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Capítulo 2

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Gianni seguira as instruções de Meg por uma questão de cansaço. Estava tão cansado que o seu corpo tinha assumido o controlo da sua mente, de modo que subiu para o seu quarto e, como se estivesse em piloto automático, tirou os sapatos e caiu sobre a cama.

Quando acordou, o sol batia-lhe nos olhos e a fome fazia com que o seu estômago protestasse ruidosamente. Pegando no telefone, telefonou para a cozinha para que lhe trouxessem alguma coisa para comer. «Megan tinha razão», pensou. «Precisava de descansar e devia ter dormido durante horas.»

Vinte minutos depois, de banho tomado, barbeado e sentindo-se ligeiramente mais humano, dirigiu-se para a sala de jantar da sua suíte, onde lhe tinham servido o pequeno-almoço, embora o seu relógio biológico lhe dissesse que deveria estar a jantar.

Mas não parecia. De facto, não se parecia com nada que tivesse aparecido no menu da propriedade Castelfino nos seus trinta e dois anos de vida.

– Isto tem muito bom aspecto – murmurou, pegando num exemplar de La Repubblica.

– Está muito bom, signor Bellini. A chefe de jardinagem ofereceu-nos esse menu esta manhã – respondeu o mordomo.

Gianni estava prestes a perguntar a quem se referia, mas então reparou numa coisa…

– Este jornal é de segunda-feira. O que aconteceu ao jornal de domingo, Rodolfo?

– O pessoal tinha instruções estritas para não o incomodar, signor Bellini.

Gianni observou a bandeja, com expressão perspicaz. Em vez dos croissants e das salsichas de sempre, havia várias saladas e um prato de vidro com uma coisa que parecia um bolo.

– Isto parece um trifle inglês… Não via isto desde que andava na escola. De onde saiu?

– A chefe de jardinagem sugeriu algumas mudanças no seu menu, signor Bellini.

– Era o que ia perguntar-te há pouco. Eu não sabia que tínhamos uma chefe de jardinagem – disse Gianni, suspeitando o que tinha acontecido. A rapariga inglesa que tinha aparecido na propriedade tinha feito o seu ninho assim que ele se virara.

– A menina Imsey chegou recentemente, signor Bellini.

– Bom, não te preocupes, não ficará aqui muito tempo. Estou mais interessado em habilidades práticas do que em títulos académicos. Quem se esconde da vida numa biblioteca, tem sempre medo do trabalho árduo – Gianni estava convencido do que dizia, mas a expressão de Rodolfo voltou a fazê-lo recear. – Não me digas que te deixaste enganar por aquele sorriso e aqueles olhos azuis… Aquela rapariga só está interessada numa coisa: no salário. Disse-mo ela mesma.

O mordomo não parecia ter pressa em ir-se embota. Era evidente que tinha mais alguma coisa a dizer.

– Mais alguma coisa?

O homem tossiu suavemente.

– Talvez lhe interesse saber que a cozinheira não está de muito bom humor, signor.

Gianni estava a servir-se de uma salada, mas parou ao ouvir aquelas palavras. Saber que Megan conseguia irritar a sua velha e orgulhosa cozinheira fê-lo sorrir.

– E isso não tem nada a ver com a nova chefe de jardinagem, pois não?

– Receio que sim, signor Bellini.

– E a moral na cozinha está…

– Mais elevada do que nunca – respondeu Rodolfo.

– Sempre disse que a família Bellini sabia escolher o pessoal – murmurou Gianni, tentando disfarçar um sorriso de satisfação.

Alguns minutos depois, dispunha-se a comer e, pela primeira vez na villa Castelfino, afastou um prato porque não sobrara nada e não porque lhe provocasse náuseas. Foi então que se apercebeu de que começava a sentir-se bem como não se sentia há anos.

Para além da nova dieta, num único dia tinha dormido mais do que dormia normalmente numa semana.

