Читать книгу A Garota Que Se Permite - Christie Henderson, Brian Quinlan - Страница 6
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EM FRENTE AO RESTAURANTE, encostado na calçada ao lado, estava o BMW M5 de Jason. Apenas parado lá, totalmente inocente. Claro, o carro não me ofereceria uma carona para casa e Jason tinha escolhido um restaurante longe de uma estação de ônibus ou metrô.
Mas, lá estava ele. Bem ali. Jason era do tipo que não achava necessário ter que pagar pelo estacionamento com manobrista e achar aquela vaga tinha sido uma sorte idiota.
Esperei um momento para ver se ele sairia do restaurante para me checar. Se talvez… apenas talvez, ele fosse humano o suficiente para querer se certificar de que eu estava bem e me oferecer uma carona para casa.
Quando dois minutos se passaram comigo me adaptando à leve brisa fria do ar noturno, percebi que de jeito nenhum ele desperdiçaria um bife perfeitamente bem preparado. Ele provavelmente tirou o suéter, jogou-o em uma garçonete para colocá-lo na água e voltou a comer.
Eu olhei para o BMW.
Eu olhei para o manobrista.
Eu olhei para o BMW novamente.
Para ser justa, o carro não tinha feito nada contra mim. Mas, como uma extensão de Jason, essa noite desastrosa e tudo o que estava errado na minha vida agora, aquele era um alvo muito bom. Escorregando ao lado do pneu dianteiro, tirei a tampa da válvula de ar. Com minha chave, eu leeeeeeentamente deixei o ar sair do pneu com um suave shuuuu até que o aro descansou no chão.
Em seguida, passei para o próximo pneu… e o próximo.
Considerei deixar um pneu cheio só porque parecia fora do lugar. Mas, pensando bem, aquele pequeno assobio de ar era extremamente catártico. Então, eu esvaziei aquele também.
Sentando em um banco na calçada, chamei um táxi, esperando não ter motivo para me estressar com mais essa despesa mais tarde. Ignorei o ar frio da noite de fim de verão e esperei.
Jason levou mais sete minutos para finalmente aparecer. Eu me perguntei se ele tinha comido a sobremesa. Provavelmente. Provavelmente se certificou de pedir aquele pudim que eu amava, só por maldade.
Ele fingiu não me notar e definitivamente não notou todos os pneus vazios. Até ele abrir a porta. Então ele percebeu que o carro parecia um pouco mais baixo do que o normal. Então ele olhou para os pneus. Então para mim.
A expressão em seu rosto… foi uma coisa linda.
Ele não se aproximou de mim ou contornou o BMW. Ele apenas gritou comigo por cima do capô.
— Você cortou meus pneus?
— Não. Eu nunca cortaria os pneus de ninguém. Nem mesmo os seus — Então, só porque eu admitia para mim mesma que aquilo tudo tinha ficado um pouco ridículo… não importa o quão catártico fosse, eu adicionei: — Cresça.
O sujo falando do mal lavado. Bons tempos.
— Então eles magicamente esvaziaram? — Venenoso. Como eu nunca percebi esse traço venenoso nele?
Três anos sem perceber? Aquilo parecia demais, mesmo para alguém tão focada nos estudos e carreira quanto eu. Comecei a questionar todas as conversas em que ele dizia ser o mais esperto, mais esperto do que todos ao seu redor, e percebi que esperto provavelmente não era a palavra certa. Eu realmente estava cega. É melhor eu me tornar um pouco mais atenta se quiser sobreviver no mundo como uma adulta.
E talvez devesse parar de insistir que a gelatina era um grupo alimentar. Mas, alguns padrões permanecem conosco mesmo depois de crescer.
— Eu não sei sobre mágica. Quer dizer, o que é mágica, afinal? Acho que teria sido mágico se meu táxi tivesse chegado aqui antes de você decidir ver se eu fui pega pedindo carona. Mas, infelizmente, ainda estou esperando. — Eu sorri para ele. Um daqueles sorrisos largos e brilhantes que na verdade dizem: Ha Ha Na Sua Cara em vez de Ei, Você é Bem Fofo. Chega de sorrisos fofinhos para ele. — Então, eu suspeito que o mundo da magia está morto.
Peguei um jornal que alguém havia deixado no banco e fingi ler. Deve ter parecido algo bobo a se fazer ali sob a luz fraca do poste, mas parecia um adereço lógico para esta farsa na qual eu estava finalmente assumindo um papel ativo.
