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O aprendizado assimilado da “sabedoria”

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Reencontramos Angel na parte referente à sala descansado sobre uma cadeira. Abraçamo-nos, e ele nos convida a sentar também. Quando ficamos frente a frente, o mesmo inicia um diálogo.

—E aí? Poderiam me contar sobre as experiências vividas nesta primeira etapa?

—Seguimos seu conselho e pegamos uma trilha rumo ao nordeste. Depois de muito esforço, chegamos ao local indicado mas por um bom tempo nada aconteceu. Depois de fecharmos os olhos, um milagre acontece ,o cenário muda, e três estranhos nos propõem um enigma.Com apenas cinco minutos de prazo para pensar, conversamos entre si e no final chegamos a um denominador comum. Mesmo sem ter certeza,respondi,entramos em contato com o primeiro dom do espírito e confesso que foi maravilhoso. Tive então uma visão que complementou meus conhecimentos. (Eu, o vidente)

—Eu o acompanhei durante todo o processo e confesso que foi realmente difícil chegar a uma solução em tão pouco tempo. Mas tínhamos um pouco de experiência, usamos o bom senso e encontramos uma resposta entre várias possíveis. Tudo valeu a pena pois reciclamos os velhos conhecimentos e criamos novos. (Complementou Renato)

—Muito bem. Estão de parabéns os dois. Agora que estão transformados, poderiam me dizer o que é sabedoria? (Indagou o anfitrião)

—É o dom do espírito responsável em nós pela criação,reflexão,capacidade de aprendizado e que interliga os sentimentos e funções do cérebro. É um dom necessário para evolução humana,social,moral,espiritual que nos faz aproximar de Deus. Sempre procurada e desejada pelos mortais desde os inícios dos tempos ela se mostra aos mais simples, humildes e excluídos de nossa sociedade. (Eu, o vidente)

—A sabedoria me guia nas escolhas, nos meus sonhos e projetos de vida. Nos momentos decisivos, a consulto interiormente e ela com a função de seta me mostra como posso ajudar. Em suma, ela é o mapa que devemos seguir a fim de alcançar o sucesso. (Renato)

—ótimo. Agora que descobriram este dom, já podem ter uma visão mais ampla de tudo que acontece ao redor de vocês e antes não percebiam. Já podemos iniciar o treinamento. Querem continuar descobrindo os dons? (Pergunta Angel)

—Com certeza. Não estamos aqui por acaso. O que devemos fazer? (Pergunto)

—Estamos preparados. (Concorda Renato)

—Primeiramente, enquanto preparo o almoço, limpem a casa. Este exercício fortalece os músculos e ocupa a mente. Depois de nos alimentarmos, é que explicarei o que devemos fazer. Está bem? (O mestre)

—Tudo bem. Aceitamos. (Respondemos em coro)

Angel se encaminha a pequena cozinha, junto ao fogão de lenha cuidando dos alimentos enquanto eu e Renato pegamos a vassoura, a pá e um pano úmido para auxiliar-nos na limpeza. Ao começar os trabalhos, nos distraímos um pouco e lembramos da aventura anterior. Quantas vezes não tivemos que ajudar os piratas nos trabalhos domésticos? Tínhamos limpado o navio, lavamos louça e tudo tinha sido um grande aprendizado apesar do medo do desconhecido e da fama que os piratas tinham. Com o tempo, descobrimos que eram pessoas maravilhosas e comuns.

Agora, estávamos convivendo com Angel, um homem quase centenário, homossexual assumido, detentor dos dons do espírito santo, que criara história numa época cheia de preconceitos e de autoritarismos das elites. Desde o início, admirávamos sua coragem ,simpatia e conhecimento. Certamente ele poderia nos ajudar em nosso caminho.

Continuamos a limpar e seguimos atento a todos os detalhes. Organizamos a bagunça, espanamos os poucos móveis e varremos todos as partes da pequena casa. Por último, retiramos o excesso de barro do piso. Ao terminar, Angel dá um pequeno grito e nos chama à cozinha. Com alguns passos, chegamos no destino, sentamos à mesa e o anfitrião gentilmente começa a nos servir. Almoçamos um pouco de arroz, feijão verde, farinha de mandioca, tomates e galinha de capoeira. Estávamos cansados e com muita fome. Por isto, terminamos de comer em menos de quinze minutos. Adoramos a comida. Angel tinha realmente um talento especial para culinária. Depois dum breve silêncio, puxamos conversa.

—Em que consiste este treinamento? É muito difícil? (Pergunto)

—A partir do segundo dom, os desafios serão maiores e antes de enfrentá-los quero repassar um pouco do que aprendi com a vida para vocês. Mas não se preocupem, não é eliminatório. O objetivo é aumentar o leque de conhecimento de vocês para que tomem as decisões certas nos momentos certos. (Angel)

—Entendi. Quando iremos começar então? (Renato)

—Agora mesmo. Peguem um pouco de alimento e água e iremos para o sudoeste do sítio. (ordenou o chefe)

Obedecemos Angel . Quando estamos com tudo pronto, saímos da casinha de sapê procurando a trilha mais próxima que nos leva a direção. Ao encontrá-la, aumentamos o nosso ritmo. O que aconteceria daqui por diante? Continuem acompanhando, leitores.

