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II.--Como foi Preparada a Expedição.

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Em Paris fomos logo procurar a M. d'Abbadie, o grande explorador da Abissinia, e M. Ferdinand de Lesseps.


D'elles ouvímos conselhos e recebémos os maiores obsequios.


Infelizmente, não encontrámos no mercado, nem instrumentos, nem armas, nem artigos de viagem, taes como os desejávamos.


Foi preciso encommendar tudo.


Com uma recommendação especial de M. d'Abbadie, fomos procurar os constructores de instrumentos, e durante 10 ou 12 dias, Lorieux, Baudin e Radiguet trabalhàram para nós.


Walker tinha-se encarregado dos artigos de viagem, Lepage (Fauré) das armas, Tissier do calçado, e Ducet jeune da roupa.


Feitas as encommendas em Paris, seguimos para Londres, e ali comprámos os chronòmetros, em casa de Dent, e alguns instrumentos em casa de Casella; uma boa provisão de sulfato de quinino, e muitos objectos de cautchouc na casa Macintosh, entre elles dous barcos e algumas banheiras.


Procurámos de balde em Londres, como tìnhamos de balde procurado em Paris, um theodolito que tivesse as condições necessarias para uma viagem de tal ordem qual ìamos emprehender. Uns, òptimos para observações terrestres, não tinham as condições precisas para as observações astronòmicas; outros, que reuniam as condições requeridas, eram intransportàveis, já pelo peso, já pelo volume.


Não havia tempo para fazer construir um de propòsito, e de volta a Paris, tivémos de aceitar aquelle que já antes nos tinha sido offerecido por M. d'Abbadie.


Recolhémos, em Paris, tudo o que tìnhamos encommendado, e que tinha sido fabricado em nossa curta ausencia; e no dia 1 de Julho, desembarcàvamos eu e Capello em Lisboa, completamente preparados para a nossa viagem; podendo assim cumprir o nosso compromisso, de partir para Loanda no paquete de 5. Tìnhamos feito os preparativos em 19 dias.


Quando eu estudava o modo de me preparar para uma longa viagem em Àfrica, tinha procurado sem resultado em livros de viagens, o modo porque se haviam preparado outros viajantes.


Em todas as narrativas havia escassez de informações a esse respeito, e lembra-me ainda o quanto isso me enfadou.


Resolvi logo, se um dia chegasse a fazer uma viagem em Àfrica, e se d'ella escrevesse a narrativa, não ser omisso n'essa parte, e dizendo quaes os objectos de que me provi, dizer quaes os que me prestáram

serviços reaes, e quaes os que me fôram carga inutil.


A historia das explorações d'Àfrica está no seu comêço.


Muitos exploradores me succederám em Àfrica, como eu succedi a muitos, e creio fazer um bom serviço áquelles que depois de mim se aventurarem no inhòspito continente, apresentando-lhes agora uma relação dos objectos de que me provi; e logo, no correr da minha narrativa, as vantagens ou os inconvenientes que n'elles encontrei.


Segundo as instrucções que do Governo tinha recebido, podia demorar-me tres annos em viagem, e para isso me preparei.


A experiencia tinha-me mostrado, o grave inconveniente de me sôbrecarregar de bagagens; e francamente declaro, que fiquei aterrado quando, em Lisboa, vi o enorme trem comprado em Paris e Londres.


Só malas tìnhamos 17! todas das mesmas dimensões, 0^m,3 x 0^m,3 x 0^m,6.


Uma era toucador perfeito, contendo um grande espelho, uma bacia, caixas para escovas e mais objectos competentes; outra continha um serviço de meza e chá para tres pessôas; e uma terceira o trem de cozinha.


Tres outras malas de forte sola deviam conter cada uma o seguinte:--4 frascos de quinino, uma pequena pharmacia, um sextante, um horizonte artificial, um chronòmetro, umas tàbuas logarìthmicas, umas ephemèrides, um aneroide, um hypsòmetro, um thermòmetro, uma bùssola prismàtica, uma bùssola simples, um livro em branco, lapis, papél e tinta; 50 cartuxos para cada arma; um vestuario completo, e tres mudas de roupa branca; isca, fusil, pederneiras, e alguns pequenos objectos de uso pessôal.


Cada uma d'estas malas tinha na parte superior um estojo de costura, escrivaninha e logar para papél. Eram pessôaes, e pertencia cada uma a um de nós.


As outras 10 malas continham indistinctamente roupas, calçado, instrumentos, e outros objectos de reserva. Todas tinham fechaduras iguaes e abriam com a mesma chave.


A nossa barraca era umatente marquise de 3 metros de lado por 2^m, 3 de alto. As camas eram de ferro, fortes e còmmodas. As mesas de tezoura, os bancos e cadeiras de lona.


Todos estes artigos fôram da fàbrica de Walker.


Cada um de nós tinha uma carabina magnìfica de calibre 16, cujos canos, forjados por Leopoldo Bernard, tinham sido cuidadosamente montados por Fauré Lepage.


Uma espingarda do mesmo calibre da fàbrica de Devisme, uma Winchester de 8 tiros, um revólver e uma faca de mato completavam o nosso armamento.


Em Lisboa tinha eu encommendado na Confeitaria Ultramarina 24 caixas, das mesmas dimensões das malas, contendo, em latas cuidadosamente soldadas, chá, café, assucar, hortaliças secas, e farinhas substanciaes. Hoje devo aqui lavrar um alto agradecimento ao S^{nr.} Oliveira, proprietario da mesma fàbrica, pelo escrùpulo que têve na escôlha dos gèneros que nos forneceu, e que muito nos servìram no comêço da viagem.


Os instrumentos que levámos fôram os seguintes: 3 sextantes, sendo um de Casella, de Londres; um de Secretan, e um de Lorieux, verdadeiro primor. Dois cìrculos de Pistor, fabricados por Lorieux, com dois horizontes de espelho, e os competentes nivéis. Um horizonte de mercurio de Secretan. Tres lunetas astronòmicas de grande fôrça, duas de Bardou e uma de Casella. Tres pequenos aneroides, dois de Secretan e um de Casella; 4 pedòmetros, dois de Secretan e dois de Casella. 6 bùssolas de algibeira; 1 bùssola Bournier de Secretan; 3 outras azimutaes, duas de Berlin e uma de Casella; 2 agulhas circulares Duchemin; 6 hypsòmetros Baudin, 1 de Casella, 3 de Celsius de Berlin, dois mais muito sensiveis de Baudin; 12 thermòmetros de Baudin, Celsius e Casella; 1 baròmetro Marioti-Casella; 1 anemòmetro Casella; 2 binòculos Bardou; 1 bùssola de inclinação, e um apparelho de fôrça magnètica, que nos fôram obsequiosamente emprestados pelo Capitão Evans, por entremedio de M^{r.} d'Abbadie. E finalmente, o theodolito universal d'Abbadie, que tem o nome deAba, e que tão cavalheirosamente nos foi cedido pelo seu inventor.


Armas, instrumentos, bagagens, todos os artigos, enfim, tinham gravado o seguinte letreiro--Expedição Portugueza ao interior d'Àfrica Austral, em 1877.


Duas caixas, contendo o necessario para conservar exemplares zoològicos e botànicos nos fôram enviadas pelos S^{nrs.} D^{or.} Bocage e Conde de Ficalho.


Ferramentas dos diversos officios augmentavam este enorme trem, com que ìamos deixar Lisboa, para nos internarmos nos sertões desconhecidos da Àfrica Austral.



Como eu atravessei Àfrica do Atlantico ao mar Indico, volume primeiro

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