Mas então recordou a realidade: o seu pai tinha morrido, o futuro de centenas de hectares de terreno e de milhares de pessoas em todo o mundo dependia dele como novo conde de Castelfino. O seu negócio poderia ser ampliado agora, como tinha planeado.

Suspirando, saiu para o terraço, para admirar a propriedade. Todas aquelas terras eram agora suas, sua responsabilidade. Até alguns dias antes, o seu vinhedo tinha ocupado apenas uma pequena parte da propriedade, mas isso ia mudar. Tudo ia mudar. As suas noites de excessos tinham ficado para trás. A partir daquele momento, o negócio vitivinícola ocuparia todo o seu tempo. Assim, poupar-se-ia a ter de pensar num aspecto do seu título nobiliárquico, que pesava sobre ele como a nuvem de cinzas de um vulcão.

Não queria ser o último conde de Castelfino, mas também não queria ver uma criança a sofrer, porque esse era ainda um sabor amargo na sua boca.

Mas nunca tinha olhado realmente para a paisagem que havia diante da sua janela. Talvez porque, simplesmente, sempre tinha estado ali. Agora, todos os vinhedos, oliveiras e carvalhos eram dele.

E então viu Megan Imsey a empurrar um carrinho de mão cheio de ferramentas. Um chapéu de palha escondia a sua cara, mas Gianni conseguia ver que estava a divertir-se. Devia dirigir-se para o jardim amuralhado. Era o último projecto do seu pai, uma extravagância de estufas suficientemente cara para os deixar na ruína.

Porque é que Megan ia para ali, quando já lhe tinha deixado claro o que pensava dos planos do seu pai? E que tipo de pessoa trabalhava quando não tinha de o fazer?

Gianni sorriu. Só tinha de pensar nas vezes em que ele arregaçava a camisa para trabalhar. Graças a essa atitude, tinha conseguido uma boa reputação como produtor de vinho em poucos anos. Tinha-o feito como fazia tudo na sua vida: se se queria uma coisa, o melhor era fazê-la nós mesmos.

Questionou-se então se a menina Imsey teria um interesse semelhante em controlar tudo. Aquele poderia ser o momento perfeito para o descobrir. Fazia um dia lindo e sentia-se sortudo…

O sol da Toscana batia nas costas de Meg. Dizer que fazia calor era dizer pouco. Sob a camisa branca, as jardineiras e o chapéu de palha, usava uma camada de protector solar porque era de compleição pálida, mas estava cheia de calor.

Ela estava sempre disposta a trabalhar, mas a villa Castelfino tinha uma novidade que a tornava especial. Cem anos antes, um antepassado de Gianni tinha construído um jardim coberto ao lado da casa para que a sua esposa inglesa não sentisse a falta da casa dela. Não se tinha feito nada com ele em todos aqueles anos, até que o pai de Gianni tivera a ideia de construir estufas de última geração para plantas exóticas e especiais. Os novos complexos estavam quase acabados, mas, naquela manhã ensolarada, interessava-lhe mais a parte do jardim que ainda estava intacta. A melancolia atraía-a e, sorrindo, abriu a porta de madeira e entrou num hectare de paraíso.

Tinha passado os últimos meses a planeá-lo e a acompanhá-lo, durante as suas viagens a Itália. E no meio do jardim secreto havia um palácio de vidro… Ainda era necessário dar-lhe alguns retoques, mas o edifício principal estava quase acabado. Naquela manhã, com o telhado de vidro aberto para aproveitar a brisa, parecia um galeão com a maior vela içada. Na verdade, não conseguia entender que Gianni não gostasse do projecto e questionou-se como iria convencê-lo a continuar em frente.

Não queria sequer imaginar que pudesse querer interromper o projecto das estufas e a sua auto-estima frágil não precisava de um novo golpe.

