Читать книгу Cian - Charley Brindley - Страница 5

Capítulo Três

Оглавление

Bem, em uma coisa eu era bom: ser pai de Rachel. Éramos amigos e ela raramente mencionava o pai biológico. Sempre que Kaitlin estava ocupada com suas anotações de pesquisa, Rachel e eu íamos pescar, cozinhar e manter nosso acampamento e equipamentos em ordem. Nós dois éramos bons de pescaria, mas nem tanto em caçar. Gostávamos de cozinhar e estávamos constantemente à procura de castanhas, frutinhas, raízes, além de ervas selvagens para adicionar às nossas várias misturas e surpreender Kaitlin no jantar.

Nosso destino nesta viagem era a aldeia de Alichapon-tupec. Kaitlin sabia de uma piaçava de folhas vermelhas com poderosas propriedades medicinais que crescia apenas naquela região. Iríamos lá, tentar obter amostras da planta e, talvez, obter algum conhecimento sobre o seu uso junto aos nativos locais. Pensei sobre aventuras semelhantes em outras florestas tropicais, nós três percorremos um longo caminho juntos. Desde que Rachel nasceu, nove anos atrás, viajamos o suficiente para nos levar várias vezes ao redor do mundo.

De repente, percebi que meus pensamentos haviam se afastado do rio quando fui puxada de volta à realidade por Cian gritando algo para mim. Ela agarrou o remo e segurou à frente dela, em direção a um enorme tronco vindo diretamente sobre nós na correnteza. Virei meu remo de lado na água para retardar nosso progresso, mas foi de pouca ajuda. Quando ela jogou o remo contra o tronco, não teve efeito. Era um tronco de teca, com umas cinco vezes o comprimento da nossa canoa e provavelmente pesava umas duas toneladas. Se colidisse conosco, certamente seríamos esmagados na água, enquanto ele desceria o rio sem ser afetado. No entanto, Cian, empurrando a árvore, afastou a frente do barco do tronco e forçou a popa, onde eu estava, em direção a ela. Estendi meu remo para empurrá-lo contra a casca da árvore, depois juntos para posicionamos o barco paralelo ao tronco e, finalmente, nos afastamos dele.

Eu assisti à partida por um momento, então encontrei Cian, Kaitlin e Rachel me dando um olhar severo, como se eu quase tivesse afundado nossa pequena expedição. Mesmo Hero, seguindo a expressão irritada de Cian, me lançou um olhar de indignação. Entre meus devaneios, tinha perdido completamente a noção de onde estávamos e o que estava fazendo. Meu corpo estava trabalhando para nos manter sempre à frente, mas meus olhos não estavam observando o rio.

– Desculpe. —Baixei a cabeça e voltei a remar. —Eu vou ficar acordado agora.

* * * * * *

Subimos o rio sem parar até o pôr do sol e então preparamos acampamento.

Enquanto Cian cozinhava cinco ratos em palitos afiados, notei que minha irmã e sobrinha trocavam olhares. Elas olhavam para os ratos sobre o fogo, depois de novo uma para a outra, com as sobrancelhas a subir cada vez mais.

– Não estamos com muita fome – disse Kaitlin.

– Com certeza foi um grande café da manhã que tomamos mais cedo, hein mãe? – Rachel esfregou sua barriga supostamente cheia.

As duas aplicaram repelente de insetos e enfiaram-se nos colchonetes.

Ao longo do caminho, no rio, nós compartilhamos nossas barras de carne seca e granola com Cian, e ela nos deu um pouco de sua comida; tiras defumadas de carne e maçãs açucaradas. Ela parecia gostar da carne seca e da granola, mas não da água engarrafada que Kaitlin passava para ela.

Depois do jantar, Cian e eu fizemos algumas tentativas de conversa, usando palavras e gestos, junto com imagens desenhadas na terra. Várias horas se passaram, mas tudo o que entendemos foi que ela era uma mulher sozinha na Amazônia e eu era uma pessoa de fora procurando por algo. Quando tentei explicar o que eu procurava, não consegui. Minha irmã, é claro, estava procurando uma planta exótica e remédios tribais. Isso era fácil de entender.

