Читать книгу Casamento com lucro - A tentação mora ao lado - Maureen Child - Страница 9

Capítulo Cinco

Оглавление

Lucas passou toda a viagem de regresso a casa a aperfeiçoar a sua estratégia. Assim que entraram na garagem, agarrou-lhe a mão.

– Obrigado por teres vindo ao jantar.

Ela ficou tensa. Olhou para ele, surpreendida.

– Dizes isso como se tivesse tido escolha.

– E tinhas. Comigo, terás sempre direito a escolher. Somos parceiros, não dono e escrava. E por isso digo-te obrigado por teres decidido passar a noite comigo e com a minha família. Foi difícil para ti e agradeço-te.

Ela olhou para ele por um instante.

– Então, de nada.

Ele soltou-a para abrir a porta.

– Bom, quanto a ti não sei, mas eu tenho sempre vontade de relaxar um pouco depois de ir a casa dos meus pais. Lá, quase tenho medo de me mexer, não vá atirar ao chão algum dos bibelôs da minha mãe.

Cia sorriu.

– É mais fácil respirar na nossa casa. Vamos fazer algo divertido.

– Como por exemplo?

Em vez de responder, Lucas foi até à aparelhagem de som e premiu o botão de play. Começou a tocar a música que ela tinha posto antes, uma espécie de canção eletrónica bastante ruidosa.

– Dança comigo – disse ele, batendo no peito ao ritmo da música.

– Ao som disto? – perguntou ela, estupefacta. – Não estarás bêbado, por acaso?

– Vamos – disse-lhe ele, estendendo-lhe uma mão. – Não vais dançar em público. Ninguém está a ver, exceto eu, e eu não sei dançar suficientemente bem para rir-me de ti.

Ela encolheu os ombros e uniu-se a ele.

– Não gosto que as pessoas estejam a olhar para mim, mas nunca disse que não sabia dançar.

Para demonstrá-lo, começou a mexer o torso e deu uma volta completa.

Ele sorriu e cruzou os braços. Preferia ficar quieto e vê-la entregar-se ao ritmo da música. Um minuto mais tarde, ela parou e olhou para ele.

– Não estás a dançar.

– É que é difícil acompanhar o teu ritmo. Estou a divertir-me. A sério. Continua.

– Não, se vais ficar aí parado. Pediste-me que dançasse contigo.

O melhor era deixá-la rir-se um pouco dele. Começou a mover os braços e as pernas de tal forma que bem poderia estar a sofrer um ataque epilético. Ela começou a rir às gargalhadas.

– Muito bem. Se não queres que acabe no chão com uma distensão muscular, será melhor pararmos um pouco.

Ela riu-se.

– Mas quantos anos tens? Sessenta?

Sem dar-lhe tempo para protestar, Lucas agarrou-lhe a mão e apertou-a entre os seus braços, corpo contra corpo.

– Tenho outra ideia.

Ela agarrou-lhe a cintura e colou-se a ele.

– Dançamos lentamente?

– Sim, claro. Tanto faz a música, desde que seja lenta – enredou os dedos no cabelo dela e acariciou-lhe o rosto com o polegar.

Ela tinha a pele húmida de tanto dançar. De repente imaginou-a na cama, suada e radiante, depois de terem feito amor... A visão provocou-lhe uma reação imediata no corpo e ela reparou. Abriu os olhos. Ficou branca como cal. Soltou-o como se acabasse de se queimar com uma frigideira quente.

– É tarde. Tenho turno de manhã.

Lucas não teve outro remédio senão deixá-la ir. Deveria ter posto logo a tocar aquela balada. Pelo menos ela continuaria nos seus braços.

– Claro. Amanhã é um grande dia.

O casamento. Cia voltou à realidade.

– Oh. Claro. Bom, boa noite.

Saiu a correr.

Lucas foi para a cama, mas não conseguia adormecer e esteve algumas horas a ver as notícias. Até que, por fim, se deixou vencer pelo cansaço. Visões de Cia, nua na sua cama, atormentaram-no toda a noite.

De manhã, acordou com os olhos cansados, mas decidiu adiantar um pouco o trabalho.

Ouvia-se o ruído da água do duche.

Cia, nua e molhada... Era igual ao que tinha sonhado.

Saltou o pequeno-almoço. Já não suportava estar em casa por mais tempo. Além disso, convinha-lhe chegar cedo ao trabalho, sobretudo porque às segundas-feiras tinha sempre muito que fazer. Nos semáforos vermelhos, aproveitou para enviar inúmeros emails a potenciais clientes. A sua agenda era uma loucura naquela semana. Tinha que mostrar muitas propriedades, fazer avaliações, ir a eventos sociais...