Para se animar, dedicou a sua atenção à horta, que em tempos tinha produzido alimentos para toda a villa. Décadas de negligência tinham-na transformado num baldio de ervas daninhas e árvores de fruto dispersas, com os ramos a crescer em todas as direcções. Parou o seu carrinho de mão à sombra de uma delas, ao lado de um pequeno lago artificial, e depois voltou para trás para fechar a porta, porque não queria ser incomodada. Uma vez feito isso, colocou o seu cantil no lago, para que a água permanecesse fresca, e começou a trabalhar.

Tinha de delimitar novos canteiros para as flores e devia fazê-lo rapidamente. Quanto maior fosse o impacto em Gianni Bellini, mais fácil seria que a deixasse ficar ali. Ou assim esperava.

Mas fazia um calor insuportável. Meg hesitou, perguntando-se se teria coragem para tirar a roupa, mas decidiu que não havia ninguém ali e que trabalhar em roupa interior não era pior do que trabalhar de biquíni. Se tivesse cuidado para não se queimar com o sol, nunca ninguém saberia.

Impulsivamente, tirou a camisa e as jardineiras, e continuou a trabalhar. Quando o sol queimava demasiado, voltou a pôr-se à sombra e bebeu um gole do seu cantil. Estava a levantar-se para verificar como tinha ficado a demarcação dos canteiros, quando uma voz familiar a sobressaltou.

– É assim que se vestem as jardineiras inglesas, Megan?

Meg virou-se e o seu coração parou durante um segundo. Era Gianni, o verdadeiro, não a versão exausta que tinha visto no dia anterior. Naquele dia, parecia o sedutor que tinha conhecido em Chelsea e isso alarmou-a tanto como a tinha alarmado a sua fúria.

– O que está a fazer aqui? – perguntou-lhe, tentado tapar-se com as mãos.

– Vivo aqui, lembras-te?

– Sim, eu sei, mas… Pensei que…

– Pois, pareces tê-lo esquecido.

– Não pensei que alguém pudesse entrar aqui. A porta estava fechada e eu tenho a única chave. Como é que entrou? – perguntou-lhe Meg, a vergonha misturava-se com a raiva.

Gianni aproximou-se da árvore, em cujos ramos tinha pendurado as jardineiras e a camisa, e, com as roupas na mão, aproximou-se dela. Mas demorou o seu tempo. Era evidente que estava a fazê-la esperar de propósito, mas Meg não estava com humor para brincadeiras.

Assim que ficou suficientemente perto, tirou-lhe a roupa da mão e vestiu-a, enquanto Gianni a observava, com expressão brincalhona.

– Como disse, eu vivo aqui – disse-lhe, tirando uma chave do bolso. – Tenho uma cópia de todas as chaves desta casa.

Descalça, mas já decente, Meg replicou:

– Isso não explica porque é que entrou aqui sem avisar.

– Queria ver-te, Megan.

Nervosa ao ver o brilho dos seus olhos, desviou o olhar. Todo o tipo de esperanças começava a nascer no seu interior e não queria que Gianni se apercebesse.

– Espero que se sinta melhor, senhor Bellini.

– Sim, estou melhor – ele sorriu. – Mas chama-me Gianni, por favor.

O coração de Meg deu um salto dentro do seu peito… Até que pensou que, certamente, ofereceria aquele tratamento a todos os empregados.

– E vim para te agradecer. Tinhas razão, estava exausto quando chegaste. A única coisa que fiz desde então foi dormir… e apreciar um pequeno-almoço excelente.

– Fico contente – disse ela.

– Na cozinha, disseram-me que o pequeno-almoço tinha sido ideia tua. Porque é que te atreveste a enfrentar a cozinheira?

Meg levantou o olhar, mas, ao vê-lo a sorrir, o seu coração continuou a fazer coisas estranhas dentro do seu peito.

