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Capítulo Quatro

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Depois de enviar pelo menos seis emails e de adiar duas reuniões com clientes para segunda-feira à tarde, Lucas desceu as escadas às seis em ponto. O jantar era importante para a mãe dele e tinha que ser pontual. Para mais, já tinha provocado Cia o suficiente naquele dia.

Ela já estava na sala, a caminhar em círculo à volta do sofá.

– Pronta? – segurou-a pela mão para que parasse. Estava a tremer. – Ouve... É só um jantar com gente mais velha. Não vais ter que esgueirar-te numa festa de aniversário e declarar-te a um desconhecido.

– Não se trata só de um jantar. Trata-se de um espetáculo. E será o primeiro para nós. Temos que fazê-lo bem. Não temos para-quedas de reserva.

– É aí que te enganas, querida. Eu tenho sempre um para-quedas de reserva na minha carteira.

– Só tu poderias tirar um duplo sentido de um comentário inocente – os olhos dela brilharam.

– Se não gostas, para de me dar munições.

Cia fingiu estar zangada, mas Lucas sabia que estava a conter o riso.

Ele piscou-lhe um olho e deu-lhe um beijo na mão. O anel emitiu um brilho fulgurante.

– Já não estás nervosa com o jantar, por isso... Missão cumprida. Antes de irmos, vais precisar de uns brincos a condizer.

Cia tocou nas orelhas.

– O quê?

– A não ser que... queiras que os meus pais pensem que acabámos de sair da cama e que nos vestimos a correr.

Cia fez um esgar e voltou para cima. O discreto vestido preto que trazia, o mesmo que usara na noite anterior, não a favorecia muito. Só alguém que tivesse tocado naquelas curvas saberia que estavam ali.

Lucas reprimiu um grunhido. Passaria a noite inteira a pensar em tirar-lhe aquele vestido.

Em poucos minutos estavam a caminho.

– Tenho muita curiosidade, sabes? – olhou rapidamente para ela. – Não sofreste abusos pessoalmente, mas teve que haver algo que despertasse esse fogo dentro de ti. O que foi?

– A minha tia – fechou os olhos por um momento e começou a mexer os joelhos para cima e para baixo, várias vezes. – Um dia apareceu em nossa casa com um corte enorme no rosto. Ficou-me gravado na memória. Tinha seis anos e ao ver todo aquele sangue... – estremeceu, mas continuou. – Precisava de pontos, mas não queria ir às urgências porque têm que fazer um relatório se virem indícios de agressão. Não queria que prendessem o marido. A minha mãe cuidou dela como pôde e tentou chamá-la à razão. Dizia-lhe para deixar aquele desgraçado, que merecia algo melhor.

– Mas ela não ouvia, pois não?

– Não – disse Cia, olhando pela janela.

– Um dia deu-lhe um soco tremendo. Ela caiu e bateu com a cabeça. Depois de passar dois meses em coma, desligaram-lhe as máquinas – a voz falhou-lhe. – Ele disse que foi um acidente, mas felizmente o juiz não o viu assim. A minha mãe ficou destroçada. E a forma que encontrou para aliviar a dor foi trabalhar como voluntária no refúgio. Estava decidida a salvar todas as mulheres que pudesse.

– Então tu segues os passos da tua mãe?

– É mais do que isso. Eu ia com ela. Durante muitos anos, vi como aquelas mulheres adquiriam as capacidades e a estabilidade emocional de que precisavam para sair daquele círculo vicioso e monstruoso. Isso é algo extraordinário, saber que ajudaste alguém. A minha mãe dedicou-se a isso de corpo e alma, e agora já não está cá.

O tom de voz dela fê-lo desviar os olhos da estrada durante uma fração de segundo.

– Tenho que assegurar-me de que o que aconteceu à minha tia não acontecerá a mais ninguém. Antes disseste-me qualquer coisa como o casamento consistir no casal não poder viver um sem o outro. Eu vi a face mais sombria disso. As mulheres não conseguem deixar os agressores por um sem-fim de razões emocionais, e isso causa-me pesadelos.

Lucas sentiu uma estranha pontada no peito.

– Na próxima vez que tiveres pesadelos, podes meter-te na cama comigo.

Ela olhou para ele por um segundo.

– Tê-lo-ei em conta. Preferiria nunca depender de um homem e é por isso que não pretendo casar.

– Bom, pois isso que trazes na mão esquerda parece um anel de noivado, querida.

Cia semicerrou os olhos.

– Estou a falar de casar a sério. Os casamentos falsos ou de conveniência são outra coisa.

– O casamento não é um laço de dependência, sabes? Pode ser muito mais do que isso.

E portanto tinha muito a perder. Matthew e Amber estavam tão apaixonados, tinham tantos planos...

– Pois isso que não trazes na mão esquerda faz-me suspeitar, Wheeler. Tiveste uma aventura com uma mulher casada. Parece que evitaste de propósito as que estão livres.

– Vou casar-me contigo, não vou?

Lana estava disponível, pelo menos na cabeça dele.

