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Motivando seu filho

Buscando a significância

“Quando uma criatura humana

desperta para um grande sonho e

sobre ele lança toda a força de sua alma,

todo o universo conspira a seu favor.”

Goethe

Uma das principais questões que nos deparamos quando o assunto é estudo é a dificuldade encontrada por pais e professores em atrair crianças e adolescentes para esse processo. Via de regra, é como se fossem polos opostos de uma imã: aproxima-se o estudo, afasta-se a criança. Seja numa sala de aula ou em casa, o interesse de uma criança ou de um adolescente em estudar é muito pequeno. Mesmo os mais motivados e pacientes professores e pais penam para conquistarem o interesse das crianças pelos estudos.

O ser humano busca prazer. E o prazer, tendo em vista nossa necessidade de sobrevivência e perpetuação da espécie, foi construído biologicamente em nós para ser alcançado através de alimentos, de sexo e de diversão. A comida visa a nossa própria sobrevivência. Sentir um cheiro e o sabor de uma iguaria, promove uma enorme satisfação e nos faz ter prazer com o ato de comer. O sexo, por sua vez, é fundamental para a continuidade da espécie humana. Se fazer sexo fosse ruim, já não existiria mais a espécie humana sobre a face da Terra. Já o prazer via diversão veio como instrumento de socialização. Rir, se emocionar, torcer..., são sentimentos que unem e que fazem com que as pessoas vivam em grupos de modo harmônico. E estudar nos modelos que ainda nos é ofertado, não se inclui em nenhum dos pacotes anteriores.

Crianças e adolescentes adoram as escolas, elas não gostam é de estudar. Nas escolas conhecem outras pessoas, fazem amizade e se divertem, desde que não se fale em estudo. Em muitas escolas, tendo em vista seu foco total no repasse de conteúdos, o componente socialização nem sequer é considerado, fato que as transformam em fábricas de alunos para o ENEM ou para o Vestibular.

O Sistema de Recompensas do Cérebro

Quando falamos em motivação, falamos em reações químicas que acontecem em nosso cérebro. Esse órgão de 1,3kg e com mais de 70 bilhões de neurônios é o grande responsável pela regulação de tudo que sentimos. Dentro dele existe uma “estrada” que é percorrida por um elemento que gera a motivação e podemos chamar esse caminho de “Estrada da Significância.”

A via Dopaminérgica Mesolímbica é o nome científico desta estrada. Por ela corre o tal elemento que gera a motivação, um neurotransmissor que tem o nome de Dopamina. Junto com a Dopamina temos outras dezenas de elementos que também atuam construindo nossas sensações de prazer, desejo, alegria, mas também de medo, aversão e monotonia.

Construindo Estradas

“Todas as experiências em sua vida, desde conversas individuais até sua cultura mais ampla dão forma aos detalhes microscópicos do seu cérebro.

Neuralmente falando, quem você é depende de onde você esteve,

do que você pensa e do que você faz.”

David Eagleman

Quando a criança é pequena, seu nível de curiosidade e sua vontade de aprender coisas são impressionantes e naturais. Um de seus primeiros desejos é o de aprender a caminhar sozinha. Começa segurando nas mãos dos pais, apoiando-se em móveis, cai muitas vezes, levanta-se e continua até conseguir. O mesmo acontece com a fala. Precisa se comunicar, e, vendo como as pessoas falam, começa a entender e a criar a linguagem em seu cérebro. Aprende as cores, as partes do corpo, os nomes dos alimentos e por aí vai. Observando, tentando, caindo, errando vai aprendendo. E o aprender é sinônimo neurobiológico para a formação de estradas no cérebro que geram comandos e sensações.

Tudo exige esforço e tentativas da participação ativa da criança junto a seu interesse. Quantos joelhos ralados acontecem até que o equilíbrio sobre a bicicleta seja alcançado? Mesmo assim ela não desiste. E poderíamos ensinar a andar de bicicleta sem os tombos? A criança pode aprender a andar sozinha sem cair? E tudo vem no seu tempo, fruto de seu próprio e necessário esforço. A ajuda tem que ser dada na medida certa. O incentivo e a participação são fundamentais, mas não pode-se falar, pedalar ou andar pela criança. Isso ela conseguirá com seu próprio esforço.

Usando o exemplo da borboleta como analogia, quando ela se encasula, ela precisa de um tempo para que a transformação ocorra e ela só estará preparada para voar quando conseguir sozinha, com a força das asas que criou arrebentar o casulo. Se formos ajudar rompendo o casulo por pena, visando minimizar seu esforço, a borboleta não conseguirá voar, pois suas asas ainda não terão força suficiente. O esforço é fundamental e necessário para tudo na vida.

Em todos os exemplos citados sobre as crianças, há um componente comum: o interesse no processo. Ela busca aprender pois faz sentido, dá prazer, autonomia, independência e liberdade. Ela não se preocupa em ter que repetir, em cair, em ralar os joelhos pois na base de tudo encontra-se um desejo que a motiva e que faz com que todas estas etapas sejam exatamente assim, como etapas. E nada isso é feito de modo consciente ou racional. É natural. Não pensa que para atingir o que busca, aquilo é necessário. Ela simplesmente segue fazendo até que o resultado seja alcançado. Essa determinação e empenho faz com que o seu corpo, particularmente o cérebro, aprenda os caminhos e os comandos para atingir os objetivos. Há interesse em aprender visto o significado daquele processo a mantém tentando. O interesse é claro e natural.

