Читать книгу O conde de castelfino - Paixões mediterrâneas - Christina Hollis - Страница 6
Capítulo 1
ОглавлениеMeg acordou, sobressaltada, mas apercebeu-se em seguida de que continuava no avião. Tinham acontecido muitas coisas desde a Feira de Flores de Chelsea, mas a imagem de Gianni Bellini continuava a persegui-la. Só a emoção de trabalhar na villa Castelfino poderia fazer com que o esquecesse. Tinha ido regularmente à Toscana durante as últimas semanas, mas, a partir daquele dia, seria oficialmente «responsável pelas plantas exóticas do conde de Castelfino». Era o início oficial do seu novo trabalho como empregada do conde italiano.
E, embora estivesse desejosa, Meg sentia-se inquieta. Seria a primeira vez que viveria fora da sua casa, afastada dos seus pais, e não gostava de os deixar sozinhos no viveiro, porque sabia que dava muito trabalho. E não ajudava nada que tivesse a cabeça a latejar e todos os músculos doridos por causa da viagem.
Mas contentou-se ao pensar que alguém iria recebê-la ao aeroporto. Assim que saísse do terminal, Franco, o motorista do conde, estaria lá para a ajudar, como tinha feito durante as últimas semanas.
Mas, quando finalmente aterraram e saiu do terminal, Franco não estava ali. Assustada, questionou-se se teria havido algum problema na villa Castelfino. Sabia que o velho conde não se dava bem com o filho e, embora Meg nunca tivesse visto o «ragazzo», como costumava chamá-lo o seu aristocrático chefe, com desdém, tinha descoberto o suficiente para que não lhe agradasse.
O conde de Castelfino amava a sua propriedade, com os seus olivais, os seus velhos carvalhos e os seus prados cheios de flores silvestres. O seu filho queria transformar tudo aquilo numa monocultura, apenas vinhedos a perder de vista. Quanto à amada colecção de plantas exóticas… Enfim, a ambição do idoso parecia em perigo, em contraste com as ambições do seu filho. A vida na villa Castelfino era uma luta entre a beleza e o negócio.
De modo que esperou, mas ninguém veio buscá-la. «Um mau início para alguém que trazia uma tonelada de bagagem», pensou Meg. Mas, em vez de continuar à espera, decidiu apanhar um táxi.
O taxista reconheceu imediatamente a morada e sorriu, falando em italiano, o que a animou um pouco. Pelo menos, alguma coisa corria bem. Tentou explicar-lhe a situação, mas o seu domínio do italiano era péssimo e o taxista achava-o muito engraçado.
Suspirando, Meg recostou-se no banco.
«O que estará a fazer agora Gianni?»
«De certeza que nunca o deixaram pendurado num aeroporto», pensou, imaginando-o a afastar uma multidão de namoradas para chegar até ela.
Suspirando, questionou-se se voltaria a vê-lo algum dia. Não, de certeza que não. A sua única esperança era convencer o conde de Castelfino a exibir as plantas numa das feiras de Londres. E, nos seus sonhos, o lindo Gianni Bellini iria à procura de mais presentes para o harém.
Durante a viagem, imaginou como seria ser seduzida por um homem tão encantador. «É lógico que tenha tantas namoradas», pensou, porque o sorriso dele a tinha cativado como nenhum outro.
Ela era mulher de um só homem, de modo que a sensatez sempre lhe tinha pedido que se afastasse de alguém como Gianni Bellini. Mas, nas suas fantasias, podia fazer o que quisesse.
E também o senhor Bellini…
Enquanto Meg fantasiava, o homem dos seus sonhos olhava para o cano de uma arma. Podia ser o gargalo de um decantador de conhaque, mas era igualmente mortífero.
Gianni Bellini sabia perfeitamente que o álcool só servia para abrandar os seus movimentos. Estar tanto tempo sem dormir era mau e beber álcool pioraria a situação e a relação com os seus empregados, de modo que decidiu não o fazer.
– Prefere um copo de champanhe, signor Bellini? – perguntou-lhe o mordomo.
A única coisa que recebeu como resposta foi um gemido e um gesto com a mão para que o deixasse sozinho.
