Читать книгу Vida de sombras - Sombras no coração - Sarah Morgan - Страница 8

Capítulo 4

Оглавление

Stefan circulava entre os seus convidados.

– Vá lá, Stefan, quem é? – uma atriz de Hollywood com quem tinha namoriscado durante meses não escondeu a sua irritação ao saber que tinha uma convidada especial. – Espero que não seja Sonya.

– Não.

– Porquê tanto mistério? E porque continua no quarto em vez de vir?

– Deve estar exausta – resmungou alguém próximo.

Stefan limitou-se a sorrir, ao mesmo tempo que tirava um copo de champanhe que lhe oferecia um empregado.

– É uma mulher discreta e tudo isto é novo para ela – disse, seguindo o seu hábito de se aproximar o máximo possível da verdade.

Carys Bergen, uma modelo com quem tinha saído algum tempo, aproximou-se.

– És perverso. Quem é a mulher que vai aparecer como um coelho que tirasses da cartola?

Stefan foi à procura de Selene, deixando os seus convidados expetantes e pegando noutro copo de champanhe pelo caminho.

Quando entrou e não a viu, franziu o sobrolho.

– Selene?

– Estou aqui.

Ao virar-se, Stefan viu uma mulher vestida de escarlate que não tinha nada a ver com a jovem que deixara horas antes.

– Esse vestido fez-se com o propósito de que um pobre homem queira arrancar-to – sussurrou, reparando nas curvas deliciosas da sua cintura e dos seus seios que o vestido abraçava como uma luva.

Selene sorriu, encantada com a boa impressão que claramente lhe tinha causado.

– Ninguém te descreveria como um «pobre homem». E sei que andas sempre acompanhado de mulheres com vestidos espetaculares. Portanto, o que tem este de especial?

– A pessoa que o usa.

– Oh, senhor Ziakas, que galante!

Desconcertado por o seu galanteio ser recebido com uma brincadeira, Stefan deu-lhe o champanhe.

– Champanhe, um vestido vermelho e um homem de smoking. Penso que é a primeira vez que consigo tornar realidade os sonhos de uma mulher – comentou.

– Assim é. Obrigada – Selene provou o champanhe, fechando os olhos. – Sabe a festa – bebeu outro gole, seguido de outro.

Stefan arqueou os sobrolhos.

– Se quiseres recordar a noite, é melhor que bebas devagar.

– É delicioso. Adoro sentir as bolhas na língua. E a vantagem de ser independente é que posso decidir o que bebo.

– Como queiras, mas, embora adore que gostes do champanhe, não gostaria que a minha acompanhante acabasse inconsciente.

Ofereceu-lhe o braço e Selene, pousando o copo vazio, aceitou-o.

– Obrigada.

O seu sorriso amplo e sincero desconcertou Stefan, que estava habituado a um estilo mais manipulador e coquete. Selene não parecia ter nenhuma cautela, nenhuma proteção contra o mundo. Como se defenderia quando abandonasse o círculo protetor do seu pai?

– Porque me agradeces?

– Por acederes a ajudar-me, por me convidares para a festa e por te encarregares de que tivesse este vestido lindo. És o meu herói – Selene levantou a cabeça para o observar e acrescentou: – Já agora, estás muito bonito. Os dragões da Grécia devem estar encerrados nas suas cavernas para evitarem encontrar-se contigo.

– Os heróis não existem e é evidente que bebeste demasiado depressa – disse Stefan, enquanto pensava em pedir que o pessoal preparasse uma bebida sem álcool para que Selene não acabasse em coma alcoólico.

Ela deslizou o olhar para os seus lábios.

– És muito modesto – sussurrou. – As pessoas estão muito enganadas.

– E tu és muito inocente. E se estivessem certas?

Ignorando o comentário, Selene segurou-o pela lapela e puxou-o para si.

– Sabes o que acho? Que projetas essa imagem de mau para afastar as pessoas. Sobretudo as mulheres. Acho que receias a intimidade.

Stefan ficou estupefacto. Selene acabava de encontrar a única fresta por onde podia atravessar-se a sua armadura e tinha-lhe cravado uma adaga. Só podia ser uma casualidade. Nem ela nem ninguém conheciam o seu passado.