– Então. Isso confirma a tua teoria. Eu sou a mulher que te convenceu a divorciares-te antes mesmo de chegares ao altar. Mas pergunto-me que problema tens com o casamento.

– Bom, o problema fundamental é uma esposa com a língua muito afiada. Um dia casar-me-ei. Mas ainda não encontrei a mulher certa.

– Bom, pois não é que não tenhas tentado. O que tinham de errado as outras candidatas?

– Estavam demasiado desesperadas.

Cia soltou uma gargalhada.

– Exato. As mulheres desesperadas dependem de um homem e esperam que ele preencha o vazio que sentem.

– Mas quem és tu? Freud?

– Tenho uma licenciatura em gestão de empresas, mas também tenho um bacharelato em psicologia. Eu não tenho vazios. Calculo que seja a namorada perfeita, não, Wheeler? – deu-lhe uma cotovelada nas costelas e provocou-lhe um sorriso.

– Isso eu não discuto.

Os pais de Lucas viviam do outro lado de Highland Park. A casa era uma mansão colonial de dois andares com um enorme jardim cheio de tulipas, jacintos e salva. Um homem de cabelo branco, exatamente igual a Lucas, abriu-lhes a porta. Cia não conhecia o senhor Wheeler.

– Olá, sou o Andy – disse o pai de Lucas, abrindo a porta de par em par.

Lucas apertou a mão ao pai e fez Cia entrar. Apresentou-a ao irmão, Matthew, e o senhor Wheeler conduziu-os à sala contígua ao átrio.

– Cia, fico muito feliz por te juntares a nós esta noite. Por favor, trata-me por Fran. Senta-te – A mãe de Lucas indicou-lhe o lugar ao lado do sofá.

Cia sentou-se ao lado dela.

– Devo dizer-te que me surpreende que tu e o Lucas tenham retomado uma velha relação depois da minha festa de anos – Fran prosseguiu. – Não me lembro de vocês terem saído juntos antes.

– Eu não te conto tudo, mamã – disse Lucas, sentando-se ao lado de Cia no sofá, coxa contra coxa. – Deverias agradecer-me.

Fran dirigiu um olhar ao filho que só podia ser interpretado como um aviso.

– Foi há muito tempo. Há um par de anos.

Matthew Wheeler, o irmão menos bonito, menos loiro e menos carismático, aclarou a garganta. Estava sentado perto da lareira.

– O Lucas disse-nos que foi há quatro ou cinco anos.

Cia sentiu o coração cair-lhe aos pés.

– Ei, bom, talvez tenha sido há tanto tempo. Sim – murmurou. De repente teve um arrebato de inspiração. – Ainda estava arrasada com a morte dos meus pais. Estive assim durante toda a universidade. Mal me lembro de ter andado com o Lucas.

Subitamente sentiu os lábios dele sobre a testa. Um calor abrasador queimou-lhe a pele e propagou-se até chegar-lhe ao rosto. Estava plenamente consciente do toque dos dedos dele sobre o braço.

– Oh, não. Claro – disse Fran. – Lamento muito ter-te recordado coisas tão tristes. Falemos de algo alegre e divertido. Fala-me do teu vestido de noiva.

Numa tentativa de concentrar-se, Cia olhou para a mãe de Lucas.

– Mamã, isso não é divertido. Papá, eu e o Matthew u não queremos falar sobre o vestido.

– Gosto muito dos meus filhos, mas às vezes só os amo porque Deus me diz que tenho que amá-los. De ti, pelo contrário, posso gostar porque quero. Na próxima semana almoçamos juntas e deixamos estes desmancha-prazeres em casa, não achas? – sorriu para Cia com cumplicidade. Cia assentiu. De repente era incapaz de dizer fosse o que fosse. Fran já pensava nela como uma filha.

– Não está já na hora de jantar? – disse Lucas com entusiasmo.

Fran assentiu.

O aroma a pão acabado de sair do forno enchia o ambiente.

Andy e Matthew seguiram Fran para a sala de jantar. Aí, esperava-os uma mulher de meia-idade vestida com uma farda preta e branca. No meio da mesa havia um frango assado inteiro, rodeado de todo o tipo de manjares deliciosos.

Lucas não se moveu.

– Irei aí ter dentro de um minuto – disse aos familiares, pegando na mão de Cia. Deslizou as pontas dos dedos pelos nódulos dela. – Estás bem? Não tens que ir almoçar com a minha mãe. Tem sempre boas intenções, mas às vezes é um pouco intensa.

– Não – Cia abanou a cabeça. Mal era capaz de formar as palavras. – A tua mãe é encantadora. Eu... bom... Estamos a mentir-lhe. Estamos a mentir a todos os teus familiares. Mentir ao meu avô é uma coisa porque foi ele quem fez aquelas exigências absurdas, mas isto...

– É necessário – disse ele. – Por enquanto é importante parecermos um casal normal. Eu trato deles mais tarde. Algo me ocorrerá.

Ele não o entendia, porque tivera uma mãe ao seu lado durante toda a vida.

