Читать книгу Eurico, o presbytero - Alexandre Herculano - Страница 28
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ОглавлениеO somno ou a vigilia, que me importa esta ou aquelle? As horas da minha vida são quasi todas dolorosas; porque a imaginação do homem não póde dormir.
Para o povo, ignorante e impiamente credulo, a noite é cheia de terrores; em cada folha que range na selva elle ouve um gemido de alma que vagueia na terra; em cada sombra de arvore solitaria que se balouça com a aragem sente o mover de um phantasma; as exhalações dos bréjos são para elle luz de demonios, alumiando folgares de feiticeiras.
Mas, quando jaz no leito do repouso, o seu dormir é tranquillo. Ao cruzar os umbraes domesticos esses terrores sumiram-se com os objectos que os geraram. A sua alma parece despir-se da phantasia grosseira, como o corpo se despe da stringe aspera que lhe resguarda os membros.
Não assim eu. Quando as palpebras, cerrando-se, m'escondem o mundo das realidades, os olhos do espirito volvem-se para o mundo das existencias ideaes. Ás vezes, a felicidade e a esperança vem consolar-me então; muitas mais, porém, os sonhos maus me perseguem; e por bem alto preço me saem os instantes de ventura transitoria trazidos por visões consoladoras.
Esta foi para mim uma noite cruel. Ainda o suor frio que me corria da fronte se não seccou; ainda o coração parece mal caber no peito, e o pulso bate desordenado e violento.
Terribilissimos foram os sonhos que Deus mandou ao Presbytero; mas, porventura, mais terrivel é a sua significação.
Diz-me voz intima que esse doloroso espectaculo a que assistiu a minha alma é, oh Hespanha, o mysterio dos teus destinos.
E esta foi a visão: