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Capítulo 2

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Fantástico... Em vez de perguntar pela situação do mercado ou pelas previsões de crescimento, Stefan queria falar de sedução.

Selene manteve o sorriso de mulher de negócios que andava a praticar há algum tempo.

O que sabia ela de sedução? Nada. Só sabia que sem a ajuda de Stefan jamais conseguiria tirar a sua mãe da ilha. Por isso, tinha de demonstrar que o seu negócio era viável.

– O que sei de sedução? Não muito, mas, como costuma dizer-se, não é preciso ter percorrido o mundo para saber de geografia.

Selene guardou para si que, além disso, tinha muita imaginação.

Perguntara-se com frequência se a sua insegurança e que Stefan tivesse sido amável com ela naquela noite teriam contribuído para que a sua mente de menina o convertesse num deus, mas a verdade era que era espetacularmente bonito, poderoso, forte e com uma masculinidade primária que a aturdia.

No entanto, não era o seu físico, apesar da sua altura e dos seus ombros largos, o que lhe parecia irresistível, senão algo muito mais indefinido. A suspeita de que sob aquele fato perfeito e a atitude cortês se escondia um homem que podia ser perigoso.

Selene tentou recordá-lo como o vira há cinco anos, mas foi-lhe impossível identificar o desconhecido amável com o homem de negócios frio e sofisticado que tinha diante de si.

Por outro lado, dada a velocidade a que estava a ver o seu plano de negócio, era evidente que lhe parecia muito fraco. A sua mãe tinha razão, não conseguiria que Stefan a ajudasse. Pelo que tinha lido sobre ele, era um homem no topo, rodeado de gente que lhe pedia conselho e que raramente ajudava. Porque ajudaria alguém como ela, sem nenhuma experiência?

Depois de beber um pouco de limonada, Selene não conseguiu aguentar mais a incerteza.

– Honestamente, achas que...? – ia perguntar-lhe se o projeto lhe parecia uma porcaria, mas conteve-se. – Considerarias investir neste negócio?

Selene sentia-se como uma impostora. Stefan devia ter-se dado conta imediatamente de que era a primeira vez que tinha uma reunião daquele tipo.

Ele fechou a pasta e deixou-a sobre a secretária. Com o movimento, a camisa colou-se aos seus braços musculosos e o coração de Selene acelerou. Sonhava constantemente com ele, há cinco anos que pensava diariamente nele.

– Selene? – a voz de Stefan tirou-a da sua abstração, sobressaltando-a.

– Diz.

Pela forma como Stefan a olhava, soube que conseguia ler a mente e tinha a certeza de que a sua era mais fácil de interpretar do que a média. A boca secou-lhe imediatamente. Se Stefan adivinhasse no que estava a pensar, seria melhor que o chão a engolisse.

As pesquisas na internet tinham-lhe acelerado o coração ao saber da sua vida social e da sua relação com as mulheres, as festas, as noites de estreia, a ópera, o balé. A lista era tão interminável como a dos nomes das suas acompanhantes.

– Tens uma amostra das velas? – perguntou ele.

– Sim – Selene mexeu na mala com mãos trémulas. A atração que Stefan exercia sobre ela era tão poderosa que a fazia perder o controlo. A culpa era do seu pai por a ter mantido encerrada. A consequência era que se convertera numa ninfomaníaca.

Stefan Ziakas teria sorte se acabasse aquela reunião com roupa.

Selene olhou-o de soslaio e foi consciente de ter cometido um erro quando viu que ele cravava nela os seus olhos dourados sob as pestanas densas e que a sua boca sensual se curvava num sorriso com o qual qualquer mulher teria perdido a cabeça. E assustou-a descobrir que não se importaria de ser uma delas.

– Estou convencida de que é um negócio com futuro – disse, com o estilo direto e eficiente que tinha praticado tantas vezes diante do espelho. – Também tenho algumas amostras de caixas. Vivemos tempos acelerados e stressantes. As velas perfumadas são um luxo acessível e o mercado já aumentou quarenta por cento.

Enquanto falava, pensou, tal como cinco anos antes, que Stefan tinha uns lábios perfeitos. Já então pensara por uma fração de segundo que ia beijá-la, mas enganara-se.

Stefan tirou-lhe a vela das mãos e observou-a.

– Queres fazer-me acreditar que isto é o negócio do futuro?

– Porque não? Não gostas de velas?

– Queres que te responda sinceramente? – perguntou ele, com um sorriso insinuante.

– Claro – disse ela, recordando que devia agir com profissionalismo.

– Sou um homem e, como tal, a única razão pela qual usaria velas seria no caso de uma falha de eletricidade.

– Mas as velas são muito mais do que isso – disse. – Por exemplo, a Sedução é ideal para criar a atmosfera perfeita para... para...

– Para? – incitou-a Stefan, com expressão risonha.

