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Capítulo 3

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– Como conseguiste estes vestidos com tanta rapidez? E como adivinhaste o meu tamanho? – perguntou Selene ao encontrar-se diante de um cabide com os vestidos mais bonitos que vira na sua vida. Tinha conseguido sossegar a parte da sua mente que lhe dizia que estava a cometer uma imprudência e queria desfrutar do momento.

Maria tirou uma mala do embrulho de papel de seda.

– As pessoas reagem rapidamente às ordens de Stefan. É muito importante – disse. – Que tal escolheres um?

– Foi muito amável ao deixar que me ajudasses – disse Selene, mas, ao ver a cara que Maria fez, acrescentou: – Não te parece amável?

Maria tirou uns sapatos de uma caixa.

– Não é um adjetivo que alguma vez tenha usado para o descrever.

– Como homem de negócios, é lógico que tenha de ser severo, mas foi muito amável comigo.

Maria deixou os sapatos no chão, diante de Selene.

– Ainda bem. Qual vais provar primeiro? Stefan está numa reunião, mas, assim que acabe, quererá que se vão embora.

– O vermelho – disse Selene, sem hesitar. – É lindo – acrescentou, acariciando o corpete com lentejoulas escarlates. – Parece-te excessivo?

– Não. É uma festa muito elegante – Maria olhou prolongadamente para ele e perguntou: – De certeza que não queres provar o azul?

– Receias que o vermelho não seja do agrado de Stefan?

– Pelo contrário, receio que goste demasiado – depois de uma breve hesitação, Maria acrescentou: – Selene, tens a certeza de que queres ir à festa?

– Se quero ir? Estou desejosa! Não tens ideia de como a minha vida é aborrecida. No entanto, hoje vou usar um vestido lindo e beber champanhe com Stefan.

– Desde que saibas que é só isso... – Maria pigarreou suavemente. – Stefan é o sonho de qualquer mulher, mas depressa pode converter-se num pesadelo. Não tem a mínima intenção de se comprometer. Sabes isso, não sabes? És uma rapariga encantadora e eu não gostaria que sofresses.

Selene ficou paralisada. Ela sabia bem o que era sofrer e não se parecia em nada com o que sentia naquele momento.

– Não te preocupes. Só vou divertir-me por uma vez na vida.

– Porque não costumas ir a festas?

– Tenho um pai muito controlador – Selene apercebeu-se de que dissera mais do que devia. Pegando no vestido, perguntou: – Onde posso prová-lo?

– Aqui tens roupa interior – disse Maria, dando-lhe duas caixas. – Vai para o meu escritório e chama-me quando precisares de mim.

Uma hora mais tarde, Selene era dona de um vestido de noite lindo, assim como de uma muda de roupa, para passar a noite numa villa exclusiva numa ilha grega. Pela frente tinha a noite mais empolgante da sua vida.

E ainda teria tempo para voltar e convencer a sua mãe a ir-se embora com ela antes que o seu pai regressasse a Antaxos.

– Não podes levá-la à festa. É imoral.

Stefan levantou o olhar e descobriu Maria diante da sua secretária.

– Lembras-te de que foste tu quem a deixou entrar? – perguntou ele, pousando alguns papéis.

– Falo a sério, Stefan. Leva alguém mais do teu tipo.

– Mas esta manhã disseste-me que devia mudar. Vê se te decides.

– Não te disse para seduzir uma rapariga inocente.

– É adulta e sabe o que faz – Stefan pegou numa caneta e continuou a ler documentos.

– É uma idealista. Acha que és amável.

– Eu sei – disse Stefan, sorrindo, enquanto assinava na última página. – Por uma vez, sou um bom homem. Trata-se de um papel novo para mim e não imaginas como me agrada.

– Estás a brincar com ela como se fosse uma boneca – Maria apertou os lábios. – Manda-a para junto do seu pai.

Stefan esforçou-se para que o seu rosto não refletisse as emoções que se agitavam no seu interior à mera menção daquele homem. Pousou devagar a caneta.

– Sabes quem é o seu pai?

– Não, embora tenha dito que é muito controlador.

– É uma maneira de dizer que é um tirano. O seu pai, Maria, é Stavros Antaxos – Stefan viu que Maria empalidecia. – Sim – Stefan notou a tensão da sua voz e incomodou-o mostrar-se alterado apesar de praticar há duas décadas para controlar aquela reação.

