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Capítulo Dois

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Will observou Cynthia a passear pelo andar como se estivesse num museu. Tinha de reconhecer que ele também achava isso, com tanto cristal, mármore e cabedal. Não era o que ele teria escolhido, mas tudo cumpria a sua função, de modo que lhe era indiferente.

Ela examinou cada quarto, admirando os quadros e acariciando os tecidos, aparentemente comprazida. Ele pensou que só podia gostar. Ela e o seu maldito decorador tinham escolhido tudo.

Cynthia, condicionada pela rigidez dos músculos, mexia-se lentamente. Tinham-lhe substituído o gesso do braço por uma tala para poder tirá-la quando tomasse banho. Todas as ligaduras e pontos tinham desaparecido e só tinha algumas zonas do rosto e corpo descoloridas. Se não fosse porque estava um pouco coxa e pela tala, ninguém saberia dizer por que tipo de trauma tinha passado.

Pauline tinha-a levado ao cabeleireiro do hospital para que a penteasse antes de sair. Tinham-lhe cortado as madeixas queimadas pelo fogo e a estilista transformara o desastre num penteado curto e liso que lhe caía até os ombros. Era uma transformação que Will tinha apreciado. Um novo estilo para a nova mulher da sua vida.

Will virou-se e viu Cynthia a olhar para a gigantesca foto de noivado exposta na parede da sala. Praguejou para si. Tinha vasculhado o andar inteiro para tirar todas as suas fotos, como Pauline lhe tinha pedido, mas tinha-se esquecido da mais proeminente. Pelo que ele sabia, ainda não tinha visto fotos de si própria antes do acidente. E, depois de ver aquela, imaginava que não demoraria a ligar para o doutor Takashi a ameaçá-lo com um processo. Pessoalmente, ele achava que o cirurgião plástico tinha feito um grande trabalho, ainda que parecesse um pouco diferente.

Mas nada aconteceu. Examinou a foto em silêncio e continuou a percorrer o andar. O toque do telemóvel distraiu-o de repente. Ela continuou a explorar.

– Esta casa de banho é enorme! É minha?

– Tem um jacuzzi encastrado no chão?

– Não.

– Então, não... Esse é o dos hóspedes. O nosso está no quarto principal – disse ele rindo-se. Três semanas antes do acidente, ela tinha-se queixado de que a sua casa de banho era demasiado pequena. Ele tinha-lhe perguntado se pretendia dar uma festa ali e ela tinha-se chateado.

Will voltou a prender o telemóvel no cinto e foi à procura dela. Encontrou-a no closet, com o olhar perdido. Começou a passar cabides um a um.

– Dior. Donna Karan. Kate Spade. Esta roupa... é minha?

– Toda. Há seis meses tiraste as minhas coisas daqui para teres lugar para a tua coleção de sapatos.

Ela virou-se para a parede de sapatos que tinha atrás, como se não a tivesse visto antes. Abriu uma caixa de Christian Louboutin, tirou os mocassins que tinha postos e experimentou os sapatos de cabedal preto e sola vermelha.

– Estão-me um bocado grandes – disse. Que estranho...

– Bom, se os teus pés encolheram no acidente, de certeza que hás de desfrutar a substitui-los todos por outros do teu tamanho.

Ela lançou-lhe um olhar incrédulo. Sentia-se um pouco instável com aqueles saltos de doze centímetros de altura, mas sorriu de orelha a orelha.

– Um reforço no calcanhar deve servir. Não desperdiçaria estes sapatos por nada – voltou a olhar para a roupa. – Como é possível que reconheça todos estes desenhadores e compreenda o seu valor, mas a minha mãe seja uma total desconhecida para mim?

Era uma boa pergunta. Ele não fazia ideia de como funcionava a amnésia. Abanou a cabeça.

– Talvez o teu cérebro só se lembre do que era mais importante para ti.

Cynthia virou-se para ele. A expressão maravilhada tinha-se esvaído do seu rosto.

– Achas que preferia os sapatos à minha própria família?

– Não sei – Will encolheu os ombros. – Não me fazias esse tipo de confidências.

