Читать книгу Filho Nota 10 - Paulo Henrique Menezes - Страница 8
ОглавлениеA base de tudo
Se preparando para ajudar!
Pode um cego guiar outro cego?
Mateus 15:14
“O pior cego é aquele que não quer enxergar.” Seja no ditado popular ou na citação bíblica, a mensagem que devemos retirar destas passagens é que para guiarmos e ajudar seja a quem for, seja para o que for, precisamos antes de tudo ter a consciência de nossa real capacidade e procurarmos nos adequar para a missão que iremos cumprir. Via de regra, chegamos a resultados lastimáveis sempre que achamos que podemos ajudar e saímos fazendo, sem avaliar nosso real preparo. E não é à toa que dizem que: “de pessoas com boas intenções, o inferno tá cheio!”.
Por melhor que seja o comissário de bordo, se o comandante da aeronave e seu copiloto precisarem de ajuda na condução do avião, o comissário muito pouco poderá fazer. Não que ele não queira, ou que não sinta a necessidade e às vezes até perceba a emergência ou a gravidade da situação, mas o fato é que sem estar preparado, muito pouco ou quase nada poderá fazer. Nem o copiloto, nem uma enfermeira numa mesa de operação, nem a moça da cantina, caso a escola precise de um professor com urgência. Boa intenção não elimina a necessidade de uma formação adequada.
Quantos são os pais, avós, tios, e pessoas ligadas à família que querem realmente ajudar na educação das crianças? Querem sentar ao lado, acompanhar nos deveres, motivar, ensinar, mas que por não terem sido preparados para isso, muitas vezes não conseguem. Ter conhecimento, paciência e tempo é fundamental, ajuda muito e pode até dar algum resultado, mas, e quem é que tem isso tudo ao mesmo tempo? Uma coisa é ajudar uma criança que está aprendendo tabuada outra coisa é ajudar um pré-adolescente que está estudando química inorgânica, por exemplo.
Conhecendo e trabalhando seus limites
“Tudo principia na própria pessoa.”
Gonzaguinha
Nada é mais verdadeiro para um educador do que as sábias palavras de São Francisco de Assis: “É dando que se recebe”. Quando nos propomos a ensinar, entramos no processo do aprender. É impossível ensinar sem estar preparado. E não falo necessariamente em ter que aprender uma matéria, e sim em aprender a ensinar. E como seres humanos emocionalmente sensíveis que somos, frutos de histórias únicas, carregamos bagagens emocionais que precisam ser revistas para ver se estamos prontos para a tarefa, sob pena de abrirmos a mala errada numa hora imprópria. Ter má vontade, ser impaciente, não demonstrar compreensão e amor, são falhas imperdoáveis no processo de educar. Quando vamos nos preparar para educar, precisamos antes nos avaliar para que o processo seja construtivo e não destrutivo.
•O que me irrita?
•De que modo me sinto mais confortável para ajudar meu filho?
•Depois de um dia de trabalho cansativo, como poderei ter a calma necessária?
•E como me controlar com as malcriações que ele faz?
Estas são apenas algumas das questões que temos que avaliar para construirmos um modelo que seja positivo. Na avaliação destas questões, temos a oportunidade de mergulhar em nossa essência e nos Redescobrir, nome da música de Gonzaguinha que tem o trecho aqui citado, linda por sinal.
Ter consciência do seu papel.
Se o ato de ajudar o filho no processo educacional, aqui entendido como processo de ajuda nos estudos, for visto como um fardo, um peso, algo chato mas obrigatório, aconselho que não faça. Se você não enxergar isso como um de seus muitos papeis como pai ou mãe, se não entender que criar um filho traz, entre outras obrigações, a necessidade de ajudar nos estudos, então é melhor delegar.
Mas se você entende a importância desse papel, se quer mesmo ajudar e o problema é não saber como, se quer começar a partilhar da alegria que é ver uma criança se desenvolvendo a cada dia, a cada nova aprendizagem, se quer resgatar uma proximidade eventualmente perdida através do ato de educar, então vamos lá!
Exercício para autoavaliação
Responda agora essas 10 questões sendo o mais sincero possível.
Dedique o tempo que for necessário, mas responda.
1) Qual atitude que teme ter no momento em que estiver ajudando seu filho? Uma atitude que sabe que não pode ter, mas teme.
2) Cite outras situações que costumam fazer você reagir do mesmo modo?
3) Qual reação de seu filho mais irritará você, caso ocorra, quando estiver ajudando com os estudos?
4) Como acha que reagirá caso seu filho tenha essa reação?
5) Qual a atitude que deseja ter no momento em que estiver ajudando seu filho e que lhe traria orgulho de seu comportamento como pai ou mãe?
6) Como acha que seu filho reagirá caso você tenha essa reação positiva?
7) Que reação você gostaria de ver no seu filho quando estiverem estudando juntos?
8) Como você reagirá caso seu filho tenha essa reação?
9) Como pode se preparar emocionalmente para ajudar seu filho com os estudos?
10) Qual o melhor momento para se propor a ajudar?
