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Capítulo 4

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«Nunca devia ter-me casado contigo.»

Ava cravou a pá na terra, alheia ao calor e ao suor que lhe caía pelo rosto. Um sorriso tenso curvava os seus lábios ao recordar a expressão horrorizada de Lucia quando lhe perguntara onde estavam as coisas de jardinagem.

Mas tinha de fazer alguma coisa ou enlouqueceria a repetir a frase de Cesare na sua cabeça. E as mensagens de Agata Marinello que lhe chegavam ao telemóvel a cada dois segundos também não a ajudavam muito.

Durante a última semana, Cesare tinha respeitado escrupulosamente a rotina estabelecida. De manhã, ficava com Annabelle enquanto Ava se reunia com os Marinello. À tarde, encarregava-se ela da menina e, em seguida, jantavam os três juntos, antes de se alternarem a dar-lhe banho e a deitá-la.

Viver sob o mesmo teto que Cesare estava a ser muito fácil e a trégua estava a ser cumprida. Deveria sentir-se feliz por isso, mas...

– Tem cuidado, cara, ou vais dar cabo das sementes antes que possam germinar.

– Tem cuidado, Cesare, ou perderás um pé se me irritares – amaldiçoou em silêncio a capacidade de Cesare de se aproximar sem fazer barulho apesar do seu tamanho imponente.

Ele permaneceu calado durante tanto tempo, que Ava acabou por levantar o olhar. Estava muito sério e olhava-a fixamente, como se quisesse dizer-lhe algo de que não ia gostar.

– Esta noite, temos companhia ao jantar – disse-lhe com tom frio e seco.

– Não pareces muito contente.

– Preferia não ter companhia, mas o que se há de fazer?

– Então, diz-lhe que não venha. O que pode ser pior, cancelar um convite ou dar umas boas-vindas desagradáveis ao convidado?

– Seria muito descortês da minha parte cancelá-lo, já que eu mesmo o organizei há muito tempo.

Ava sentiu um aperto no coração ao pensar que não era a visita o que incomodava Cesare, mas que ela estivesse presente.

– É um jantar de negócios?

– Não. Celine é uma amiga da família. É... importante para mim.

– Celine? – o sangue gelou-lhe nas veias, apesar das altas temperaturas.

Cesare tinha convidado uma mulher para jantar. Era tão simples quanto isso. Então, porque tinha os dedos duros à volta do cabo da pá e uma intensa dor lhe subia pelo braço impedindo-a de a largar?

Era lógico que Cesare tivesse amigas, embora ela conhecesse muito poucas. A sua relação começara zelosamente guardada, porque assim o tinham preferido ambos. Ela não queria partilhar Cesare com a sua família reprovadora e naquela época ele estava a viver em Londres. Conhecera os pais dele no casamento, embora não o irmão mais novo, Roberto. Também fora apresentada à tropa de tios, tias e primos que compunham a típica família numerosa italiana. Uma família da qual ela tinha ansiado fazer parte...

– Ava?

– Desculpa... – apercebeu-se de que não tinha ouvido a sua pergunta. – O que disseste?

– Perguntei-te se pode ser às sete e meia – repetiu ele, muito devagar.

– Não – a resposta brotou dos seus lábios antes que pudesse evitá-lo.

– Perdão?

– Perguntaste-me se a hora me convém e disse-te que não. É evidente que não me queres aqui. Usa-me como desculpa. Diz-lhe que não venha porque a essa hora não posso.

Dessa maneira não teria de conhecer a maravilhosa Celine. Não teria de sofrer o doloroso encontro com a mulher que um dia poderia substituí-la e usar o famoso anel de Di Goia que Cesare lhe tinha oferecido com tanto orgulho no dia em que a pedira em casamento.

– Por muito que aprecie os teus esforços desinteressados, receio que as coisas não funcionem assim.

– E não posso ausentar-me eu? É a tua convidada.

Cesare enfiou as mãos nos bolsos, furioso.

– Vestir-te-ás para a ocasião e estarás pronta para receber a nossa convidada às sete e meia. Expressei-me com clareza?