– Isso não é verdade, como penso demonstrar-te mais tarde. Portanto, não bebas demasiado ou adormecerás antes de chegar o melhor da noite – disse ele, com aspereza. E conduziu-a para a porta.

– Perdoa-me se te ofendi – disse ela.

– O que te faz pensar isso?

– Mudaste de tom de voz.

Stefan, que se vangloriava de não deixar transparecer nenhum sentimento, começou a suar. Por acaso, Selene tinha poderes?

– Não me ofendeste. Só que os convidados estão à nossa espera. Estás pronta?

– Sim, embora não saiba se pronta para que me odeiem.

– Porque dizes isso?

– Porque estou com o homem mais bonito da Terra. Todas as mulheres vão odiar-me, mas não te preocupes, sendo filha de Stavros Antaxos, habituei-me a não ter amigos.

Embora falasse com tom animado, Stefan recordou a noite no iate, quando a tinha encontrado quase escondida num canto, e como não soubera disfarçar a sua alegria quando ele se sentara ao seu lado.

– A amizade é um sentimento sobrevalorizado. Quando alguém quer ser teu amigo, costuma ser porque quer alguma coisa de ti.

– Isso não é verdade.

– Não queres acreditar nisso porque és uma idealista – Stefan abriu-lhe a porta.

– Queres dizer que a verdadeira amizade é impossível? – perguntou ela, dececionada.

– O que digo é que a tentação do dinheiro costuma ser muito poderosa e muda tudo – disse Stefan, sentindo que a cicatriz do seu coração se ressentia ao recordar até que ponto eram verdadeiras as suas palavras. – É melhor que não o esqueças.

– É o que tu fazes? Proteges-te para não sofrer?

Stefan, que mantinha sempre as conversas a um nível superficial, perguntou-se porque com Selene tendiam a adquirir uma nova profundidade.

– Eu vivo como quero. Neste momento, o que quero é ir para a minha festa. Vamos?

Toda a gente olhava disfarçadamente, por cima dos seus copos de champanhe, mas a expressão geral era a mesma: surpresa.

Sentindo-se como um pássaro recém-libertado da sua gaiola, Selene pegou noutro copo.

– Tens a certeza de que deves continuar a beber? – perguntou Stefan, franzindo o sobrolho.

– O lado bom desta noite é que posso tomar as minhas próprias decisões. Decidi vir à festa, vestir este vestido e beber champanhe.

– Fica sabendo que também estás a escolher ter uma terrível dor de cabeça amanhã.

– Não me importa – disse Selene, sorrindo. – O champanhe faz com que tudo seja mais interessante.

– O segundo copo, sim. A partir do terceiro, esquecerás como tudo foi interessante. Devias passar para o sumo de laranja.

– Quero verificar por mim mesma se me dará dor de cabeça ou não.

– Recordar-to-ei quando te sentires mal.

Selene riu-se animadamente.

– De quantos copos precisas para me beijar?

– Para isso não preciso de estar ébrio, koukla mou – disse Stefan, com olhos brilhantes.

– Então, porque não me beijas? – disse Selene, agarrando-o pelas lapelas e fechando os olhos.

Selene esperou com ansiedade o contacto dos lábios de Stefan nos seus, mas, em vez de a beijar, Stefan acariciou-lhe a face. Ela abriu os olhos, com o coração acelerado. Stefan agarrou-a então pela nuca e puxou-a para si.

– O que tens para que me seja impossível afastar-me de ti embora devesse fazê-lo? – perguntou ele, a milímetros do seu rosto.

Selene sentiu o desejo a explodir no seu ventre.

– Talvez isso aconteça porque estou a agarrar-te pelas lapelas? – brincou.

Mas Stefan não sorriu.

Expetante, Selene viu um brilho nos seus olhos e descobriu que um olhar bastava para provocar uma reação física quando o de Stefan lhe percorreu o corpo, convertendo-lhe o sangue em lava. O desejo de receber aquele beijo ameaçou sufocá-la. Até que finalmente sentiu o roçar dos lábios de Stefan, ao mesmo tempo que ele lhe deslizava a mão pelas costas e a puxava para si.