— Você acha que pode simplesmente rasgar meus pneus e eu não vou chamar a polícia? — Ele já estava discando. — Alô? 190? Sim, quero denunciar uma agressão. Não, eu não estou ferido. Não fui eu quem foi agredido.
Neste ponto, eu estava tendo dificuldade em acreditar que ele ligou para o 190, que ele estava chamando aquilo de uma agressão. Sem mencionar que eu realmente tinha namorado esse idiota por trinta e três meses. Isso era mais de um mês para cada ano da minha vida.
Talvez Eu fosse a idiota.
— Não — continuou ele, ainda me olhando por cima do capô. — Ninguém se feriu. Bem, não exatamente ferido… Não tenho certeza de qual era a arma… Não, eu não preciso de uma ambulância. Só de um policial.
A essa altura, o recepcionista havia saído para se juntar ao manobrista. Os dois sussurraram e olharam na nossa direção. Eu ouvi uma risadinha escapar de um deles.
— Meu carro… Ela atacou o meu carro… Bem, os pneus estão furados… Isso importa? Eu quero um policial e quero um agora!
O Natal chegava na mesma época todos os anos. Talvez, só por diversão, eu mandasse a ele uma cópia de Como fazer amigos e influenciar pessoas. Você sabe, com um pequeno bilhete legal grudado falando sobre suas habilidades pessoais e um desejo de boa sorte com a vida.
— Tá. Mas é melhor ele se apressar. O que eu faço se ela tentar ir embora? — Ele olhou na minha direção novamente, colocando a mão no capô e acariciando a pintura levemente. — O que você quer dizer com eu não posso segurá-la contra a vontade dela? Tá. Mas é melhor eu ouvir as sirenes nos próximos três minutos.
Ele desligou, enfiou o celular no bolso e apontou o dedo para mim a quatro metros de distância. — Não vá a lugar nenhum.
Pela primeira vez desde que chamei o taxista, estava meio que torcendo para que ele se perdesse. Podia até valer a pena ser fichada só para assistir ao ataque de raiva de Jason.
Quando o policial apareceu alguns minutos depois, havia uma nítida falta de sirenes. Fiquei quase desapontada.
O policial saiu do carro e olhou para o BMW. Ele balançou um pouco a cabeça enquanto pegava um bloco de notas no carro, endireitou a boina e se dirigiu para Jason.
— Qual seria o problema aqui, senhor?
Ah… Eu já gostei desse cara. Se o tom neutro de sua voz mostrava como ele realmente se sentia sobre esta situação, eu realmente gostei dele. Nem me importaria de ser presa por alguém que percebia o quão ridículo era tudo aquilo.
— Meu carro foi agredido.
Eu realmente não conseguia acreditar que ele não tinha repensado o termo desde que desligou a chamada do 190.
— Ela — disse ele, apontando o dedo em minha direção novamente. — Quem agrediu.
Voltei a fingir que lia o jornal e a ignorá-lo.
— Ela agrediu o seu carro? — O policial estava andando ao redor do carro pela segunda vez e se agachou para olhar o pneu dianteiro que estava mais próximo das luzes do restaurante. — Os pneus não foram cortados.
— Eles estão vazios. — Jason soou como se isso fosse o equivalente a um crime de guerra em massa.
— Mas eles não foram cortados. Alguém só tirou o ar.
— Mas, eles estão vazios. — Jason finalmente deu a volta no capô e continuou vindo em minha direção. Antes que eu soubesse o que ele faria, ele agarrou meu braço e me colocou de pé. — Ela esvaziou os meus pneus. Eu quero que ela seja presa.
Como eu tinha namorado um idiota daquele? Sério? Eu provavelmente deveria consultar um terapeuta apenas para descobrir se superei qualquer tipo de estupidez sob as quais tinha vivido nos últimos anos.
Claro, para ver um terapeuta, eu precisaria de um plano de saúde.
— Me solta! — Tentei puxar meu braço, mas ele apenas me agarrou com mais força, seus dedos cravando-se na minha pele através da lã clara da minha jaqueta. — Estou falando sério. Me solte!
— Senhor, tenho que te pedir para soltá-la.
Agora o policial, que ergueu uma sobrancelha para o meu jornal, estava vindo em nossa direção.
— Senhora, você viu alguém esvaziar os pneus desse cara?
— Bem, não estou aqui há muito tempo.
— Há quanto tempo está aqui? — perguntou ele.
