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Capítulo 1

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Veronica sorriu enquanto acompanhava o último cliente à porta. Duncan tinha oitenta e quatro anos e namorada, apesar da sua ciática terrível, mas não era dos que se queixavam.

– Até à semana que vem, Duncan.

– Na semana que vem não posso vir, querida. Fazes-me muito bem, mas a minha neta faz vinte e um anos e vou a Brisbane para a festa. Tenciono ficar uma semana ou duas em casa do meu filho. Lá, está uma temperatura melhor. Ligo-te quando voltar.

– Está bem, diverte-te, Duncan.

Viu-o a afastar-se para casa. Quase todos os seus pacientes eram pessoas idosas que viviam na zona, embora também tratasse estudantes da universidade de Sidney. Sobretudo, homens jovens que jogavam râguebi e futebol e iam vê-la para que os ajudasse com as lesões.

Sinceramente, preferia as pessoas idosas, pois não tentavam seduzi-la.

Embora soubesse como livrar-se das insinuações, visto que o fazia desde a puberdade. Eram as consequências de ter nascido bonita. Não tinha sentido fingir que não era. Tivera muita sorte com o seu aspeto. Tinha um rosto bonito, o cabelo castanho e ondulado, uma boa pele e uns olhos grandes e cor de violeta.

Jerome sempre lhe dissera que era uma beleza natural.

«Jerome…»

Veronica fechou os olhos por um instante e tentou não pensar nele, mas era impossível. A morte repentina do seu noivo fora muito difícil, contudo, o que mais lhe doera fora o que descobrira depois.

Ainda não conseguia acreditar que era tão… retorcido.

Fora muito ingénua. E vivera de perto o sofrimento da mãe com o sexo oposto e o seu cinismo no que dizia respeito ao assunto. Sempre gostara de homens. Gostara deles e admirara-os. Também soubera que alguns gostavam de brincar, mas sempre mantivera a distância desses.

Também não era uma dissimulada, mas não suportava os homens que infringiam as regras da sociedade só porque sim, nem os homens desrespeitosos, insensíveis ou irresponsáveis. O seu homem perfeito, com quem sempre quisera casar-se, não seria nada daquilo. Seria um homem de sucesso, e preferivelmente bonito, mas o mais importante era que fosse uma boa pessoa. Ao fim e ao cabo, não seria apenas o seu marido, mas também o pai dos seus filhos. Veronica queria ter pelo menos quatro.

Quando Jerome falecera, pensara que perdera o marido perfeito.

No entanto, não era perfeito, nem de perto.

Veronica cerrou os dentes enquanto ia para a cozinha. Pelo menos, continuava a ter o seu trabalho. Talvez não tivesse vida pessoal, nem fosse realizar o seu sonho de constituir uma família, talvez já não acreditasse no amor, mas continuava a ter vida profissional. Aliviar a dor de outras pessoas era algo que a satisfazia.

Estava a pôr água a ferver quando o seu telemóvel tocou.

Devia ser um cliente, porque não costumava receber muitas chamadas pessoais.

– Sim?

– É a menina Veronica Hanson? – perguntou um homem com algum sotaque. Possivelmente italiano.

– Sim, diga – respondeu ela.

– O meu nome é Leonardo Fabrizzi – apresentou-se ele.

E Veronica quase deixou cair o telemóvel. Não podia haver muitos italianos chamados Leonardo Fabrizzi no mundo.

– Leonardo Fabrizzi, o esquiador? – perguntou, sem pensar.

Houve vários segundos de silêncio.

– Conhece-me? – perguntou ele.

– Não, não – respondeu ela, porque não o conhecia.

Embora se tivessem visto uma vez, há muitos anos, na Suíça, mas não tinham sido apresentados, portanto, não a conhecia. Veronica conhecia-o porque, já nessa altura, ganhara um campeonato do mundo e era famoso pela sua temeridade, dentro e fora das pistas. Conquistara a fama de playboy e, naquela noite, quase se transformara em mais uma das suas conquistas.

– Eu… ouvi falar de si – acrescentou, num tom ligeiramente trémulo. – É famoso no mundo do esqui e gosto de esquiar.

De facto, durante uma época, estivera obcecada com o esqui, que começara a praticar com uma amiga que a levara com ela de férias.

– Já não sou um esquiador famoso – explicou ele, bruscamente. – Reformei-me há muito tempo. Agora, sou apenas um homem de negócios.

– Entendo – respondeu ela.

Veronica também não voltara a esquiar desde a morte de Jerome.