– Parecia tão cansado que imaginei que escolher uma dieta adequada não seria uma das suas prioridades e, quando vi que o pequeno-almoço incluía bacon e salsichas, pensei que era demasiado forte com este calor. Os outros empregados disseram-me que tinha estudado num colégio interno britânico e a minha tia é cozinheira num colégio interno, portanto, telefonei-lhe para lhe perguntar quais eram as comidas habituais.

– Isso demonstra que tens iniciativa, Megan. Especialmente, vendo o que aconteceu quando o sugeriste à cozinheira. Mas, assim que acabar de fazer o inventário da despensa, virá pedir-te desculpa pelas coisas que te disse.

Meg pestanejou, surpreendida. Um pedido de desculpas era a última coisa que esperava naquelas circunstâncias.

– Desculpe?

– Disseram-me que te defendeste bem e alegro-me. Foi a primeira vez que alguém se atreveu a enfrentar a cozinheira.

– Está a dizer que não se importa?

Aquilo deixou-a perplexa. Quem tinha dinheiro para contratar um exército de empregados não costumava intervir nas discussões do pessoal.

– Não, pelo contrário, estou encantado.

– De certeza que não se importa? – insistiu Meg. – Só estava aqui há algumas horas quando discuti com a cozinheira. Sei que ela está aqui há muitos anos e eu acabei de chegar… Está do meu lado?

– Pois claro, fizeste o que tinhas de fazer. Ela estava errada e tu tinhas razão. Uma das minhas primeiras obrigações como novo proprietário de Castelfino era rever os menus diários, mas tu fizeste-o antes de mim, foi só isso – Gianni apercebeu-se então de que Meg tinha de se agarrar à árvore. – Megan? O que se passa? – perguntou-lhe, agarrando-a pelo braço. – Deve ser por causa do sol… Espera, senta-te um pouco.

Ela olhou para os dedos dele, que se fechavam sobre a sua pele com a mesma segurança que tinha visto nas suas fantasias.

– Não é preciso, estou bem. É que foi uma surpresa… Só isso. Pensei que as únicas pessoas que não tinham medo do cozinheiro eram os chefes de jardinagem – improvisou, rapidamente.

– Eu estabeleço as regras aqui. Todas elas. E isso inclui ter ou não um chefe de jardinagem.

Meg ficou imediatamente alerta.

– O que quer dizer?

Gianni não ia arriscar-se com ela. Qualquer empregado que discutisse com outro, e ainda mais com a cozinheira, era um perigo para a estabilidade da casa.

– Depende.

– Ainda bem, porque tenho um curso de conservação de plantas exóticas e não de chefe de jardinagem… Embora esteja capacitada para fazer esse trabalho.

– Não duvido.

– Quando vi como estavam as coisas aqui, imaginei que os empregados não agradecessem as sugestões de uma recém-chegada e arrisquei-me a usar esse título – Meg sorriu.

Para sua surpresa, o sorriso de Gianni transformou-se numa gargalhada.

– De modo que demonstra não só inteligência, como também iniciativa. Isso, sim, é um pouco insolente.

– Eu sei, signor Bellini – disse ela, tentando disfarçar o riso. – Licenciei-me com distinção e salvei o negócio dos meus pais da ruína, portanto, sou um pouco insolente. Mas eu adoraria trabalhar aqui.

– Estou a ver – murmurou Gianni. – Bom, menina conservadora de plantas exóticas, quais são os teus planos para o jardim?

Meg apercebia-se de que o tom da conversa era desenvolto, mas decidiu mostrar-se precavida.

– Estou aqui para pôr em marcha os planos do seu pai, não os meus. Neste momento, a sua colecção de plantas exóticas reduz-se àquela estufa ao fundo. Mas serão mudadas e a colecção será ampliada para aquela estufa de vidro. Venha, eu vou mostrar-lhe.

Meg dirigiu-se para lá, mas Gianni demorou um pouco a segui-la.

– Estou a andar demasiado depressa?

– Não, absolutamente – respondeu ele. – Está um dia lindo e daqui tenho uma vista muito interessante. Porquê tanta pressa?

