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Capítulo Três

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Cia entrou em bicos dos pés no escritório do avô, tentando fazer o mínimo ruído possível para não o incomodar. O idoso tinha a cabeça inclinada para a frente e estava a escrever. Aos setenta anos, as suas faculdades não tinham diminuído em nada.

De repente olhou para cima e convidou-a a entrar. Fez mais um par de anotações no seu caderno de páginas amarelas.

Benicio Allende era dono de uma das empresas tecnológicas mais importantes do mundo. No entanto, continuava firmemente ancorado no passado.

Cia sentiu uma pontada de culpa ao pensar na mentira que estava prestes a contar-lhe.

O avô entrelaçou as mãos e observou-a com um olhar aguçado e penetrante.

– Que te traz hoje por cá?

O senhor Allende ia sempre direto ao assunto e naquele momento Cia não podia estar mais feliz por ser assim. Nenhum dos dois gostava de excesso de protocolo. Na realidade, era a única coisa que tinham em comum. Quando foi viver com ele, depois da morte dos pais, a mudança fora drástica e difícil. Havia muito tempo que deixara de sonhar com um avô daqueles que traziam caramelos nos bolsos.

– Olá, avô. Tenho uma notícia para te dar. Vou casar-me.

Era melhor ficar por ali. Ele faria todas as perguntas necessárias para obter informação.

– Com quem?

– Com o Lucas Wheeler. Da Wheeler Family Partners.

– Uma boa família. Muito boa escolha – assentiu.

Cia respirou fundo. Era evidente que não ouvira os rumores sobre Lucas e a aventura dele com aquela mulher casada. O avô Benicio raramente prestava atenção aos mexericos.

– Fico feliz por aprovares.

O idoso inclinou-se para trás na cadeira. O cabelo dele, branco como a neve, contrastava com o cabedal negro da cadeira.

– Surpreende-me que não tenha vindo contigo.

Lucas fizera questão de acompanhá-la, mas ela convencera-o a não ir.

– Queria dizer-to eu primeiro. Vamos casar muito em breve e sabia que talvez te parecesse algo impulsivo, mas já namorei com ele no passado. Comecei a concentrar-me mais noutras coisas e afastámo-nos. Ele nunca me esqueceu. Encontrámo-nos por acaso num evento na semana passada e foi como se nunca nos tivéssemos separado.

Aquilo parecia tão absurdo e romântico. Mas o avô nunca se iria aperceber, felizmente.

– Outras coisas? Referes-te ao refúgio? – o avô franziu o sobrolho. – Espero que a partir de agora te concentres no teu marido, como deve fazer uma esposa.

O avô estava convencido de que um marido a faria esquecer por completo o refúgio e que a ajudaria a superar a perda dos pais. Ele chorava a morte do filho e da nora banindo-os do pensamento e não era capaz de aceitar que a neta lidasse com a dor perseguindo o objetivo da sua mãe.

– Sei o que se espera de mim neste casamento.

– Muito bem. Estou muito contente com este enlace. A fortuna dos Wheeler está bem consolidada.

– Fico feliz por estares tão contente.

– Dulciana, quero que sejas feliz. Espero que consigas entendê-lo.

– Eu entendo. Agradeço-te os teus conselhos.

Ele observou-a durante alguns segundos. Franziu o sobrolho.

– Não vou fingir que entendo esse teu interesse pelas obras de caridade, mas talvez, quando tiveres a tua casa, o teu lar, possas trabalhar como voluntária algumas horas por semana, se o teu marido te ajudar.

Cia quase soltou uma gargalhada.

– Eu e Lucas chegámos a um acordo nesse sentido. Mas obrigada pela sugestão. É verdade, vamos celebrar uma cerimónia íntima pelo civil, sem convidados. É isso que queremos.

– Não vão casar pela igreja?

– O Lucas é protestante.

– Senta-te – ordenou-lhe, suspirando.

Cia obedeceu e preparou-se para o que estava por vir. Uma vez mais, teria que convencer o avô de que já não era aquela menina de dezassete anos que ele tinha que proteger de um mundo mau e perigoso.

Quatro dias, dois telefonemas e uma visita ao notário para formalizar os contratos e solicitar uma licença de casamento... Lucas inclinou-se contra a ombreira da porta da antiga casa de Matthew, o lugar onde ficaria provisoriamente com Cia. Ela acabava de estacionar em frente. Vinha num chamativo desportivo vermelho.