Ela tirou os sapatos e devolveu-os à sua caixa. Como se tivesse perdido todo o interesse pelo closet, saiu e desapareceu pelo corredor.

Ele foi à sua procura e encontrou-a sentada no sofá, a olhar sem ver o horrível quadro moderno pendurado frente à mesa da casa de jantar.

– Estás bem?

– Sinto-me como se toda a gente andasse em pontinhas dos pés à minha volta. Como se houvesse um elefante no quarto que todos veem menos eu. Se te fizer algumas perguntas, respondes-me? Sinceramente?

Ele franziu a testa, mas assentiu e sentou-se ao seu lado no sofá. Tinham mesmo que falar.

– Tu e eu estamos apaixonados?

– Não – respondeu. Ela estava a ser direta e ele também ia sê-lo. Adoçar a verdade não ia ajudar ninguém.

– Então, por que estamos noivos? – os seus grandes olhos verdes pareciam desiludidos.

– Não estamos.

– Mas... – Cynthia olhou para o anel.

– Estivemos apaixonados, há muito tempo – explicou Will. – As nossas famílias eram amigas e namorámos desde a universidade. Pedi a tua mão há dois anos, mas depois tu mudaste e fomo-nos distanciando. A tua família ainda não sabe, mas eu acabei o noivado mesmo antes da tua viagem.

– Porquê?

– Tinhas uma aventura. Na verdade, já não tínhamos qualquer relação. O teu pai e eu queremos lançar um projeto muito lucrativo para ambas as empresas. Ele prefere trabalhar com a família, de modo que continuei contigo, na esperança de conseguirmos ultrapassar os obstáculos. Quando descobri que tinhas uma aventura, não tive escolha. Mesmo que o projeto fosse por água abaixo, não haveria casamento. Disse-te que me iria embora e sairia daqui no final de outubro. Os planos mudaram depois do acidente, claro.

– Vais ficar? – olhou para ele com uns olhos tão esperançosos que ele ficou com o coração apertado.

De certo modo, parecia injusto castigá-la pelos pecados que pareciam ser de outra pessoa.

– Não. Fico só até estares melhor. Depois anunciamos a rutura e eu vou-me embora, como combinado.

Cynthia assentiu como se entendesse, mas a ele pareceu ver o brilho das lágrimas nos seus olhos.

– Devo ter sido uma pessoa horrível. Sempre fui assim? Não me terias querido, pois não?

– Gostava da mulher que eras quando nos conhecemos. Mas não da mulher na que te transformaste depois da universidade.

Ela engoliu em seco e desceu o olhar. Tinha pedido a verdade e estava a ouvi-la, por mais dura que fosse.

– Era agradável com alguém?

– Com a tua família e as tuas amizades, em geral. E mimavas muito a tua irmã mais nova. Mas tinhas muito mau feitio se alguém te irritava.

– Agora continuo a ser assim?

– Não. Estás muito diferente desde o acidente. Mas não sei quanto vai durar. O médico diz que a amnésia é temporária e que qualquer coisa pode fazer-te lembrar-te de tudo de repente. A qualquer momento, a mulher que tenho à minha frente pode desaparecer.

– E não queres que isso aconteça, pois não?

Olhou para o rosto da sua namorada, tão familiar mas tão diferente. Os seus olhos verdes olhavam para ele, suplicantes, e viu neles manchinhas douradas em que nunca tinha reparado. Desejou descobrir outros detalhes que lhe pudessem ter passado desapercebidos. Perguntou-se se alguma vez teria estado apaixonado por Cynthia ou apenas pela ideia deles juntos. A miúda mais bonita e inteligente de Yale e o capitão da equipa de pólo. Ambos de famílias ricas. Eram o casal ideal.

No entanto, naquele momento queria conhecer a mulher que tinha à sua frente. Queria ajudá-la a explorar o mundo e a descobrir quem era e quem queria ser. Seria piedoso dizer-lhe que lhe era indiferente que se lembrasse ou não, mas preferiu ser honesto.

– Não, não quero.

– Na verdade – disse ela, pensativa, – é muito estranho sentir que me falta uma parte de mim. Mas pelo que ouço, talvez seja melhor assim. Não me lembrar de nada e começar do zero...