– Para seduzir – concluiu Selene, arrependendo-se de lhe ter dado aquele nome.

– Tens provas de que funciona? – perguntou Stefan, com um tom perturbadoramente doce, ao mesmo tempo que a olhava com intensidade.

– Contaram-mo.

– Mas tu não o verificaste por ti mesma – afirmou, mais do que perguntou.

E Selene sentiu que o seu olhar a queimava.

– Experimentei a Descontração e a Energia.

– Mas não fizeste uma pesquisa de mercado da Sedução?

– Sim, mas não a nível pessoal.

Produziu-se um longo silêncio. Stefan pousou a vela e apoiou-se na secretária.

– Deixa-me explicar-te uma coisa sobre a sedução, Selene – disse, com uma sensualidade mais poderosa do que qualquer vela. – É muito mais do que uma palavra. Consiste em provocar e persuadir até enlouquecer alguém. É verdade que o aroma é importante, mas o da pessoa seduzida, combinado com o toque e o som.

Selene ficou sem fôlego.

– O som?

– Quando estou com uma mulher, gosto de ouvir os sons que emite. Gosto de ouvir o seu prazer, assim como de o sentir com os meus lábios e os meus dedos. Além disso, há o gosto... – a sua voz era cada vez mais sussurrante e os seus olhos cobriram-se de um véu aveludado enquanto acrescentava: – Gosto de saborear cada milímetro de uma mulher e de a incitar a saborear-me.

– A sério?

– Olfato, tato, audição, paladar... A sedução usa todos os sentidos. Consiste em apoderar-se do corpo e da mente de alguém até que perca os sentidos e fique reduzido a um estado elementar no qual só importe o presente.

Selene sentiu que a cabeça lhe andava à roda.

– Talvez devesse mudar o nome da vela.

– Tenho a certeza de que há muitos homens que recorrem a uma vela como complemento. Só que eu não sou um deles.

Selene tinha a certeza de que Stefan não necessitava de mais do que as suas mãos e a sua boca para seduzir uma mulher.

Ao dar-se conta de que lhe tremiam as mãos, entrelaçou-as com firmeza no regaço.

– Que tu não sejas meu potencial cliente não significa que o produto não tenha valor – satisfeita por ter encontrado um comentário apropriado, acrescentou: – Ensinar-me-ás o que preciso de saber? – ao ver que Stefan arqueava os sobrolhos, explicou precipitadamente: – Refiro a como gerir uma empresa.

– Tenho de te fazer uma pergunta.

– Claro. Queres detalhes do produto? São de uma qualidade excelente, feitas com cera de abelha, quase não produzem fumo, nem gotejam. O suporte é...

– Que interessante... – disse ele, com ironia. – Mas essa não era a minha pergunta.

– Suponho que queiras saber a minha projeção de lucro. O Hot Spa acaba de me encomendar cinco mil. Uma vez que és o seu dono, sabes que é a cadeia de hotéis mais exclusiva da Grécia.

Stefan pegou na vela e devolveu-lha.

– Também não era essa a minha pergunta.

Selene humedeceu os lábios.

– Desculpa, estou a falar demasiado. Costuma acontecer quando estou... – Selene pensou em «desesperada», mas disse: – animada.

– A minha primeira pergunta é porque queres montar um negócio. Estás entediada?

Selene teve de conter uma gargalhada histérica.

– Não.

– És uma princesa. Não necessitas de um negócio.

– Quero provar a mim mesma que posso fazê-lo.

Stefan olhou prolongadamente para Selene.

– O que me leva à minha segunda pergunta. Porque recorreste a mim em vez de ao teu pai?

Selene obrigou-se a manter o sorriso.

– Quero que seja o meu projeto, não do meu pai. E prefiro não ter de pedir favores – disse, embora a sua presença ali demonstrasse o contrário. – Não posso ir a nenhum banco sem que peçam permissão ao meu pai. Pensei em ti porque és a única pessoa que não domina. E porque me disseste que voltasse dentro de cinco anos.

Produziu-se um novo silêncio, durante o qual Selene temeu ter cometido um erro grave ao recorrer a Stefan. Levantou-se rapidamente e disse:

– Obrigada por me teres ouvido.

Stefan cruzou os braços.

– Não queres saber a minha resposta?

– Pensava que necessitarias de tempo.

– Já tive todo o necessário – disse Stefan, sem desviar o olhar dela.

Selene assumiu que a resposta era que não e sentiu-se abatida.

– Muito bem. Então...

– A resposta é que sim.

As palavras foram tão inesperadas, que Selene demorou a assimilá-las.

– A sério? Dize-lo a sério ou porque te dou pena?

– Absolutamente – disse ele, olhando-a fixamente. Em seguida, caminhou até à janela e acrescentou, olhando para o exterior: – És consciente de que o teu pai vai ficar furioso?