Momentaneamente distraído, Lucas quase não leu a mensagem que o irmão acabava de enviar-lhe: «Perdemos a Schumacher Industrial», dizia. Só lhe faltava ter acrescentado «graças a ti». Matthew nunca culpava os outros, o que aumentava o seu próprio sentimento de culpa. Se a Wheeler Family Partners falisse, seria a destruição da última coisa que restava ao seu irmão.

Cia saiu do veículo.

– Ena, poder-se-ia salvar um monte de crianças com fome com todos esses dólares.

– Calma, Wheeler – disse ela, batendo com a porta. – O meu avô deu-me este carro quando acabei a universidade. Para mais, preciso de conduzir um veículo.

– Claro. E também não faz mal nenhum que vá aos cem em quatro segundos. Não é assim, minha querida noiva? – Lucas esboçou o seu melhor sorriso para recebê-la.

Ela subiu lentamente os degraus do alpendre.

– Vamos, querida. Alegra-te um pouco. Os próximos seis meses vão ser longos e aborrecidos se não o fizeres.

– Os próximos seis meses vão ser longos e aborrecidos de qualquer forma. O meu avô vai oferecer-nos uma casa em Maiorca. Em Maiorca, Wheeler. O que posso dizer? Não, obrigada, prefiro uma jarra – disse, imitando uma voz aguda e abanando a cabeça de um lado para o outro.

O seu rabo-de-cavalo balançava no ar.

– Diz ao teu avô que faça uma doação, tal como eu disse aos meus pais. Por que tem a minha família que seguir as regras e a tua não?

– Foi o que fiz. Tenta dizer ao meu avô o que tem que fazer para veres o que acontece. É impossível – levantou as mãos. – Está encantado por eu casar contigo. E engoliu a história toda.

– Ouve, espera aí – disse Lucas. – Eu sou um membro notável da comunidade e venho de uma longa dinastia de homens de negócios respeitáveis. Por que não ficaria encantado?

– Porque és... – fez um gesto com a mão e o anel de noivado brilhou com todo o seu esplendor. – Tu, sempre cheio de estilo e sempre na cama com belezas deslumbrantes... Vamos entrar? Gostaria de arranjar um pouco a casa.

– Querida? – esperou que ela olhasse para ele. – Ouve-me bem. Sou um livro aberto. Não me vou desculpar por te incomodar. Gosto de mulheres e também não vou desculpar-me por isso. Mas não andei com ninguém desde o que se passou com a Lana. E tu levarás a minha considerável paciência ao limite se insinuas que dormiria com outra mulher enquanto tens esse anel no dedo, mesmo sendo apenas para manter as aparências.

Cia olhou para cima. Uma brisa ligeira agitou-lhe o cabelo.

– Não. Não queria dizer isso. Era... eh... Lamento. Não te zangues. Manterei a boca fechada a partir de agora.

Lucas riu-se.

– Querida, eu não me zango, vingo-me.

De repente pegou-lhe ao colo e entrou na casa. Pesava menos que algodão doce e a pele dela cheirava a uma fragrância fresca e frutada. Cheiraria sempre assim ou só nos dias de mudanças?

Sentiu o golpe do seu punho duro no ombro, mas ignorou-o. Seguiu em frente.

– O que é isto? – perguntou ela. – Uma mostra de dominação de homem das cavernas?

Suavemente, Lucas pousou-a no chão.

– Os vizinhos estavam a olhar para nós – disse-lhe sem mais.

Porém, não era verdade.

– Temos um acordo – recordou-lhe ela. – Nada de dividir a propriedade, nada de sarilhos e nada de contacto físico. O que aconteceu com este último?

Ele esboçou um meio sorriso.

– Chamas contacto físico a isto, amor? Então, se fizesse algo como isto... – agarrou-a pela cintura e puxou-a. – Ficaria um pouco mais quente.

Cia retorceu-se um pouco, deslizando contra ele, desencadeando uma descarga que a atravessou por dentro. Lucas conteve a respiração.

Era Cia, a mulher mais bela e menos sensual que alguma vez conhecera. Por que se sentia como se a sua pele estivesse prestes a entrar em combustão espontânea?

– Muito bem. Encolhe-te bem, amor. Isto sim é contacto físico.

– O que estás a fazer, Wheeler? – disse, engasgando-se na última sílaba.

Ele acabava de colar-se ainda mais. Deslizou o dedo sobre o queixo dela. Estava a um milímetro de distância dos seus lábios.

– Pratico.

