Читать книгу À frente do tempo - Oswaldo de Oliveira Mendes - Страница 19
ОглавлениеCAPÍTULO VIII.
FALAR NO CÍRCULO!
Os subsequentes desafios, decorrentes em razão da exponencial demanda populacional, implicaram, neste contexto, uma apreciação na base de zero-sum game, ou seja, onde tínhamos um beneficiado ontem, tivemos a reposição simples por um outro, nesta assumida vertente e num processo dinâmico, ainda assim discutível, mas pouco calculado.
Havíamos de ter tido um crescimento mais robusto, para satisfazer a expectativa e a ambicionada redistribuição, com vista a reforçar a coesão e a harmonia social.
Os desafios tornaram-se enormes e ingentes, porque nem sempre a nossa armadura e solidez se mostrou suficientemente capaz e eficaz na blindagem e imunização para garantir e submergir as vagas sucessivas dos perigos, neste longo caminho do progresso e liderança.
Mas, o que ainda mais nos atrapalha será, porventura, a dificuldade de nos aceitarmos uns aos outros. Talvez, mesmo, numa incapacidade que queremos nós próprios acreditar, tratar-se genética, que recai e configura a postura de não nos credibilizarmos.
Nesta perspectiva, sempre preferimos todos os outros em detrimento, mesmo quando em paridade de iguais recursos.
Alimentámos por vagas o culto do inimigo oculto, e mantivemos as fronteiras demasiado fechadas, numa opção que restringiu a competitividade. Não aceitamos com agrado a opção do cargo para nacionais, nas mesmas condições gerais de benesse e remuneração, bastas vezes, ainda que, assim, animados pela irrefutável exclusividade do saber único. Deixamos de saber ouvir e permitimos apenas a entrada com autoridade e fluidez aos cooperantes, e não livremente, como tanto desejaríamos que fosse para todos os que nos queiram visitar ou aqui trabalhar e que se submetem aos parâmetros da legislação, no âmbito das políticas de emigração e fronteiras, desde o respeito solene e primário, às nossas leis, costumes, tradições e à nossa maneira de estar no mundo.
Neste âmbito, estamos há muito tempo desalinhados com a contratação de consultores, de modo genérico e incondicional, mas favoráveis aos muitos, que deveriam, isso sim, merecer o nosso respeito, aplauso e até primazia — os «emigrantes» —, que, uma vez em Angola, na qualidade e aptidão das suas skills, estariam integrados em sociedade, nos diferentes segmentos de actividade, com remuneração apropriada e sem dispêndio acessório para o erário público, no que representaria a sua acomodação e outros encargos.
Entretanto, esta subvalorização, que temos subsequentemente permitido observar, encerra e estimula um desperdício sem justificativa, através do afastamento de profissionais do sector aeronáutico.
Em resumo, nós não temos, tendo!!! Porque, ao que parece e até aqui, na imediata conveniência de interesses de grupo, não obstante a inexistência de qualquer levantamento, foi comum, e sem agravo, empolar a falta corrente de quadros no sector, de forma a ser mais fácil os afastamentos e assim, justificadamente, num arranjo perfeito, recrutar-se com razoável credibilidade.
O baixo rácio de eficiência explica, desde logo, a falta de liderança, acrescida à falta de know-how e ao défice de responsabilidade no exercício de funções, alimentada pela impermeada e ostensiva impunidade, além da perda de ganhos para as respectivas empresas e instituições. Afinal, angolanos somos todos, de contrário qual o fundamento! O quadro actual, sem uma nova mentalidade, fica agravado, ao encorajar-se o afastamento de quadros capazes.
Talvez seja caso para indagar, como na qual poder-se-á consentir despender recursos públicos só para alegremente agregar consultores, na mesmíssima capacidade para os quais, sabidamente dispuséssemos de «Nacionais», perseguindo uma lógica egoísta de grupo, por capricho, sem prioridades ou critério, e em resultado de políticas que não são amigas da contenção dos gastos públicos.
Publicado nas redes sociais com o mesmo título, em nome próprio, em 2015.
COMENTÁRIO ACTUAL
O tempo sempre percorre o seu curso e traz alterações, mas, neste particular, não registamos um patamar que possa satisfazer a preocupação, através da participação necessária e condigna da capacidade interna, que representa o vasto saber de quadros angolanos, simplesmente ignorados, porque sim, porque não se quer olhar para a aviação no mérito, com rigor e assente na qualidade, vivacidade dos centros de treino e de formação, nos reflexos da acumulação da experiência no sector aeronáutico.