Óbvio que era. E o seu receio era pôr em perigo a segurança da sua mãe.

Selene sentiu o impulso de lhe contar a verdade, mas guardou silêncio. Duvidava que Stefan quisesse que lhe falasse da sua vida. Portanto, optou por dizer:

– Terá de aprender que sou uma pessoa independente.

– Portanto, é um caso de rebelião adolescente tardia?

Selene optou por não o contradizer.

– Sei que não tens medo dele e que a simples menção do teu nome o enfurece.

Selene achou notar uma certa tensão nos ombros de Stefan.

– Alguma vez te contou porquê? – perguntou ele.

– Claro que não. O meu pai não fala de negócios com mulheres. Terá de se habituar à ideia – a dor que sentia no braço recordou-lhe até que ponto se enfureceria com ela. – Não pensei que isto pudesse prejudicar-te, mas se te incomodar...

– Absolutamente – disse Stefan. E, voltando para a sua secretária, fez uma chamada e deu instruções ao seu departamento legal para que se fizesse o necessário para proporcionar um empréstimo a Selene.

Ela observou-o sem poder acreditar no que ouvia. Ia ser assim tão simples? O nó que sentia há tanto tempo no estômago começou a afrouxar e a ansiedade transformou-se numa euforia que gostaria de lhe mostrar dando saltos de alegria.

Alheio ao impacto que a sua decisão tivera, Stefan desligou e disse:

– Já está. A minha única condição é que trabalhes com um dos nossos assessores para que te ajude a negociar com os fornecedores e a calcular o investimento necessário.

Stefan olhava-a através das pestanas compridas e Selene pensou mais uma vez em como era bonito. Além disso, as pessoas estavam enganadas. Não era o ser cruel e frio que retratavam, senão um ser humano capaz de compreender e ajudar os outros. Gostaria de lhe dar um abraço, mas temeu que não fosse profissional.

– Eu... Muito obrigada. Não te arrependerás – disse. E aproximou-se dele com a mão estendida.

Ele apertou-lha com firmeza, mas o que não deveria ter sido mais do que a forma de selar um acordo transformou-se em algo mais e Selene pensou que lhe bastaria inclinar-se ligeiramente para o beijar. Horrorizada, baixou o olhar para as suas mãos, ainda unidas.

– Agora que a decisão está tomada – disse ele com doçura, – a questão é até onde estás disposta a chegar na tua busca de independência.

Selene, cuja imaginação estava ocupada com o que sentiria se aquelas mãos magníficas lhe percorressem o corpo, sentiu que o coração lhe disparava no peito.

– Porque o perguntas?

– Porque organizei uma festa esta noite e fiquei sem acompanhante. Queres celebrar o teu novo estatuto?

Selene olhou-o nos olhos e viu que brilhavam com um resplendor perigoso que lhe tirou o fôlego.

– Estás a convidar-me a ir contigo? – jamais tinha ido a uma festa por pura diversão, em que pudesse agir espontaneamente. Selene perguntou-se porque a convidava. – Se te dissesse que não, significaria que...?

– O empréstimo está concedido. Não mudaria nada.

Selene disse a si mesma que devia recusar-se, que teria tempo depois para celebrar. Humedeceu os lábios.

– Que tipo de festa é?

– De adultos. Não haverá gelados, nem presentes – disse ele, sorrindo.

– Estás a convidar-me a ser a tua acompanhante?

– Sim.

Selene sentiu-se ainda mais entusiasmada do que quando Stefan tinha acedido a ajudá-la. Assistir a uma festa com ele, como a sua acompanhante?

Devia dizer que não. Depois de conseguir a ajuda dele, o plano era voltar para Antaxos e persuadir a sua mãe a ir-se embora com ela antes que o seu pai voltasse. Não podia aceitá-lo, embora fosse o que mais desejava no mundo.

Por outro lado, porque não o aceitar?

Pela primeira vez na sua vida, era livre de tomar a decisão que quisesse. Por uma vez, o seu pai não podia ditar o que devia fazer ou pensar. Se queria ir a uma festa, nada a impedia. Não era esse o objetivo final de tudo aquilo? Viver a sua vida tal como queria?

Sentindo-se liberta, comentou:

– Não tenho o que vestir.

– Isso não é nenhum problema.

– Sempre tive a fantasia de ir a uma festa com um vestido vermelho e beber champanhe acompanhada de um homem bonito de smoking. Beberemos champanhe?

Os lábios de Stefan curvaram-se num sorriso tão sensual que Selene pensou que deveria ser proibido.

– Toda a noite – sussurrou.

– E também...?

Com um olhar de picardia nos olhos, Stefan aproximou a sua boca da dela.

– Se vais perguntar-me o que acho, a resposta é que sim, garanto-te.

Vida de sombras - Sombras no coração

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