Читать книгу Uma proposta escandalosa - Recordações de uma noite - Maureen Child - Страница 9
Capítulo Cinco
ОглавлениеQuando Laura se acalmou um pouco e se calou, Georgia começou a falar.
– O Sean pode vender-me uma casa – explicou ela com tranquilidade. – Pode ajudar-me a acelerar a papelada da licença para o negócio.
– O Ronan também pode fazer isso.
– Eu sei – disse Georgia e sorriu ao seu cunhado. – Mas o Sean já se ofereceu.
– E... – sentenciou Laura.
– E o quê?
– E já são amantes, por isso tudo isto só vai complicar ainda mais as coisas.
– Oh! – murmurou Ronan. – Desde quando? Não. É indiferente. Não tenho por que saber disso.
– Não vai complicar nada – insistiu Georgia.
– Claro que vai complicar tudo – repetiu Laura. – Olha para mim! Acabei com o Ronan no ano passado, lembras-te? E aqui estou agora, casada e com um bebé.
– Queixas-te de alguma coisa? – perguntou Ronan, trocista.
– Nada disso – sentenciou Laura. – Só digo que, inclusive quando achas que sabes o que vai acontecer, as coisas podem virar-se de pernas para o ar a qualquer momento.
O intercomunicador do bebé denunciou o seu pranto. Laura pôs-se de pé.
– Tenho de ir ver a menina, mas a conversa não acabou – advertiu, saindo da sala.
– A Laura só se preocupa contigo – indicou Ronan, serviu-se de mais café e sentou-se diante de Georgia.
– Eu sei – afirmou Georgia. – Tu conheces o Sean desde sempre. O que achas?
– Eu adverti o Sean de que se mantivesse afastado de ti, mas estou a ver que não serviu de nada – confessou Ronan e ficou pensativo durante um par de minutos. – Opino que é boa ideia.
Georgia sorriu e recostou-se no seu lugar.
– Fico contente.
– Mas... Entendo por que o Sean quer fazer isso. Quer que a sua mãe seja feliz até ficar bem. E é muito nobre da tua parte que o queiras ajudar, desde que te lembres que não te deves apaixonar por ele.
– Não sou parva.
– Isso sei eu – assegurou Ronan com um sorriso. – Ajudaste-me no ano passado, quando a Laura me estava a fazer tão infeliz...
– Foi um prazer.
– Pois eu farei o mesmo por ti agora. O Sean é como um irmão para mim, por isso, se te fizer mal e tiver de o matar, vou ficar muito magoado.
Georgia sorriu.
– Obrigada. Nunca tive um irmão mais velho.
– Bom, pois já tens – ofereceu-se Ronan, levantando a sua chávena em sinal de brinde.
– Fico contente – sentenciou ela, rindo.
– Já tinhas decidido ajudar o Sean, antes de contares à Laura, não já?
– Estava quase – admitiu ela.
– Já assinaste o contrato de aluguer da loja?
– Sim. E agora vou a Galway procurar móveis – informou, e desceu o olhar para a sua agenda eletrónica, que acabava de apitar porque tinha recebido um e-mail. – Estou entusiasmada com a loja. Necessita de uma boa pintura... – disse e parou de falar ao ler a mensagem. – O quê? Devem estar a brincar!
– O que se passa? – perguntou Ronan com preocupação. – Algo de mal?
Leu outra vez o e-mail para se assegurar de que tinha entendido bem. Assim era.
– Aqueles porcos, enganadores, miseráveis, mentirosos...
– Quem?
– O meu ex-marido e a minha ex-prima – resmungou ela. – Não consigo acreditar. Não podiam ter descido mais baixo...
– Ah! – murmurou Ronan. – Talvez esse tema de conversa seja mais apropriado para a Laura.
Georgia lançou a agenda eletrónica para o sofá, pousou a chávena de café sobre a mesa com brusquidão e levantou-se cheia de fúria.
– Vemo-nos depois, Ronan.
Georgia estava demasiado aborrecida para sentir o frio.
