Читать книгу O conde de castelfino - Paixões mediterrâneas - Christina Hollis - Страница 9
Capítulo 4
ОглавлениеMeg adorava a ideia… Na teoria. Na prática, receava que uma festa organizada por Gianni Bellini fosse tão arrebatadora para ela como aquela semana na Feira de Flores de Chelsea.
– Não posso discutir isso – disse-lhe, tentando ser diplomática.
– Fico contente – Gianni sorriu. – Nesse caso, podes tirar o resto do dia para ires comprar um vestido adequado.
Meg mexeu-se na poltrona, incomodada. Ela não tinha muita experiência em comprar roupa. Em casa, o dinheiro tinha sido sempre um problema, de modo que costumava comprar a pensar mais na durabilidade do que no estilo.
– Não há necessidade de desperdiçar uma tarde inteira nas compras. Fá-lo-ei no meu dia de folga – disse-lhe. Gianni pareceu agradavelmente surpreendido com essa decisão, mas não com as suas palavras seguintes: – Ou poderia usar a saia e o casaco que usava no dia em que cheguei à propriedade. É um fato elegante e adequado.
– É um fato preto! – exclamou ele, incrédulo. – Isso serve para uma reunião, mas eu vou organizar uma festa e ninguém da minha equipa tem de se «contentar» com nada. Quero uma coisa nova e espectacular… Do mesmo tom de azul que os teus olhos, se for possível. Quanto ao estilo, a saia serve, muito bem. Mostrava as tuas pernas na perfeição.
– Nem tu nem os teus convidados deveriam interessar-se pelas minhas pernas – replicou Meg.
– Eu sou um homem. Mas imagino que já te tenhas dado conta disso – brincou Gianni, então. – E eu devo encontrar algum consolo na vida. Ver-te vestida como uma princesa compensará ter de deixar para trás as discotecas de Florença e ter de encher a minha casa de empresários chatos.
Ao ouvir aquilo, a sensatez de Meg esteve prestes a desaparecer e teve de usar toda a sua força de vontade para não cair na armadilha. «Devia dizer coisas assim a todas as mulheres», pensou. Embora fosse difícil recordá-lo quando olhava para ela daquela forma, combinando o brilho dos seus olhos escuros com o seu aspecto mediterrânico atraente.
Tinha de recordar a si mesma que fazia tudo parte de uma conspiração. Gianni estava a tentar fazer com que se sentisse cómoda, para depois se atirar a ela…
Mas sabia também que devia dar a volta à situação, para que resultasse a seu favor, e, fazendo um esforço supremo, conseguiu dizer:
– Fazer de tua embaixatriz e de Castelfino será uma grande oportunidade de demonstrar o meu talento e de conhecer gente interessante. Parece-me uma ideia óptima. Tens mais alguma sugestão sobre o que deva usar?
Pela segunda vez, Gianni mostrou-se surpreendido com as suas palavras.
– Estou a começar a pensar que te avaliei mal, Megan. Se te sentes assim tão insegura sobre a roupa, talvez precises dos conselhos de um especialista. Não quero arriscar-me a que apareças com um vestido comprado numa loja qualquer, por mais chique que possa ser. Uma rapariga como tu conseguiria fazer com que um saco de batatas parecesse sexy, mas essa não é a questão. Quando organizo uma festa, a villa Castelfino tem de impressionar por tudo e, para isso, é necessário um vestido de marca… Italiano, é claro!
Depois de dizer aquilo, voltou a sentar-se à secretária, para continuar a trabalhar, e Meg ficou espantada com a transformação imediata de sedutor em empresário.
– Tenho conta nas melhores lojas de Florença… – Gianni tirou um bloco de uma gaveta e começou a anotar qualquer coisa – e envio constantemente mulheres para lá, para que comprem o que quiserem.
Meg esperava que se referisse a empregadas da propriedade, mas o seu sorriso brincalhão fazia com que duvidasse.
– Em qualquer uma destas lojas receber-te-ão de braços abertos – continuou, oferecendo-lhe o papel.
Meg viu que era uma lista de estilistas que ela só tinha visto na televisão ou nas revistas de moda. E não sabia se devia atrever-se a entrar em algum daqueles lugares.
