Читать книгу O conde de castelfino - Paixões mediterrâneas - Christina Hollis - Страница 8
Capítulo 3
ОглавлениеBeijaram-se com uma paixão abrasadora. Gianni segurava-a pela cintura, enquanto ela afundava os dedos no seu cabelo. Era tudo o que tinha sonhado, tudo o que precisava e queria, mas… era um erro. Tentando controlar a paixão, Meg inclinou a cabeça para trás.
– Não, Gianni, espera…
Alarmado, ele largou-a.
– O que se passa?
– Nada… Não pode acontecer nada.
– Bom, talvez tenhas razão – ele apertou a sua cintura, rindo-se, um som irresistível.
– Não! Não tens sentido de ética, de moral?
– Quando se trata de uma rapariga tão bonita como tu, não – inclinando a cabeça, Gianni começou a beijar o seu pescoço.
Meg tinha de agir depressa. Nas suas fantasias, Gianni era irresistível, mas agora, perante a realidade, estava a chegar a um ponto sem retorno.
Lutando contra o desejo de se derreter entre os seus braços, apoiou as mãos nos seus ombros e recuou.
– Como pude esquecê-lo? Claro que não sabes nada de ética, nem de moral! Afinal de contas, tu és Gianni Bellini, o famoso mulherengo, não és?
Gianni não parecia um homem que se deixasse amedrontar por ninguém e muito menos por uma rapariga de um metro e sessenta. Mas, embora não a tivesse largado, Meg reparou que já não estava zangado.
Pelo contrário, sorria e o seu encanto deveria torná-lo mais perigoso, mas sabia que já não era uma ameaça para ela… Pelo menos, por enquanto. Gianni Bellini era um homem leal à sua família, não o tipo de pessoa dada a provocar escândalos e muito menos com alguém que trabalhava para ele.
– Vim para trabalhar na villa Castelfino, não para me tornar uma fonte de entretenimento para ti – advertiu-o, caso houvesse alguma dúvida.
Ele não disse nada, limitou-se a enfiar as mãos nos bolsos das calças.
– Devo entender que estás de acordo?
– Tenho de o aceitar, dadas as circunstâncias – disse Gianni então, brincalhão.
– Não há maneira de discutir contigo, pois não?
– Não, receio que não. Mas, como em breve descobrirás, Megan, quando se trata de trabalho, as coisas fazem-se à minha maneira ou não se fazem. Só queria saber até que ponto desejavas este emprego.
Apesar do tom desenvolto, Meg percebeu o significado sinistro daquelas palavras.
– Quer dizer que vais despedir-me?
Gianni olhou para ela, surpreendido.
– Não, claro que não! Isso seria ilegal. Mas, sobretudo, seria imoral. Estamos no século XXI e eu sou teu chefe, mas isso não significa que possa tomar certas liberdades. Quem achas que sou? Eu estou sempre interessado em passar um bom bocado, mas agradar às mulheres é do que mais gosto, Megan – Gianni estendeu uma mão para afastar a franja da sua cara, descendo-a depois com evidente desinteresse. – A chantagem não tem lugar na minha vida. Se não quiseres ir para a cama comigo, parece-me bem. É uma pena, mas parece-me bem.
Meg sentiu-se novamente desconcertada. Desejava atirar-se novamente nos seus braços, mas não conseguia mexer-se.
– Na verdade, estou aqui para te advertir que a cozinheira virá em paz. Não quer um segundo assalto, portanto, não descarregues nela a tua frustração sexual, está bem?
E, depois de dizer aquilo, virou-se, deixando Meg boquiaberta.
Mas, enquanto se afastava, apercebeu-se de uma verdade terrível: ela queria ir para a cama com Gianni Bellini.
Desejava-o mais do que tudo na sua vida.
A partir daquele momento, a emoção de trabalhar na villa Castelfino passou para segundo plano. Meg não deixava de pensar em Gianni Bellini. Tinha-a enfeitiçado. Sendo tão atraente em todos os sentidos, o feitiço que exercia sobre ela não se dissipava.
Apesar de o seu sonho se ter tornado realidade, o poder que Gianni tinha sobre ela aumentou em vez de desaparecer.
Embora quase não se vissem, Meg estava nas sete quintas. Não parava de recordar aquele beijo tórrido, mas, quanto a Gianni, era como se não tivesse acontecido nada. Não mostrava sinal algum de querer repetir a experiência. Passava os dias trancado no escritório, enquanto ela estava o tempo todo no jardim, mas isso não evitava que tentasse procurá-lo.
Não deixava de recordar as suas palavras: «agradar às mulheres é do que mais gosto».
