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Capítulo 3
ОглавлениеUma pontada de gelo atravessou a dormência em que a tinha sumido o orgasmo.
– Tu desejas-me... Sei-o – balbuciou, ligeiramente aturdida por Cesare se atrever a negar os seus sentimentos. As provas eram inconfundíveis, inclusive através da roupa.
Ele afastou-se dela, mas não muito, como se quisesse estar perto quando ela se fosse abaixo. O que era muito provável, considerando como lhe tremiam as pernas.
– Não o fiz por isso – deu outro passo atrás.
De repente, Ava sentia náuseas pelo aroma do que acabavam de fazer... Porque era o aroma da sua fraqueza.
– Só querias humilhar-me.
– Só queria demonstrar-te uma coisa, cara. A paixão é uma emoção da qual posso desfrutar nas circunstâncias apropriadas. Mas jamais permito que controle a minha vida.
Ela baixou o olhar, envergonhada pela facilidade com que tinha caído na armadilha.
– Queres dizer que eu permito que controle a minha? – queria fugir dali, mas não podia dar essa satisfação a Cesare.
– Acabo de to demonstrar.
– Ena, deste-te a tanto trabalho por mim? Espero que estejas orgulhoso.
Ele aproximou-se e acariciou-lhe o lábio inchado com um dedo.
– Sim, estou. Agrada-me saber que ainda tenho poder sobre ti.
Daquela vez, não mordeu o anzol. Ambos sabiam que ele vencera a ronda.
– Sim, é verdade que consegues dominar-me com os teus dons varonis e que acabo de ter um orgasmo incrível contigo. Sou uma mulher de sangue quente, afinal. Mas também demonstraste ser tão frio que podes controlar a tua vida ao ponto de que nada a afete a menos que tu queiras. Portanto, desculpa-me se não acredito nos motivos pelos quais estás aqui.
Ele largou-a como se de repente tivesse uma doença contagiosa. Por instantes, pareceu desarmado, mas Ava apenas sentia um vazio interior horrível.
– Estás a tentar tirar-me do sério – o homem que a olhava não era o Cesare que a tinha beijado instantes antes. Voltava a ser o Cesare que exercia um controlo total sobre as suas paixões e sentimentos.
– Estou a dizer a verdade. Assume-o.
– Assusta-me como podes ser temerária e atordoada – agachou-se e recolheu o portátil. – Se quiseres que mantenhamos a trégua, teremos de estabelecer algumas regras básicas. Anda.
Sem esperar por resposta, pôs-se a andar para o escritório e já o perdera de vista quando Ava reuniu as forças necessárias para o seguir.
Encontrou-o sentado à secretária enorme, com os dois indicadores apoiados na boca. Se tivesse sido qualquer outro homem, teria suspeitado que se protegia atrás da mesa para a evitar.
– Se vais analisar o que aconteceu...
– O que aconteceu não necessita de nenhuma análise – interrompeu-a. – Mas quero falar de Annabelle e do impacto que tudo isto pode ter sobre ela.
– Porque deveria afetá-la?
– Como reagiu à partida de Rita? – perguntou ele, sem lhe responder. – Eram muito unidas – atravessou-a com um olhar tão intenso como um raio laser.
– Muito mal, como é lógico, mas...
– Também disseste que está mais sensível do que antes.
– E achas que a culpa é minha?
– Não estou a culpar ninguém, Ava. Só tento fazer o melhor para ela.
– Voltou para casa e eu estarei com ela todos os dias. A única coisa que precisa é de se rodear de uma família que cuide dela e que a ame.
– E como esperas cuidar dela se te puseres a trabalhar? – olhou para o portátil de Ava, que deixara na mesa. – Deixaste o teu trabalho quando nos casámos. Porquê este desejo repentino de o retomar?
– Porque descobri que não gosto do papel de esposa abandonada. Preciso de mais.
– Ao que te referes?
– Tu é que és o génio. Adivinha.
– És a minha mulher, Ava. E, portanto, minha responsabilidade.