Caminhou a toda a velocidade, com o olhar fixo no seu objetivo. O telhado da mansão de Ronan podia avistar-se por cima das árvores.
Cruzou o campo, atravessou o pequeno bosque que rodeava a casa e recordou vagamente algo que Sean tinha dito sobre as fadas e o seu costume de raptarem as pessoas.
– Acho que hoje não se atrevem a tentar – murmurou ela.
Quando Georgia se aproximava da entrada da casa, de pedra e de madeira, Sean saiu para recebê-la.
– Georgia! – cumprimentou ele, sorrindo. – Ia parar em casa do Ronan para te ver antes de ir ao hospital visitar a minha mãe.
Ela afastou o cabelo emaranhado da cara e sacudiu a erva e o orvalho das botas. Trazia o seu vestido verde de lã favorito, embora fosse um pouco velho. Se calhar deveria ter vestido algo mais novo para a ocasião. Afinal de contas, ia comprometer-se com um homem. Mas também não seria algo real. Seria só uma farsa, lembrou a si mesma.
Tal como o seu primeiro casamento.
– Estás bem? – perguntou ele. O seu sorriso desvaneceu-se ao pousar os olhos nela e ver a sua expressão. Aproximou-se e abraçou-a pelos ombros.
– Na realidade, não – confessou Georgia e respirou fundo, esperando que o vento frio lhe acalmasse a fúria. Não funcionou.
– O que se passa?
– Ontem propuseste-me um acordo.
– Isso mesmo.
– Agora tenho eu outro para te oferecer.
Sean largou-a, ainda que não se tivesse afastado e continuou a olhar para ela com preocupação.
– Está bem; diz lá.
– Não sei por onde começar. Acabo de receber um e-mail da minha prima Misty. A mulher com quem o meu ex-marido ficou.
– Ah – assentiu ele, como se compreendesse por que estava tão desagradada.
– Um convite para o casamento deles.
Ele ficou boquiaberto. E Georgia teve vontade de beijá-lo somente por isso. Que compreendesse a situação, sem necessidade de mais explicações, significava muito para ela.
– Que pouca classe.
– Acreditas? – disse ela e começou a caminhar para cima e para baixo à frente dele. – Há que ser mau para enviar convites eletrónicos para um casamento – indicou, levantando as mãos para o céu. – Quem faz isso? Ninguém! Parece-te normal enviar um convite estúpido por e-mail à mulher a quem o teu namorado enganou? A mulher que ele abandonou por tua causa? E que me dizes do Mike? Que diabo estará a pensar? Acha que é normal convidar-me para o casamento dele? Se calhar julga que somos velhos amigos? Espera que me comporte de forma civilizada?
– Ser civilizado não é divertido.
– Tens razão! – exclamou ela. – A verdade é que não me importo com quem se casa aquele idiota, os dois merecem-se um ao outro, mas por que acham que vou querer ser testemunha de tal casamento?
– Não sei dizer.
– Ninguém sabe, porque não faz sentido – prosseguiu ela, dando asas à sua indignação. Então, ocorreu-lhe algo. – O mais provável é que esperem que não vá ao casamento. A Misty só quer que eu saiba que se vai casar com o Mike. Acha que isso me fará mal.
– E está enganada, claro.
– Parece-te que estou magoada? – perguntou ela, com um olhar desafiante.
– Nem um pouco – apressou-se ele a responder. – Pareces furiosa e tens toda a razão para estares assim.
– Claro – replicou ela e rodou a baiana, batendo com um ar ausente no chão com o tacão. – E sabes que mais? Penso ir ao casamento.
Sean riu.
– Vais ver. Vou mostrar-lhes como significam pouco para mim.
– Boa ideia.
– Chegarei ao casamento deles em Ohio de braço dado com o meu suposto milionário namorado.
– Ai, sim? – perguntou ele, esboçando um sorriso.
– Esse é o acordo – disse ela, mais calma depois de ter desabafado. – Farei a tua mãe feliz até ela ficar bem, se vieres a este casamento comigo e os convenceres a todos que estás louco por mim.
– Combinado – apressou-se ele a responder.