– Oh, adoro quando te armas em dominante! – gozou ela, mas mordeu a língua quando ele se agachou até à sua altura, aproximando o metro e noventa de pura virilidade.

– Não aprendeste na semana passada o que pode acontecer se me desafiares?

Ava era consciente de que estava a brincar com fogo, mas não conseguia evitá-lo.

– Ao que te referes? A levares-nos ao limite e a depois a voltares atrás? Não sei... Diz-me tu. Ainda estou a assimilar a parte de que nunca devias ter-te casado comigo. Já agora, doem muito os testículos quando não se chega à ejaculação?

Che diavolo...? – resmungou ele. – Quero que estejas pronta às sete e meia. Capito?

– Se é uma ordem... – levantou a pá numa saudação de gozo e viu como Cesare se afastava a passos largos e com os ombros rígidos.

Continuou a cavar com renovado vigor. Dentro de poucas horas conheceria a importante convidada de Cesare.

Talvez os deuses fossem benévolos e tivessem feito a tal Celine gorda, baixa e feia.

Os deuses concederam-lhe pelo menos um desejo.

Celine di Montezuma era baixa... Mas não era gorda, nem feia. Era como uma Vénus em miniatura, com aquele ar de fragilidade que inspirava um desejo de proteção nos homens e que fez Ava sentir-se, com o seu metro e setenta e três e os seus saltos de oito centímetros, como a torre de Pisa ao inclinar-se para apertar uma mão pequena e delicada.

Era encantadora, desde o cabelo preto reluzente até aos sapatos de marca. Mas o que mais chateou Ava foi o seu caráter afável e o sorriso sincero que lhe dedicou enquanto tirava a echarpe de seda para a dar a Cesare.

– Ouvi falar muito de ti.

– A sério? Eu não sabia nada de ti até há quatro horas – respondeu Ava e ignorou o olhar de advertência de Cesare.

A gargalhada quente da sua convidada ecoou pelo vestíbulo.

– Espero que não te tenha imposto a minha visita sem te consultar. Não te parece odioso quando os homens fazem isso?

– «Odioso» parece-me uma palavra muito suave.

Celine voltou a rir-se e entrelaçou o braço com o de Ava. E, por muito que Ava quisesse odiá-la, compreendeu a atração de Cesare por uma mulher tão adorável.

Uma impressão que não deixou de aumentar durante o delicioso jantar que Lucia lhes tinha preparado à base de omeleta de salmão, borrego com molho de ervas e batatas no forno. Ava, no entanto, mal comeu. Impedia-a o nó que lhe oprimia o peito ao ver o sorriso de Cesare, o primeiro sorriso sincero que lhe vira desde a sua chegada, às brincadeiras de Celine.

Agarrou no seu copo de vinho branco e esvaziou-o de um gole diante do olhar semicerrado de Cesare. Por ela, podia ir para o inferno.

Celine virou-se para ela, como se tivesse sentido a tensão no ar.

– Como está Annabelle?

A Ava pareceu-lhe detetar um vislumbre de rigidez nos traços de Cesare, mas a cabeça começava a andar-lhe à roda por causa do álcool.

– Muito bem, obrigada.

– Adaptou-se bem a estar novamente em casa?

– Aqui, tem sol, a piscina, o lago e todos os brinquedos que uma menina poderia desejar graças a um pai que de repente se tornou exageradamente atencioso e complacente. O que mais pode pedir-se? – não conseguiu disfarçar o tom sarcástico.

«Cuidado!», advertiu-a Cesare com o olhar.

«Morre», respondeu-lhe Ava com o dela. Não devia tê-la convidado se esperava que fosse simpática com a sua amiguinha.

– Gostaria de a conhecer – disse Celine.

Ava surpreendeu-se ao ouvi-la, até que recordou que Cesare não a tivera em conta ao convidar Celine. Teria sido essa a sua intenção desde o princípio? Livrar-se dela e passar o verão com Annabelle e Celine?

A reação que Cesare tivera aquando da sua chegada adquiria um inesperado sentido.