– Agora vens-me com tecnicismos estúpidos? – ignorou o seu olhar glacial. – Não podes ter as duas coisas, Cesare. Começámos a distanciar-nos desde que Annabelle nasceu. No último ano, mal nos vimos... Dizer que sou a tua mulher só quando te convém ou quando queres limpar a tua consciência é próprio de uma pessoa egoísta e hipócrita. O teu trabalho sempre foi a tua prioridade, portanto, não te atrevas a questionar o meu. Tu podes continuar a sustentar a tua filha, mas eu sou perfeitamente capaz de me sustentar sozinha.
– Foi um belo discurso. Mas não hesitaste na hora de usar o meu avião. Tu também não podes ter as duas coisas, cara. Enquanto vivermos sob o mesmo teto, serás minha responsabilidade e ambos faremos o que for melhor para Annabelle. Isso implica que comeremos todos juntos e que apresentaremos sempre uma frente unida.
– Para lhe demonstrar que o papá e a mamã não se odeiam.
– O seu papá e a sua mamã não se odeiam. Penso que o deixei claro há pouco.
Ava estremeceu por dentro ao recordar o orgasmo.
– O desejo sexual acaba por se desvanecer quando não o alimenta um sentimento verdadeiro e Annabelle já começa a dar-se conta de que as suas amigas da creche têm pais e mães que vivem juntos. No mês passado, antes de irmos para Bali, perguntou-me porque não vivias connosco. E essas são as perguntas fáceis, portanto, prepara-te para as difíceis, porque estão ao virar da esquina.
– Muitos casais vivem separados. Explicar-lho-emos quando for a altura certa.
– Pois, estou impaciente por que chegue essa altura, porque eu também quero algumas respostas. Por exemplo, porque voltaste a usar a aliança? No mês passado, não a usavas.
Ele olhou para o anel de ouro e uma expressão estranha atravessou fugazmente os seus traços, tão depressa que quase passou despercebida a Ava. Mas, antes que pudesse perguntar-lhe alguma coisa, o telefone da mesa tocou e Cesare dispôs-se a atendê-lo.
– Pedi que nos servissem o jantar mais cedo, às seis e meia. Teremos de decidir a rotina mais conveniente para todos.
Ava sentiu vontade de lhe arrancar o telefone da mão, atirá-lo pela janela e exigir-lhe que lhe respondesse. Mas ele já tinha virado a poltrona para a janela e não lhe prestava a mínima atenção, como se tivesse deixado de existir.
Agarrou no portátil e saiu do escritório antes que cedesse à tentação de o partir contra a cabeça de Cesare.
Entrou no salão e sentou-se na sua poltrona favorita, com vista do lago. Ligou o portátil e pôs os auriculares para ouvir música enquanto preparava a reportagem fotográfica. O noivado de Reynaldo Marinello e Tina Sánchez tinha causado furor nos meios de comunicação. Ava tinha-se mantido à margem, mas o terramoto em Bali incitava-a a valer-se das suas fotografias para conseguir dinheiro com o qual ajudar as vítimas. Não podia permitir-se recusar um trabalho tão lucrativo como o casamento daqueles famosos.
Uma hora mais tarde, tirou os auriculares quando uma empregada lhe levou uma bandeja com biscoitos e limonada. Atrás dela entrou Cesare com Annabelle nos braços, que abraçava um cavalo vermelho de peluche.
– O papá acordou-me – explicou-lhe a menina. – Tive um pesadelo.
Ava sentiu-se invadida pela culpa ao encontrar-se com o olhar de Cesare.
– Disse-me que os tem às vezes. Não me disseste nada... – falava com voz tranquila, mas o tom de recriminação era inconfundível.
– O médico disse que era normal depois do que aconteceu.
– Perguntei-te se havia mais alguma coisa que precisasse de saber. Não te pareceu oportuno falar-me dos seus pesadelos?
– Começou a tê-los na semana passada, depois de Rita ter ido para casa. Acalma-se quando sabe que estou por perto.
– Tinha de o saber, Ava.
– Era por isso que queria trazê-la. Ela sempre se sentiu bem aqui.
– Quero que me contes tudo, por muito insignificante que te pareça, está bem?
O desejo de proteção que emanava das suas palavras comoveu profundamente Ava.
