Читать книгу O Encontro Entre Dois Mundos - Aldivan Teixeira Torres, Daniele Giuffre' - Страница 23
Sítio Fundão, Cimbres-Pernambuco,03 de novembro de 1900
ОглавлениеUltrapassamos os limites do tempo. O destino nos faz chegar ao início do século XX, no mesmo local. Depois de nos materializarmos completamente e nos recuperar da transição, observamos tudo ao derredor e constatamos algumas mudanças. Entre elas, o ar estava mais puro, a vegetação mais densa, o barulho era menor e uma maior quantidade de animais. Tudo era igual e ao mesmo tempo diferente. O que tinha nos levado ali? Não sabíamos, mas em comum acordo decidimos caminhar um pouco e procurar alguma alma viva que nos pudesse orientar.
Então começamos uma nova jornada só que agora mais difícil e excitante. Sem nenhuma trilha a vista, nos embrenhamos na mata fechada suportando pedras,espinhos,e com possibilidades de encontrar bichos venenosos ou até mesmo feras selvagens. Porém, não desistiríamos tão facilmente. Até porque já dominávamos os seis primeiros dons do espírito santo e agora só faltava o detalhe da primeira revelação. Intuitivamente nos deslocamos na direção oeste.
Passamos pelos mesmos lugares de antes só que não o reconhecemos. Estávamos como cegos em meio a um tiroteio, guiados apenas pelo instinto. Neste momento, avançamos lentamente e o tempo demora também a passar. Mas mantemos o essencial, como ensinado por Angel: a persistência, a garra, a coragem, a paciência, a sabedoria e a fé que sempre nos acompanhava nas aventuras. Embora não fosse suficiente, com um pouco de sorte chegaríamos ao ponto certo.
O tempo passa um pouco. Inconscientemente, percebemos que ultrapassamos uma das quatro partes em que o percurso estava dividido. Mas só ficaríamos felizes e tranquilos quando chegássemos ao final e tivéssemos a resposta positiva que esperávamos e afim disso permanecemos na labuta. Alguns passos adiante, encontramos um réptil, nos assustamos, e nos desviamos um pouco. O que faltava acontecer? Não podíamos morrer ou até mesmo decepcionar nossa família, amigos, conhecidos, mestres espirituais e da vida e os leitores. Precisávamos continuar, mesmo que não tivéssemos pista do que nos esperava ou mesmo dos dois tipos de destino que nos acompanhava. A sorte estava lançada.
Depois de estarmos a uma distância segura do animal asqueroso que encontramos no caminho, retornamos a caminhar na direção inicial. Desta feita, aumentamos a nossa precaução. Isto era extremamente necessário a fim de evitar um acidente que impossibilitasse definitivamente o nosso objetivo maior que era fazer o elo entre “dois mundos”. Estas foram as palavras do mestre mas no momento eram totalmente obscuras e distantes de nós. Contudo, estávamos abertos, desde o primeiro momento, a encontrar o fio da meada desse começo intrigante de história.
Estimulados pela nossa força de vontade e pela decisão anterior, continuamos avançando superando os obstáculos naturais da mata. A cada passo dado, nos sentíamos mais seguros e realizados apesar de ainda não termos alcançado o primeiro objetivo. Bem,é uma questão de tempo,penso.Com esta certeza, aumentamos o ritmo na direção desejada e logo percebemos que já passamos da metade do trajeto percorrido em relação ao centro do oeste. Mais um feito. Porém, ainda havia muito a conseguir e não ficaríamos satisfeitos nunca.
Um pouco mais adiante, pela primeira vez, nos sentimos cansados. Resolvemos então parar um pouco. Sentamos no chão, comemos um lanche, bebemos um pouco de líquido e aproveitando o tempo livre refletimos sobre nossa situação atual e planejamos os nossos próximos passos. Depois de muito debater, decidimos permanecer na mesma orientação e esperar um sinal que pudesse nos guiar. Não tínhamos outra escolha a não ser essa. Já que estávamos nos sentindo exaustos, deitamos um pouco, fechamos os olhos, nos concentramos e fugimos um pouco do mormaço. Quando relaxamos o suficiente, um cochilo sobreveio.
Ao acordar, nos sentimos bem melhor, com energias recobradas. Levantamo-nos do chão duro, erguemos a cabeça, e voltamos a caminhar. O que aconteceria? Continuemos juntos, leitor, prestando atenção em detalhes na narrativa. Pouco a pouco, avançamos na caatinga agreste, fazendo malabarismos a fim de desviar dos obstáculos. Auxiliados por nossa experiência em aventuras anteriores, o que nos resta são apenas alguns arranhões provocados por alguns deslizes nossos. Mas, no geral, estávamos nos sentindo bem, prontos para enfrentar o que quer que fosse. Com esta disposição, um pouco além, já nos aproximávamos do objetivo.
