.
Mas então lembrou-se de algo… algo que o deixou preocupado.
– Vai-te embora, Nathan. Não tenho vontade de falar com ninguém neste momento – insistiu Emma.
– De certeza que é uma gastroenterite?
– Que outra coisa poderia ser? – perguntou ela, franzindo a sobrancelha.
– Bom, passou quase um mês desde que estivemos juntos… – Nathan não disse mais nada, olhando para ela nos olhos.
– E? – perguntou ela, afastando o cabelo da cara.
– Estás grávida?