– Está bem.
– Podemos ir para a piscina, mamã? – perguntou Annabelle. – Prometeste-mo – com efeito, Ava tinha-lho prometido por se ter portado tão bem no avião.
– Sim. Portanto, não bebas muita limonada, está bem?
Saiu do salão, sentindo o olhar incisivo de Cesare cravado nas suas costas, e acelerou o passo enquanto tentava sossegar a voz que lhe perguntava se sabia no que estava a meter-se.
Regressou cinco minutos mais tarde, com um fato de banho cor de laranja, uns calções brancos e uma t-shirt branca folgada. Não os viu no salão, nem na piscina e estava prestes a voltar para dentro quando ouviu a voz da sua filha. Seguiu pelo caminho ladeado de flores que contornava a villa e parou de repente. Cesare e Annabelle estavam inclinados sobre uma roseira, a contemplar três borboletas que voavam de flor em flor.
Não foi o rosto maravilhado da sua filha o que quase fez com que o coração lhe parasse, mas a dor que os olhos de Cesare refletiam enquanto olhava para Annabelle. Parecia tão triste que Ava teve de se apoiar na parede para não cambalear.
O cimento aquecido pelo sol, no entanto, queimou-lhe a mão e fê-la afastar-se com um grito de dor. Cesare levantou o olhar e a sua expressão de tristeza esfumou-se imediatamente.
– Estás bem?
– É preciso ter cuidado com as paredes a arder.
Ele agarrou-lhe a mão para a examinar.
– Há gelo na mesa. Vou pôr-te um pouco – Ava olhou para Annabelle. – Está encantada com as borboletas. Vamos – era mais uma ordem do que uma sugestão.
– Não é nada, a sério.
Ele sorriu-lhe e conduziu-a até à beira da piscina.
– Se não é nada, porquê essa cara de dor?
– Está bem, dói-me horrores. Satisfeito?
– Porque é que as mulheres dizem sempre que não é nada?
– Não sei. Diz-me tu, que certamente conheces mais mulheres do que eu.
Ele não se incomodou em negá-lo e limitou-se a sorrir, com tanta presunção que Ava sentiu vontade de o esbofetear com todas as suas forças.
– Normalmente, é uma maneira de chamar a atenção.
A irritação de Ava aumentou, juntamente com a sua, já bastante elevada, temperatura corporal. Cesare usava um fato de banho que deixava à vista a musculatura impressionante e a reação corporal de Ava era tão inoportuna como inevitável.
– Achas que me queimei deliberadamente para chamar a tua atenção? A sério que pensas que sou tão patética?
Ele sorriu, enrolou alguns cubos de gelo num guardanapo e colocou-lho na palma.
– Não, cara mia. Tu não és como as outras – o seu olhar, fixo e penetrante, ameaçava seriamente a prudência de Ava.
– Ena, muito obrigada... – uma corrente de prazer acelerou-lhe o pulso.
– Prego – o sussurro suave e profundo de Cesare ficou a flutuar no ar.
Tudo se desvaneceu à sua volta. O chapinho da água contra a beira da piscina, o zumbido das abelhas, o ruído longínquo das embarcações no lago... Tudo, salvo o calor que irradiavam os olhos e os dedos de Cesare. O olhar dele percorreu-lhe lentamente o rosto, pousou nos seus lábios e Ava precisou de empregar toda a sua força de vontade para não os humedecer com a língua.
Indevidamente, também baixou o olhar até aos lábios que tinha beijado algumas horas antes...
O calor formou redemoinhos entre as suas pernas com uma força incontrolável. Conteve um gemido. Cesare engoliu em seco e o movimento da garganta fez com que o coração de Ava desse um salto. Os seus dedos desejavam acariciar-lhe a pele, mas Cesare rodeou-lhos com os dele. Ava voltou a olhar-lhe para a cara e viu que lhe olhava para os seios. Estremeceu de desejo ao recordar como Cesare gostara dos seus seios, sobretudo durante a gravidez.
Os seus olhares voltaram a encontrar-se e Ava soube que ele também estava a recordá-lo.