Se fizesse o mínimo movimento, acabariam a beijar-se.

– Estás a praticar para o quê?

– Para que sejamos um casal feliz. Os meus pais convidaram-nos para jantar esta noite, para celebrar o noivado.

Cia parou de mover-se automaticamente. Uma nova luz iluminou o seu olhar. Já não havia medo nos seus olhos.

– Tens os olhos azuis, não castanhos.

– Os meus avós eram do norte de Espanha.

– Um homem deveria saber de que cor são os olhos da esposa. É a primeira regra do casamento – desconcertado, soltou-a. Passou a mão pelo cabelo, mas a pressão que sentia na cabeça não diminuiu.

Desejara beijá-la e precisou de todo o seu autocontrolo para não o fazer. Em que sarilho se metera?

Mal a conhecia. Não sabia nada sobre ela, nada sobre o seu passado, sobre o seu presente. Tinha que investigar, de imediato.

O contrato com a Manzanares seria uma injeção vital para a empresa da sua família. Era uma oportunidade para corrigir as coisas, sem a ajuda do irmão mais velho. Era o momento perfeito para mostrar que Lucas Wheeler não era apenas um mulherengo.

– Há algo mais que deva saber?

– Tenho que trabalhar esta noite. Não posso ir a casa dos teus pais. Tens que me dizer estas coisas com antecedência.

– Por que não telefonas? Alguém pode substituir-te. Isto é importante para a minha mãe.

– O refúgio também é importante para mim. Têm andado a substituir-me a semana toda – apertou os punhos. – Não é como se estivesse a cancelar uma partida de golfe com um potencial cliente, Wheeler.

– Como é então? Conta-me.

– As mulheres que vêm ao refúgio estão aterrorizadas. Têm medo que os maridos e namorados as encontrem, embora façamos todo o possível por manter em segredo a localização do lugar. Os filhos delas veem-se arrancados dos lares e de repente encontram-se num lugar estranho, cheio de gente. Também perderam o pai. Estão desesperados por ter alguém de confiança. E essa pessoa sou eu.

Lucas começou a ver o brilho das lágrimas nos olhos dela enquanto falava.

– Então, jantamos amanhã.

Ela assentiu. Uma lágrima deslizou lentamente pelo rosto.

– Obrigada.

De repente, Lucas sentiu um estranho orgulho.

– Vamos – segurou-a pelos ombros. – Muito melhor. Não te encolheste nem um milímetro.

– Estou a tentar.

– Já chegaremos a isso.

Conduziu-a à cozinha. Deixara todas as caixas como estavam.

A maior parte das coisas de Amber tinha acabado no lixo. Matthew desfizera-se de quase tudo, mas ainda restavam alguns detalhes, como a taça de fruta que a sua cunhada comprara no mercado dos agricultores.

Decerto esquecera-se. Durante as semanas seguintes ao funeral, todos estavam atordoados, e nem Matthew nem ele se tinham esforçado muito por mudar a casa.

– Vê bem onde já chegámos – disse-lhe. – Tu não vais fazer piadas sobre as minhas aventuras do passado e eu não vou fazer planos para jantar sem te consultar primeiro. O resto será fácil. Só tens que fingir que gostas tanto de mim como gostas de ser defensora dos mais desfavorecidos. É fácil, não é?

Ela soprou. E corou.

Cia passou umas quantas horas a arrumar a cozinha, mas não teve tempo para terminar. Tinha que ir ao refúgio. Além do mais, queria ir-se embora quanto antes. A presença de Lucas na casa era demasiado. Como ia dormir ali naquela noite? Ou na noite seguinte?

Chegara o momento. A farsa estava em marcha. Levara o imprescindível, alguma roupa e coisas de primeira necessidade. E fechara o seu apartamento.

Lucas e ela já viviam juntos. Na noite seguinte iriam ao jantar de noivado do senhor e da senhora Wheeler e casar-se-iam no registo civil na segunda-feira à tarde.

Cia Wheeler... Passou boa parte do seu turno a pensar no nome, a dizê-lo em voz alta, a praticar, a mentalizar-se. A esposa de Lucas Wheeler...

A tarde passou a voar e os voluntários do turno seguinte não tardaram em chegar. Cia levou o seu tempo a despedir-se e foi ver Pamela González duas vezes para ver como estava o seu braço partido.

Como já não tinha mais nada para fazer, Cia dirigiu-se à nova casa que partilhava com o noivo e futuro marido, preparada para tudo.