– Mas todas estas lojas são muito caras…
As dívidas dos seus pais tinham-lhe custado indirectamente o emprego dos seus sonhos, mas, agora que tinha conseguido um emprego tão bom, não queria acabar na ruína.
– Claro que são! Porque oferecem a melhor qualidade.
Meg fez uma careta. Já tinha conseguido convencê-lo uma vez a não a despedir, mas, se discutisse com ele por causa daquele assunto, Gianni poderia mudar de ideias… De modo que o seu medo das empregadas das lojas de marca lutava contra o seu medo de ficar sem dinheiro no banco.
Com o seu salário em Castelfino, poderia enviar dinheiro aos seus pais todos os meses. Embora o viveiro Imsey estivesse a trabalhar bem agora, Meg sabia como a linha entre o sucesso e o desastre era ténue. Os seus pais tinham percorrido essa linha muitas vezes no passado e ela queria que tivessem recursos suficientes para suportar qualquer problema que a vida lhes pusesse à frente.
Aquele emprego era uma oportunidade magnífica para fazer algumas economias e, dessa forma, não teria medo da ruína.
– Não, claro que não… E é o que me preocupa – confessou-lhe. – Eu preciso de cada cêntimo que ganho aqui. Mas, nessas lojas, de certeza que cobram até por olharmos para a montra.
Gianni inclinou-se um pouco para a frente, arqueando os sobrolhos.
– É para isso que servem as contas, Megan. Cobrar-me-ão o que comprares, tu não terás de pagar um cêntimo.
Meg deixou escapar um suspiro de alívio. Mas então pensou que poderia estar a cair numa armadilha. O engodo era doce e apetecível, mas ela tinha uma boa razão para não o provar. Esperaria Gianni que lhe agradecesse? Queria aproximar-se dele, não tinha dúvidas disso, e aquela seria a oportunidade ideal para o fazer. E, por isso, estava decidida a ser precavida. A sua relação com Gavin tinha-lhe mostrado como eram alguns homens. Ela sabia por experiência que um homem que gastava dinheiro com uma mulher acreditava que podia controlar a vida dela. Aceitar o dinheiro de Gianni poderia levar a todo o tipo de coisas…
Voltou a olhar para aqueles olhos cheios de sensualidade. Não aconteceria nada por aceitar a generosidade dele, dizia-lhe o seu corpo traidor.
– Isso é mais do que eu poderia esperar e é muito amável da tua parte – disse-lhe. E foi recompensada por uma gargalhada que pareceu envolvê-la como um campo de força e que lhe daria coragem para enfrentar a curiosidade dos seus assistentes quando saísse do escritório.
Pensando que a reunião tinha acabado, Meg levantou-se, mas, quando se virou, Gianni olhou para o seu relógio.
– Espera, estou prestes a ir para Florença, portanto, eu mesmo levo-te. Enquanto me reúno com os meus sócios, podes ir às compras. Combinaremos depois em algum sítio para voltarmos para casa.
Meg parou, nervosa. Estar a sós com Gianni no escritório era uma coisa, mas viajar com ele era outra muito diferente.
– Tenho de mudar de roupa – disse-lhe.
– Não há tempo para isso. Estás bem assim – anunciou ele, sem sequer olhar para ela.
– Mas não posso desaparecer, sem dizer a ninguém que me vou embora. Não podes esperar um minuto, enquanto vou dar instruções ao meu pessoal?
Gianni, sorrindo, tirou umas chaves do bolso.
– Não, nada disso. Eu conheço bem as mulheres. Se não te mantiver debaixo de olho, far-me-ás esperar uma hora, portanto, irei contigo.
De modo que a seguiu até ao jardim. Ela sabia que estava a admirá-la. De facto, só deixava de o fazer quando ela virava a cabeça.
– Como está o viveiro Imsey enquanto estás aqui? – perguntou-lhe, enquanto iam para o carro.
– Telefono todos os dias para casa, para saber como estão as coisas. Do telemóvel, é claro! – explicou Meg, para que não pensasse que utilizava o telefone da villa. – Os meus pais dizem que está tudo bem, mas eu continuo preocupada. Não sei se me contam tudo… Foi o que aconteceu da última vez.
– Pois, parece-me estranho que tenhas aceitado um emprego tão longe de casa, quando estás tão preocupada com eles – Gianni arrancou uma espiga e esfregou os grãos entre os dedos.