O começo da caminhada nos desperta a curiosidade. Apesar de continuarmos andando num ritmo rápido, temos tempo para apreciar a natureza, o clima, e a presença do nosso mestre. A cada passo e a cada nova paisagem, não cansamos de perguntar a nosso guia e ele nos explica tudo, numa grande viagem no tempo.Com as informações, imaginamos as situações como se fossem atuais e isto nos proporciona um pouco de prazer e angústia também. Onde estaria este povo sofrido do nordeste do início do século XX? O que estivessem vivos, como Angel, se deparavam com um mundo tecnológico, cheio de invenções, mas ainda atrasado moralmente. Os que estivessem mortos, estariam distribuídos entre as três esferas espirituais existentes de acordo com a conduta de cada um durante a vida:Inferno, céu e cidade dos homens. Mas a vida continuava de uma forma ou de outra.

Continuamos a caminhar.Avançamos na trilha e ,em dado momento ,Angel pede para pararmos. Ele pede a mochila emprestada, tira a garrafa d’água e bebe um pouco. Pede que façamos o mesmo. Aproveitamos o intervalo para conversar um pouco sobre assuntos gerais. Quando nos recuperamos totalmente, retomamos a trilha. Caminhamos mais um bom tempo sem perguntas ou questionamentos. Apenas seguindo os passos do mestre atual assim como fizemos das outras vezes. Depois de mais de uma hora de caminhada, temos acesso a uma pequena fileira de casas, cerca de cinquenta, separadas umas das outras. Continuamos seguindo nosso mestre e ele nos leva a uma casa simples, de alvenaria, estilo casa, e de no máximo cinquenta metros quadrados. Ele bate à porta, esperamos um pouco, e de dentro sai uma senhora bem idosa, baixa, cabelos pretos e olhos castanhos claros. Ela se mostra surpresa, se aproxima com dificuldade, e ao chegar mais perto dá um grande abraço em Angel. Ela nos convida a entrar, nós aceitamos e ficamos um tempo sem entender até que são feitas as apresentações.

—Marcela, estes são meus discípulos:Aldivan, o vidente, (neto do nosso companheiro Vitor) e Renato. Trouxe-os aqui para que pudesse conhecê-los e conversar um pouco com eles. Marcela era uma das integrantes do nosso grupo de justiceiros— Explicou Angel.

—Muito prazer, Marcela. (Respondemos em coro)

—O prazer é todo meu, queridos. Quer dizer então que estão se submetendo a um treinamento com Angel? Estão de parabéns pela coragem. Certamente o que aprenderem serão de grande valia para o resto de suas vidas. Hoje, está tudo mais fácil. Antigamente, não, tivemos que batalhar muito para conseguir alguns avanços. (Constata Marcela)

—Poderia nos contar um pouco sobre sua época? (Pergunto)

—Um pouco. Prefiro lembrar apenas das coisas boas e das conquistas. Eu, Angel, Vitor, Rafael, Penelope, Cardoso e outros formávamos um grupo de justiceiros contra a demanda das elites da nossa época. Lutávamos contra as injustiças em geral, em defesa dos pobres, dos excluídos e dos marginalizados. Atuamos um bom tempo, conscientizamos a população em geral e alcançamos vitórias e derrotas. Mas era um tempo cruel, de repressão e só depois de muito tempo tivemos resultados concretos. O mais importante é que fomos felizes ou quase todos.

Após dizer isso, uma leve expressão de tristeza no rosto já enrugado de Marcela apareceu. Sentimos o clima um pouco pesado.

—Desculpe-me por fazê-la sofrer. Não sabia das suas mágoas. (O vidente)

—Tudo bem. Faz parte. E você meu jovem, está gostando do passeio ao sítio? (Referindo-se a Renato)

—Estou. Apesar de que não considero um passeio e sim um trabalho junto ao meu companheiro de aventuras—Respondeu ele.

—Marcela, poderia lhes falar da sua experiência do “Entendimento” e auxiliá-los em sua busca? (Solicitou Angel)

—Claro. No entendimento, cada experiência é única e faz brotar no nosso íntimo uma verdadeira contrição, uma vontade de se abrir completamente a luz. Ele nos faz ter uma visão ampla de nossa vida pessoal, do próximo e a melhor maneira de agir. Quando conquistamos o entendimento, temos um poder amplo para direcionar nossas vidas da forma mais adequada. O conselho que eu dou é que não tenham medo de arriscar ou das consequências pois é melhor se arrepender do que fez do que nunca tentar. Boa sorte para os dois. (Respondeu a mesma)

—Obrigado. A admiramos por fazer parte do grupo dos justiceiros, seres lendários do nordeste e meditaremos nas suas orientações. Muito obrigado por tudo. (Eu, o vidente)

—Faço das minhas palavras as suas. (Renato)

—Tudo bem. Podem ir. Continuem andando na direção sudoeste. O desafio se apresentará para vocês. Eu vou ficar um pouco mais conversando com minha amiga Marcela. Encontramo-nos em casa, mais tarde. (Angel)

Obedecemos ao mestre, nos despedimos da nossa nova amiga e saímos da sua casa. Já fora, pegamos a mesma trilha novamente. O que aconteceria? Continue acompanhando, leitor.

O Encontro Entre Dois Mundos

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