Meg virou a cabeça para ver para onde estava a olhar.

– Signor Bellini!

– Já te disse que o meu nome é Gianni.

– Se me olhares para o rabo dessa maneira, não é – replicou ela, recordando a quantidade de orquídeas que lhe tinha comprado na feira de Chelsea. Tinha-o feito para manter todas as suas namoradas contentes, mas ela não tinha a mínima intenção de se tornar uma delas. Embora lhe falhassem as pernas cada vez que a olhava daquela forma.

A estufa original tinha sido construída com a parte da frente aberta, mas, mais tarde, a fachada de pedra tinha sido revestida a vidro. Meg abriu a porta e assinalou as plantas e flores exóticas.

– Não é maravilhoso? – sorriu.

– Manter todas estas plantas deve custar um dinheirão.

– Sei que é extravagante e antiquado, por isso é que o teu pai queria construir uma série de estufas para que cada planta tivesse as condições ideais… e isso significa atmosferas controladas por computador. Queria transformar a propriedade num jardim botânico. A sua ideia era que esta zona da propriedade fosse uma atracção para os turistas e também para estudantes de Botânica.

– O meu pai nunca tinha ouvido falar de alterações climáticas? Surpreende-me que alguém tão capaz como tu não lho tenha explicado.

Meg sabia que não deveria dizer nada, mas era uma questão de honra.

– Não pareces muito impressionado com o meu título.

Embora parecesse tranquila, estava a tremer por dentro. O seu olhar penetrante enjoava-a.

– De acordo com a minha experiência, quantos mais títulos uma pessoa tem, menos disposta está a sujar as mãos. Eu prefiro alguém que tenha trabalhado para chegar ao topo, como eu fiz.

– Sem a ajuda do apelido da tua família, da tua posição na vida ou do dinheiro do teu pai?

Meg lamentou imediatamente a ironia, mas Gianni não pareceu dar-se conta.

– Exactamente! – exclamou, batendo numa das paredes da estufa. – O vinhedo de Castelfino é o meu projecto, do conceito às vendas. Não há nenhum trabalho que me aborreça ou que não goste de fazer pessoalmente. E o meu pai nunca me deu um cêntimo, como tu deves saber.

– Eu nunca falei de ti com o teu pai, Gianni. Nem sequer sabia que eram aparentados, até ontem.

– Quer dizer que nunca se queixou de eu querer que o dinheiro fosse empregue em projectos efectivos e não em passatempos absurdos? Estive a analisar o trabalho que fizeste para ele, incluindo o orçamento. Um orçamento do qual eu não sabia nada.

– O contabilista examinou as quantias e inclusive enviou-as a um auditor – replicou Meg. – Não sei, talvez não te tenha dito nada porque sabia que não estarias de acordo.

Mas, quando os seus olhos se encontraram, algo aconteceu. Sempre tinha pensado que Gianni era muito bonito. Agora, com o sol a brilhar nas suas feições e nos seus olhos, essa palavra não lhe fazia justiça.

– Espero que o meu pai não te tenha feito pensar que sou um canalha – a sua voz era um murmúrio rouco, tão lânguido como o ar no interior da estufa. – Pelo contrário, posso ser o mais generoso dos homens em muitas circunstâncias e com a mulher certa – disse-lhe.

– Eu sei. Quando estava em Londres, vendi-te todas aquelas plantas para as tuas namoradas, lembras-te? – Meg tentava que a sua voz soasse firme, embora começasse a sentir-se enjoada. A proximidade de Gianni e o cheiro do perfume dele, misturado com o cheiro da terra e do musgo, provocaram-lhe um calafrio.

E, sem se dar conta, andou um pouco para a frente, desejando tocar-lhe.

– Então, sabes o que vou dizer?

Ela mexeu os lábios, mas não saiu nenhum som da sua garganta. Sabia o que queria ouvir, mas abanou a cabeça.