11) Ciente da sua importância no processo, e das barreiras a serem vencidas e das pontes que precisa construir para chegar ao seu filho, liste as principais atitudes que precisa mudar e caminhos que irá seguir para promover essas mudanças.
Quando paramos para avaliar e responder a estas questões, estamos avaliando todo nosso comportamento diante da vida. Estamos avaliando nossos valores, forças e fraquezas. Estamos nos olhando no espelho e tentando ver a imagem atual com o objetivo de termos uma melhor. Não podemos desejar uma imagem perfeita, sem falhas ou sem nada a ser corrigido porque simplesmente ela não existe, ou melhor, talvez exista em filmes e novelas, mas não na vida real. O segredo está em passarmos a ter consciência de nossas dificuldades e nos dispormos a melhorar e a atuar do melhor modo possível nesta que é a mais nobre de todas as missões como pais: educar.
Conhecendo o perfil de seu filho
“Só é possível ensinar uma criança a amar, amando-a.”
Goethe
Sentados no trono do Reino da Sabedoria, muitos pais, no lugar de educadores, transformam-se, sem saber, em déspotas e destroem seus filhos apenas por acharem que sabem o que é o melhor para eles. Acham baseados em seus próprios conceitos e valores, e também em suas próprias visões que passaram a ter da vida em razão de suas historias. Acham com base no que entendem que é o melhor. Acham, acham e acham.
Num processo de educação entre pais e filhos, tão importante quanto os pais se conhecerem é que também conheçam seus filhos. Conheçam seus perfis, seus gostos, suas aptidões, seus talentos. Conheçam suas essências, conheçam a natureza de cada um. E ao conhecer, respeitem, incentivem e admirem.
Nascemos com características únicas que trazemos não sei de onde. Coisas que são genuinamente nossas, que não foram fruto de nossas convivências nem assimiladas em razão dos meios que frequentamos. São natas. São nossas desde sempre. À medida que crescemos, vamos sendo moldados e nossos valores, nossa essência pode ser amplificada, reduzida ou, até mesmo, eliminada. Neste contexto entendo que os pais devem atuar como verdadeiros guardiões da natureza de seus filhos. E isso exige muita observação, muita sensibilidade e principalmente muita capacidade de aceitação. O principal erro dos pais neste processo é o de querer definir o futuro de seus filhos com base nos seus próprios gostos, em sua própria história e, o que é pior, em suas próprias vitórias e derrotas.
Reconhecer os talentos e procurar ajudar para que sejam maximizados. Reconhecer as fraquezas e ver até onde podem e devem ser trabalhadas. Não exigir demais em temas que não são do perfil dos filhos e motivar para que as qualidades que tenham sejam amplificadas, essa deve ser a missão dos pais como educadores.
Conhecendo a natureza de seu filho
Não quero propor um teste de personalidade e muito menos um teste vocacional aqui com estas perguntas, meu desejo é que você reflita, de modo sincero e profundo, sem “pré-conceitos”, um pouco sobre seus filhos. O ideal é que responda com tranquilidade, sem pressa. É um momento muito importante, pois você irá mergulhar na sua história com seu filho.
Perguntas
1) Quais as principais características que você lembra que seu filho tinha por volta dos 5, 6 anos de idade? Como ele era (ou é)?
2) Que tipo de atividades seu filho gostava de fazer até os 6, 7 anos de idade?
3) Após entrar para a escola, seu filho passou a demonstrar interesse por outra coisa? Deixou de gostar de alguma coisa?
4) Houve algum fato marcante que mudou nitidamente o comportamento de seu filho? Se sim, o que mudou nele?
5) Das atividades que ele gostava de fazer, ou ainda gosta, com quais você não se identifica?
6) Com que seu filho se parece com você?
7) Com que não se parece?
8) Descreva seu filho em detalhes.
9) O que te chamou a atenção nessa sua descrição? Qual foi o seu foco na descrição?
10) Você percebe as qualidades de seu filho?
11) Com base no que respondeu sobre seu filho e em suas próprias características avaliadas anteriormente, quais são as pontes e quais as barreiras encontradas na relação de apoio aos estudos que deseja construir com seu filho?
E começamos a caminhada
Para construir um modelo de apoio aos estudos que tenha consistência, uma base sólida e que não fique apenas estruturado em ferramentas práticas ou em aplicativos e em checklists é fundamental que mergulhemos em temas um pouco mais profundos e, de certo modo, subjetivos. Ao dedicarmos algum tempo ao processo de autoavaliação e de avaliação de nossos filhos, damos os dois passos que considero os mais importantes dessa jornada.
Não pretendi e nem tenho capacidade para propor investigações psicológicas mais profundas. A minha intenção é que os pais que estejam realmente interessados em ajudar seus filhos com os estudos, dediquem um tempo para avaliar quem são os atores desse processo. Como se comportam, quais expectativas têm, quais são suas verdadeiras naturezas. Só o ato de pensar já leva a alguma mudança no comportamento, pois como já disse Einstein:
“Uma mente que se abre a uma nova idéia
jamais voltará ao seu tamanho original”.
Albert Einstein