Com muita calma, deixou o copo na mesa para não ceder ao impulso de o atirar à cabeça de Cesare.

– Está a dormir há uma hora.

– Oh... – a deceção de Celine encheu Ava de satisfação. – Não poderia vê-la?

– Queres vê-la? – surpreendida, olhou para Cesare, que se limitou a encolher os ombros enquanto girava o copo entre os dedos.

«Só por cima do meu cadáver!», quis gritar Ava, mas fez um esforço para se conter. Era óbvio que Celine fazia ou faria parte da vida de Cesare num futuro muito próximo e que acabaria por conhecer a sua filha.

«Mas não esta noite», sussurrou-lhe uma voz carregada de dor na sua cabeça.

– Não penso que seja boa ideia...

Cesare afastou-se da mesa e levantou-se.

– Vamos, Celine. Eu levo-te a vê-la.

– Não, nada disso!

– Fica descansada, não a acordaremos.

Fez sinal a Celine para que o acompanhasse. O desconforto da outra mulher era tão evidente que Ava se encolheu de vergonha, mas obrigou-se a sorrir apesar da bílis que lhe subia pela garganta.

– É melhor que não porque, se acordar, será impossível voltar a adormecê-la.

Cesare e Celine saíram da sala de jantar e os seus passos ecoaram pelo corredor enquanto Ava permanecia imóvel na cadeira, incapaz de conter o desespero que a invadia. Uma parte dela ainda não tinha aceitado que Celine fosse tão importante para Cesare e tinha albergado a secreta esperança de que não fosse mais do que uma amiga da família.

Mas uma amiga da família não insistiria em ver Annabelle depois de lhe terem dito que a menina estava a dormir. A mulher destinada a tornar-se a madrasta da sua filha ia vê-la naquele momento, enquanto ela ficava ali sentada sem fazer nada...

Nem pensar! Levantou-se de um salto e subiu a escada a correr, antes de recordar que deixara os sapatos debaixo da mesa da sala de jantar.

Mas, quando ouviu sussurros, alegrou-se por estar descalça. Agarrou-se ao corrimão de madeira e esperou com a respiração contida.

– Até quando pensas continuar a esconder-lho? – perguntou Celine com veemência.

Cesare respondeu em italiano. Falava demasiado rápido para que Ava conseguisse entendê-lo, mas foi evidente que não era a resposta desejada por Celine, que lhe deu uma réplica furiosa, também em italiano. Os passos de Cesare dirigiram-se rapidamente para o patamar, onde Ava esperava em silêncio e com o coração apertado.

– Não. É impossível – sentenciou com tom implacável.

– É doloroso, eu sei. Mas tens de lho dizer. Merece saber o que está a acontecer.

Cesare chegou à escada e parou ao ver Ava. Um segundo depois, também Celine a viu e esbugalhou os olhos. Cesare abriu a boca, mas não saiu nenhum som dos seus lábios. Apertou os punhos e cravou-lhe um olhar cheio de raiva e frustração.

Ava tentou engolir em seco, mas a garganta tinha-se fechado. Agarrou o corrimão com força e rezou para que as suas pernas continuassem a segurá-la.

– Ava... – murmurou finalmente Cesare.

Não podia ouvir as suas explicações. A dor era muito intensa e dizimava a sua fraca resistência.

– Não te incomodes, Cesare. Posso ser um pouco lenta, mas não sou idiota.

Cesare ficou pálido e o seu rosto contraiu-se numa expressão de espanto.

– Então... sabes?

A sua reação só confirmava as suspeitas de Ava. Olhou para Celine, que também tinha empalidecido e se agarrava ao braço de Cesare.

– Sei que andas a dormir com o meu marido, se é o que queres que diga.

Cesare conteve um gemido.

– Meu Deus...

– Mas, enquanto formos marido e mulher, manter-te-ás afastada dele e da nossa filha. Está claro?

Celine abanou freneticamente a cabeça.

– Não! Per favore, Ava...

– Para ti, sou signora Di Goia. Agora, sai da minha casa.

Segredos revelados - O festim do amor

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