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Capítulo Cinco

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Beijaste-a?

O grito incrédulo de Alex passou as paredes do escritório de Will e ecoou nos corredores da sede do Observer.

– Baixas a voz, por favor?

Will levantou-se, fechou a porta do escritório e trancou-a, para evitar interrupções.

– Queres que não fique emocionado por teres beijado a tua namorada?

– Para começar, já não é a minha namorada.

– Eu sou a única pessoa que sabe disso. Da última vez que falámos parecias convencido de que te irias embora assim que ela melhorasse. O que é que mudou?

– Nada. E tudo... – Will sentou-se, recostou-se e entrelaçou os dedos atrás da cabeça.

– Eu sabia. Quando vi o teu sorriso naquele jantar, soube que te tinha agarrado.

– Nunca tinha estado tão aparvalhado por uma mulher – confessou Will.

– Vais ficar?

– Não. Sim... Por enquanto. Mesmo se amanhã acordasse com o caráter de um cão de guarda, vou aguentar até estar recuperada. Decidimos começar de zero e ver o que acontece, mas tenho as minhas dúvidas. É caminhar para o desastre a longo prazo.

– Então, porque é que a beijaste?

– Porque quis – Will suspirou. – Há muito tempo que não me apetecia beijá-la. Mas agora parece que voltou a haver alguma química entre nós. Sinto uma corrente elétrica quando estou perto dela. E isso nunca tinha acontecido. É como estar com uma mulher completamente diferente. Uma relação nova com alguém doce e amável. Dá risadinhas, Alex!

– A Cynthia, a rir? – levantou uma sobrancelha.

– Mais do que uma vez. No início estava completamente perdida, mas agora que se habituou é pura excitação e júbilo. Como se estivesse a viver uma vida nova. Gosto de estar com ela. Sou feliz quando ela é feliz. Comprei-lhe uma máquina de costura.

– O quê? Porquê?

– Porque achei que ia gostar, e acertei. Tirou tudo o que estava relacionado com a publicidade do seu escritório e agora dedica-se a desenhar roupa.

– É isso que vai fazer no futuro?

– Acho que sim. Não pode voltar para a agência e fingir que sabe o que faz. Incentivei-a para que fizesse alguma coisa que a inspirasse, e seguiu essa direção. Está feliz assim.

– E isso faz-te feliz a ti – Alex assentiu. – Qual é o problema, então?

– Que é um erro! – gritou Will, dando um murro na secretária. Era um vulcão de energia sexual contida, confusão e frustração. – Está a absorver-me e eu queria libertar-me. Pergunto-me se o faz de propósito. Quando acabei o noivado, insistiu em que podíamos resolver as coisas. A Cynthia não queria passar por essa vergonha; até se recusou a tirar o anel até voltarmos a falar, depois da sua viagem. E se estiver a simular tudo para conseguir que fique?

– A simular a sua amnésia?

– Seria bem capaz. Não confiava nela antes e não tenho a certeza de poder confiar agora. Mentiu-me durante mais de um ano.

– Quase morreu num acidente aéreo. Nem mesmo a Cynthia seria capaz de premeditar uma coisa dessas.

Will franziu o sobrolho; sabia que seu amigo tinha razão. Estava a deixar-se levar pela paranóia. A desconfiança do passado embaciava-lhe o juízo. Era óbvio que ela não tinha planeado tudo, mas era mais fácil suspeitar do que confiar nela.

– Estou metido num bom sarilho.

– Queres beber alguma coisa? – Alex aproximou-se do bar.

– Não, serve-te tu – disse Will.

Alex serviu-se dois dedos de uísque escocês e aproximou-se da janela, que oferecia uma impressionante vista panorâmica de Nova Iorque.

– Acho que estás a conduzir mal a situação.

– Explica-me por que pensas isso.

– Ofereceste-lhe começar do zero, mas continuas a permitir que todos os males do passado te confundam a cabeça. Devias imitar a Cynthia, por dizê-lo de alguma forma. Esquece o passado com ela. Esquece o acordo com a Corporação Dempsey. Esquece que estão noivos.

– Está bem – Will olhou para o seu amigo, desconfiado. Eram muitas coisas para esquecer.

– Agora – continuou Alex, – depois de teres eliminado isso tudo da tua cabeça, faz-te só esta pergunta: deseja-la?

Will fez-se a pergunta. Só o som do riso dela já lhe fazia ferver o sangue. Fechava-se no seu escritório durante horas para ocultar a sua ereção e evitar fazer uma estupidez. A resposta era óbvia.

– Sim.

– Noutros aspetos da tua vida, o que fazes quando desejas alguma coisa?

– Consigo-a.