– Mais mentiras. É evidente que são todos muito unidos. Quantos filhos adultos conheces que vão à festa de aniversário da mãe e que depois vão a um jantar em casa dela na mesma semana? – Cia levantou-se do sofá.

Lucas fez o mesmo.

– Lamento ter-te colocado nesta situação. Como vamos fazer isto? Como vou entrar ali e fingir que somos um casal feliz e que estamos muito apaixonados?

– Bom, quando me encontro numa situação impossível e não faço a mínima ideia de como fazer as coisas, penso: o que faria o Scooby?

Apesar do ardor que sentia nos olhos, Cia não pôde deixar de rir-se.

– O Scooby comeria neste momento.

– Claro – disse Lucas, sorridente. – Bom, aqui está a ideia louca. Não leves isto tão a sério. Vamos divertir-nos esta noite. Jantamos com pessoas que são a minha família e, quando tudo terminar, estarás mais perto do teu dinheiro, e eu estarei mais perto da Manzanares. Tu ganhas, e eu também. Já está. Agora somos um casal feliz. De acordo?

Cia respirou fundo. Ia ser apenas um jantar, uma cerimónia, e então tudo teria terminado.

– Talvez precises de algo em que pensar durante o jantar.

Com um movimento completamente natural, Lucas apertou-a nos seus braços e beijou-a. O toque dos seus lábios desencadeou uma onda que se propagou pelo seu pescoço e abdómen... Fora beijada antes, mas nunca daquela forma, tão habilmente. Segurou-lhe o queixo com firmeza. Ela estremeceu, pelo que a segurou com mais força e a beijou mais profunda e lentamente.

De repente acabou. Ele recuou e ela quase perdeu o equilíbrio.

– Agora, querida, pensa em como vamos terminar isto mais tarde. Eu não vou pensar noutra coisa.

Puxou-a e conduziu-a para a sala de jantar.

Depois de jantar, Fran convidou-os a ir ao alpendre para tomarem o café. Andy, Matthew e Lucas passaram um bom bocado a conversar sobre trabalho, pelo que Cia sentou-se no sofá de verga que estava em frente à piscina com a sua chávena de café na mão.

Depois de ausentar-se por alguns minutos, Fran reapareceu.

– Isto é para ti – disse-lhe. Entregou-lhe uma pequena caixa de veludo. – Abre-a.

Cia deixou de lado o café e levantou a tampa. Dentro, havia um radiante colar de diamantes e pérolas cinzentas.

– Oh, Fran, não posso aceitar isto.

Fran fechou-lhe o punho sobre as pérolas frias.

– Era da minha mãe, e antes pertenceu à minha avó. A aliança de casamento da minha mãe foi para a Ambe... – parou e olhou para Matthew. – Mas guardei isto para o Lucas. Quero que fiques com ele. Assim tens algo velho. Vai ficar-te muito bem com esse cabelo negro que tens. Oh, sei que não está muito na moda – acrescentou Fran, rindo. – São joias das senhoras mais velhas, mas faz-me a vontade, por favor, e usa-o na cerimónia. Depois guarda-o e já está. Vou dizer ao Lucas que te compre coisinhas mais modernas.

Cia tocou no colar com pontas dos dedos.

– Muito obrigada.

Fran sorriu.

– De nada. Não queria imiscuir-me muito, mas a verdade é que fiquei um pouco dececionada quando soube que não queriam família no casamento. Eu adoraria dar uma ajuda como mãe da noiva, se for o caso. Tenho a certeza que sentes muita falta da tua mãe.

Lucas apareceu de repente, precisamente antes de Cia se deixar cair. Fê-la levantar-se.

– Mamã, já te disse que a Cia não quer uma grande cerimónia. Nem sequer gosta de joias.

Era evidente que tinha estado a ouvir a conversa. Cia recuou alguns passos e tentou mostrar-se agradecida.

Os olhos ardiam-lhe. Não haveria um grande casamento para ela, nem damas de honor, nem música, nem vestidos de princesa...

– Obrigada – disse, com o coração partido. Tirou o colar, – mas não posso usá-lo. Não é apropriado numa cerimónia simples e civil. E receio que não vá poder almoçar consigo, senhora Wheeler. Tenho muitíssimo trabalho.

Fran aceitou a caixa com pesar.

– Excedi-me um pouco. Peço-te desculpa.

– Não tem importância, mamã. Acho que está na altura de irmos – disse Lucas, olhando para o resto da família.

Todos observavam Cia com uma expressão fria no rosto. A jovem despediu-se rapidamente e seguiu Lucas.

– Obrigada, Lucas – disse-lhe, já a caminho, – por me teres resgatado daquela pequena encruzilhada com a tua mãe. Foi...

– Não foi nada. É preciso dois para fazer funcionar um casamento, seja verdadeiro ou a fingir. Eu lido com a minha mãe de manhã. E já agora, tenho que confessar que adoro que me chames Lucas.

Olhou-a nos olhos. Uma corrente vibrante fez crepitar o ar no habitáculo do carro. Cia sentiu um arrepio na pele e a pulsação acelerar.

E de repente, já era demasiado tarde.

Casamento com lucro - A tentação mora ao lado

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