Gianni tinha-a acusado de estar sexualmente frustrada, mas, se fosse assim, a culpa seria sua. Com uma única relação séria na sua vida, Meg não era especialista em romances. Tinha usado os estudos para não ter de se dar com as pessoas… e, até ao seu encontro com Gianni, não se dera conta do que estava a perder. Ele tinha acendido a chama do seu desejo e agora a única coisa que queria era que acontecesse outra vez.
Gavin, o seu único namorado, era um bom rapaz, mas sempre quisera mais do que ela podia oferecer-lhe. Além disso, pretendia monopolizar o seu tempo, quando o que ela queria era estudar.
Depois de ver os seus pais a lutar para chegar ao fim do mês, Meg sabia o valor dos estudos e não tinha intenção de deixar a sua carreira para se casar antes do tempo. Ou assim tinha pensado no passado…
Porque Gianni Bellini tinha aparecido na sua vida, arrasando todos os seus planos. Não se parecia com nenhum outro homem que tivesse conhecido, mas estava sempre nos seus pensamentos.
Por vezes, tinha-o visto a passear pelos ciprestes, a falar ao telemóvel. E, dessas vezes, observara-o. Era muito melhor do que vê-lo a passear pela propriedade com o administrador ou com algum dos empregados que se encarregavam dos vinhedos.
À noite, Meg enfrentava um dos seus grandes prazeres e também uma das piores torturas. O pavilhão onde se hospedava não ficava longe da entrada e sabia sempre se Gianni tinha saído ou se continuava em casa, dependendo de o Ferrari estar ou não à porta.
Da primeira vez que ouvira o rugido do motor, tinha-lhe caído um prato de biscoitos. Era mais estrepitoso do que o ruído dos aviões da RAF a fazer testes em Inglaterra.
Depressa se habituara, mas, quando Gianni voltava para casa às tantas da madrugada, era impossível que pudesse voltar a conciliar o sono. Sentindo-se culpada, levantava-se da cama para espreitar pela janela e escondia-se entre as sombras, com a esperança de o ver. E continha a respiração quando o via a sair do carro, para subir os degraus da entrada, receando sempre que aparecesse com uma mulher ou um harém delas. Nunca fora assim. Voltava sempre sozinho.
E deveria sentir-se aliviada, se não fosse um facto perturbador: Gianni olhava sempre para o pavilhão onde se hospedava antes de entrar em casa. Como é claro, Meg escondia-se atrás da cortina, mas era indiferente. Gianni olhava para a janela do seu quarto, quase como se olhasse directamente para ela.
Alguma coisa devia tê-lo alertado, mas nunca lhe tinha dito nada a esse respeito. E isso era estranho. Agora, conhecia-o o suficiente para saber que não guardaria para si mesmo uma coisa assim, mas não dizia nada e Meg sofria em silêncio. Claro que a alternativa era deixar as suas vigílias, algo que não estava disposta a fazer.
Meg viveu numa agonia de incerteza durante vários dias, enquanto fiscalizava a construção das estufas magníficas que tinha desenhado… Sem mais visitas de Gianni. Só aconteceu quando estava a dar os últimos retoques ao interior de uma delas.
O seu telemóvel interrompeu-a quando estava a plantar orquídeas.
– Menina Imsey? O conde de Castelfino quer vê-la no seu escritório – era um dos assistentes pessoais de Gianni e o coração de Meg começou a dar saltos.
– Muito bem. Quando?
Do outro lado da linha houve silêncio e Meg apercebeu-se de que devia ser a primeira vez que alguém fazia Gianni Bellini esperar.
– Imediatamente – respondeu o homem, muito seco.
Não precisava de mais avisos. Percorrendo a distância entre o jardim e a casa a toda a velocidade, ainda estava a tirar folhas das calças de ganga quando entrou na recepção. E todos os ruídos cessaram imediatamente.
Os olhares das secretárias e dos assistentes cravaram-se nela, das calças de ganga sujas de terra às botas de trabalho. Uma mulher, tão bela como uma ave-do-paraíso, afastou as folhas com o pé, enquanto outra dava um passo em frente, para pôr um plástico sobre o tapete persa que cobria o chão de madeira.
– Entra, por favor.
Meg achava que estava nervosa, mas, ao ouvir a voz de Gianni, teve de engolir em seco.
Sentado a uma secretária enorme de mogno e de costas para a janela era uma figura imponente. Sem saber o que fazer, olhou para trás, mas uma das secretárias tinha fechado a porta, impedindo qualquer possibilidade de fuga.
Meg percorreu a distância até à secretária, enquanto Gianni escrevia qualquer coisa num bloco.
Ouviu o latido de um cão ao longe e o tiquetaque de um relógio. O cão ladrou pela segunda vez. Sob a secretária, Gianni mexeu os pés.
Parecia estar a testar os seus nervos e, de repente, Meg não conseguiu aguentar mais.
