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CAPÍTULO I.

EMBRIÃO DA AVIAÇÃO ANGOLANA


Auster D-5/160

Angola tinha e tem de ser vista, na perspectiva de dimensões continentais, com autonomia e qualidade de oferta de serviços aéreos em cada Província, como resposta à dinâmica do progresso e evolução da economia de cada região e do impulso e desenvolvimento dos vários estratos sociais.

Nesse sentido, e fazendo cálculo do que se verificou no passado, não obstante a realidade actual, poder-se-ia reter um factor na memória colectiva que, à época, proporcionou o conhecido desenvolvimento da aviação, ou seja, este empenho coube à sagacidade das autoridades aeronáuticas «SAC» e ao papel destacado do Aero Clube de Angola (espalhado por várias Províncias).

A estrutura aeroportuária em Angola foi sendo melhorada e dimensionada, sempre com ambição e foco na prevenção e tratamento tecnológico, bem como com um compromisso célere sobre as questões elementares da segurança de voo, na articulação da densidade de tráfego, para acomodar as normas da legislação, (ICAO) e, não menos relevante, na exigência da preparação contínua da qualidade e formação dos técnicos.

Angola, de certo modo, herdou o passivo desenvolvimento da Aviação Civil, por altura da independência, malgrado as convulsões e o êxodo dos quadros, então capazes de assegurar uma transição de qualidade, nos marcos e requisitos da indústria.

Descrever o relato dos acontecimentos e dos feitos monumentais que viriam a transformar-se, de modo indelével e irreversível, naquilo que, no futuro, viria a constituir-se o amplo embrião da formação de Angolanos no quadro da aeronáutica — pilotos; engenheiros de manutenção e engenharia; mecânicos de linha; assistentes de bordo; técnicos de controlo de tráfego e load control; quadros administrativos dos recursos humanos e da direcção comercial; controladores de tráfego aéreo; operadores de telecomunicações aeronáuticas; oficiais de aeroportos; técnicos de manutenção de equipamentos de comunicações e de ajudas rádio; chefes de unidades de bombeiros; despachantes de operações de voo; etc.; e todo o conjunto de técnicos adjacentes à aviação necessários para assumir os cargos com competência e responsabilidade — não se traduz necessariamente numa tarefa fácil. Em tese, e face à grande relevância dos episódios, o papel protagonizado por estes valiosos e abnegados jovens, embevecidos na mais vibrante paixão, foi de extrema importância, pois rapidamente responderam ao desafio, na companhia de outros já qualificados, e entregaram-se de forma empírica e audaz nesta aventura.

À data dos factos, esta nova vaga de técnicos e profissionais, que se ajustavam às novas e desafiantes ocupações, estaria restringida a uma modesta perícia de recém-formados, mas frequentemente sujeitos a pressões, até porque não existiam outras respostas plausíveis diante do novo normal e na demanda gritante de profissionais para os serviços.

A velocidade a que tudo viria a desenvolver-se, associada ao instável cenário político que se vivia, muitos ver-se-iam alistados in extremis e impulsionados para as missões (voos) e outras tarefas sem grande preparo. Abro aqui um parêntesis, devido à minha vivência como piloto. Quantas vezes desafiávamos os céus sem sequer termos familiaridade com as rotas (briefing), num misto de atrevimento, amadorismo, e, claro, num contexto épico em nome do alto heroísmo que, pela natureza, mais se assemelhava ao do «tipo militar», sem suporte adequado ao nível da aeronavegação e das comunicações, porque tudo já começava a falhar, e/ou, pelo menos, estávamos limitados a uma operação intermitente, para além do registo insólito de operações em condições fora do envelope das limitações operacionais das aeronaves.

Em resumo, apesar do treino, era preciso muitas vezes queimar etapas. Nestas circunstâncias, tal atitude seria encorajada, diante da capacidade e da facilidade que muitos revelavam na adaptação e aprendizagem, prescindindo da necessidade do treino regulamentar previsto, cumprindo apenas os tempos mínimos, porque, no fundo, diante dessas tais circunstâncias transmitiam confiança. Neste período, o treino conheceu um forte ímpeto nestes segmentos de ponta, para atender e cobrir a extrema necessidade existente e devido ao facto do jovem País estar praticamente ilhado, sendo a aviação a alternativa viável. A conjuntura, de um modo geral, veio redobrar com grande incidência a envolvência dos técnicos da aeronáutica.

Reportando-nos a este período e num registo até muito recentemente, havia uma maior valorização e reconhecimento no contexto da utilização consentânea dos quadros.

O País pugnava com enorme apreço e extremada noção o esforço e valorização do capital humano e do papel da prata da casa. Nesse sentido, o princípio da autonomia num sector bastante exigente era inquestionável nestas questões do valor e asseguramento da formação continuada, vis-à-vis a integral capacidade científica e tecnológica na correlação do poder dos Estados.

Nestes primórdios, do alvorar da bandeira e do País, acarinhava-se e empregavam-se todos, com vista a um desempenho categórico e irrepreensível, evitava-se o desperdício de recursos de mote próprio, por capricho ou incoerência, a coberto de uma ambição mercantil despropositada e irresponsável.

Em detrimento de tudo quanto, ao fim ao cabo, fomos sendo forjados, temos sucumbido ao melhor do que nos caracterizava.

Ontem, no calor da exaltação e da genialidade, perante a resposta voluntária de tantos jovens, dos vários estratos sociais e das diferentes regiões (Províncias), foi possível partilhar a experiência acumulada para que, sem equívocos, tivesse despontado o treinamento e preparação de modo acelerado. Naquela época, já se sonhava prescindir da dependência excessiva do exterior, era, sem sombra de dúvida, um chavão do epíteto libertário, que nos norteou nesses anos dourados.

Precisamos de uma aposta séria e apelativa, quanto ao treino e formação (Centro/Academia de Instrução) para assegurar a necessidade cíclica destes quadros, bem como a qualidade das qualificações, reiterando um conhecimento integrado para o desenvolvimento ímpar da aviação, do valor da autonomia e do insofismável crédito da aprendizagem em português, desfrutando sobretudo da amplitude da assimilação, sem descurar a notável contribuição do saber de peritos estrangeiros, para consagrar a melhoria e o prestígio da Aviação Civil Angolana.

Publicado com o mesmo título, em nome próprio, em 2004.

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