Não conseguia suportá-lo. As pálpebras pesavam-lhe e o sangue fervia-lhe nas veias com um desejo irreprimível.
Tentou afastar-se, mas ele segurou-a quase sem esforço.
– Cesare... – não sabia se fora um protesto ou uma súplica. Os olhos de Cesare obscureceram e soltou um gemido. Também a desejava. – Por favor, Cesare... – nem sequer estava certa de querer abandonar-se ao desejo urgente que a embargava. O que queria eram respostas.
– As borboletas foram-se embora, papá! – a voz abatida de Annabelle chegou até eles, mas Cesare já se afastara. – Eu queria que ficassem!
– Mi dispiace, piccolina, mas as coisas são assim. Não podia ser.
Ava soube que aquelas palavras não eram dirigidas a Annabelle, senão a ela. Cesare continuava a olhá-la enquanto lhe fechava os dedos sobre o guardanapo e lhe pousava a mão na mesa.
Ela fechou os olhos e concentrou-se na respiração. As dúvidas amontoavam-se na sua cabeça enquanto permanecia sentada, com o gelo a aliviar-lhe a mão, mas com um nó de confusão e angústia no peito. Começava a dar-se conta de que tinha permitido que acontecesse outra vez, deixara que Cesare brincasse com os seus sentimentos.
Estava com ele há apenas algumas horas e já tinha permitido que a fizesse perder a cabeça em duas ocasiões. O que raio se passava com ela?
Cesare agarrou no seu copo de vinho e tentou afastar os seus pensamentos. Mas até pensar se convertera numa tarefa difícil. O aroma do orgasmo de Ava torturava-o sem piedade. Estivera prestes a voltar a perder-se naquele prazer incomparável, mas, por muito que lhe custasse, tinha de se manter firme e continuar a afastar-se dela.
Tinha de o fazer por Roberto. Era o castigo justo que devia pagar pelo que fizera ao seu irmão.
Além disso, a última coisa que precisava era acrescentar as complicações derivadas do sexo ao trauma e à devastação que a vida lhe impusera. Especialmente o tipo de paixão incontrolável que o dominava cada vez que tocava em Ava.
Naquela tarde, tinha exposto o seu plano para se assegurar de que nas semanas seguintes não tivessem de se ver mais do que o estritamente necessário. Mas o incidente do corredor e o tempo que tinha passado com ela na piscina apenas tinham alimentado a atração que tentava sufocar por todos os meios. Não tinha o direito a reavivar o desejo e muito menos a satisfazê-lo.
Ouviu passos e viu Ava a sair para o terraço, com um monitor de bebés numa mão e uma expressão de determinação furiosa nos olhos.
Ele baixou o olhar para a aliança. Pusera-a quando fora almoçar com a sua mãe durante a escala que fizera em Roma. Os seus pais já tinham sofrido bastante no mês anterior e Cesare não queria causar-lhes mais preocupações confessando-lhes o verdadeiro estado do seu casamento.
– O que disseste esta tarde... – começou ela – Que não podia ser... Ao que te referias exatamente?
Cesare demorou o seu tempo a girar o copo e a percorrer lentamente com o olhar as pernas nuas de Ava, as ancas voluptuosas e os seios generosos, até chegar aos olhos.
– Quando nos conhecemos, fiquei cego pela tua beleza. Eras incrivelmente sensual e exuberante, e a tua natureza passional e temerária atraiu-me como o calor atrai uma traça. Não penso que exagere ao afirmar que contigo tive o melhor sexo de toda a minha vida – a confissão arrancou uma exclamação de espanto a Ava. – Infelizmente, a cegueira levou-me a cometer um erro imperdoável.
– Que erro? – perguntou ela em voz baixa.
– O terramoto deixou-me duas coisas muito claras. A primeira foi que não há nada mais importante do que a minha filha e que daria a minha vida por ela – o brilho nos olhos de Ava disse-lhe que ela sentia o mesmo. Cesare hesitou por alguns instantes. Não queria dizer-lhe a seguinte, mas devia fazê-lo. – A segunda foi que... por muito atraído que me sentisse por ti e por muito incrível que fosse o sexo... agora sei que nunca devia ter-me casado contigo.