A porta do quarto de Lucas estava fechada. Seguiu em frente, para o seu próprio quarto. Respirou fundo e por fim descontraiu-se. Caiu sobre a cama, exausta, e dormiu até à manhã seguinte.

Quando saiu do quarto dela, Lucas já se tinha ido embora. Tomou um pequeno-almoço rápido na cozinha silenciosa e foi para a sala. Depois de passar alguns minutos a brincar com o ecrã táctil do comando à distância do equipamento de som, conseguiu ligar o aparelho. Começou a soar uma música eletrónica potente.

Entreteve-se a abrir o resto das caixas.

Pouco depois, Lucas encontrou-a sentada no chão, a tirar livros. Premiu o botão do volume.

– Já te levantaste – disse ele, sentando-se numa poltrona.

Tinha o cabelo molhado e trazia uns calções e uma t-shirt de râguebi.

– Não sabia até quando irias dormir. Tentei fazer o mínimo barulho possível. Acordei-te?

– Não. Durmo sempre até tarde quando faço o turno de tarde no refúgio. Espero não ter feito muito barulho quando cheguei.

– Não – disse ele, encolhendo os ombros. – Iremos aprendendo os horários um do outro.

– Quanto a isso...

Levantou-se e esticou os joelhos.

– Agradeço-te muito o esforço que fazes para que isto funcione. Também quero fazer a minha parte, por isso procurei um questionário online usado no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras para conceder licenças de casamento. Aqui tens uma cópia. Assim poderemos aprender mais um sobre o outro.

Ele olhava para ela como se tivesse acabado de transformar-se num inseto esmagado num para-brisas.

– Já sabes... Assim faremos com que todos acreditem que estamos apaixonados.

– É assim que pensas fingir que somos um casal a sério? Vais memorizar a marca de creme de barbear que utilizo?

– Para o Serviço de Estrangeiros chega. Há muitas outras perguntas aqui: em que lado da cama dorme o cônjuge, onde é que nos conhecemos... Foste tu quem me disse que não faço ideia do que é estar casado. Esta é a minha contribuição. Como é que achavas que o íamos fazer de outra forma?

Lucas olhou para a lista por alto e semicerrou os olhos.

– Bom, pensei que podíamos ter uma longa conversa depois de jantar, acompanhada de uma boa garrafa de vinho, o que as pessoas costumam fazer quando namoram...

– Mas nós não namoramos, Wheeler. E não dispomos de tanto tempo. A festa dos teus pais é esta noite.

– Sim, mas não nos vão perguntar de que lado da cama dormimos.

– Não. Perguntar-nos-ão como é que nos conhecemos, ou porque decidimos casar tão cedo, para onde vamos na lua de mel. Olha o questionário.

– E o que acontece se eu não passar?

– O meu avô suspeitará. E então não terei o meu dinheiro. As mulheres maltratadas não poderão fugir ao horror. Tu não conseguirás o contrato – agitou as páginas. – Pergunta-me o que quiseres.

– Posso pelo menos tomar um duche antes de contar-te a minha vida?

– Só se me responderes à pergunta número dezoito.

Ele olhou para o papel. Levantou-se, pronto para sair a correr assim que respondesse.

– O que têm em comum?

Lucas arqueou as sobrancelhas e olhou para ela. Voltou a sentar-se.

– Isto vai levar-nos horas.

– Bem te disse.

Passaram o resto da tarde a aproveitar cada minuto para fazerem perguntas um ao outro, depois de tomarem duche, depois de almoçarem, de irem às compras, enquanto a ajudava a decidir o que vestir para o jantar... Até a seguiu para o quarto dela. Não queria perder um segundo.

Cansada, Cia deixou-se cair sobre a cama. Tapou os olhos com uma mão.

– Isto é um desastre.

Lucas começou a analisar o guarda-roupa dela. Passaram algum tempo a discutir o assunto do vestuário. Já tinha recusado os seus três melhores vestidos e já começava a encontrar defeitos aos conjuntos mais informais que estavam no fundo do armário.

– Concordo. O teu guarda-roupa parece o de uma das velhotas de Sarilhos com Elas. – Lucas saiu do armário embutido, a abanar a cabeça. – Temos que resolver este problema.

– Em nenhuma parte do contrato diz que tenho que vestir-me como uma dessas bombas sensuais com quem andas. Não tens permissão para comprar-me roupa.

– Vestires-te de forma a não pareceres uma bibliotecária quarentona é algo para meu próprio benefício, não para o teu. O que poderia ser mais desastroso do que o teu guarda-roupa?