– Como pode um homem como aquele ter uma filha tão encantadora como Selene?

Stefan perguntava-se o mesmo.

– Deve sair à sua mãe.

Maria parecia preocupada.

– E porque recorreu a ti, se vem de uma família rica?

Stefan também se perguntava o mesmo.

– Não sabias que sou o primeiro homem em que as mulheres pensam quando têm problemas?

– Tu és o homem que os causa.

– Ai, isso doeu... – Stefan recostou-se e esticou as pernas. – Aqui me tens, de espada em riste, disposto a matar o dragão para salvar a donzela, e só te ocorre afetar a minha confiança em mim mesmo.

Maria não sorriu.

– É o que estás a fazer? Porque o que me parece é que estás a usar a donzela para provocar o dragão.

Stefan manteve o sorriso.

– Quando fizemos as distribuições de papéis na empresa, o de cínico calhou-me a mim, não a ti.

– Tudo se contagia. Selene sabe como o seu pai te odeia? Conhece a história?

Ninguém a conhecia. Nem sequer Maria, que só tinha uma versão parcial e pensava que se tratava de uma rivalidade puramente empresarial. Não tinha ideia de como a inimizade era antiga, nem da profundidade das cicatrizes.

– Foi precisamente por isso que me escolheu a mim, pela minha relação com o seu pai.

Maria olhou para ele com desaprovação.

– E não está a ir de mal a pior?

– Insinuas que sou pior do que Antaxos? Não parece que tenhas uma boa imagem do teu chefe.

– Não estamos a falar de trabalho. Como empresário, és magnífico, mas és deplorável com as mulheres. O que pensas fazer com ela, Stefan?

– Tu deverias saber que não faço planos no que diz respeito às mulheres. Planear implica um futuro e ambos sabemos que só penso no presente. Acedi a apoiá-la no seu negócio e vou levá-la a uma festa onde pretendo conseguir que se divirta como nunca em toda a sua vida. Tem vinte e dois anos e quer ser independente. Pode tomar as suas próprias decisões.

– Não tem nenhuma experiência. Não será que queres ajudá-la precisamente para enfurecer o seu pai?

Stefan sorriu.

– Tenho de admitir que é um benefício acrescentado.

– Selene preocupa-me, Stefan.

– Ela recorreu a mim e eu limito-me a ajudá-la. Não me lembro de alguma vez te teres preocupado tanto com uma mulher da minha vida.

– Porque normalmente se bastam por si só.

– Talvez tenha chegado a altura de mudar – Stefan pôs-se de pé para dar a conversa por terminada. – Quando estará pronta? Suponho que esteja a provar todos os vestidos.

– Não demorou nem cinco minutos a decidir-se.

Dado que estava habituado a mulheres que demoravam horas a escolher o que vestir, Stefan surpreendeu-se.

– Cada vez gosto mais dela – disse.

– Tem uma excelente opinião de ti.

– Eu sei – Stefan dirigiu-se para a porta e Maria seguiu-o com um sopro de frustração.

– Não tens consciência?

– Não – limitou-se a dizer, enquanto vestia o casaco.

Quando Stefan tinha mencionado a sua villa, Selene não tinha imaginado uma mansão espaçosa rodeada de relvados perfeitos. Tratava-se de uma peça de arquitetura moderna, de tetos altos e espaços amplos, onde o chão de mármore refletia as cores quentes mediterrânicas, convertendo o interior num luxuoso, mas elegantemente sóbrio santuário.

Um alpendre emparrado dava acesso a um jardim profusamente colorido que descia até uma praia de águas calmas e cristalinas.

– Agora entendo porque as ilhas gregas são um destino turístico – comentou Selene.

Stefan olhou para ela com curiosidade.

– Por acaso, duvidavas?

Selene contemplou as águas turquesas e pensou que tinha passado de uma vida a preto e branco a outra em tecnicolor.

– Antaxos não tem nada a ver com isto. A sua costa é rochosa e quase não há praias – disse, recordando o rumor de que uma mulher local se apaixonara pelo seu pai e se suicidara saltando de uma das escarpas. – A casa do meu pai é de pedra e tem janelas pequenas. Supõe-se que para a proteger do calor, mas o facto é que é sombria. É por isso que gosto de como esta é luminosa e alegre.

– Alegre? – Stefan olhou para a villa. – Achas que as casas têm estados de espírito?

– Claro, tu não?

