Читать книгу Casamento com lucro - A tentação mora ao lado - Maureen Child - Страница 6
Capítulo Dois
ОглавлениеCia estava há vinte minutos à espera quando Lucas Wheeler entrou nos escritórios da Wheeler Family Partners às nove e oito minutos da manhã do dia seguinte.
– Menina Allende – sorriu, como se fosse do mais normal encontrar mulheres sentadas no sofá da sala de espera. Inclinou-se sobre o balcão da rececionista. – Helena, podes mudar a hora da avaliação das nove e meia e mandar à Kramer a oferta revista que te enviei por correio eletrónico? Dá-me cinco minutos para ir tomar um café e então podes dizer à menina Allende para entrar.
A rececionista sorriu e murmurou uma resposta. Ao ver que Cia se aproximava do balcão, abriu os olhos.
– Tenho outros compromissos hoje, Wheeler. Salta o café e acompanho-te ao teu escritório.
Assim que falou, Cia arrependeu-se do que tinha dito. Não se tratava apenas de uma falta de armas femininas... Tinha deixado Lucas Wheeler fazê-la perder a compostura.
Por sorte, ele decidiu ignorar o comentário. Dedicou-lhe um olhar acutilante, calculista.
– Claro, céu. Helena, importas-te?
Conduziu Cia pelo corredor, coberto por um fofo tapete turco. Atravessaram uma porta dupla. Cia leu as inscrições das placas: Robert Wheeler e Andrew Wheeler. A porta seguinte estava aberta. O escritório era igual às salas anteriores, mas ele enchia-o com a sua presença poderosa e masculina.
Cia sentou-se à frente da secretária. Tinha que manter os pés na terra.
– A minha advogada não pôde cancelar todos os seus compromissos desta manhã. Espero que possa ajudar-nos assim que cheguemos a um consenso.
Na verdade, nem lhe tinha ligado. Gretchen estava muito ocupada com um caso de custódia de uma das mulheres do refúgio. Não podia incomodá-la por algo com que Lucas nem tinha ainda aceitado.
– Os advogados estão sempre muito ocupados – disse ele, sentando-se junto a ela em vez de sentar-se à sua secretária.
Agarrou uma pasta de cabedal que estava no chão e tirou um monte de papéis. Entregou-lhos a ela. Nesse momento entrou a rececionista com uma chávena.
Lucas agarrou o recipiente rapidamente e inspirou até encher os pulmões. Bebeu um gole.
– Perfeito. Achas que poderia pagar-lhe para que viesse viver comigo e me fizesse café todas as manhãs?
Cia soprou. Procurou esconder o ligeiro tremor que tinha na voz.
– Provavelmente fá-lo-ia grátis... Tu sabes... Se tivesse outros ganhos...
– Achas que sim? – perguntou-lhe ele, olhando-a de alto a baixo. – Tu fá-lo-ias?
– Decerto que esses outros ganhos não seriam tão bons que garantissem que tivesses um café à tua espera todas as manhãs – olhou para os papéis. – Que é tudo isto?
– É um rascunho do contrato pré-nupcial. Também há um contrato em que são especificadas as condições do nosso casamento e divórcio. E outro para a venda de Manzanares.
Surpreendida, Cia riu-se e começou a folhear os documentos.
– Não, a sério. O que é?
Ele chegou-se para trás sem dizer uma palavra.
Cia deu-se conta de que não estava a brincar. Totalmente desconcertada, arqueou uma sobrancelha.
– Vais para a cama com a tua advogada? Foi assim que conseguiste preparar tudo isto tão rapidamente?
– Claro – disse ele com desembaraço. – Não te escapa nada.
– Faz-me um resumo dos pontos mais importantes, Wheeler. Que surpresas escondes em todo esse palavreado?
Ele tinha aceitado. Convencera Lucas Wheeler a casar-se com ela. Uma onda de alegria invadiu-a por dentro. Tinha encontrado um atalho para conseguir o dinheiro.
– Nada de surpresas. Ambos mantemos o controlo dos nossos bens. Tudo está bem claro e por escrito – o telefone tocou mas decidiu ignorá-lo. – Tu tens sido direta comigo e eu dou valor a isso. Não há melhor forma de começar uma sociedade do que com sinceridade. Remeto-te à página quinze.