Cada vez mais perto, a sensação provocada em nós era de ansiedade e de alívio. Ansiedade por não saber exatamente o que nos esperava e alívio por estarmos perto de descobrir. Mesmo que fracassássemos agora, nos sentíamos orgulhosos de nós mesmos por ter cumprido seis etapas e desenvolvido seis dons do espírito santo. Éramos mesmo vencedores, desde o início do projeto “o vidente” até o presente momento.
Com esta certeza, superamos tudo e vamos avançando. Logo à frente, a mata se abre, entramos num caminho e com mais alguns passos visualizamos o destino: Estávamos em frente a uma casinha de taipa, no centro do oeste do sítio. Neste exato momento, lembramos dos desafios e constatamos que se tratava da casa que pertencera a meu avô Vítor. Cheios de curiosidade e esperança, avançamos mais e batemos a porta da referida residência. Esperamos um pouco e surge de dentro, uma mulher, morena escura e robusta, com corpo bem definido e mal trajada vem nos atender.
—Pois não, jovens, em que posso ajudá-los? (Pergunta)
—Meu nome é Aldivan e este que me acompanha se chama Renato, poderia nos oferecer um gole de água? (O vidente)
—Sim,claro. Eu me chamo Filomena, ao seu dispor. Não temos muito, mas pelo menos água tem. Podem entrar— Respondeu ela.
Aceitamos o convite, acompanhamos a mulher, entramos na casa, chegamos a sala e a anfitriã nos oferece assentos. Sentamos, descansamos um pouco e a mesma vai a cozinha pegar a água. Passado uns cinco minutos, ela retorna, risonha carregada com dois copos de água. Nós tomamos rapidamente e Filomena puxa assunto mais uma vez.
—Os senhores são estrangeiros? Nunca os vi por aqui.
—Pode ser dizer que sim. Algo nos conduziu até aqui. (O vidente)
—Em resumo, somos turistas em busca de um pouco de paz e conhecimento. (Renato)
—Ah, entendi. São da capital? (Indaga ela)
—Não. Somos duma cidade próxima. (O vidente)
—Vive sozinha aqui? (Renato)
—Sou casada. Tenho também um filho recém-nascido. Apesar das dificuldades, somos felizes. (Filomena)
—Onde está seu marido? (O vidente)
—Está no trabalho, preparando um terreno para fazer a roça do ano que vem. Esperamos ter um bom lucro e assim não ter que passar fome em algum momento do ano. (Filomena)
—Entendi. Deve ser uma barra depender só da agricultura para sobreviver e ainda mais tendo filhos. (O vidente)
—Na minha família era assim. Trabalhávamos feito condenados com o intuito de sobreviver. Quando não havia lucro, o problema era grande. (Renato)
—É como diz o jovem. Mas não temos escolha. Na vida, só sabemos lidar com enxadas e foices. Somos burros quadrados. (Filomena)
—Que é isso, não fale assim. Todo trabalho é digno e todos somos iguais diante de Deus. O importante são os bons sentimentos que carregamos no peito. (O vidente)
—Nos conhecemos a pouco, mas já percebemos a sua grandeza. Isto é muito importante. Obrigado pela água. (Renato)
—De nada. (Filomena)
Um barulho atrapalha a conversa: Um choro de um bebê. Filomena fica triste e agitada e desabafa conosco:
—O bebê está com fome e não tenho nada a oferecer, a não ser chá. Vou ver se o engano.
Dito isto, a mesma foi a cozinha esquentar no fogão de lenha o chá já preparado. A acompanhamos e a ajudamos. Quando fica pronto, vamos ao quarto. Filomena pega o bebê, coloca no colo e dá o chá através da mamadeira. Apesar de beber o líquido, o mesmo não para de chorar. A mãe se desespera e o coloca de volta no berço improvisado. Aproximo-me do bebê, perguntamos seu nome e fico sabendo que se chama Vítor. Um choque. Estava diante do meu antepassado, um ser cheio de dons. O menino, de cabelos pretos, olhos castanhos claros e um pouco escuro, se remexia de um lado para outro. O toco mas nada de especial acontece. Apenas sinto um calafrio ocasionado pela barreira do tempo. Porém, sem que eu perceba, Renato se aproxima, pega a minha mão e juntos tocamos novamente no menino. Imediatamente, entramos em transe, ultrapassamos novamente o limite do tempo, visualizamos passado, presente e futuro simultaneamente. A história então se revela por completo.