Isso mesmo tinha dito Alex, que podia ser uma segunda oportunidade. Will perguntou-se se teria coragem para lhe dar. Ela tinha-o traído e tinha abusado da sua confiança. O facto de não se lembrar mudava alguma coisa? Não tinha a certeza.

– Podes sempre escolher – respondeu ele.

– O que queres dizer?

– A tua memória pode voltar a qualquer momento. Quando isso acontecer, podes escolher continuar a ser a pessoa que és agora em vez de voltares a ser a de antes. Podes começar de novo.

– Sei que não gostavas de mim como pessoa, mas atraía-te fisicamente antes do acidente?

– Eras uma mulher muito bonita.

– Não fujas à pergunta – disse ela, olhando-o nos olhos. A irritação tingiu as suas bochechas.

Tinha-se transformado numa mulher emocional que corava de ira e de vergonha, cujos olhos se enchiam de lágrimas de confusão e tristeza. Era muito melhor do que a princesa de gelo de outrora. Will perguntou-se como seria fazer amor com ela.

– Não estou a fugir. Eras muito bonita. Todos os homens de Yale te desejavam, incluindo eu.

– Aquela foto no vestíbulo...

– O nosso retrato de noivado?

– Sim. Agora não sou assim. Duvido que algum dia volte a ser – o seu rosto expressou uma vulnerabilidade que Will não tinha visto antes. Cynthia nunca mostrava fraqueza.

Mas naquela mulher havia qualquer coisa frágil que o incitava a confortá-la. Nunca sentira aquilo com Cynthia. Incapaz de resistir, deslizou o polegar pela sua face. O inchaço quase tinha desaparecido.

– Antes eras como uma estátua: perfeita, mas fria como mármore – acariciou a sua pele suave, cor de marfim. – Acho que as imperfeições só te dão caráter. És bem mais bonita agora. E por dentro também.

– Obrigada por dizeres isso, mesmo que não seja verdade – Cynthia levantou a mão e pô-la sobre a dele. Agarrou nos seus dedos e levou a mão ao seu colo, sem soltá-la. – Não sei o que te fiz, só imagino. Mas desculpa... Achas que algum dia serás capaz de perdoar-me pelo que fiz no passado?

Ao ver que tinha os olhos cheios de lágrimas, ficou com o coração encolhido. Sentia-se esmagada pelos remorsos de pecados que não recordava. E não lhe estava a pedir que voltasse a amá-la nem que ficasse com ela. Só suplicava o seu perdão.

Vê-la assim, ter passado tempo ao seu lado naquelas últimas semanas, levara-o a sentir coisas novas e diferentes por ela. Sentimentos que podiam acabar ferindo-o e que recusava terminantemente. Mas talvez pudesse oferecer-lhe o seu perdão. Para começar.

– Se calhar precisamos de começar do zero. Passar a página e começar de novo – disse.

– Começar de novo? – olhou para ele com surpresa.

– Sim. Precisamos de deixar o passado para trás e ir em frente. Para de te preocupares com o que fizeste e com quem eras e concentra-te no que queres ser daqui para a frente. E talvez eu consiga parar de castigar-nos a ambos por coisas que já não podemos mudar.

– O que é que isso significa para ti e para mim?

Era uma boa pergunta. Ele não estava preparado para responder, mas ao menos podia tentar.

– Significa que nós também vamos começar de novo. Na verdade não nos conhecemos, não temos razões para confiar um no outro, e muito menos para nos amarmos. O que acontecer entre nós, se acontecer alguma coisa, o tempo dirá.

– E isto? – ela levantou o anel de noivado.

– Continua a usá-lo por enquanto. Tudo isto fica entre nós. Não precisamos das opiniões de ninguém, e muito menos das nossas famílias.

Cynthia assentiu e um suave sorriso curvou-lhe os lábios. Os seus olhos iluminaram-se com o otimismo das novas oportunidades. Depois de semanas a vê-la derrotada, parecia brilhar. Estava linda. Tanto, que sentiu o irrefreável desejo de beijá-la.

Inclinou-se e pousou a boca na sua. Foi pouco mais que um toque, uma silenciosa confirmação de que ia correr tudo bem, mesmo que não continuassem juntos.