– E como posso ajudá-lo, senhor Fabrizzi? – perguntou, pensando que talvez estivesse na Austrália por negócios e precisasse de uma massagem.

– Lamento ter de lhe dar uma má notícia – disse ele.

– Uma má notícia? – repetiu Veronica, surpreendida. – Que má notícia?

– O Laurence faleceu.

– O Laurence? Que Laurence? – perguntou ela, não conhecia nenhum Laurence.

– O Laurence Hargraves.

– Lamento muito, mas esse nome não me diz nada.

– Tem a certeza?

– Sim.

– Que estranho, porque ele conhecia-a. É uma das beneficiárias do seu testamento.

– O quê?

– O Laurence deixou-lhe uma coisa no seu testamento. Uma casa na ilha de Capri.

– O quê? Isso é ridículo! Não está a fazer uma brincadeira?

– Garanto-lhe que não é uma brincadeira, menina Hanson. Sou o testamenteiro. Se é a Veronica Hanson e vive em Glebe Point Road, em Sidney, na Austrália, é a dona de uma villa linda na ilha de Capri.

– Mas isso é incrível.

– Estou de acordo – confirmou ele. – Eu era amigo íntimo do Laurence e nunca o ouvi a falar de si. É possível que fossem família distante? Tio-avô ou uma coisa dessas?

– Suponho que sim, mas duvido – admitiu Veronica.

A sua mãe era filha única e o pai, que não conhecia, não podia ter aquele apelido inglês. Que ela soubesse, era um estudante letão que vendera o seu esperma por dinheiro.

– Vou perguntar à minha mãe. Talvez ela saiba.

– Admito que é estranho – concedeu o italiano. – Talvez o Laurence tenha sido seu paciente ou familiar de um paciente. Trabalhou em Inglaterra? O Laurence vivia lá antes de vir para Capri.

– Não, nunca.

Embora tivesse estado na ilha de Capri. Um dia. A fazer turismo. Há muito tempo. E recordava ter admirado as villas enormes e ter pensado que seria preciso ser muito rico para viver lá.

Questionou-se se Leonardo Fabrizzi continuaria a ser rico. E se continuaria a ser um playboy.

«Isso não te diz respeito», pensou.

– É um mistério – continuou ele –, mas a questão é que poderá tomar posse da propriedade depois de os papéis estarem assinados e de pagar os impostos.

– Que impostos?

– Os impostos de sucessão, que serão consideráveis, tendo em conta a propriedade. Dado que não é parente do Laurence, oito por cento do valor de mercado da casa.

– E quanto é isso exatamente?

– A villa deve valer entre três milhões e meio e quatro milhões de euros.

– Meu Deus! – exclamou Veronica, que tinha algum dinheiro poupado, mas não tanto.

– Se isso for um problema, poderia emprestar-lhe o dinheiro, que me devolveria depois de vender a casa.

A oferta surpreendeu-a.

– Faria isso? Suponho que se demore algum tempo a vender semelhante propriedade.

A solução parecia perfeita, mas Veronica preferiu ser precavida e não aceitar a oferta imediatamente.

Ele devia ter sentido que hesitava.

– Se o que a preocupa é que tente enganá-la – acrescentou –, pode pedir outra avaliação. Vou pagar-lhe do meu bolso, em dinheiro.

Veronica revirou os olhos, não gostava das pessoas que se gabavam de ter muito dinheiro. Os pais de Jerome eram muito ricos e sempre a tinham feito ver que era muito sortuda por ir casar-se com o seu único filho.

– Talvez queira um pouco mais de tempo para pensar – sugeriu o italiano.

– Sim. Isto apanhou-me de surpresa, na verdade.

– Mas é uma surpresa agradável, não é? – replicou ele. – Dado que não conhecia o Laurence pessoalmente, a sua morte não a afeta. E a venda da villa vai dar-lhe um bom dinheiro.

– Suponho que sim.

– Espero que não se incomode com a minha pergunta, menina Hanson, mas preciso de confirmar a sua data de nascimento, que aparece no testamento – indicou ele, lendo a data.

– Sim, está correta, embora não saiba como esse tal Laurence podia saber isso.

– Então, fez vinte e oito anos no passado mês de junho?

– Sim.

– É do signo gémeos.

– Sim. Embora não seja o típico – replicou ela. – Acredita nos signos do zodíaco, senhor Fabrizzi?

– É claro que não. Todos somos donos do nosso destino – declarou ele, com firmeza.

Veronica achou-o um comentário arrogante, mas não lhe disse.

– Então, tem a certeza de que não conhece nenhum Laurence Hargraves? – insistiu Leonardo.

– Absoluta. E tenho muito boa memória.

– Que curioso…

– Também acho. Importa-se que também lhe faça algumas perguntas?

– Claro que não.

– Que idade tinha o meu benfeitor?

– Hum. Não tenho a certeza. Devia estar perto dos oitenta. Sei que tinha mais de setenta quando a esposa faleceu e já foi há uns anos.

– Então, era idoso e viúvo. Tinha filhos?

– Não.

– Irmãos?

– Não.

– E como faleceu?

– Com um enfarte. Ainda que, segundo a autópsia, também tivesse cancro do fígado. Algumas semanas antes de morrer, disse-me que ia ao médico a Londres, mas fez um testamento e faleceu quando saía do escritório do advogado.

– Ena…

– Talvez tenha sido melhor assim, o cancro já estava em fase terminal.

– Bebia muito?

– Eu não diria isso. Porém, quem sabe o que um homem faz em privado?

De repente, Leonardo parecia muito triste. Isso fez com que gostasse um pouco mais dele.

Talvez estivesse a ser injusta com ele, talvez já não fosse um playboy, podia ter mudado.

– Se me der o seu endereço de correio eletrónico – continuou ele –, posso enviar-lhe uma cópia do testamento para que me dê uma resposta depois de o ler. Ou posso ligar-lhe amanhã a esta mesma hora para que voltemos a falar.

– Amanhã a esta hora não me dá jeito.

Aos sábados costumava ir jantar cedo com a mãe a um restaurante vietnamita.

– Que horas são agora em Itália? – perguntou. – Porque está em Itália, não está?

– Sim, em Milão, no meu escritório. São nove e meia.

– Muito bem. Gostaria de falar com a minha mãe primeiro e perguntar-lhe se conhecia algum Laurence Hargraves. Talvez ela possa resolver o mistério. Em qualquer caso, não tenho nenhum problema em vender-lhe a villa, senhor Fabrizzi. Adoraria poder ir de férias a Capri, mas receio que não possa pagá-las. Ligo-lhe dentro de uma hora, mais ou menos.

– Ótimo. Estarei à espera da chamada, menina Hanson.

Trocaram números de telefone e endereços de correio eletrónico e Veronica desligou e percebeu que estava nervosa depois de ter falado com Leonardo Fabrizzi.

Subiu as escadas para a zona da casa que Nora mandara construir há vários anos, quando instalara o seu negócio lá.

De repente, teve uma ideia bastante desatinada a respeito de quem podia ser Laurence Hargraves. O coração acelerou e sentiu um nó no estômago. Pensou que mãe nunca lhe teria mentido, sobretudo, numa coisa dessas.

Respirou fundo várias vezes e bateu à porta do escritório da mãe. Tremiam-lhe as mãos e tinha a boca seca.

– Sim? – perguntou a mãe.

Ela virou a maçaneta da porta e entrou na sala.

A mãe, que estava sentada à frente do computador, não levantou a cabeça.

Aproximou-se da secretária e agarrou-se a ela com força.

– Mãe, o nome Laurence Hargraves é-te familiar?

A mãe empalideceu e ela já não sentiu medo, só desilusão.

– Era o meu pai, não era? – perguntou, num tom fraco.

Nora gemeu e assentiu com tristeza.

Veronica cerrou os punhos e tentou evitar que a emoção a invadisse. Não estava tão zangada desde que descobrira a verdade a respeito de Jerome.

– Porque não me contaste a verdade? – inquiriu. – Porque me contaste essa história sobre o meu pai ser um estudante pobre da Letónia? Porque não te limitaste a admitir que tinhas tido uma aventura com um homem rico?

– Eu não tive uma aventura com o Laurence! – negou a mãe. – Não foi assim. Não compreendes…

Tinha os olhos cheios de lágrimas.

Pela primeira vez na sua vida, Veronica não sentiu pena dela.

– Então, como foi, mãe? – perguntou, num tom frio. – Faz com que compreenda.

– Não podia contar-te porque dei a minha palavra ao Laurence de que não o faria.

– Deves saber que o teu Laurence morreu – informou ela. – E que me deixou uma coisa no testamento. O testamenteiro acabou de me ligar. Agora, sou a dona de uma villa na ilha de Capri. Que sorte a minha!

Nora limitou-se a olhar para ela.

– Mas… e a esposa?

– Também faleceu. Aparentemente, há uns anos.

– Oh…

– Oh…?

A mãe estava ali, atordoada e em silêncio.

– Parece-me, mãe – disse Veronica, tentando conter as emoções –, que chegou o momento de me contares a verdade.

Desejo mediterrâneo

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