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Prólogo

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Laurence abanou a cabeça enquanto lia o relatório do detetive pela segunda vez. Sentia-se frustrado e dececionado. Presumira que a filha já estaria casada àquela altura. Casada e com filhos. Tinha vinte e oito anos e era uma beleza. Uma verdadeira beleza.

Estudou a fotografia que havia no relatório e sentiu-se orgulhoso por os seus genes terem criado uma criatura tão bela. Bela, mas sem filhos.

Que desperdício!

Suspirou e voltou a ler o relatório.

Há três anos, Veronica estivera noiva de um médico que conhecera no hospital infantil em que trabalhava. Era fisioterapeuta e o noivo era cirurgião ortopedista, mas falecera tragicamente num acidente de mota duas semanas antes do casamento. Depois, que ele soubesse, Veronica não saíra com outras pessoas. Nem sequer parecia ter muitos amigos. Transformara-se numa pessoa solitária, que continuava a viver com a mãe e que, praticamente, dedicava toda a sua vida à profissão que, naquele momento, exercia em casa.

Laurence compreendia a sua dor. Também ficara devastado com a morte da esposa há vários anos. Ambos tinham imaginado que, algum dia, sofreria de cancro, devido à sua história familiar, mas fora um enfarte que a levara depois de quarenta anos de casamento. Fechara-se em copas durante muito tempo, mudara-se para a casa de férias que tinha na ilha de Capri e não voltara a olhar para outra mulher, mas aquilo acontecera-lhe com setenta e dois anos, não com a idade da filha, que continuava a ser muito jovem.

Contudo, Veronica não seria jovem para sempre e o seu relógio biológico não ia esperar.

Sabia muito daquilo porque era médico geneticista. Fora por isso que doara o seu esperma à mãe de Veronica. Fizera-o mais por arrogância do que por qualquer outro motivo, porque não quisera morrer sem transmitir os seus genes maravilhosos.

Laurence abanou a cabeça. Sentia-se culpado. Pensou que devia ter entrado em contacto com a filha depois da morte de Ruth. E que devia ter estado ao seu lado quando ela perdera o noivo.

Porém, já era demasiado tarde.

Ele também estava a morrer, ironicamente, de cancro. De cancro do fígado. Já não podia fazer-se nada. O prognóstico não era bom e a culpa era dele. Depois da morte de Ruth, começara a beber demasiado.

– Bati à porta – avisou um homem –, mas não me ouviste.

Laurence levantou o olhar e sorriu.

– Leonardo! Ainda bem que vieste. O que fazes aqui tão cedo?

– Amanhã, é o septuagésimo quinto aniversário do meu pai – comentou Leonardo, enquanto entrava no terraço e se sentava ao sol do entardecer, que fazia brilhar o Mediterrâneo. – Dio, Laurence. És muito sortudo por ter esta vista.

Laurence olhou para Leonardo e pensou que era muito bonito. E que estava cheio de vida. Era normal, só tinha trinta e dois anos e era um homem com múltiplos talentos, um homem que qualquer mulher acharia fascinante e irresistível.

Aquilo deu-lhe uma ideia.

– A minha mãe disse-me que te convidou para a festa, mas que não vens. Aparentemente, vais a Inglaterra amanhã, ao médico.

– É verdade – confirmou Laurence, enquanto fechava o relatório para que Leonardo não o visse. – O meu fígado não está bem.

– Estás um pouco amarelo. É grave?

Laurence encolheu os ombros.

– Com a minha idade, é tudo grave. Vieste jogar xadrez e ouvir música decente ou tentar comprar a casa outra vez?

Leonardo desatou a rir-se.

– Podemos fazer as três coisas?

– Podes tentar, mas já sabes que a casa não está à venda. Podes comprá-la quando eu morrer.

Leonardo olhou para ele com surpresa e ficou sério, algo pouco habitual nele.

– Espero que demore muitos anos, meu amigo.

– Isso é muito amável da tua parte. Abro uma garrafa de vinho ou não? – perguntou Laurence, levantando-se com o relatório na mão.

– Tens a certeza de que é o mais sensato, dadas as circunstâncias?

Laurence sorriu com amargura.

– Não penso que um copo ou dois vá mudar alguma coisa.

Desejo mediterrâneo

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