Isso, ao menos, era o que a sua cabeça lhe dizia. Mas o seu corpo reagiu ao contacto. Achou que só podia ser porque estava há muito tempo sem sexo, mas desejou agarrar o rosto dela entre as mãos e beber da sua boca. Não se atreveu. Por um lado, ainda não estava completamente curada e não queria magoá-la. Por outro, era descer a um poço do qual não seria capaz de sair.

– Pensa no que queres que seja a tua vida. E no que queres que nós sejamos juntos – sussurrou contra a sua boca. Depois, afastou-se antes de fazer alguma coisa da qual poderia arrepender-se.

Cynthia não se sentia bonita. Era-lhe igual o que Will dissesse. Certamente, aquele beijo tinha sido por pena, para que se sentisse melhor depois de compreender que fora uma mulher bela e horrível que se transformara numa mulher doce e quebrada. Era óbvio que ele se sentia incomodado e quando o telemóvel tocou, aproveitou a oportunidade para desaparecer no seu escritório, deixando-a sozinha para voltar a habituar-se ao seu novo-antigo lar.

O problema era que não tinha sensação de ser o seu lar. Admirava as linhas limpas e os tecidos, mas era um espaço demasiado frio e moderno para o seu gosto... Não havia uma única peça de mobiliário que a convidasse a ficar confortável. O sofá era duro, de pele, e as cadeiras de madeira ou de metal, nada fofinhas. Depois de dar mais uma vista de olhos a tudo, foi para o quarto ver televisão. A cama era enorme e confortável.

Quando se cansou, decidiu tomar o primeiro duche desde o acidente. Despiu-se e tirou a tala de plástico do braço. Depois de passar meia hora sob a água a correr, sentiu-se mais humana e um pouco mais normal, mas a sensação evaporou-se rapidamente quando se sentou no tocador.

Pauline, a sua... mãe, tinha-lhe impedido de olhar-se no espelho durante semanas. Cynthia não sabia que aspeto devia ter, mas não precisava de espelho para saber que sofrera uma transformação drástica, e não para melhor. A expressão de todos os que a conheciam deixara isso bem claro.

No dia em que o doutor Takashi lhe tirara as últimas ligaduras e lhe oferecera um espelho de mão, Cynthia não quisera olhar-se porque não sabia o que iria encontrar. A sua mãe era uma mulher atraente, e a sua irmã, Emma, era uma adolescente bonita, mas talvez ela fosse parecida com o pai... George era um homem imponente, mas não era bonito. Tinha o nariz como o bico de um falcão e olhos pequenos e frios.

Olhar-se no espelho dessa vez fora difícil, mas tinha-se habituado. A sua imagem melhorava de dia para dia. A sua mãe tinha-lhe levado uma caixa cheia de fotografias para ver se se ia lembrando da família e amigos, mas ela não aparecia em nenhuma delas. Ninguém lhe tinha mostrado uma foto sua de antes do acidente.

E ao chegar ao apartamento tinha dado de caras com o enorme retrato de noivado. Ela tinha o cabelo comprido e escuro sobre um ombro, brincos de safiras e um vestido azul real. Will estava com umas calças caqui e uma camisa azul claro. Estavam sentados juntos, sob uma árvore.

A mulher da foto tinha traços elegantes e delicados. A sua pele era cremosa e suave, os olhos verdes vivos. Estava tão bem maquilhada que parecia não estar. Era perfeita.

Tinha achado que ver uma foto sua seria perturbador, mas tinha sido uma experiência vazia, como olhar para a foto de uma desconhecida.

Nesse momento, à frente do espelho do tocador, não foi difícil comparar e catalogar as diferenças. As maçãs do rosto altas e o nariz delicado tinham sofrido o impacto do acidente. O tempo diria se as placas e os implantes colocados pelo doutor Takashi lhe devolveriam aqueles traços.

Só os olhos e o sorriso se pareciam com o retrato. Sorriu e admirou os dentes implantados. Eram como os da foto, mas continuava a sentir-se estranha quando tentava comer ou falar. E a expressão dos seus olhos era diferente, menos segura.