– Consegues perceber que não temos nada em comum exceto termos nascido no Texas e termos estudado gestão de empresas?

Ele inclinou-se sobre a cómoda e Cia tentou não reparar em como o tecido das calças de ganga lhe assentava nas coxas.

– E o Bourbon? Isso sim, tu bebe-lo.

– Três coisas em comum, então. Por que não procurei alguém que pelo menos soubesse soletrar hip-hop?

– Porque não. Isso não é relevante. Os casamentos não se baseiam nas coisas em comum. O importante é que o casal não seja capaz de viver um sem o outro.

– Tens a certeza de que não és gay?

– Queres vir aqui e confirmar por ti mesma? Bom, querida, esse é o tipo de teste que me corre sempre bem – olhou-a dos pés à cabeça.

Cia teve vontade de esconder-se debaixo dos lençóis.

– Poupa-te para esta noite, Wheeler. Sai daqui para poder vestir-me.

– Nem pensar. Questionaste a minha masculinidade e não posso tolerar isso – avançou para ela. – Tem que haver uma forma de esclarecer as dúvidas. Queres que te encha a cabeça de estatísticas de basebol? Talvez te sirva um discurso técnico sobre o home cinema que está na sala de estar. Não. Nenhuma dessas coisas é exclusiva dos heterossexuais. Só há uma forma de esclarecer a situação.

Com um movimento ágil, deitou-se na cama, abraçou-a e rolou sobre si mesmo, enroscando-a em volta do seu próprio corpo. Cia sentiu uma onda de calor. Quando os lábios dele lhe tocaram mesmo por baixo da orelha, respirou fundo e conteve a respiração. De repente, tudo parecia arder à volta dela.

Lucas entrelaçou os dedos no cabelo dela e começou a beijá-la ao longo do pescoço. A prova inequívoca da sua masculinidade pressionava-lhe a coxa. Supostamente nada daquilo tinha que acontecer. Como podia sentir semelhante desejo por um homem que praticava sexo como se fosse um desporto? Ela era muito mais esperta.

Nem sequer a beijara.

– Para – conseguiu dizer antes que a rendição se tornasse inevitável.

Ele olhou-a nos olhos e então murmurou uma maldição. Rodou sobre si mesmo e olhou para o teto.

– Lamento. Isso foi uma tolice adolescente, até para mim. Por favor, vamos fingir que não sou um imbecil.

Cia levantou-se da cama de um salto e afastou-se dele.

– Não é para tanto. Sei que estavas só a brincar um pouco.

– Sim, é para tanto. Já estás suficientemente nervosa – olhou-a nos olhos. – Oh, bolas, sou lento, admito-o, mas não deveria ser tanto. Foste agredida por um homem, não foste? É por isso que levas tão a peito aquilo do refúgio.

– O quê? Não. Eu ensino defesa pessoal. Se algum desgraçado se atrever a pôr-me a mão em cima acabará no hospital.

– Então por que tens tanto medo que os homens te toquem?

– Não tenho medo que os homens me toquem.

Cia encolheu os ombros e rezou para que a sua expressão transmitisse aborrecimento, indiferença ou qualquer outra coisa diferente do que sentia.

– É que não estou interessada em ti dessa maneira. E relativamente ao que aconteceu antes... Acho que nos enganámos na porta. As provas práticas fazem-se noutra sala. Não vamos deixar-nos ver na cama em público.

O tom da voz dela era frio como gelo, mas Lucas sorriu como sempre.

– Talvez me tenha enganado na porta, mas gostei mais do que fiz na outra sala. Vemo-nos lá em baixo às seis?

Cia tentou mostrar-se zangada, mas não conseguiu. Ele pedira desculpa e não fazia sentido continuar a insistir no assunto.

– Estarei lá em baixo às seis. Espero-te por volta das seis e dez.

Rindo-se às gargalhadas, Lucas deu meia volta e saiu.

Cia tomou um duche e lavou o cabelo duas vezes. Em honra dos pais de Lucas, passou um par de minutos extra a arranjar-se e a maquilhar-se. De qualquer modo, Lucas queixar-se-ia da sua falta de estilo, pelo que não o fazia por ele.

Deixando escapar um suspiro, fez girar o anel que trazia no dedo, a única peça de joalharia que alguma vez lhe tinham oferecido. Fingiu que o odiava.

Casamento com lucro - A tentação mora ao lado

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