– Não a consegues sem mais nem menos – Alex abanou a cabeça, – lutas por isso. Quando querias ser delegado de turma, fizeste mais campanha do que ninguém. Quando quiseste ser capitão da equipa de pólo, treinaste mais do que nenhum. A Cynthia podia ter escolhido o homem que quisesse, mas tu decidiste que a querias, e conseguiste-a. Agora parece que lhe interessas e ela te interessa a ti. Qual é o problema disso?

– Não é assim tão simples. Tudo o que aconteceu antes continua a existir. Não vivo num vazio.

– Pois, mas, que mal faria se dessem uma verdadeira oportunidade a esta nova relação?

Will sabia que se houvesse algum mal, ele é que o sentiria e só se permitisse, Cynthia podia penetrar na sua mente e no seu coração, mas não permitiria que chegasse tão longe. Se mantivesse o seu coração a salvo, a sua empresa beneficiar-se-ia e, provavelmente, desfrutaria a voltar para casa à noite.

– Não faria mal nenhum – admitiu.

– Não é a minha vida, amigo, mas se fosse a ti, atirava-me a ela de cabeça – Alex deu um gole no uísque. – Saía deste escritório e ia direitinho a seduzi-la. Aproveita enquanto dura. Se recuperar e voltarem a odiar-se, então, sair de casa. Não terás perdido nada que não estivesse já perdido antes do acidente.

– E se não recuperar?

– Então, viverão felizes para sempre. Tão simples quanto isso.

Não era tão simples, mas valia a pena pensar nisso. Will foi servir-se um cheirinho de uísque. Alex tinha razão. Tinha dito a Cynthia que a tinha perdoado, mas continuava a por-lhe barreiras. Não se tinha comprometido o suficiente, e não era justo para nenhum deles. Devia deixar-se levar e desfrutar dela, mesmo que não lhe entregasse o seu coração.

Cynthia rematou a última costura, cortou o fio e virou o vestido. Tinha demorado uns dias, mas a sua primeira peça estava acabada. Admirou-a, sorridente. Não estava mal.

Tinha optado por começar pelo primeiro desenho que lhe chamara a atenção, sem se preocupar com a dificuldade de execução. Era um vestido camiseiro sem mangas, um pouco estilo anos cinquenta. Tinha a gola redonda e cinto. A saia tinha roda e dava por baixo do joelho.

A silhueta era sofisticada, mas afastava-se do estilo tradicional pelo tecido preto e branco com estampado de zebra, salpicado de rosa e roxo escuro. Assim que vira o tecido soubera que era perfeito para aquele desenho. Tinha feito a gola, o cinto e o debruado em cetim preto, o que lhe dava um toque de brilho e luxo.

Era uma fusão de rockabilly e anos oitenta. Estiloso, divertido e muito original.

Tirou a roupa e pôs o vestido. Rodou à frente do espelho de corpo inteiro, contente e aliviada ao ver que estava bem cortado. Depois de apertar o último botão e atar o cinto, percebeu que lhe estava perfeito, ajustando-se a cada curva.

Uns sapatos de cabedal preto seriam o complemento perfeito. Cynthia correu para o armário e abriu todas as caixas até encontrar o par ideal. Calçou-os e foi para a sala. Um som agudo fê-la virar-se de repente.

Will estava na porta com olhos brilhantes de admiração. O seu olhar ardente percorreu-a de cima a baixo. Sorriu e fechou a porta.

– Uau – disse.

– Gostas? – virou sobre os saltos fazendo a saia rodar à sua volta, torturando-o com um laivo de coxa nua.

– Gosto – engoliu em seco. – Não me parece ter visto nada parecido na minha vida.

– Acabei-o agora.

– Queres dizer que foste tu que o fizeste? – Will levantou as sobrancelhas, espantado.

– Fiz. É a minha primeira peça. O efeito será melhor quando me livrar desta tala, imagino.

– Passaste de estudar as instruções da máquina de costura a criar um vestido digno de uma passarela em três dias?

Tinha bastado ler o manual de instruções uma vez para entender a máquina. Cortar e montar as partes do vestido sobre o manequim tinha-lhe parecido fácil. Ainda que não soubesse o nome de todos os utensílios de costura, bastava-lhe olhar para eles e encontrar os que serviam para cada tarefa. Era como se tivesse passado a vida a fazer aquilo.

– Acho que valeu a pena seguir os meus instintos. Estou desejosa de fazer mais. Até estava a pensar fazer o meu vestido para a festa.

– Ah, pois – Will tirou o casaco e deixou-o no braço do sofá. – A notícia da festa da tua mãe já correu a cidade. Escolhe bem o modelo, porque pode acabar na capa de todas as revistas cor-de-rosa e páginas da Internet de fofocas sobre Manhattan.