Com um suspiro, Cynthia começou a estender o creme que lhe tinham dado no hospital pelo pescoço e o rosto. Era suposto melhorar e acelerar o processo de cicatrização.

Mesmo que não voltasse a ser a da fotografia, Cynthia queria sentir-se bem na sua própria pele, e não era o caso. O creme não resolveria isso.

– Aposto a que desfrutaste do duche depois tantos banhos de esponja.

Cynthia virou a cabeça e viu Will apoiado na porta, com as mãos nos bolsos.

Envergonhada, levantou e prendeu a toalha que tinha presa no peito. Sentia-se atraída por ele, mas incomodava-a estar quase nua à sua frente. Mesmo que já se tivessem visto nus centenas de vezes, ela não se lembrava dele. Era um desconhecido.

– Desculpa. Imagino que te sentes incomodada – ele deu um passo para trás. – Não tinha pensado nisso. Eu vou-me embora.

– Não, não vás – não queria estar sozinha. Tinha passado toda a tarde a passear pelo apartamento, confusa e triste, esperando que alguma coisa lhe reativasse a memória.

– Volto já – disse ele, levantando um dedo. Regressou pouco depois com um robe fofo de cor azul gelo. – Era o teu preferido. Costumavas vesti-lo à noite para ler no sofá a beber um copo de vinho.

Cynthia levantou-se, sem soltar a toalha, e deixou que lho pusesse sobre os ombros. Enfiou os braços nas mangas, apertou o cinto e deixou cair a toalha.

Não podia imaginar nada melhor do que estar de banho acabado de tomar e embrulhada na suavidade e no calor daquele robe. Ao menos até que os seus dedos roçaram os dele e um arrepio percorreu-a de cima a baixo. Deixou fugir um gemido e afastou os dedos.

– É uma maravilha – murmurou. – Obrigada.

Ele assentiu e deu um passo atrás, sem parar de olhar para ela. Ela desejou poder compreender o que significava o seu olhar intenso, não sabia se desejo, irritação ou curiosidade.

– Estás com fome?

– Estou – admitiu. Pelos vistos, tinha confundido um olhar de fome com um de luxúria.

– Está bem – sorriu ele. – Posso ir buscar qualquer coisa. Há um restaurante tailandês aqui perto.

Will assentiu e saiu do quarto. Pouco depois, ouviu-se a porta a fechar-se.

Ela desenredou o cabelo e foi ao armário em busca de qualquer coisa confortável. Na parte de trás havia roupa de um tamanho maior. Estava a olhar para uns leggins quando o telefone tocou.

Pensando que seria Will, foi até ao quarto atender.

– Estou?

– Cynthia? – sussurrou a voz de homem, mais grave do que a de Will.

– Sim, sou a Cynthia. Quem fala?

– Amor, sou o Nigel.

Nigel, o nome não lhe dizia nada, mas tinha-a chamado «amor» e não gostava nada disso.

– Desculpe. Não me lembro de si... Tive um acidente e diagnosticaram-me amnésia.

– Amnésia? Meu Deus, Cynthia! Tenho que ver-te. Estou há semanas a morrer de preocupação. O teu telemóvel está desligado... Não pude ir ver-te ao hospital. Só sei o que li nos jornais, e não é muito. Podemos ver-nos amanhã, quando o Will estiver no trabalho?

Cynthia ficou com um nó no estômago. Parecia óbvio que Nigel era o seu amante. Lembrou-se do que Will lhe tinha dito: «Podes sempre escolher».

O passado era o passado. Will tinha-lhe oferecido um novo começo, uma folha em branco e, talvez, um futuro juntos. Estava disposta a tentar. Queria ficar com Will. O homem que estava ao telefone podia arruinar tudo.

– Não, lamento.

– Amor, espera. Eu apanho o primeiro comboio do Bronx e bebemos um café juntos.

– Não. Por favor, não volte a ligar. Adeus – desligou o telefone. Segundos depois, voltou a tocar e viu no ecrã que era o mesmo número. Não atendeu.

Respirou fundo e voltou para o armário para se vestir para o seu primeiro jantar com Will.

Memórias ocultas - Perseguindo os sonhos

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