As quatro da tarde chegaram demasiado depressa. Tal como esperava, Cia esperava-o à porta do registo civil, com um dos seus vestidos de domingo, ou de reuniões, digno da mais adorável das avozinhas. E também não lhe faltavam os saltos baixos e confortáveis.

Assim que ele se aproximou, ela viu o ramo de flores que levava nas mãos.

– Vens de um funeral, Wheeler?

– São para ti – ofereceu-lhas.

Cia olhou para as flores um instante e depois agarrou-as. Inspirou o seu aroma lentamente.

– Se me tivesses perguntado, ter-te-ia dito que não. Mas, afinal, é uma gentileza da tua parte.

Lucas levou uma mão ao peito com dramatismo e sorriu de orelha a orelha.

– Foi por isso que não te perguntei. Todas as noivas devem ter flores.

Ela riu-se com nervosismo. Havia um vislumbre de sorriso nos seus lábios.

– Eu não escolhi um vestido de princesa nem espero que o meu príncipe encantado chegue um dia destes, como costumam fazer as mulheres. Eu não tenho problemas em ficar solteira para o resto da vida.

– Espera aí. Não és uma romântica? Todas as minhas ilusões acabam de cair por terra – abraçou-a pela cintura e conduziu-a para dentro do edifício antes que se arrependesse.

A cerimónia foi rápida. Cia nem sequer pestanejou quando ele lhe pôs o anel de platina e diamantes. Deram um beijo insonso que os transformou no senhor e senhora Wheeler.

A fria aliança de metal era difícil de ignorar. Lucas não parava de girá-la uma e outra vez com o dedo mindinho, tentando habituar-se ao peso. Fez-se um silêncio incómodo quando saíram do registo civil que nenhum dos dois se atrevia a romper.

Lucas ligou à mãe antes de sair do estacionamento e, quando chegaram a casa, a notícia já estava nas redes sociais.

Começaram a chegar as mensagens de texto... Premiu o botão para desligar o telemóvel e guardou-o no bolso.

Deixou o carro na entrada em vez de metê-lo na garagem para que Cia pudesse sair confortavelmente.

– Janta comigo esta noite. Para celebrar.

Antes que pudesse fazer qualquer movimento, ela abriu a porta e saiu. Ele seguiu-a pelo passeio, passando pelo jardim de flores até chegar ao alpendre de Amber.

– Que há para celebrar? Eu estava a pensar em meter-me na banheira durante umas horas e ir cedo para a cama.

Lucas pôs-lhe uma mão firme no ombro.

– Espera.

– O quê? – disse ela com um suspiro de impaciência.

– Que já tenhas a tua certidão de casamento não significa que vamos entrar por essa porta sem voltarmos a falar-nos. Este é o princípio, não o fim. Temos estado a fingir que éramos uns noivos felizes. Agora temos que fingir que somos um casal de recém-casados felizes. Não. Não temos que fazer teatro agora mesmo, quando não há ninguém. Mas fazê-lo em público será bem mais fácil se não passamos as vinte e quatro horas do dia à defesa em privado.

Várias emoções desfilaram uma atrás de outra pelo rosto de Cia. A última foi uma expressão de resignação.

– Sim. Eu sei. Devo-te uma desculpa. Tem sido um dia muito duro.

– Por que não querias casar-te?

Cia encolheu-se um pouco, como se não pudesse suportar um peso pesado sobre os ombros, como se fosse partir-se em mil pedaços se chegasse a tocar-lhe.

– É só que... Não fazia ideia do difícil que seria casar-me sem o meu pai a acompanhar-me até ao altar. Eu, que nunca me ia casar... Não é absurdo?

Uma lágrima deslizou-lhe pelo rosto. Lucas sentiu que tinha que fazer algo.

– Ouve – disse-lhe, rodeando-a com os braços. Ela não opôs resistência. – Faz-te bem chorar, chora tudo o que quiseres. Depois vou embebedar-te e vou aproveitar-me de ti, para que esqueças tudo.

Cia soltou uma gargalhada.

– Até me caía bem um copo de vinho – admitiu ela.

– Pois é exatamente o que eu tenho. Entra – retirou-se um pouco e sorriu. – Podes beber um copo e enquanto isso vês como cozinho.

– Sabes cozinhar? Com forno e tudo?