Cynthia ficou imóvel, de boca aberta. Não tinha pensado nisso. Custava-lhe lembrar-se que estava sempre na mira. Na festa, haveria jornalistas e fotógrafos. Se queria ser desenhadora de moda, a festa podia ser a melhor rampa de lançamento.

E se não queria isso, ia ter de pensar em aceitar um cargo de direção, puramente decorativo, na empresa do pai.

– Tens de comprar um vestido novo ou fazê-lo tu. E eu acho que devias fazê-lo. Deixa que todos os convidados saibam que a nova Cynthia Dempsey chegou, mais divertida e mais fashion do que nunca.

– Dizes isso por simpatia – Cynthia corou.

– Não – Will pôs-se à frente dela e pôs as mãos na sua cintura estreita, realçada pelo corte do vestido. Ela ficou com a boca seca e com o peito arrebitado, desejosa de se colar ao peito dele.

Sempre que se aproximava tanto, sempre que a tocava, reagia da mesma maneira. Não percebia. Não podia ser nada de novo. Aliás, era uma atração química e hormonal primitiva que ela, simplesmente, não podia controlar. Era incompreensível que, se sentia aquilo com ele, tivesse tido uma aventura com outro homem.

Will aproximou-se mais e puxou-a. Ela ficou contente por ter calçado os sapatos de salto alto. Aqueles doze centímetros de altura punham-na ao mesmo nível, boca contra boca, peito contra peito.

– Pode dizer-se que tenho o meu primeiro fã – murmurou ela com voz entrecortada.

– Não tenhas dúvidas – inclinou-se sobre ela e capturou a sua boca com entusiasmo.

Cynthia aceitou o contacto com prazer. Nessa tarde não colocaria barreiras. A língua dele invadiu-a e as mãos percorreram o seu corpo como se explorassem território desconhecido. Ela agarrou-se ao seu pescoço e apertou o ventre contra a sua potente ereção.

Ao sentir o contacto, Will gemeu de prazer contra os seus lábios. Fê-la retroceder até à parede e colocou-lhe uma mão numa nádega, para aumentar a pressão. Percorreu a sua mandíbula com os lábios, tendo cuidado com as cicatrizes, e depois desceu para se deleitar com a doce curva do seu pescoço. Pousou a mão num dos seus peitos e esfregou o mamilo ereto com o polegar.

Will continuou a lamber e a mordiscar o seu pescoço, enquanto lhe desapertava o vestido. Pouco depois, o corpete estava aberto até à cintura e ele introduzia as mãos para lhe acariciar o peito sobre o sutiã de renda.

Ela ofegou quando ele traçou um caminho de beijos desde o seu pescoço à clavícula e desceu até ao vale do seu peito. Gemeu quando ele afastou a renda e capturou um mamilo com os lábios. Ela enrolou os dedos no seu cabelo.

Will deslizou a mão pela coxa, subindo-lhe o vestido. A tensão do corpo de Cynthia aumentava com cada centímetro explorado por ele. Todas as suas reservas com respeito a Will evaporaram-se instantaneamente. Nada importava, exceto estar nos seus braços, ali, naquele momento.

Quando a mão dele encontrou a humidade quente entre as suas coxas, achou que ia explodir de desejo por ele. Os dedos acariciavam-na por cima da seda das suas cuequinhas, mas não era suficiente.

– Will, por favor – sussurrou.

– Por favor, o quê? Diz-me o que queres, Cynthia.

Uma parte dela ficou tensa ao ouvi-lo dizer o seu nome. Dissera-o milhares de vezes, mas naquele momento voltou a enchê-la de dúvidas. Não queria que a chamasse por aquele nome. Mas quando sentiu a pressão do seu dedo no ponto mais sensível do seu corpo, a onda de prazer fê-la esquecer tudo.

– A ti – conseguiu dizer.

Will retirou a mão; ela já antecipava o que ia acontecer quando ouviu um zumbido e percebeu que ele tinha parado por causa do seu telefone. O ecrã mostrava o último número que teria querido ver. Não pôde esconder o pânico que sentiu naquele momento. Impossível fingir que desconhecia a identidade da pessoa que estava a ligar.

Will afastou-se e deu um passo para trás. Quando o olhou nos olhos, o desejo tinha desaparecido por completo e só viu neles a fria indiferença dos primeiros dias no hospital. Tinha a mandíbula tensa e o rosto vermelho pela ira contida.

Deu meia volta e saiu do quarto. Segundos depois, ouviu a porta da rua a bater.

Memórias ocultas - Perseguindo os sonhos

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