Apenas vinte e quatro horas depois da sua sentença a prisão perpétua, Gianni continuava a tentar entender o que tinha acontecido. Sempre tinha sabido que aquele era o seu destino e tinha reagido mostrando-se ferozmente independente, para não ter de depender do dinheiro do seu pai. Por isso, tinha forjado uma carreira brilhante alheia a Castelfino. Enquanto o seu pai fora vivo, o vinhedo de Gianni tinha ocupado apenas alguns hectares da propriedade, mas isso ia mudar.
Agora que tinha o controlo total, o seu negócio ocuparia toda a propriedade. Apesar do cansaço, Gianni teve de sorrir. Isso evitaria as pressões, pelo menos, por enquanto. Toda a gente sabia que estava obcecado por fazer com que os vinhos de Castelfino obtivessem fama internacional e pensaria que, simplesmente, estava a deixar o assunto do herdeiro para mais tarde.
Agora que tinha herdado as posses do seu pai, não haveria maneira de o parar. Toda a propriedade Castelfino se transformaria num vinhedo. A produção de vinho aumentaria e também a satisfação de Gianni.
Gostava do papel de milionário que subira a pulso, embora a sua imagem de Don Juan tivesse um valor intangível. Era bom ter uma mulher diferente todas as noites, mas isso não passava de um benefício passageiro. Enquanto os jornalistas tentavam descobrir qual das suas belas acompanhantes escolheria como esposa, Gianni mantinha em segredo a sua verdadeira amante: o vinhedo de Castelfino.
No que se referia a filhos, por enquanto não queria saber nada disso. A sua própria infância tinha sido um inferno e jamais lhe ocorreria fazer algo parecido a outra criança.
Alguma coisa chamou a sua atenção então, uma coluna de pó no caminho que levava à villa…
Gianni pestanejou, incomodado. Não lhe apetecia receber ninguém, mas fez um esforço para se levantar. O seu cérebro continuava a trabalhar apesar da falta de sono, mas as suas pernas pareciam agarradas ao chão.
Atravessou a sala para abrir a porta que dava para o terraço, já que tinha a obrigação de receber aqueles que viessem dar-lhe os pêsames pela morte do seu pai.
Lá fora, não se mexia nem uma folha naquela tarde de Verão, mas conseguia ouvir o canto solitário de um pássaro. O outro som era o motor de um carro. Tudo o resto parecia conter a respiração.
Não era um carro de luxo, mas um táxi, mas não teve tempo de se surpreender antes que o taxista saísse para abrir o porta-bagagem.
O homem tirou imensas malas, que deixou no chão, enquanto conversava com o passageiro, o qual ainda não tinha visto. Gianni observava a cena, incrédulo. Enquanto isso, o rádio do táxi estava ligado…
Ninguém na villa Castelfino tinha levantado a voz durante dois dias. Até àquele momento, tinham mantido as persianas fechadas e aquele estrondo inesperado estava a mobilizar o pessoal da casa. Alguém saiu da cozinha, por uma porta lateral, para tentar sossegar o taxista ruidoso, mas outra surpresa esperava o novo conde.
A porta do táxi abriu-se e dele saiu uma mulher muito bonita. Ao sair, a saia que usava deixou ver umas pernas bem torneadas e lindas. O seu cabelo, loiro-escuro, caía-lhe sobre os ombros. Parecia enjoada ou confusa e teve de se apoiar no carro, talvez pela diferença entre o ar condicionado do táxi e o calor sufocante da tarde. Era lógico, pois usava meias.
O seu corpo tinha despertado para a vida, como lhe acontecia sempre que via uma rapariga bonita. Mas como podia o destino pregar-lhe aquela partida num dia como aquele? O seu interesse por mulheres era uma coisa natural, mas reparar naqueles detalhes, dois dias depois da morte do seu pai, era grotesco, de modo que desviou o olhar.
Mas então ouviu uma gargalhada cativante…
– Signor Bellini, que surpresa! Não tinha esperado voltar a vê-lo e muito menos aqui – ao ver a sua expressão, a jovem ficou calada. Num segundo, passou da alegria à surpresa e depois, ao desconcerto. – É o homem que conheci na Feira de Flores de Chelsea, não é?
– Sim, sou Gianni Bellini – disse ele.