Esperou que ela encontrasse a referida página.
– Quinze. Cá está ela.
– Quero que mudes o teu nome e adotes o apelido Wheeler. É a minha única condição. E não é negociável.
– Não – disse Cia, quase cuspindo a palavra. – Isso é ridículo. Só vamos estar casados por um breve período de tempo. E apenas de portas para fora.
– Exato. Isso significa que tens adotar o apelido.
Não podia fazê-lo. Não podia renunciar ao único vínculo que tinha com os seus pais e declarar que estava unida a Lucas Wheeler sempre que desse o seu apelido.
Cia Wheeler...
Lucas pôs-se em pé.
– Vem comigo. Gostaria de mostrar-te algo – disse-lhe, estendendo-lhe uma mão.
Ela pôs-se em pé, sem aceitar a sua ajuda. Olhou em volta, procurando algo que valesse a pena mostrar.
– Não está aqui. Tenho que te levar.
– Não tenho todo o dia para passear contigo.
– Então deveríamos fazer-nos ao caminho.
Sem esperar resposta, conduziu-a por uma porta traseira. Na garagem esperava-os um flamejante carro branco. Abriu-lhe a porta do acompanhante.
Cia sentou-se com cara de poucos amigos no fofo banco de cabedal creme. Lucas Wheeler estava a ser uma pessoa difícil de manejar. Segundo diziam as revistas de sociedade, a única coisa que lhe interessava era ir de festa em festa e ter uma mulher bela na cama... embora talvez não dissessem exatamente isso. Tinha assumido coisas que talvez não fossem verdadeiras.
Ele arrancou o carro e saiu do estacionamento. Uma vez na rua, acelerou ligeiramente até atingir a velocidade de um caracol.
Uns segundos mais tarde, Cia já não conseguia suportar mais.
– Credo, Wheeler, conduzes como o meu avô. Vamos chegar antes da meia-noite?
Ele esboçou um dos seus perigosos sorrisos.
– Mas, céu, por que tens tanta pressa? A viagem é parte da diversão. Há que desfrutar o caminho, não achas?
Cia cruzou os braços e afundou-se um pouco no assento.
– Não. Não acho. A diversão está na meta. Não se pode dar o passo seguinte a não ser que se termine o anterior. Levar tanto tempo é contraproducente.
Lucas abanou a cabeça.
– Não me admira que sejas tão neurótica. Não relaxas o suficiente.
– Relaxo, sim senhor. As mulheres sofrem. Onde vamos? E que tem isto a ver com o facto de eu mudar de apelido?
Ficou em silêncio uns segundos. Algo lhe dizia que aquela relação seria uma interminável partida de xadrez. Mas ela tinha deixado os peões em casa.
– E se ouvíssemos um pouco de rádio? – disse de repente. – Escolhe uma estação.
– Não quero ouvir rádio – disse.
Não podia continuar a responder-lhe daquela maneira. Não era boa ideia deixá-lo ver o muito que a enervava.
– Então escolho eu.
Começou a ouvir-se uma canção de George Strait com uma boa base de guitarras vibrantes do sul.
– Queres que adormeça?
Com a ponta do dedo, Lucas premiu o botão até encontrar outra rádio em que se ouvia Christina Aguilera.
– Oh, muito melhor – disse com sarcasmo, e então desligou a rádio. – Já chegámos.
– Já? – Cia olhou pela janela.
Lucas tinha estacionado à frente de uma impressionante mansão situada no meio de uma quinta cheia de belos jardins.
– Highland Park. Mais concretamente, a nossa casa de Highland Park.
– Já escolheste uma casa? Por que precisamos de uma casa? Que tem de mal ires viver comigo?
– A casa está à venda. É perto dos escritórios e gosto dela. Se este casamento falso tem de funcionar, toda a gente perguntaria por que não quisemos começar uma nova vida juntos na nossa própria casa.
– Ninguém vai perguntar tal coisa. Não terás pensado partilharmos quarto, não?
– Diz-me tu. Todo este espetáculo é dedicado ao teu avô. Virá ver a casa para assegurar-se de que tudo é real?
– Não. Confia em mim.
– Então teremos quartos separados – Lucas encolheu os ombros e esboçou um sorriso totalmente diferente aos anteriores.
Cia não podia defender-se. Dando-se por vencida, respirou fundo.