– Eu penso que um edifício é um edifício.

– Que ideia! Um edifício pode mudar o ânimo de quem o habita – Selene estendeu os braços. – Todo este espaço faz sentir-me livre. Sinto-me como se pudesse voar – acrescentou, mexendo os braços e girando.

Stefan segurou-a ao ver que perdia o equilíbrio.

– Pelas fotografias que vi, a casa de Antaxos é um castelo – comentou.

Selene sentiu a força dos seus dedos no braço.

– Mas não se parece em nada com esta. O meu pai não gosta de gastar dinheiro em coisas materiais.

– Há alguma coisa de que o teu pai goste?

«De magoar as pessoas», pensou Selene, mas procurou outra maneira de o expressar.

– De ganhar – disse.

– Isso é verdade – disse Stefan, largando-lhe bruscamente o braço.

Stefan sabia-o porque era um dos seus adversários, mas Selene viu algo obscuro nos seus olhos, que indicava uma coisa mais profunda.

– Odeias o meu pai, não é verdade?

– Digamos que não é uma das minhas pessoas favoritas.

O sorriso e o tom ligeiro do comentário não enganaram Selene. Stefan era tão implacável como o seu pai e, embora sabê-lo lhe produzisse inquietação, tentou ignorar a voz interior que questionava a decisão de ter recorrido a ele.

Seguiu Stefan através de várias divisões, todas brancas e com vista do mar, até chegar a um quarto.

Selene olhou à sua volta, extasiada.

– Que maravilha! Tem acesso à piscina e vê-se o mar da cama! É o meu quarto?

Stefan virou-se para ela com um sorriso felino.

– É o meu quarto – disse com doçura, ao mesmo tempo que afastava uma madeixa de cabelo do rosto de Selene, – mas vais partilhá-lo comigo, koukla mou.

Selene sentiu que o coração lhe acelerava, tanto pelo roçar dos dedos de Stefan, como pela antecipação do que ia acontecer.

– A cama parece muito cómoda.

– É. Infelizmente, só poderás verificá-lo mais tarde.

– Não me referia a isso.

– Eu sei. Adoro a tendência que tens a falar sem pensar.

O surpreendente para Selene era que o seu comportamento habitual era o oposto. Em sua casa, tinha atenção a cada palavra que dizia e não o fazer era libertador.

– A partir de agora, fecharei a boca.

– Não o faças – disse ele, fixando o olhar nos seus lábios.

Selene sentiu o coração a bater-lhe com força no peito e viu que ele curvava os lábios num sorriso tentador.

– Não – disse Stefan, com doçura. E perante o olhar interrogador de Selene, acrescentou: – Não vou beijar-te ainda. Há coisas que não devem fazer-se precipitadamente e a tua primeira vez é uma delas.

Selene não se sentiu intimidada por saber que era virgem e não se incomodou em negá-lo. Sentia uma corrente elétrica a percorrer-lhe o corpo e calor na pélvis. Ansiava tanto que Stefan a beijasse, que não sabia como conseguiria esperar toda a noite até que o fizesse.

– Talvez não me importe a precipitação – disse.

– Tens de ter mais cuidado com os homens – disse ele, olhando-a fixamente e acariciando-lhe os lábios com o polegar.

– Não sinto que precise de ser precavida contigo. Confio em ti.

– Não o faças.

– Porque não? – perguntou Selene, com firmeza. – És o único homem que não teme o meu pai.

Produziu-se uma longa pausa. Stefan inclinou a cabeça até apoiar a sua testa na de Selene.

– Ainda estás a tempo de mudar de ideias – disse, acariciando-lhe o rosto com o seu fôlego.

– Não penso mudar de ideias.

– Talvez devesse cancelar a festa e organizar uma privada só para nós os dois – disse Stefan, com o olhar velado.

Selene sentiu um aperto no estômago. Estava à beira de uma escarpa e devia decidir se saltava, mesmo correndo o risco de se afogar.

– Se não for à festa, não poderei usar o vestido.

– Poderias vesti-lo para mim – disse Stefan, com um sorriso provocador. – E eu tirar-to-ia.

– Não te parece que seria um desperdício?

– O vestido é só uma embalagem. Interessa-me mais o conteúdo – Stefan acariciou o pescoço de Selene com delicadeza. Naquele momento, o seu telemóvel tocou e, com um sorriso, disse: – Talvez seja melhor assim. Os convidados chegarão daqui a duas horas e, como a Cinderela, tens de te arranjar.