– Peço desculpa por ter estado a espiar-te da minha janela à noite, mas o ruído do teu carro acorda-me e depois já não consigo voltar a adormecer…
Gianni tinha levantado a cabeça quando começara a falar e olhava-a, com curiosidade descarada.
– Isso é muito interessante, Megan. Extremamente interessante – murmurou, pousando a caneta e recostando-se na poltrona. – Sabias que não tinha a ideia de que fazias isso?
Meg fez uma careta.
– Não?
– Chamei-te por uma razão totalmente diferente. Queria saber como estavas, só isso. Mas talvez queiras sair, voltar a entrar e recomeçar esta reunião.
Ela olhou por cima do seu ombro. «Talvez fosse melhor», pensou. «Fingir que não tinha dito nada.»
– Tenho de o fazer?
– Não o disse a sério – Gianni riu-se, com aquela expressão divertida de que tanto tinha gostado na Feira de Flores de Chelsea. E que teve o mesmo efeito que então, acalmando os seus nervos e fazendo-a sorrir finalmente.
– Talvez tenhas razão. Ter de enfrentar os teus assistentes, sem ter tomado um duche e mudado de roupa, é um verdadeiro desafio.
– Pareces-me óptima – disse ele, olhando-a de cima a baixo.
– Pois, eles não acharam – Meg sorriu. – Assim que me viram, puseram um plástico no chão… Nada de tapete vermelho para mim.
– Não o leves a mal – Gianni sorriu. – Com frequência, vêm visitar-me pessoas que cuidam dos vinhedos ou do pomar de limões e o escritório ficaria imundo se não tomássemos algumas precauções.
– Os empregados da casa não se parecem nada com as pessoas que trabalham no campo.
– Os meus empregados são óptimos, todos eles, mas não te preocupes, Megan, eles não te vêem como uma ameaça.
– Supõe-se que isso deva animar-me?
– Sim, claro – disse ele. – Bom, vamos ao que interessa: como estás? Queria falar contigo, mas, assim que te vejo no jardim, desapareces para qualquer lado.
– Eu também queria falar contigo.
– Ah, isso parece promissor! Senta-te, por favor – Gianni assinalou a poltrona que havia à frente da secretária.
Mas, para chegar até lá, teria de sair do plástico protector e ficou parada, sem saber o que fazer.
– Não te preocupes com o tapete – ele riu-se. – Normalmente, a equipa de limpeza não tem muito para fazer por aqui e umas pegadas não os incomodarão.
Meg deixou-se cair na poltrona e, apoiando os cotovelos na secretária, Gianni inclinou-se para a frente, com um sorriso nos lábios.
Depois de todas as suas fantasias, das horas que tinha passado acordada, a perguntar-se o que dizer e como agir da próxima vez que se vissem, Meg voltou a ficar gelada. A sua confissão tola poderia ter sido um erro grave, porque, se Gianni tentasse alguma coisa, não conseguiria oferecer resistência. Nervosa, olhou para as mãos sobre o colo, tentando disfarçar.
– Já que tenho a oportunidade, eu gostaria, se fosse possível… Enfim, eu gostaria de saber se há alguma possibilidade de que faças menos barulho à noite, quando voltas para casa. Porque, quando acordo, já não consigo voltar a adormecer – angustiada por ter sido tão parva para lhe fazer aquela confissão, Meg esperou que se risse do assunto.
Mas a única coisa que fez foi recostar-se na poltrona e ficar calado.
– Estive a pensar nisso desde que o mencionaste. Tu foste a primeira pessoa que mo disse. Nunca ninguém se queixou.
Meg tentou brincar sobre o assunto:
– Se calhar, têm medo de ti.
– E tu, não?
Parecia mais curioso do que zangado e Meg levantou o olhar. Parecia sereno, embora os seus lindos olhos escuros estivessem cheios de perguntas.
– Terei de pensar nisso – disse, finalmente.
Era verdade. Gianni Bellini podia ser aterrador, mas também era encantador e divertido. O problema era que não sabia se as suas emoções eram profundas ou genuínas.
– Não demores muito a tomar uma decisão – ele sorriu.
– Tentarei.
– Portanto, acordo-te à noite, hã? Já pensaste que, enquanto estavas a observar-me, podias ter continuado na cama, a descansar?
– Não faz sentido, àquela hora da madrugada. Prefiro levantar-me e pôr-me a trabalhar.
– Eu sei. Quando eu vou para a cama, tu já estás no jardim.
Meg franziu o sobrolho, surpreendida.
– Como sabes?
Gianni limitou-se a sorrir, enquanto esperava que ela somasse dois mais dois. E não demorou muito a fazê-lo. O caminho desde o seu pavilhão até à zona do jardim onde estava a trabalhar passava directamente à frente da casa e, certamente, vê-la-ia da janela do quarto dele.