Selene sentiu o calor e a tensão que emanava dele e subitamente soube que atravessara a fronteira entre a fantasia e a realidade. Os olhos de Stefan perderam todo o brilho de diversão e refletiram uma pura e primária sexualidade masculina. E Selene soube que era ele quem controlava cada segundo daquele encontro: o tempo, a intensidade, inclusive as reações que queria conseguir dela.

Simultaneamente, soube que ter decidido explorar a sua sexualidade com aquele homem era como ter comprado um gato e descobrir que se tratava de um tigre. Em Stefan não havia rasto de mansidão. Todo ele era perigo. E representava tudo com que ela tinha sonhado todos aqueles anos quando imaginava a sua nova vida.

Rebobinando mentalmente, tentou afastar-se de Stefan, mas ele segurou-a com firmeza.

– Fecha os olhos, esponja de champanhe.

A ordem sussurrada penetrou nos ossos de Selene, que se sentiu como se tivesse saltado de uma prancha para águas turbulentas.

Então, sentiu o beijo de Stefan, experiente e sensual, a sua língua a acariciar-lhe os lábios, e entregou-se plenamente às sensações, até que a cabeça lhe andou à roda e a capacidade de pensar se diluiu.

Foi o momento mais excitante e perfeito da sua vida, e, ao abraçar-se ao pescoço de Stefan e sentir a evidência física de que estava excitado, o seu corpo tremeu. Saber que a desejava era tão embriagador como o champanhe.

– Porque não vão para um quarto? De certeza que o dono da villa vos emprestaria um.

Uma voz feminina atravessou a nebulosa em que Selene se encontrava. Ter-se-ia afastado de Stefan, sobressaltada, se ele não a tivesse segurado contra si.

– Carys, és muito inoportuna...

– Achas? – disse a mulher, sarcástica.

Desiludida pela interrupção, Selene olhou para a mulher, que era de uma beleza espetacular. Ela estendeu-lhe a mão.

– Sou Carys. E suponho que tu sejas Selene.

Desconcertou-o que a reconhecessem. Era uma possibilidade que nem considerara.

– Conhecemo-nos?

– Claro! O que estranho é que não estejas com os teus pais. São uma família tão unida...

Selene sorriu, impertérrita. Tinha muita prática naquele tipo de conversa.

– Prazer em conhecer-te.

– Igualmente – Carys levou o copo aos lábios, olhando Stefan com admiração. – Tenho de admitir que tens a genialidade de Maquiavel. Partida, largada, fugida, Stefan.

Selene, que intuiu que aquela conversa tivesse a ver com a sua relação, permaneceu em silêncio. Carys tirou dois copos da bandeja que um empregado lhe estendeu e deu-lhe um.

– A ti!

Selene recordou o conselho de Stefan, mas não conseguiu suportar a ideia de pedir um sumo de laranja diante de uma mulher tão sofisticada como aquela, portanto, aceitou o copo, brindou com Carys e bebeu. O álcool aqueceu-lhe o sangue e encorajou-a imediatamente. Queria dançar, mas, ao ver que a pista estava vazia, perguntou porque ninguém dançava. Carys olhou para ela com ironia.

– Dançar... acalora – disse em jeito de explicação.

– E isso é mau? – perguntou Selene, ao mesmo tempo que começava a mexer-se ao ritmo da música.

– Isso depende de ti, mas, se conseguires arrastar Stefan até à pista de dança, terás triunfado onde as demais fracassaram – disse Carys. E afastou-se.

– Odeia-me porque está louca por ti – disse Selene, seguindo-a com o olhar.

– Não és tão inocente como pareces – disse Stefan.

– Sou boa psicóloga.

Era uma das consequências de ter vivido a ler entrelinhas, interpretando emoções e intenções para poder antecipar as consequências. Abstraída, acabou o copo, que Stefan lhe tirou da mão e substituiu por um sumo.

– Aprende isto. O álcool faz sentir-te bem por cinco minutos, mas, se continuares, acabarás a chorar no meu ombro.