– Quanto tempo achas que necessito? – perguntou Selene, surpreendida.

– Pela minha experiência, as mulheres demoram anos a arranjar-se. Por isso, como uma boa fada-madrinha, pedi que viessem ajudar-te – o telefone continuava a tocar e Stefan tirou-o do bolso. – Desculpa, mas tenho de atender – disse e saiu.

Selene ficou sozinha, no meio do quarto. Abraçando-se, olhou, trémula, para a cama. Era enorme e luxuosa. Do dossel pendiam cortinas de gaze que lhe davam um ar de conto de fadas. Tirou os sapatos e deitou-se, recostando-se nas almofadas. Era como estar numa nuvem. Nunca se tinha sentido tão livre como naquele instante. Ninguém a observava, ninguém lhe dizia o que devia fazer.

Exultante de felicidade, levantou-se para explorar o quarto e descobriu uma casa de banho espetacular, com uma parede de vidro que permitia ver o mar da banheira.

Decidida a satisfazer um capricho, tirou as suas velas e o sabonete da mala e tomou um banho.

Não era ingénua ao ponto de não saber o que ia acontecer. De facto, andava há anos a fantasiar com Stefan e que fosse o seu primeiro homem era perfeito.

«Em breve, vou aprender tudo o que devo saber sobre a sedução», disse a si mesma.

Acabava de se enrolar numa toalha quando bateram à porta e duas mulheres carregadas com várias maletas entraram energicamente.

– Olá, Selene, sou Dana, a tua cabeleireira. E esta é Helena, a maquilhadora – disse uma delas, enquanto fechava a porta.

– Não tenho maquilhagem – disse Selene. O seu pai desprezava tudo o que tivesse a ver com vaidade. Só tinha acedido a pôr-lhe o aparelho porque o dentista lhe dissera que a longo prazo seria mais económico.

– Fica descansada. Nós temos tudo o que é necessário – disse Dana, abrindo uma das maletas.

– Podem fazer alguma coisa pelas minhas sardas e pelas minhas pestanas?

– Estás a brincar? – disse Helena, observando-a de perto. – Tens umas pestanas compridas e densas...

– Sim, mas tão claras que mal se veem. E sou muito sardenta.

– Foi para isso que se inventou o rímel – disse Helena. – E não tens nada de sardenta.

– Mas, primeiro, o cabelo – Dana colocou uma cadeira no meio do quarto. – Não deves olhar-te ao espelho até que acabemos. Eu não gosto de estragar o fator surpresa.

Selene estremeceu ao ver uma madeixa de cabelo a cair ao chão.

– Vais cortar-mo!

– Não, só vou cortar as pontas e escadeá-lo. Stefan proibiu-me de to cortar porque diz que o adora.

Selene ficou vermelha. Stefan gostava do seu cabelo!

– Está muito saudável – acrescentou Dana, enquanto trabalhava com habilidade e se desviava de Helena, que começara a fazer-lhe a manicura.

Depois de lhe secar o cabelo, Dana fez-lhe um penteado com o qual pareceu ficar muito satisfeita.

– E, agora, a maquilhagem.

– Apagar-me-á as sardas? – insistiu Selene.

– Para quê? Dão-te um toque encantador – Helena passou-lhe os dedos pelo rosto. – Tens uma pele maravilhosa – comentou. E abriu vários frascos. – Que produto de limpeza usas?

– O sabonete que faço eu mesma – disse Selene, tirando um da sua mala. – Experimenta-o. Também faço velas, mas Stefan não acredita que haja gente interessada.

– Como vai sabê-lo se é um homem?

Selene sorriu enquanto Helena cheirava o sabonete.

– Cheira maravilhosamente. E a tua pele é a melhor publicidade – Helena guardou-o na mala. – Vou experimentá-lo – em seguida, virou-se para Selene e acrescentou: – Não vou maquilhar-te muito. Tens um ar fresco e natural que não quero estragar.

Selene teve a sensação de que passavam horas e começou a impacientar-se. Até que, finalmente, Helena retrocedeu para a observar.

– Meu Deus, que bem que faço o meu trabalho! Estás espetacular, mas, antes de te veres ao espelho, veste-te, assim o efeito será completo – com um sorriso, acrescentou: – Quase sinto pena de Stefan.

Vida de sombras - Sombras no coração

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