– Claro que sim. Até sei acendê-lo eu próprio – conduziu-a até à cozinha.

Ao entrar ela soltou um pequeno grito.

– Oh, ótimo. O teu presente de casamento já chegou.

Cia arqueou as sobrancelhas. Havia uma enorme caixa sobre a ilha situada no meio da cozinha.

– Isso é um pássaro.

– Sim. É um papagaio-cinzento africano – Lucas despiu o casaco e deixou-o sobre uma cadeira. – Os papagaios-cinzentos africanos podem viver até aos cinquenta anos, portanto terás companhia durante toda a vida solitária que pensas levar. E sabem falar. Imagino que uma pessoa que gosta tanto de discutir como tu precise de um animal de estimação que possa responder-lhe. Chamei-lhe Fergie – encolheu os ombros. – Como gostas de hip-hop.

– Eu não te comprei nada – conseguiu Cia dizer.

– Não faz mal – arregaçou as mangas da camisa e começou a tirar pratos cobertos do frigorífico. – Não esperava que me comprasses nada.

Aproximou-se da gaiola. A emplumada criatura pestanejou várias vezes e olhou-a com uns olhos inteligentes, cheios de curiosidade, sem medo. Cia apaixonou-se de imediato pelo animal.

– É o melhor presente que alguma vez me deram. Obrigada, Lucas.

Lucas deteve-se, a meio caminho entre a cozinha e o lava-loiça, com a frigideira na mão, subitamente esquecida.

– De nada, querida.

– Não me disseste que tinhas vinho? – perguntou-lhe ela, mudando de assunto. Sentou-se num dos bancos em frente da ilha.

Havia algo estranho no ambiente naquela noite, mas Cia não sabia muito bem o que era.

Lucas tirou uma garrafa do frigorífico.

– Sauvignon blanc, parece-te bem?

Ela assentiu e observou-o enquanto tirava a rolha à garrafa com mãos experientes.

Aquelas mãos incríveis... deslizariam sobre o seu corpo nu...

Lucas rodeou os bancos e entregou-lhe o copo. Os seus dedos roçaram os dela por uma fração de segundo. Ele agarrou o seu próprio copo e, olhando-a nos olhos, bateu-o contra o dela.

– À nossa sociedade. Talvez acabe por ser uma união afortunada e cheia de prazer.

– Cheia de êxito, quererás dizer. Eu brindo a uma união com êxito.

Assim que as palavras lhe saíram da boca, Cia deu-se conta do erro que tinha cometido. Ela e Lucas não viam as coisas pela mesma perspetiva. Ela tomou o seu tempo para saborear o vinho e então... Ele segurou-lhe o queixo com a ponta do dedo e roçou-lhe os lábios com a ponta do polegar. Prendeu-lhe o lábio inferior.

Cia conteve o fôlego.

– Querida – disse-lhe, detendo-se muito próximo. – Se a nossa união te parecer tão cheia de prazer como eu tenho pensado que será, considerá-la-ei um verdadeiro êxito. O jantar estará pronto dentro de quarenta e cinco minutos.

Cia corou violentamente. Lucas continuou a preparar a comida.

O jantar de celebração tornou-se toda uma experiência de prazer. Lucas conduziu-a ao pátio com calçada junto à piscina. O espaço estava rodeado de palmeiras que ondulavam ao ritmo de uma suave brisa noturna.

– Que tipo de frango é este? – perguntou-lhe ela enquanto ele servia a comida. Tirou um bocado para provar. Uma exuberante mistura de especiarias com um ligeiro toque a lima explodiu-lhe na língua.

Ele encolheu os ombros.

– Não sei. Acabei de inventá-lo. A cozinha é um desses sítios onde dou rédea solta à criatividade.

– Oh, compreendo – assentiu. – É parte do teu repertório para as noites de encontros. As mulheres provam um bocado e caem nos teus braços?

– Nunca o preparei para ninguém – disse ele, olhando-a com uns olhos incandescentes e inquietantes.

Levou um bocado de cuscuz à boca e Cia fingiu que não o observava enquanto comia.

– A sério? Que costumas preparar quando tens um encontro e queres impressionar?

Ele parou de comer por um momento. Chegou-se atrás na cadeira, agarrou o seu copo de vinho, balançou-o entre dois dedos e olhou-a com uns olhos atrevidos.

– Nunca cozinhei para ninguém.

Cia deixou cair o garfo. Aquilo era absurdo.

– E que é suposto eu concluir dessa afirmação?

– Bom, poderias concluir que te preparei o jantar porque queria fazê-lo.