Cian falou em palavras que eu não conseguia entender e fez movimentos que para mim eram tão musicais e sensuais quanto a sonata mais suave.

Eu me importo com o que realmente está sendo dito?

Nós dois alimentamos o fogo e continuamos a quebrar a barreira verbal que nos separava até cairmos no sono.

* * * * * *

De manhã, Cian fez um pão; de que eu não sei. Ela cozinhou em uma pedra plana perto da lareira, acrescentando pétalas esmagadas da bolsa de remédios. Kaitlin anotou a identificação e descrição das folhas da flor e pediu mais pão. Fiquei satisfeito ao ver que ela recuperara o apetite.

– Saxon – disse Kaitlin.

Eu olhei para ela.

– Você pode desenhar essas pétalas e o pão de nookum que Cian fez para nós? Temos que tentar encontrar as plantas e coletar amostras.

Ela me entregou uma das pétalas secas

– Seja cuidadoso; Receio que vá se desmantelar.

– Vou tentar.

Peguei cuidadosamente a pétala da mão dela, coloquei-a na pedra do café da manhã e peguei meu caderno de desenho. Ouvi Cian chamar o pão de nooc, então escrevi isso no topo da página, adivinhando a ortografia.

* * * * * *

Depois de sair do acampamento, remamos rio acima pelo resto do dia, o rio foi se estreitando cada vez mais. Encontramos uma cachoeira rochosa e fomos em sua direção. Do topo da cachoeira, caímos em um lago longo e profundo. Peguei o caderno de desenho da minha mochila e estudei Cian enquanto ela observava a água. Pareceu-me que ela esteve perdida em seus pensamentos por algum tempo. O que ela viu na água, ou em suas memórias, disse-lhe que deveríamos alterar nossa direção para sudeste. Ela indicou para mim e eu, estando na popa da canoa, ajustei nosso curso.

Kaitlin compilava notas sobre etnobotânica, enquanto Rachel passava um dedo na superfície lisa da água e eu nos mantinha no rumo.

Cian nos deixou naquela noite, depois que acampamos na margem do lago. Hero foi com ela. Por alguma razão, achei isso desconcertante. Não que eu sentisse tanta falta do cachorro, mas me senti abandonado. Andei um pouco e depois me ocupei de atualizar meu diário.

Antes do amanhecer, ela e Hero retornaram com carne fresca. O cachorro usava uma coleira de couro trançado que eu nunca tinha visto antes. Cian trabalhou próximo ao fogo, esfolando e cortando a caça, e depois pendurando as tiras de carne na fumaça. Hero e eu a assistíamos.

– Mulher surpreendente – eu sussurrei para ele.

Ele não respondeu; apenas me observou rapidamente. Depois de um momento, ele a fitou e, com um suspiro profundo, apoiou o queixo nas patas estendidas da frente.

Cian era ao mesmo tempo jovem e madura. Ela poderia ter vinte e cinco ou trinta e cinco, mas duvido que ela alguma vez considerasse seu aniversário de falecimento. Ela era jovem e esbelta no corpo, mas amadureceu muito além dos anos em sabedoria e astúcia. A Amazônia pulsava em suas veias e cintilava em seus olhos, repleta de vida, mas fria e calculista. Vida e morte foram eventos que aconteceram, não considerações emocionais. Não, não falamos dessas coisas; percebi pela maneira como ela usava sua faca, perspicácia e corpo. Talvez ela não fosse mais que uma criatura feroz no coração, mas isso não importava para mim.

A Amazônia havia fornecido o material para reconstruir o membro que faltava em seu corpo. Esse acoplamento de madeira e tecido humano a tornou ainda mais parte da natureza, e a natureza parte dela. Não apenas ela nunca havia usado sua condição para obter nossa condescendência ou simpatia como, na verdade, ela era mais ágil na floresta do que nós. Achei prudente não fazer referência óbvia a isso, embora estivesse curioso sobre o que aconteceu, esperaria até que meu conhecimento da língua dela aumentasse além de algumas palavras antes de tocar no assunto. Embora a Amazônia tivesse lhe proporcionado uma nova perna, alguém, ou alguma coisa, em sua selva havia tomado a antiga.

Cian

Подняться наверх