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Capítulo Cinco

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De manhã, saímos do lago entrando em um afluente esverdeado, que mais tarde se fundiu a um marrom.

No dia seguinte, continuamos remando até chegarmos a um lugar em que o córrego se alargava em um pequeno lago de retenção. A água tranquila era cercada por taboas e enormes vitórias-régias, flores cor-de-rosa no topo de bases translúcidas ondulavam como se perturbadas por algo que se movia embaixo delas, sapos venenosos alaranjados e pretos preenchiam vários lírios, esperando uma refeição se aproximar.

A água se aprofundou e ficou perfeitamente imóvel enquanto cortávamos sua pele fina. A lagoa sonolenta tolerou essa aflição por várias horas, depois ocorreu uma mudança quase imperceptível: a água ficou com um tom de esmeralda, depois vermelho sangue e começou a se contorcer entre as formas de vida, como se estivesse despertando. Logo estreitou-se e começou a avançar, mas na direção oposta ao seu curso original.

Meu mapa caro já não tinha mais utilidade para mim agora, nossa jornada já havia atravessado muito além da borda mastigada. Então o enrolei e devolvi à sacola, onde Cian o colocara no nosso primeiro dia.

Através em um pequeno descanso do dossel da floresta, pude ver montanhas cobertas de neve a oeste, acreditava que era a faixa norte dos Andes. Por alguma razão, todas as coisas entraram em foco naquele momento; as montanhas, a Amazônia, o riacho, a proa da canoa, tudo ficou perfeitamente claro para mim.

Nossos suprimentos acabaram, mas não queríamos comida ou bebida; nossa guia fornecera tudo, mas Cian parecia confusa com nossos rituais de café da manhã, almoço e jantar, ela comia quando estava com fome e descansava quando cansada. Até onde eu sei, ela nunca dormiu uma noite inteira e se levantava frequentemente para tomar o pulso da selva, às vezes, quando ela voltava no escuro, tocava em meu braço para mostrar o que havia encontrado. Ela queria que eu provasse e experienciasse tudo o que era dela, e eu acedi aos seus desejos, com prazer infinito.

Cian coletou folhas e raízes para Kaitlin enquanto explicava, com sinais articulados das mãos e com a ajuda das traduções de Rachel, os objetivos medicinais das plantas. As páginas do caderno iam se preenchendo de notas alegres, enquanto as folhas eram cuidadosamente pressionadas para secar.

* * * * * *

Na noite do décimo dia, descartei minha camisa e cortei minha calça cáqui em shorts. Exceto por sua saia, na altura dos joelhos, Cian não usava nada, ela era imune às multidões de insetos mordedores e espinhos, ou simplesmente os tolerava como um dos fatos da vida na selva, se ela podia suportar, eu também poderia.

Quando Cian me viu coçando as picadas de mosquito no meu peito, me levou a um bosque próximo de arbustos densos que reconheci como jovens amargões, usando a faca, ela arrancou a casca e esfregou as mãos na pele exposta da árvore. Depois disso, passou as mãos macias pelos meus braços, pernas, peito e costas, O óleo de amargão não só tinha um aroma doce e picante, mas era também um eficaz repelente de insetos.

– Bem – eu disse enquanto inspirava profundamente – isso preencherá cerca de três páginas do caderno de Kaitlin.

Ela respondeu com um leve sorriso enquanto lentamente esfregava meu bíceps, depois retornando ao meu peito. Meu coração começou a acelerar, e me perguntei se ela podia sentir a batida pelas pontas dos dedos. Como se tivesse lido meus pensamentos, ela baixou os olhos e tirou as mãos de mim. Ela então aplicou um pouco do óleo em seus próprios braços e abdômen.

– Aqui – eu disse – deixe-me ajudá-la.

Alguns minutos mais tarde, ela me levou ao luar até a base de uma enorme árvore de andiroba, depois subimos mais e mais. Em nosso berço, no topo mais alto, balançando suavemente na primeira brisa, nos aninhamos e passamos a noite juntos.

* * * * * *

Na manhã seguinte, o modem IBM de Cian estava pendurado em meu pescoço e meu isqueiro Zippo agora era seu amuleto. Ela costumava segurá-lo entre os lábios, sorrindo e nunca se cansava de abri-lo para se assegurar de que a chama ainda vivia dentro do coração metálico. Eu frequentemente verificava meu suprimento de fluído, a felicidade dela se tornara essencial para minha existência.

A presença de Cian na minha vida me mudou completamente, mas minha intrusão no mundo dela não a alterou de maneira alguma, exceto por seu lindo sorriso para mim, por isso, serei eternamente grato.

À noite, saímos do acampamento juntos, praticando minha discrição e astúcia, ela guiou minha mão adaptando-se ao vínculo humano. Juntos, capturamos, matamos, esfolamos e filetamos a carne a ser defumada sobre o fogo. Ela me ensinou uma dúzia de maneiras para capturar e matar cobras, às vezes, parecia que seu principal objetivo na vida era livrar toda a Amazônia das criaturas rastejantes que pudesse encontrar.

Comíamos quando tínhamos fome, dormíamos quando estávamos cansados, por vezes, nossos amuletos se enroscavam juntos como um ramo de capirona. Talvez eu também estivesse ficando selvagem de coração, mas não acho que isso importava para ela. Se importava, ela nunca deixara transparecer.

Na próxima vez em que embarcamos na água, o rio se alargou e, curiosamente, vagou de volta pela borda do meu mapa. Eu andei na frente do nosso navio, e ela estava à popa. Ainda assim, eu olhava para ela em busca de orientação, mas aprendi a sentir nosso curso, sentindo suas correções suaves, tentei ler a água como ela, mas só via ondas entrelaçadas.

* * * * * *

Quinze dias depois de conhecer Cian no cais de Manaus, chegamos a um assentamento abandonado às margens de um rio que, de acordo com o “Mapa Revisado da Bacia Amazônica”, era chamado Rio da Melancolia. Eu pensei que a vila era Alichapon-tupec, mas esse nome não estava marcado no mapa, na verdade, não havia nenhuma indicação no gráfico de qualquer comunidade naquele local. A vila estava completamente deserta e assim parecia estar há muitos anos,

Cian vagou, como se estivesse procurando algo, mas ela parecia estar perdida ou confusa. Enquanto a observava, senti uma crescente sensação de desconforto, finalmente, ela chegou a uma rede velha balançando suavemente na brisa do meio-dia. Eu andei ao lado dela quando Kaitlin e Rachel vieram para o outro lado. Ali, deitado no tecido podre, havia um esqueleto.

Cian

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