Acabava de a reconhecer, era a rapariga da banca de orquídeas. Gianni nunca esquecia uma cara bonita ou um corpo com umas curvas como aquele, mas não lhe tinha ocorrido que pudessem voltar a ver-se.
– Está mudado… Todas essas namoradas estão a deixá-lo de rastos, signor Bellini.
– O que faz aqui? – perguntou-lhe ele, com tom seco.
A jovem franziu o sobrolho.
– Trabalho para o conde de Castelfino e tínhamos combinado que hoje me instalaria na propriedade. Normalmente, alguém vai buscar-me ao aeroporto, mas, por alguma razão, o motorista não apareceu.
– Porque o meu pai morreu. Agora, eu sou o conde de Castelfino – anunciou Gianni, com formalidade fria.
O sorriso da jovem desapareceu imediatamente.
– Lamento imenso… – nervosa, olhou para o táxi. – E lamento ter chegado assim. Eu não sabia de nada… Posso perguntar o que aconteceu?
– Sofreu um enfarte há alguns dias, em Paris. Morreu ontem… – abanando a cabeça, Gianni passou uma mão pela cara.
– Lamento imenso – repetiu a jovem.
– Não tinha como saber e eu não sabia que a esperava aqui, foi por isso que ninguém foi buscá-la ao aeroporto. Eu cheguei à propriedade há uma hora, mas receio que tenha feito a viagem em vão, menina – distraído, Gianni olhou para o táxi, enquanto tirava a carteira do bolso. – De qualquer forma, como é que os seguranças a deixaram entrar?
– Estavam à minha espera. O meu nome está na lista de visitantes – respondeu ela. – Mas não posso voltar… As plantas da estufa precisam de cuidados e o conde, o seu pai, queria que cuidasse delas.
Gianni abanou a cabeça.
– Agora, eu sou o conde de Castelfino e tenho outros planos para a propriedade. É o início de uma nova direcção e aqui não há lugar para nada que não dê lucro. Eu sou muito mais prático do que o meu pai.
Enquanto falava, viu que os olhos da jovem ficavam húmidos. Quase parecia que se encolhera e, quando falou, a sua voz era apenas um murmúrio.
– Não pode dizê-lo a sério…
– É claro que sim! O vinhedo de Castelfino é a única coisa que me importa. Estou interessado em coisas práticas, não em passatempos absurdos.
Mas, como os velhos hábitos eram difíceis de esquecer, Gianni passou-lhe um braço pelos ombros para a levar até ao táxi.
– Não se preocupe, signorina. Eu pagarei o táxi de volta ao aeroporto e, quando chegar lá, o meu secretário já se terá encarregado de que tenha um bilhete de volta à sua espera. De onde vem, já agora?
– De Heathrow, mas…
Quando chegaram à porta do táxi, Gianni pôs algumas notas na mão do taxista.
– Lamento imenso que tenha vindo até aqui para nada, signorina. Adeus, tenho de ir!
Mas teve de fazer um esforço para não pensar naqueles lábios generosos, naqueles olhos tão azuis. Deveria estar a concentrar-se nos seus planos para os vinhedos de Castelfino, não a distrair-se com uma jovem bonita.
– Não, obrigada, signor Bellini.
Gianni parou, franzindo o sobrolho. Aquilo não deveria acontecer. Se a rapariga tivesse alguma coisa a dizer, deveria ser «obrigada». Era assim que funcionavam as coisas no seu mundo. As pessoas faziam o que lhes pedia, sem discussões.
Mas, enquanto se perguntava como era possível que aquela rapariga tivesse interpretado mal as suas instruções, ouviu uma porta a fechar-se e depois o som de passos, o que o fez virar a cabeça.
E o que viu deixou-o perplexo. A rapariga dirigia-se para ele.
Gianni Bellini, conde de Castelfino, pensou em todos os empregados que estariam a observar a cena. Ele podia ser um Don Juan, mas sabia o que devia fazer e devia reforçar a sua autoridade. Quando aquela rapariga tentasse protestar histericamente, silenciá-la-ia, decidiu.
No entanto, não teve de o fazer.
– Com todo o respeito, signor Bellini, acho que devo ficar. Pelo menos, durante algum tempo.