– Eu só choro de felicidade. E como me sinto extremamente feliz, deverias ter uns quantos lenços à mão – rindo-se ao ver a cara que Stefan fazia, Selene soltou-se dele e foi para a pista de dança.

Ele segurou-a pelos braços.

– Acabou-se o champanhe – disse.

– Chato...

– Faço-o pelo teu cérebro.

– Quero começar a minha nova vida – disse ela, mexendo-se ao ritmo da música.

Stefan continuou a agarrá-la.

– Mas não é preciso que a vivas numa noite.

Começou a tocar uma música mais lenta e Stefan agarrou Selene pela cintura. Ela suspirou e passou-lhe o braço pelo pescoço.

– Sabes quando um sonho se cumpre e a realidade supera todas as tuas expetativas?

Stefan acariciou-lhe os lábios.

– Não sei o que pensas acrescentar, mas está na altura de fechares a boca.

– Não admira que enlouqueças as mulheres, porque és verdadeiramente sensual.

Stefan abanou a cabeça com incredulidade.

– O que fizeste à rapariga tímida que chegou ao meu escritório?

– Acho que este é o meu verdadeiro eu, mas até agora não se manifestara.

Stefan sorriu com uma mistura de diversão e impaciência.

– Deveria temer-te?

– Tu não tens medo de nada. Foi por isso que recorri a ti. Sei que não é politicamente correto admiti-lo, mas acho que os homens fortes me excitam – sentindo-se enjoada pelo ambiente de festa e pelo champanhe, Selene apoiou a testa no peito de Stefan. – E, ainda por cima, cheiras maravilhosamente – acrescentou.

– Selene...

– E beijas como um deus. Deves ter praticado durante horas. Fico feliz por ter riscado uma das coisas da minha lista de desejos.

– Tens uma lista de desejos?

– Sim, dez coisas que queria que acontecessem quando deixasse a ilha para viver a minha vida. Ser beijada era uma delas e graças a ti cumpri-o com nota máxima. Outra é acordar junto de um homem verdadeiramente sensual – concluiu Selene, olhando para Stefan de soslaio e recebendo dele outro olhar de perplexidade.

– Isto é o que acontece quando uma filha demasiado protegida deixa o ninho. O que mais há na tua lista?

Selene apercebeu-se de que estava demasiado confusa para o recordar com precisão.

– Ser capaz de tomar as minhas próprias decisões. Sexo, é óbvio. Quero ter sexo selvagem e apaixonado.

– Com alguém em particular? – perguntou ele com ironia.

Selene sorriu.

– Sim, contigo. Sempre quis que fosses o meu primeiro homem – disse Selene, que não via a necessidade de mentir. – Espero não estar a pôr-te nervoso.

Stefan olhou-a com olhos brilhantes, mas o sorriso apagou-se dos seus lábios. A atmosfera mudara subtilmente.

– Acho que o champanhe está a falar por ti.

– Não. O champanhe só me ajudou. Vê-se que é bom para desinibir.

– Parece que sim – disse Stefan. Com um suspiro, agarrou-lhe a mão e, tirando-a da pista, levou-a por um caminho estreito que conduzia à praia.

– Onde vamos? Não andes tão depressa!

– Estou a tirar-te da festa antes que faças alguma coisa da qual possas arrepender-te – Stefan soprou quando Selene tropeçou e caiu em cima dele. – Não devia ter-te deixado beber aquele terceiro copo! – disse com aspereza. Em seguida, pegou-lhe ao colo e, como se fosse leve como uma pluma, desceu umas escadas. – Aqui vai outro conselho. Da próxima vez, para de beber enquanto conseguires andar em linha reta.

– Talvez não haja uma próxima vez. É por isso que quero aproveitar esta ao máximo. Quero viver o presente ou, pelo menos, estou a tentá-lo, mas não é fácil quando a pessoa que me acompanha não faz o mesmo.

– Theé mou... – com os dentes apertados, Stefan deixou-a na areia, onde ela se deixou cair.

Abanando a cabeça para focar a visão, ela tirou os sapatos.