Meg teve uma visão deliciosa de Gianni nu, à varanda, a observá-la. Em qualquer altura poderia ter levantado o olhar, mas nunca o tinha feito.
De qualquer forma, ele respondeu com um sorriso que parecia conter todo o tipo de possibilidades.
– Não te preocupes. Agora que sou o conde de Castelfino, sairei menos e organizarei mais festas na villa. No futuro, não perturbarei o teu sono com tanta frequência – disse-lhe, como se soubesse que perturbaria sempre o seu sono. – Estarei demasiado ocupado a trabalhar… E o teu trabalho foi outra das razões pelas quais te chamei, na verdade. Estive a pensar numa coisa que disseste no dia em que chegaste aqui.
– A que te referes?
– Pedi um relatório sobre ti, Megan Imsey. Contaste ao meu pai que a tua habilidade era tão extraordinária ao ponto de rejeitares trabalhar para a família real inglesa?
– Eu nunca disse nada parecido! – protestou Meg. – Não rejeitei o trabalho… Não podia aceitá-lo, o que é muito diferente. O meu pai sofreu um enfarte no dia a seguir a me terem oferecido o cargo… Eu já tinha aceitado, mas tive de o rejeitar, porque os meus pais precisavam de mim. São a única coisa que tenho e a família é mais importante do que uma carreira profissional.
Gianni encolheu os ombros.
– Pois, eu decidi que estás a desperdiçar o teu talento aqui.
Meg ficou sem fôlego. Estava a desperdiçar o seu talento? O que queria dizer com aquilo?
– O título de conservadora de plantas exóticas confina-te àquelas prisões de vidro e eu quero ver-te livre. Portanto, vais ser a chefe de jardinagem da villa Castelfino. Se o teu trabalho for satisfatório, poderás chegar a ser a coordenadora de horticultura de todas as minhas propriedades… Nos Barbados, nas ilhas Diamond e todas as outras.
Meg não conseguia acreditar. Dizia-o como se fosse uma coisa sem importância e, no entanto, seria um sonho para ela.
Gianni levantou-se e, dando a volta à secretária, sentou-se num canto, esticando as pernas. Se tinha querido tranquilizá-la ao aproximar-se, estava a conseguir justamente o contrário.
– E também haverá todo o tipo de benefícios, claro…
Ela levantou o olhar. O seu futuro estava nas mãos daquele homem tão desejável e tão sedutor. E, a julgar pelo brilho dos olhos dele, estava a um passo de um destino mais tórrido.
– O primeiro ponto da lista é o código de vestuário.
Meg olhou para a sua t-shirt e para as suas calças de ganga sujas.
– Mas eu tenho de usar isto para trabalhar…
Gianni fez uma careta.
– Talvez seja assim em Inglaterra, mas aqui fazes parte do pessoal da villa Castelfino. E decidi que os meus vinhedos e o projecto do meu pai podem ser complementares. Em vez de atrair só enólogos, levar os visitantes dos vinhedos a outras zonas da propriedade poderia ser uma atracção interessante. Mas quero que todos os membros da minha equipa ajam como anfitriões e isso significa que terás de te vestir para o papel.
– Não entendo.
– Vou organizar uma festa e espero que todos se vistam de maneira apropriada. Particularmente tu, Meg, já que mostrarás aos meus convidados esse jardim tropical que estás a criar na propriedade.
Meg começou a relaxar. Se tratasse todos os seus empregados da mesma forma, poderia aceitar uma coisa tão simples como um código de vestuário para certas ocasiões.
– Tive a ideia quando me entregaram o relatório sobre ti – continuou Gianni. – Há cem anos, os aristocratas ingleses costumavam mostrar o jardim aos seus convidados, sabias?
– Sim, claro – disse ela, sem saber onde queria chegar com aquilo. – Mas estamos em Itália.
– Eu sei. Eu passei toda a minha vida a tentar fugir da imagem antiquada dos Bellini, mas, agora que devo encarregar-me de todas as responsabilidades do meu título, estou a tentar que a minha vida seja mais suportável. Os meus antepassados não ficaram de braços cruzados, a desfrutar da sua riqueza, mas tentaram aumentá-la e eu também devo fazê-lo. Transformei algumas dúzias de hectares de vinhedos num negócio milionário e fi-lo para ser uma pessoa independente. Não tenho nada a provar nesse sentido. Agora, pensei começar a produzir outras especialidades locais… A propriedade Castelfino produz um azeite extraordinário, por exemplo. Quero transformar esta villa num sítio fabuloso onde fazer negócios com os meus sócios e os meus amigos, foi por isso que, ultimamente, saí com tanta frequência. Nessa festa servir-se-á tudo o que a propriedade produz: frutas, vinho, azeite, flores… Tudo aquilo de que estou orgulhoso. E quero que dês uma impressão tão espectacular do jardim aos meus convidados como da própria villa, Megan.