Absolutamente surpreendido, Gianni ficou em silêncio. Não pelo que tinha dito, mas pela forma como o tinha dito.
«É quase como se estivesse tão preocupada como eu com o que dirão os empregados… Mas isso não é possível.»
– Tem a coragem de me falar de respeito? Uma mulher que chega a rir-se a uma casa que está de luto?
Meg ficou petrificada, mas o desespero fez com que se mantivesse firme. Tinha de convencê-lo para que a deixasse ficar na propriedade.
– Não era a minha intenção – desculpou-se. – Não teria levantado a voz de estivesse a par das circunstâncias. Não podemos começar novamente?
Desde que chegara, dera-se conta de que aquilo não ia ser fácil, mas agora parecia-lhe impossível. E precisava daquele emprego. Havia demasiada gente que dependia dela e não podia partir sem tentar novamente.
– Quando o seu pai era vivo, disse-me que queria que trabalhasse para ele – começou a dizer. – Eu era a pessoa mais qualificada para o lugar e, sem os meus conhecimentos, as suas plantas morreriam. Tinha muitos planos para a propriedade e… Bom, eu acho que seria uma maneira de honrar a sua memória. Estava sempre preocupado com o futuro e muitas das suas ideias eram muito práticas. Inclusive, falou de, um dia, mostrar as suas plantas ao público para aumentar o turismo na zona e imagino que queira seguir em frente com esses planos. Qualquer homem se sentiria orgulhoso desse legado, sei-o muito bem.
– Como é que sabe? – perguntou ele.
– Porque o meu pai se parece muito com o seu – respondeu Meg. – Quando ficou doente, continuava a preocupar-se com o que deixara para trás e não conseguia descansar, portanto, ele era o seu pior inimigo. O seu pai era um bom homem, signor Bellini, e merece um tributo. Trabalhei com ele neste projecto e estava tão entusiasmado que realmente acho que seria um erro que o cancelasse.
Gianni ficou a olhar para ela. E depois esboçou um daqueles sorrisos que a tinham perseguido em sonhos desde o dia em que o conhecera, enquanto lhe estendia a mão.
– Permita-me que a felicite, menina…
– Megan Imsey.
Quando Gianni agarrou a sua mão, Meg ficou corada.
– Permita-me que a felicite, menina Imsey. Fiquei sem palavras… Algo que nunca me tinha acontecido.
Meg também sorriu. Em poucos minutos, Gianni Bellini tinha passado do homem dos seus sonhos a um ser humano de carne e osso, alguém em quem podia tocar.
E, para sua surpresa, apercebeu-se de que tinham, pelo menos, algumas coisas em comum. O trabalho era tudo para ele e era tão bom a esconder os verdadeiros sentimentos como ela. Poderia ter começado como uma fantasia sua, mas Meg reconhecia nele uma pessoa realista.
Vinda de uma família sem grandes meios económicos, ela era obcecada por ganhar dinheiro e, além disso, precisava daquele emprego. E, caso não fosse razão suficiente, Gianni Bellini era uma pessoa tão magnética… Muito mais elegante e mais experiente do que alguém que tivesse conhecido. E agora que se vira projectado para uma posição de poder, queria saber o que ia fazer com os seus planos.
– Não acho que deva tomar uma decisão neste momento. Imagino que tenha um milhão de coisas em que pensar.
Podia ter prática na arte de esconder as emoções, mas, durante um segundo, Meg viu um brilho de dor nos seus olhos. A qualquer outra pessoa teria passado despercebido, mas ela também já tinha estado em alguns lugares escuros e frios. Recordava como tinham sido horríveis os momentos em que o seu pai se debatia entre a vida e a morte…
– E o mais importante dessa lista deveria ser você mesmo – acrescentou.
– Eu estou perfeitamente – replicou ele.
– Pois, parece que não passou bem a noite – insistiu Meg.
– Eu não estava presente quando aconteceu – murmurou Gianni, quase como para si mesmo. – Estava numa discoteca, com centenas de pessoas, a nenhuma das quais teria importado que tivesse caído morto aos seus pés. Fui directamente para o hospital e sentei-me ao lado do meu pai, tentando sentir alguma coisa. Não sentia nada, mas então…
De repente, ficou calado.