– Sinto a cabeça a andar à roda. Da próxima vez, beberei mais devagar. E, se te atreveres a dizer-me «eu avisei-te», dou-te um murro.

Stefan soprou.

– És consciente do que poderia ter acontecido? Praticamente, ofereceste-te a mim.

– Eu sei e vê-se que não o fiz bem, porque estás a olhar-me com desaprovação. Não achas que uma mulher tem tanto direito como um homem a desfrutar do sexo?

Stefan suspirou lentamente.

– Certamente – disse.

– Então, porque me olhas com essa cara de zangado? E eu que esperava que fosses tão mau como dizem... – disse ela, deitando-se na areia.

Stefan soprou mais uma vez.

– Devias agradecer que uma das minhas regras seja não ter relações com uma mulher bêbada! Endireita-te. Não posso falar contigo se estiveres deitada como se fosses uma estrela-do-mar!

– Porque é que todos os homens me comparam a animais? O meu pai chamava-me girafa. Agora, tu chamas-me estrela-do-mar. No dia em que me chamarem baleia, suicido-me.

Com um gemido de exasperação, Stefan inclinou-se e, agarrando-a pelos braços, obrigou-a a pôr-se de pé. Ela caiu contra o seu peito.

– Isto não está a correr como pensava – disse Stefan, depois de um momento de silêncio em que só se pôde ouvir o marulhar das ondas e a respiração de ambos.

– A quem o dizes... Com todas as coisas que pensava que podiam acontecer a uma rapariga com um vestido como este, afinal só recebi um beijo espetacular e um sermão.

Stefan agarrou-a com força.

– Deverias estar agradecida pelo controlo que estou a exercer sobre mim mesmo.

– Pois, não estou. De facto, daria qualquer coisa para que te deixasses levar pelos teus instintos mais primários.

Stefan resmungou algo entredentes e em seguida, agarrando-lhe o rosto com ambas as mãos, beijou-a. Ela sentiu uma corrente elétrica a percorrer-lhe o corpo, a penetrar os seus ossos e a deixá-la sem forças. Quando Stefan lhe abriu os lábios com a língua e explorou a sua boca, no seu baixo-ventre explodiu uma bola de fogo. Stefan continuou a beijá-la lentamente, até que Selene perdeu a noção de tudo, inclusive de si mesma.

No preciso instante em que pensava que o seu sonho por fim se tornaria realidade, Stefan interrompeu o beijo e ela sentiu-se perdida. Olhou para Stefan na penumbra e foi plenamente consciente do contraste que havia entre eles. Ele era força e virilidade, enquanto ela, embora sendo alta, mal lhe chegava ao ombro. Sem pensar, estendeu a mão e acariciou-lhe a face, o que arrancou um suspiro profundo a Stefan.

– Vou levar-te para o quarto – disse ele.

– Sim. Leva-me para que possamos experimentar aquela cama gigantesca. Despe-me e faz-me coisas perversas – sussurrou ela, enquanto lhe acariciava os braços. – És muito forte.

– O suficiente para impedir que faças alguma coisa da qual te arrependerás amanhã.

– Vês? Supõe-se que és mau, mas és bom. Lamento dizê-lo, mas eu avisei-te. No fundo, és uma boa pessoa. Embora neste momento... – Selene conteve um bocejo. – Neste momento, desejaria que não fosses.

– Cala-te, Selene. Para de dizer tudo o que pensas.

– Passei toda a vida a calar o que penso – disse ela e conteve uma exclamação quando Stefan se inclinou e lhe pegou ao colo.

Com expressão severa, Stefan levou-a por um caminho privado para a villa.

Quando passaram junto da piscina, ela sussurrou:

– Este sítio é tão romântico... – olhou para a superfície espelhante da água e pensou que era um lugar mágico. O muro que a rodeava estava coberto de plantas exóticas e ouvia-se o murmúrio de uma fonte. – Desde quando vives aqui?

– Há muito tempo – resmungou ele, com aspereza. – Consegues andar ou levo-te ao colo?