Lucas abriu-lhe a porta. Rija como uma vara, desceu do carro e seguiu-o até à porta principal. Ele abriu a porta e guardou a chave. A mansão era extraordinária, toda em mármore, vidro e madeira escura.
Ele passou pelo lado dela e entrou no salão.
Os móveis estavam cobertos por panos e um silêncio sepulcral reinava em todo o espaço. Tinham vivido ali pessoas mas tinham saído a fugir, deixando ainda vestígios das suas presenças.
– E então? – perguntou-lhe Lucas. – Queres continuar a visita ou chega-te esta sala?
O esgar dos seus lábios indicava que já sabia a resposta.
– Como encontraste este lugar?
Ele olhou para ela fixamente e, por um instante, Cia desejou ter visto aquele sorriso depredador que tanto odiava. Pelo menos nesses casos os seus pensamentos eram evidentes e era fácil esquivar-se. Aquela sua seriedade, por outro lado, assustava-a.
– As propriedades vazias são a minha especialidade. É o mais arriscado do trabalho. O dono estava disposto a alugar por seis meses, portanto nem tem complicações. Queres ver a cozinha? É por aqui.
Apontou para o fundo da casa, mas Cia não se moveu.
– Não preciso ver a cozinha para detetar uma armadilha. Vendes imóveis comerciais, não residenciais. Por que me trouxeste aqui?
– Estou a jogar as minhas cartas.
– Fantástico – disse ela, respirando fundo. – Que tens?
Como se de um truque de magia se tratasse, fez um gesto rápido e tirou uma caixinha preta.
– O teu anel de noivado.
O coração de Cia começou a bater com mais força.
– Não falámos nada sobre isto. Queres que pague metade?
– Não – disse ele. – Considera-o um presente. Podes devolvê-lo no final se isso te fizer sentir melhor.
– Nem sequer é meio-dia, Wheeler. Deste-me um contrato, mostraste-me uma casa, ofereceste-me um anel. Ou já tinhas pensado em pedir a mão a alguém ou tens uma secretária extraordinária – disse, cruzando os braços.
De repente, reparou nas olheiras que tinha. Era por isso que estava cansado. Tinha passado horas a preparar tudo.
Cia não quis deixar-se impressionar.
– Ontem à noite propuseste-me uma sociedade. Isso significa que pomos os nossos trunfos na mesa e isso é que estou a fazer. Na verdade, tu é que precisas de mim para algo mais do que pôr uma assinatura num papel. Queres que toda a gente acredite que este casamento é real, mas parece que não fazes ideia de como concretizar a tarefa.
– Oh, e tu sim?
– Sim. Estou há trinta anos perto dos meus pais. O meu irmão é casado. O meu avô também. O nome da empresa não é Wheeler Family Partners porque gostamos do som do nome. Trabalho com homens casados todos os dias.
Tinham voltado para o vestíbulo. Estava perto. Demasiado perto. Quando ele estendeu o braço e lhe afastou uma madeixa de cabelo do rosto, Cia sobressaltou-se.
– Ei, alto aí, céu. Olha, as pessoas casadas não reagem assim. Tocam-se uns aos outros. E muito – esboçou um sorriso demolidor. – E gostam de fazê-lo. Vais ter que te habituar.
Cia abriu os punhos. Retrocedeu.
– A casa parece-me bem. Pagaremos a renda a meias.
Lucas arqueou uma sobrancelha.
– E que se passa com o anel? Nem sequer olhaste para ele.
– Se é redondo, serve-me.
– Talvez tenha que o levar para ajustarem. Toma, experimenta-o.
Abriu a caixinha e tirou algo que brilhava obscenamente. Pô-lo no dedo.
Cia mordeu o lábio. Encaixava na perfeição.
– Nada discreto. É exatamente o que eu teria escolhido – pôs a mão um pouco de lado.
– Essa é a tua forma subtil de me demonstrares como precisas de mim? – Lucas deu uma gargalhada. – As mulheres não escolhem os seus próprios anéis de compromisso. São os homens que o fazem. E este leva escrito o nome de Lucas Wheeler com maiúsculas.
– Levarei o contrato à minha advogada esta tarde.
Cia Wheeler... Só de pensar no nome ficava com pele de galinha.
– Quando podemos mudar-nos?