Quando Sean a ia abraçar, ela impediu-o, pondo-lhe uma mão no peito.
– E também me vais ajudar a conseguir a licença para abrir a minha loja e vender-me-ás a casa, não é?
– Claro.
– De acordo – concluiu ela, respirando fundo.
– Temos um acordo, Georgia Page, e acho que os dois vamos sair a ganhar.
– Espero que tenhas razão – sentenciou ela e estendeu-lhe a mão para apertar a dele.
– Essa não é maneira de fechar um acordo entre amantes – comentou ele, abanando a cabeça.
Então, agarrou-a entre os seus braços, apertou-a com força e beijou-a com paixão.
Os dias seguintes passaram a voar.
Georgia quase esquecia, em determinadas ocasiões, que o que havia entre ela e Sean não era real. Ele representava o seu papel maravilhosamente bem. Agia como um homem apaixonado e, se ela não soubesse que era uma farsa, ter-se-ia apaixonado dos pés à cabeça por ele.
Fiel à sua palavra, Sean tinha acelerado a papelada para conseguir a licença para o negócio, que estaria pronta dentro de uma semana ou duas. Tinha vendido a Georgia uma das suas casas da aldeia, a um preço irrisório. Mas fazia tudo parte do acordo, relembrara a si própria. Ao mesmo tempo, incomodava-a pensar no casamento a que ia assistir com ele.
Georgia endireitou as costas. Tinha tomado uma decisão e não pensava voltar atrás. Além do mais, estava a entrar em cheio numa nova vida. Tinha um amante, uma empresa sua, uma casa.
E tinha construído aquilo tudo sobre uma mentira, sussurrou-lhe a sua consciência.
– A questão é o que restará disto tudo quando a mentira cair – disse Georgia, falando sozinha. Mas não ajudava pensar nessas coisas, por isso tentou deixar de lado a ideia.
Havia escolhido o seu caminho e, acontecesse o que acontecesse, ela e Sean superá-lo-iam. Eram dois adultos. Podiam ter sexo e... o que fosse, sem se fazerem mal um ao outro. Por outro lado, ainda que quisesse safar-se do seu acordo, a verdade era que estava demasiado implicada na relação deles para cortar naquele momento. Por isso só lhe restava submeter-se ao plano que tinham feito e rezar.
Enquanto isso, tinha de tratar da sua loja e de decorar e mobilar a sua nova casa.
Fazendo uma pausa nos seus pensamentos, Georgia afastou-se para observar a mistura que tinha feito e sorriu ao ver o amarelo-pálido de uma das paredes do seu gabinete. Era alegre e suficientemente brilhante para contrastar com os dias cinzentos do inverno irlandês. Tinha deixado a porta aberta, para que o cheiro a pintura saísse. O vento frio soprava-lhe no cabelo, enquanto pintava.
Durante toda a manhã, as pessoas da aldeia tinham passado por lá para lhe oferecer ajuda ou para a felicitar pelo seu iminente casamento. Por isso, não a surpreendeu ouvir uma voz vinda ad porta.
– Está a ficar muito bem.
Quando Georgia se virou, viu Ailish, a entrar pelo braço do seu filho Sean.
– Obrigada – disse ela, sorrindo. – Não sabia que vinham cá. Ailish, fico muito feliz por te ver fora do hospital.
– Eu fico mais – sentenciou ela com outro sorriso. – Não sabes a vontade que tinha de voltar para casa. Ainda que eu quisesse voltar para a minha própria casa em Dublin, mas o meu filho fez questão de que fique na mansão da família até estar recuperada. De qualquer modo, já estou quase.
– Não estás recuperada e tens de descansar, como o médico mandou – contrariou-a Sean.
– Descansar – repetiu Ailish em tom de queixa.
– Como te sentes?
– Muito bem – assegurou a mulher mais velha e aproximou-se para dar um abraço a Georgia. – Quando o Sean me contou a notícia, fiquei muitíssimo contente.