– Porquê? O papagaio, o jantar e este... – apontou para os candeeiros a gás que delimitavam o perímetro do pátio e da piscina. – E este cenário romântico? Estás a pensar em levar-me para a cama?

– Isso depende.

– Não podemos ter esse tipo de relação – disse-lhe ela com firmeza. – Temos um acordo.

– Os acordos podem ser alterados.

Aquele copo que balançava entre os seus dedos perturbava-a sobremaneira.

– Mas este não. E se eu ficar grávida?

Com as mãos trémulas, agarrou o próprio copo de vinho e bebeu o que restava. Agarrou de imediato a garrafa.

– Bom, posso até tomar isso como um insulto. Como podes insinuar sequer que possa ser tão descuidado?

Cia pôs-se em pé demasiado depressa, tanto que bateu na ponta da cadeira com a parte de trás dos joelhos e a fez cair para trás.

– Bom, isso é um alívio.

Ele também se pôs em pé. A conversa não parecia perturbá-lo de modo algum. Para ele devia ser como falar de cores para pintar a casa de banho.

De repente deu um passo em frente e pôs-se ao seu lado, a uns centímetros de distância. Tocou-lhe a têmpora e deslizou a ponta do dedo pelo rosto e pelo pescoço até chegar à base da garganta.

– Que se passa aí dentro? Não terás medo de ficar grávida.

– Para de tocar-me – Cia arqueou uma sobrancelha. – Não se passa nada, tirando o facto de eu não me sentir atraída por ti.

– Não acredito em ti.

– O quê? Achas que vais provar algo beijando-me?

– Sim – disse, beijando-a antes que pudesse protestar.

Cia sentiu como lhe enredava os dedos no cabelo, como deslizava as mãos ao longo das suas costas, apertando-a contra o seu membro potente, recordando-lhe como encaixariam tão bem um no outro se a roupa não fosse um impedimento.

Cia afastou-se bruscamente.

– A única coisa que demonstras é que tens prática em despir mulheres.

– Cia, por que resistes com tanta força? Ao princípio pensava que era porque tinhas visto muita dor, mas há mais alguma coisa.

– Sim. Há mais alguma coisa do tipo... Não quero. Tens um ego tão grande que não concebes que uma mulher possa não estar interessada em ti?

Ele começou a rir.

– Se é assim que beijas um homem em que não estás interessada, então não sei como beijarás um em que estejas. Será melhor procurares outro argumento.

– Talvez sejas o tipo mais belo do planeta, mas não estou disposta a tornar-me a tua última conquista, Wheeler – apertou os punhos.

Ele quis tocar-lhe o rosto, mas deteve-se.

– É tão difícil assim acreditares que me intrigas profundamente e que quero descobrir tudo sobre ti?

– Sim, é – Cia cruzou os braços. – Sentes-te privado de algo. Vai procurar uma dessas mulheres que te mandaram mensagens esta tarde e diverte-te com ela, cá eu não penso ir para a cama contigo.

Ele esboçou um meio sorriso, mas não havia humor algum no seu olhar.

– Para o caso de te teres esquecido, recordo-te que sou casado. A única pessoa com quem irei para a cama nos próximos seis meses será com a minha esposa.

Cia sentiu uma onda de pânico.

– A tua esposa acaba de rejeitar-te rotundamente.

– Esta noite.

Aquela confiança absoluta em si mesmo enervava-a.

– Esta noite e sempre. Sinceramente, é-me indiferente que vás para a cama com outras ou não.

– Pois para mim não é indiferente.

– Porquê? Isto é um casamento sem mais. Não estás apaixonado por mim. Mal gostas de mim.

– Estamos legalmente casados.

Cia não sabia o que dizer.

– Mas tu compreendes o meu ponto de vista?

– Completamente.

– Muito bem. Fico contente por termos falado disto. É importante que mantenhamos este teatro do casamento como adultos. Agora que discutimos o assunto, podemos seguir em frente como sócios de negócios, sem nenhuma complicação extra. Estamos de acordo?

A luz dos candeeiros refletia-se nas suas pupilas, ocultando os seus verdadeiros pensamentos. Aproximou-se.

– Querida... – disse-lhe, roçando-lhe a orelha com os lábios. – A única coisa que pensei fazer para seguir em frente é reorganizar-me. E então, minha querida senhora Wheeler, já não valerão as regras de antes.

Deu meia volta e deixou-a ali sozinha.

Casamento com lucro - A tentação mora ao lado

Подняться наверх