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VII.

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O academico tinha uma physionomia franca e insinuante. Conversava comigo sem desdenhosa superioridade. Familiarisamo-nos depressa, como dous futuros companheiros de casa em Coimbra.


Eu fui um grande fallador, n'aquella idade, em que pensava menos. O meu recente amigo sympathisou com a minha garrula eloquencia, e dava signaes de desenfado, quando naturalmente devêra querer dormir, depois de uma fatigante jornada, em dia de neve.


Eu não era rapaz que, por delicadeza, calasse a minha curiosidade a respeito de D. Amelia.


—O senhor faz-me o favor de me dizer uma cousa?—disse eu.


—Que é? quantas horas são?... são 10... quer dormir?


—Não, senhor: queria saber quem é esta snr.a D. Amelia?


—É cunhada do padre, e casada com um sujeito, delegado em * * *.


—Isso já eu sabia... pouco mais ou menos.


—Então sabe tanto como eu...


—Mas é d'aqui d'esta aldêa esta senhora? Creio que ouvi dizer que era de Lisboa.


—É verdade... nasceu em Lisboa...


—E como veio parar aqui n'este matagal? Naturalmente perdeu-se, como eu, na serra, por causa da neve, e veio cá bater, e cá ficou! Pois eu dou-lhe a minha palavra de honra, que apenas vir luzir o buraco, retiro-me sem mais ceremonias d'este delicioso covil de cabras.


O meu amigo ria-se. Estava disposto a achar-me graça, e o leitor póde tambem rir-se, se lhe aprouver.


E acrescentou ao sorriso:


—Parece-lhe impossivel que a tal senhora viesse de Lisboa para aqui sem ser impellida por um acaso?


—De certo... Já não admira que ella tenha tosse de tisica... O que me espanta é ella viver, se cá está desde hontem!... Quando veio ella?


—Ha dous annos.


—Então é eterna... ou santa. Hei-de dizer que encontrei esta martyr a uma minha tia, que é capaz de jurar que a viu fazer milagres...


—O menino é sarcastico! Se o não visse tão inclinado a rir-se de cousas serias, contava-lhe uma historia triste...


—E eu gosto muito de historias tristes... Verá que me não rio, quando me dizem alguma cousa que me toque o sentimento. A minha familia chama-me poeta; os visinhos chamam-me tolo; não sei bem o que sou; mas o que não sou é insensivel... Vê... já não tenho vontade de gracejar... Conte-me agora a historia, que eu prometto contar-lhe outra que me fez chorar, porque é uma passagem tão infeliz, que, se eu fizesse novellas, escrevia uma.


—Talvez as escreva no futuro...


—Eu?... Deixe-se d'isso... O meu mestre de logica diz que eu sou um alarve, e o de rhetoria já me mandou ser aprendiz de alfaiate... Não tenho habilidade nenhuma. O meu gosto é lêr os sonetos do abbade de Jazente, e as quintilhas do Nicolau Tolentino. Não sei mais nada, nem quero saber... Vamos á historia, sim?


—Então aproxime-se de mim, que eu quero fallar baixo. Mas, antes de mais nada, promette não contar a ninguem o que vou dizer-lhe?


—Pois é segredo!


—É.


—Prometto...


—Pois ahi vai.


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