– Está tudo bem – disse Meg, pondo uma mão no seu braço.
Mas Gianni recuou.
– Depois, vim directamente para aqui, porque este sítio não se gere sozinho… – murmurou, olhando para o seu relógio. – Dio! Não durmo há dias…
– Já me dei conta.
E entendia-o. Também ela tinha passado muitos dias sem dormir quando o seu pai estava no hospital.
As lembranças continuavam a ser como uma ferida aberta e, de repente, sem pensar, abraçou-o. Não conseguiu evitá-lo. Mas a reacção de Gianni foi igualmente instintiva, afastando-a educadamente.
– Não, estou bem. Por favor, não…
– Está bem, sei que o preocupa que os empregados estejam a olhar, mas não fará nenhum favor a ninguém nesse estado de cansaço. Tem de descansar e, a menos que o faça, acabará também no hospital. E então quem cuidará da villa Castelfino e de toda a gente que vive aqui?
Ele olhou para ela, com expressão enigmática. Gianni Bellini estava por barbear, exausto, mas, mesmo assim, era totalmente irresistível. Pensou então em todas as fantasias que tinha tido com ele. Tinha passado tantas noites a recordar a sua cara, o seu sorriso, o seu encanto… E, agora que estava ali, ao seu lado, ficava corada até à raiz dos cabelos!
– Porque está a fazer isto, menina Imsey? Acabou de chegar… Porque lhe importa o que se passa comigo? Eu sou um homem frio e prático, qualquer pessoa poderá dizer-lho. E, quando cancelar todos os projectos absurdos do meu pai, não haverá trabalho para si aqui.
Meg arqueou um sobrolho, surpreendida. Os planos do conde tinham-lhe parecido muito sensatos. Aquele era o emprego dos seus sonhos, mas, se não houvesse lugar para ela nos novos planos de Gianni, talvez estivesse na altura de lhe dizer algumas verdades.
– Não posso permitir-me que não me importe. Sou empregada da villa Castelfino, mas, pelos vistos, o senhor é a única pessoa que parece saber que vim trabalhar para cá, de modo que é importante que me preocupe consigo, se quiser receber o meu salário, signor Bellini. E existe sempre a possibilidade de que mude de ideias e continue com os planos do seu pai.
A expressão de Gianni passou de resignação a desagrado.
– Devia ter imaginado. Com as mulheres, tudo se cinge ao dinheiro. E ainda me perguntam porque é que não me caso!
Aquela resposta foi uma chamada de atenção para Meg. Na vida real, estava a ser um homem muito diferente do que ela tinha inventado. E, sem ilusões a respeito de Gianni, a única coisa que podia esperar era manter o seu emprego. Para além das razões práticas, os seus pais tinham-se despedido dela no aeroporto com tantas esperanças… Não queria dar-lhes um desgosto, voltando para casa sem ter conseguido nada.
– Não é só dinheiro, signor Bellini, é também sensatez. A minha família depende de mim. O negócio está a correr bem agora, mas toda a gente sabe como podem mudar as circunstâncias a qualquer momento.
Gianni assentiu com a cabeça, mas não disse nada.
– Por isso, preciso deste emprego – continuou Meg. – O seu pai decidiu que viveria no pavilhão que há ao lado da estufa. Já vim cá algumas vezes, portanto, sei onde fica. Não precisa de se preocupar comigo, não serei um problema para ninguém. E podemos falar disto mais tarde… Devia descansar.
– Não, tenho de estar desperto.
Mas parecia tão beligerante como só podia estar alguém privado de sono durante vários dias.
– Claro que sim, por isso, deve dormir um pouco. Não se preocupe, eu sei mais ou menos como funciona esta casa. Os seus empregados mantê-lo-ão informado de tudo – disse-lhe, falando com ele como faria com uma criança. – O seu pai disse-me que só contratava pessoal capaz.
Gianni olhou-a nos olhos. E depois, de forma inesperada, voltou a agarrar a sua mão para a levar aos lábios. O beijo que depositou nos seus nós dos dedos provocou um calafrio que a deixou sem ar e nos olhos dele via a mesma promessa que recordava do seu primeiro encontro.
– Sim, é verdade – murmurou. – Agora, dou-me conta.