– Decidi que, afinal, as estufas são um bom legado. Fizeste bem em sugeri-lo… Muito inteligente, Megan – a voz de Gianni era suave e convidativa.

– Obrigada.

– Mas vão custar-me uma fortuna.

– Isso depende do que quiseres. Estamos na Toscana e aqui tudo cresce sozinho.

– E tudo tem o seu preço – Gianni olhou para ela, esperando pelo efeito das suas palavras.

– Preocupa-te assim tanto?

– Não estou preocupado, só fiz uma observação. Há muito mais coisas em jogo do que o dinheiro quando se refere ao futuro da minha família. Os Bellini são uma família antiga, porque sempre fomos capazes de escolher um vencedor. E foi por isso que o meu pai não voltou a casar-se depois da morte da minha mãe, graças a Deus!

Meg não disse nada, mas estava nervosa. E acalorada, embora não tivesse nada a ver com a temperatura da estufa.

– Talvez te pareça uma frase dura, Megan, mas sei do que estou a falar. Quando se referia a assuntos do coração, o meu pai sabia que não podia confiar no seu bom senso – uma brisa entrou pela porta, despenteando-o e dando-lhe um aspecto perigoso de pirata.

– Certamente, o teu pai fez uma coisa bem. Estaria muito orgulhoso de ti, Gianni.

Ele virou-se para ela e, quando recebeu o impacto daquele olhar, soube que, se decidisse conquistá-la, ela não conseguiria resistir. Era um sonho perfeito, mas algo a que não podia arriscar-se. Aquele trabalho significava muito para ela e para a sua família, e não estava disposta a desperdiçá-lo só por causa de um capricho. Embora o capricho fosse tão arrebatador como Gianni Bellini.

– Eu esperava que estivesses orgulhoso de mim, foi por isso que decidi continuar em frente com a ideia das estufas – disse ele, pensativo. – O meu pai e eu não nos dávamos bem e sei que lhe dava muitos desgostos. O mínimo que posso fazer é respeitar os seus desejos, agora que morreu. Esperemos que nunca tenha de escolher entre o meu coração e a minha herança – Gianni franziu o sobrolho, como se estivesse a recordar uma coisa que lhe doía muito.

– E porque haverias de o fazer? – perguntou Meg, inocentemente.

– Várias «princesas» locais estão desejosas de se tornarem minhas esposas – suspirou ele. – Com o objectivo de o apelido Bellini não acabar comigo, devo escolher entre uma delas para ter filhos, mas isso é uma coisa medieval. O mundo mudou e agora as pessoas já não se casam só pelo sentido do dever ou da honra. Tudo são acordos pré-nupciais para garantir as posses depois do inevitável divórcio.

Ouvi-lo a falar do casamento como de um acordo sem importância decepcionou Meg.

– Não deveria haver nada de inevitável no divórcio e ninguém deveria casar-se por outra razão que não fosse o amor – disse-lhe, passando os dedos pela folha carnuda de uma miltónia. – Agora, as mulheres trabalham, têm a sua própria vida e o casamento já não é tão importante para elas. Não são parasitas que querem viver à custa dos seus maridos, Gianni.

– Eu adoro mulheres, não te enganes, mas as aristocratas italianas não me dizem nada.

– Então, terás de procurar outro tipo de mulher.

– Para quê? Todas as mulheres que conheço têm o mesmo objectivo.

Ela, ocupada a segurar o caule de uma orquídea particularmente pesada, disse, sem pensar:

– Eu não.

Gianni suspirou.

– Isso é o que dizes agora, mas…

Era um comentário tão sincero que Meg levantou o olhar, surpreendida. Estava muito sério e todas as suas fantasias, inclusive as mais perigosas, pareciam reflectir-se nos olhos escuros dele.

Não conseguia desviar o olhar… E não queria fazê-lo.

E então, de repente, estava entre os seus braços.

O conde de castelfino - Paixões mediterrâneas

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