Desde cedo vamos construindo nossas estradas através de nossas ações, pensamentos e valores nossos e dos que nos mostram e impõem. O fato é que nossas estradas cerebrais vão sendo construídas e fortalecidas através da repetição que vem do nosso desejo e interesse.

Estudo e Trabalho

Se existem duas coisas que historicamente remetem a esforço essas são trabalho e estudo. Sempre que pensamos em algum deles a imagem e a sensação que surge é de algo obrigatório, necessário e para a imensa maioria das pessoas, nada gratificante. Isso tem início quando a criança começa a ouvir, ver e passa a construir um entendimento de que trabalhar e estudar são obrigações e, como tal, não precisam ser, necessariamente, prazerosas. Ambos são vistos como meio e não como atividade final.

Trabalha-se para que o tempo livre seja melhor aproveitado com mais recursos e mais conforto. Trabalha-se para que possa ser dado aos filhos conforto. Trabalha-se para que possa se aposentar e não precisar mais trabalha. Oi? É isso mesmo?

Estuda-se para poder ser alguém na vida. Estuda-se para entrar para uma faculdade e conseguir uma formação. Estuda-se para poder arrumar um emprego e então poder trabalhar. Ou seja, é uma atividade sem prazer próprio levando para outra atividade também sem prazer. E isso num mundo que a busca pelo prazer é permanente.

A base para que uma criança comece a ter gosto pelo estudo está na quebra deste paradigma. É necessário que o estudo seja algo importante em si próprio. Que cada momento de estudo seja visto, sentido e percebido, quase como uma atividade de lazer. Pois até mesmo o lazer em excesso perde o valor. E é necessário também que o trabalho seja visto como algo enriquecedor no sentido mais verdadeiro da palavra. Algo que nos faça sentir que estamos contribuindo para a evolução da humanidade e não importa se o trabalho exercido seja em uma função simples ou fazendo algo extremamente complexo. Se a função existe é porque a sociedade precisa, e se a sociedade precisa, é enriquecedor.

Novos caminhos no cérebro

Os significados que atribuímos às experiências, promovem lembranças, sensações e sentimentos que nos remetem à associações e nos fazem ter determinadas intenções. Essa é a natureza da atividade mental:

Ação promove Impressão que gera Intenção

O segredo para mudarmos uma percepção não está no desejo ou na intenção, está na nossa capacidade de mudarmos a impressão que ficamos de cada situação. A impressão é mais profunda que a intenção. A intenção atua no nosso racional: eu quero mudar um hábito! Eu quero gostar de estudar! Eu quero parar de fumar! Esses desejos surgem de intenções e exatamente por isso, na grande maioria da vezes, não conseguem ser alcançados. Para fazermos com que uma ação seja desejada, é necessário que atuemos na Impressão que ela deixa na mente, pois daí nasce a Intenção. É um círculo: ação – impressão – intenção – ação – impressão ...

O significado que atribuirmos à cada ação é o que irá definir a impressão que a mesma deixará marcada em nosso cérebro. Se o significado que atribuímos ao estudo e ao trabalho for de algo obrigatório, necessário, mas nada prazeroso, como podemos querer que nossa intenção tenha força suficiente para mudar nossas ações tornando-as mais produtivas? A base de tudo está no significado! E se nós, adultos, não compreendermos isso e não mudarmos nossa percepção em relação a esses temas, com que sinceridade conseguiremos fazer nossos filhos passarem a ter uma visão diferente? Como poderemos convencê-los de algo que nós mesmos não acreditamos e não fazemos?

As 5 portas

Nosso contato com o mundo se dá através de nossos cinco sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato. Quando vemos, ouvimos, cheiramos, sentimos o gosto ou o toque de alguma coisa, imediatamente somos remetidos a sentimentos de prazer, repulsa ou de indiferença. Desde crianças vamos acumulando experiências que se cristalizam na forma de vias em nossa “Estrada da Significância”. Quando voltamos a receber algum estímulo que seja semelhante ao que já vivemos, a Estrada é aberta e o que tivermos guardado nela irá nos fazer sentir determinadas sensações.

Para construirmos ou reconstruirmos a significância do estudo e do trabalho, seja na mente de nossas crianças, seja em nossas próprias mentes, precisamos atuar na impressão que esse fato nos causa. E para fazermos isso, o melhor caminho é alimentar nosso cérebro com novos e poderosos inputs que façam com que a Estrada da Significância receba uma nova pavimentação de Dopamina.

E como fazer isso?

Se vincularmos a atividade de estudo e trabalho, através da construção de um novo texto, de uma nova imagem ou de uma nova percepção sobre os mesmos de modo a mudarmos a impressão que, eventualmente esteja impressa em nossas mentes, conseguiremos modificar a Impressão e passar a ter uma Intenção natural que irá gerar uma Ação positiva sobre tais fatos. Para fazermos isso, é necessário dividirmos em duas partes: uma será feita pelos próprios pais/educadores e tem como objetivo mudar eventuais percepções que vêm carregando sobre os temas, e, a outra parte deverá ser feita pelos filhos/estudantes que precisarão construir visões que os levem a ver tais atividades como importantes, necessárias e até prazerosas.

Filho Nota 10

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