— Bem, meu namorado… quero dizer, ex-namorado, me trouxe até aqui para o meio do nada…
— Meio do nada? — Jason não conseguia nem me deixar terminar uma frase. — Estamos a cinco quarteirões do Village.
— Qualquer lugar sem uma estação de metrô é o meio do nada. — Eu aprendi essa lição da maneira mais difícil ao procurar o meu primeiro apartamento na cidade.
— Eu estava tentando dar a você uma última refeição agradável.
— Você estava…?
— Senhora. Há quanto tempo? — Agora o policial estava se dirigindo a mim com aquele tom neutro e um olhar ilegível.
— Meu ex-namorado me largou porque eu perdi meu emprego. Ele disse que eu seria apenas um peso morto. Depois disso, vim aqui para esperar um táxi. Então, praticamente o tempo que leva para um táxi chegar aqui.
O policial deu um leve sorriso. Quase imperceptível. Bem leve. Talvez eu estivesse imaginando, mas tinha quase certeza que não. Eu realmente gostei dele. Eu me perguntei se eles tirariam minhas impressões digitais. Aquela coisa saía com sabão? Eu esperava que isso não afetasse meu pedido de seguro desemprego.
— Bem, não muito tempo então? — perguntou o Policial Indecifrável.
— Creio que não.
— Você não está engolindo essa, está? — perguntou Jason me sacudindo, fazendo meus dentes baterem um pouco.
— Senhor, solte-a antes que eu o jogue na parte de trás do meu carro.
— Mas ela agrediu o meu carro.
— Não é possível alguém agredir um carro. Mas você pode agredir uma mulher. Se você não a soltar, vou levá-lo à delegacia e mandar rebocar o seu carro. Com os pneus vazios.
Posso realmente ter me apaixonado. Toda aquela situação era o meu relacionamento rebote.
O que foi ótimo porque eu ficaria longe, muito longe de caras por um bom tempo.
A mão de Jason despencou. Eu duvidava que tivesse algo a ver com não me agredir e mais a ver com querer a atenção de volta em seu carro.
Assim que ele me soltou, o policial chamou o manobrista e o recepcionista.
— Algum de vocês viu alguma coisa acontecer com este carro?
Ambos balançaram a cabeça.
— Nada? Ninguém veio e deixou todo o ar sair dos pneus?
Novamente com o balançar de cabeça.
— Ah, me poupe. — Jason caminhou entre mim e o carro, provavelmente com medo que eu fosse fazer algo com o seu bebê novamente. — É óbvio que esses dois idiotas estão mentindo.
O manobrista olhou em nossa direção e depois de volta para o policial. — Estou guardando carros desde as seis. Alguém pode ter sido capaz de fazer isso enquanto eu estava nos fundos. — Ele olhou para Jason. — É realmente uma pena que o senhor não quis pagar os cinco reais para ter seu carro estacionado.
Sim, todos nós podíamos ouvir a tristeza em sua voz.
A essa altura, as pessoas estavam paradas na janela assistindo. O policial havia tirado a boina e esfregava o cabelo escuro cortado rente da nuca.
— Então, não temos nenhum dano e nenhuma testemunha. Suponho que você terá que entrar em contato com um guincho e encerrar a noite.
— Você não vai prendê-la? — Jason parecia tão chocado que quase me senti mal por ele.
Era bom que ao menos algo não estivesse indo bem para ele esta noite. Quer dizer, além daqueles quatro pneus magicamente esvaziados.
— Pelo quê? Por ter namorado um idiota? Desculpe, mas não há lei contra isso. — O policial colocou a boina de volta na cabeça e foi em direção à viatura. — Se eu for chamado aqui novamente, vou prendê-lo por fazer uma deúncia falsa. Não importa qual seja o motivo. É melhor você torcer para que o restaurante não seja roubado.
Jason ficou olhando para ele, sua mandíbula um pouco frouxa com a falta de controle da situação.
Eu estava tentando não me gabar da minha pequena vitória. E então, veio o meu primeiro golpe de sorte de toda aquela noite, enquanto o policial caminhava em direção à viatura, meu táxi parou.
— Ei! — O policial chamou, apontando para mim antes de entrar em seu veículo. Eu podia ver sua covinha aparecer de onde eu estava. — Você. Se comporte.
Certo. Porque meu plano era causar um caos em massa quando eu saí esta noite. Eu pulei no táxi antes que Jason pudesse me agarrar novamente.
— Para onde, senhorita?
Desabando no assento, tranquei a porta e disse: — Casa.
Ou o que seria a minha casa por mais dois dias.