Georgia sentiu uma pontada de culpa. Ao olhar Ailish nos olhos, quis morrer por ter de fazer parte daquela mentira. No entanto, também percebeu a palidez e as olheiras da outra mulher. Se calhar, não se encontrava tão bem como assegurava e, talvez, isso fosse razão suficiente para seguir em frente com a farsa.
– É estupendo que tu e a tua irmã formem as vossas novas famílias aqui – comentou Ailish e suspirou por lhe parecer romântico. – Não podia sonhar com uma nora melhor.
– Obrigada, Ailish – sentenciou Georgia.
– Deixa-me ver o anel – pediu a mãe de Sean, pegando-lhe na mão esquerda.
Não havia anel.
Georgia escondeu a mão e lançou um olhar rápido a Sean.
– Ainda não escolhemos um – explicou ele com rapidez. – Tem de ser especial, não é?
– Hum – murmurou Ailish, olhando para o filho com curiosidade. – Bom, pois mostrem-mo quando o tiverem. Agora, se não se importam, vou-me sentar à espera no carro, até estares pronto para irmos embora, Sean – indicou a mulher, dando um beijo na cara a Georgia. – Fico muito contente pelos dois. Será um casamento lindo. E acho que deveriam celebrá-lo aqui em Dunley, já que a Laura e o Ronan se casaram na Califórnia.
– Eh... claro – balbuciou Georgia, acrescentando outra mentira à sua lista. – É justo.
– Claro – sentenciou Ailish com um sorriso. – Já têm data prevista?
– Não tivemos tempo de pensar ainda – informou Sean. – Com a mudança da Georgia e a abertura da sua nova loja, estivemos muito ocupados para tratar disso.
– Espero que seja brevemente – continuou Ailish. – Talvez possa ser no Natal. O Sean mandará um avião buscar os teus pais, naturalmente. Tal como se quiserem vir um pouco antes, para que possamos tratar dos preparativos juntos.
– Vou-lhes perguntar.
– Genial – disse Ailish com um sorriso radiante e virou-se para o filho. – Falarei com o padre Leary amanhã e dir-lhe-ei para anunciar o vosso compromisso na missa.
– De acordo – respondeu ele, um pouco rígido. – Deixo isso nas tuas mãos.
– Bem. Agora, vou-me embora. Espero no carro, Sean.
Os dois viram-na ir embora, quando tiveram a certeza de que não os ouvia, Georgia agarrou o braço de Sean...
– O padre? Vai anunciar o compromisso na igreja?
Aquilo complicava ainda mais as coisas. Durante três semanas, o padre leria os nomes dos casais que se queriam casar, dando a oportunidade de que aquele que tivesse alguma objeção legal ou civil falasse. Isso significaria que a notícia tornar-se-ia pública mais rapidamente do que Georgia tinha esperado.
– Sim, bom, é assim que se faz, não é? – replicou ele, passando a mão pelo cabelo com nervosismo.
– Não lhe podes dizer para esperar?
– E que razão dou? – replicou ele, abanando a cabeça. – Não, anuncia-se na missa. Mas isso não mudará nada. Podemos acabar o compromisso quando tu me deixares, Georgia. Vai correr tudo bem, vais ver – assegurou ele, e agarrou a mão dela, acariciando-lhe o dedo anelar. – Lamento ter-me esquecido do anel.
– Não importa.
– Importa sim. Vou comprá-lo hoje.
– Sean – sussurrou ela, chegando-se um pouco mais. – Tens a certeza de que estamos a fazer o correto?
– Sim – insistiu ele e inclinou a cabeça para ela. – A minha mãe está cansada, Georgia. Nunca a tinha visto tão pálida e não lhe quero dar nenhuma tristeza. Esperemos até ela recuperar para pôr fim a isto. Temos um acordo, lembras-te?
– Está bem – afirmou ela, suspirando.
– Muito bem – disse ele e beijou-a. – Vou levar a minha mãe a casa e, depois, volto para te ajudar a pintar.
Rendendo-se aos seus encantos, ela sorriu.
– Tens jeito para pintar?
– Sou um homem de muitos talentos.
Não tinha dúvida disso, pensou Georgia, vendo-o ir-se embora.