– Prefiro continuar nos teus braços – disse ela, agarrando-se com força ao seu pescoço. – Quero que me leves para a cama e que me ensines tudo sobre a sedução. Podemos considerá-lo pesquisa de mercado.

– Como estás, amanhã não te lembrarás de nada.

– Se preferires, tomarei notas. Prometo concentrar-me e aprender alguma coisa. Não terás de me repetir nada.

– A primeira coisa que tens de aprender é que nunca deves beber demasiado. Da próxima vez que te oferecerem uma bebida, escolhe uma sem álcool – olhando-a com desaprovação, Stefan deixou-a no meio da cama e deu instruções em grego a uma mulher que entrou com eles.

Selene virou-se de lado e murmurou:

– Passas o tempo a dar ordens. Alguém te diz alguma vez que não?

– Trabalham para mim. Pedi que te trouxessem um café.

– Se beber café tão tarde, não conseguirei dormir. Também dás ordens na cama? – Selene endireitou-se e apoiou o queixo nos joelhos. – Tira a roupa... Deita-te assim... – acrescentou, imitando uma voz grave.

– Cala-te – disse Stefan, com tom severo.

Selene observou-o com aberta admiração.

– Posso perguntar-te uma coisa?

– Não.

– Alguma vez estiveste apaixonado?

– Selene, fecha essa boca linda e cala-te – disse Stefan. E, tirando o casaco, pendurou-o na cadeira mais próxima.

– Deduzo que não – Selene deixou-se cair sobre as almofadas. A cabeça andava-lhe à roda. – Eu quero estar apaixonada, mas quero que ele também me ame. Nunca estaria com alguém que não me amasse.

– Qual é o objetivo dessa conversa?

– Que me conheças melhor.

– Não preciso. Já sei tudo o que necessito.

– Portanto, és um homem que não acredita no amor... Certamente, para ti é só um mito, como o minotauro ou a lenda da Atlântida.

– Selene, para de falar – Stefan tirou o laço com impaciência. – Vai à casa de banho e toma um duche frio. De certeza que te ajudará.

Selene deitou-se de barriga para baixo e apoiou o queixo nas mãos.

– Sabes o que falta a este quarto? Velas perfumadas. Os estudos demonstram que um homem tem muito mais hipóteses de se deitar com uma mulher se tiver velas perfumadas.

Stefan apertou os lábios.

– Tu não sabes nada disso.

– Estou a fazer o possível para aprender, mas tu não me ajudas – tentando ignorar o enjoo que sentia, Selene disse, insinuante: – Beija-me. E desta vez não pares.

Stefan ficou paralisado e o seu olhar velou-se.

– Estás a brincar com o fogo.

– Preferia brincar contigo... – ao ver a cara de exasperação de Stefan, Selene riu-se. – Para um homem sofisticado com uma reputação terrível, és muito comedido.

– É o que costuma acontecer-me quando uma mulher bêbeda me diz que quer amor – disse Stefan, desabotoando o primeiro botão da camisa sem desviar o olhar de Selene.

– Não estou bêbada e não quero amor. Só quero sexo – disse Selene veementemente. – Sexo selvagem. Não te preocupes. A seguir, podes ir-te embora e não voltar a falar disso. Será o nosso segredo.

A atmosfera transformou-se bruscamente. Por um instante, Selene pensou que Stefan ia sair do quarto, mas, em vez disso, ficou a olhá-la fixamente, como se estivesse a tomar uma decisão.

Justamente quando Selene pensou que não ia fazer nada, ele caminhou para a cama com passo firme. Ela sentiu um aperto no estômago e o mais delicioso nervosismo.

– Diz alguma coisa... – sussurrou, endireitando-se.

– Já dissemos tudo o que era preciso – disse Stefan com voz grave, ao mesmo tempo que desabotoava a camisa com determinação.

Surpreendida, Selene deslizou o olhar pelo seu peito, pelos seus braços, pelo seu ventre...

– Eu... Eu...

– Selene, fizeste-me um convite e estou aqui para o aceitar. Não era o que querias? – disse Stefan.

E, sem desviar o olhar dela, levou a mão ao fecho das calças.

Vida de sombras - Sombras no coração

Подняться наверх