– Tinha de o fazer – disse ela. – Quando o teu pai me ofereceu o emprego, pensei que era a oportunidade perfeita para mim. Assim, podia ajudar financeiramente a minha família e começar a abrir caminho sozinha no mundo profissional.
Meg pensou então no que realmente tinha dado início à sua nova vida: a Feira de Flores de Chelsea, quando conhecera Gianni. Durante semanas, tinha fantasiado com ele. Depois, a sua vida ficara de pernas para o ar com a oferta para trabalhar em Castelfino e agora estava a passear por uma propriedade na Toscana, ao lado dele. Era um sonho tornado realidade… Ou quase.
Meg tentou não reparar no brilho do sol sobre o seu cabelo preto ou nas suas feições bonitas. Mas começava a ser francamente difícil que o trabalho continuasse a ser a sua prioridade, tendo aquele homem ao seu lado.
– Depois de pagar as dívidas do viveiro, pensei que estava na altura de refazer a minha vida – disse-lhe, voltando à realidade. – E então, de repente, recebi uma carta do teu pai, na qual me oferecia a possibilidade de trabalhar aqui… Estivemos a conversar durante muito tempo na feira de flores, mas eu não sabia que eram aparentados. Claro que agora que penso nisso… Ah, o bloco que me mostraste! Era a letra do teu pai, não era?
– Sim, claro. Ele mandou-me ir à tua banca, de modo que deve ter ficado impressionado.
Meg assentiu com a cabeça.
– Os meus pais disseram-me que já não precisavam da minha ajuda no viveiro e é por isso que estou aqui.
Tinham chegado à entrada da casa, onde um Ferrari preto estava estacionado.
– Nunca tinha visto um desportivo de perto até ter chegado a Itália.
– Queres conduzi-lo?
– Eu não… Neste país, não, impossível! Teria medo de me enganar na faixa. Sabes que nós conduzimos pela esquerda.
– Então, está na hora de praticares um pouco.
Sem dizer mais nada, Gianni atirou-lhe as chaves.
– A sério que queres que conduza o teu Ferrari? – perguntou Meg, atónita.
– É melhor que pratiques um pouco, mas só te deixarei conduzir pela propriedade. Quando chegarmos à estrada, devolver-me-ás o carro, não sou assim tão louco.
– E se tiver um acidente?
Gianni olhou para ela, como se tivesse perdido a cabeça.
– Pedirei à fábrica que me envie outro, é claro! E não mudes de assunto, estávamos a falar de ti. Pensei que tinhas dito que eras feliz em casa, mas vejo que não te custou muito seguir o caminho da fama e da fortuna.
– Se me tivesses ouvido atentamente, saberias o que queria dizer – replicou Meg, enquanto entrava no carro e tentava ficar cómoda.
– Ah, eras feliz, mas não totalmente, então! Faltava qualquer coisa na tua vida.
«Alguém», pensou ela, sentindo uma dor sob as costelas que a impedia de respirar. Era a mesma sensação que tinha experimentado em Inglaterra cada vez que via ao longe alguém que se parecia com Gianni. O seu coração ficava louco cada vez que isso acontecia. Tinha pensado que não haveria maior desilusão do que não voltar a vê-lo, mas estar com ele naquele momento, e naquelas circunstâncias, era muito mais angustiante.
– Queria triunfar na vida, como toda a gente.
– Entendo.
Mas antes que pudessem continuar a falar do assunto, Gianni começou a dar-lhe instruções sobre como arrancar com o desportivo e Meg engoliu em seco. Era como a primeira aula na escola de condução e tinha o mesmo medo, mas agarrou o volante de couro com expressão decidida, arrancou… e começou a andar aos solavancos pela estrada.
Trinta segundos depois, Gianni pôs as mãos sobre o tabliê.
– Não, não… Pára!
Meg travou de repente e ele saiu do carro a toda a pressa.
– Pedirei a alguém que te ensine a conduzir pela propriedade e depois arranjaremos um carro para ti – disse-lhe, enquanto se sentava ao volante.
– Estraguei alguma coisa? – perguntou Meg, enquanto colocava o cinto de segurança.
– Não, só os meus nervos – Gianni olhou para ela, antes de arrancar. – Os carros são como as mulheres. Há que tratá-los com carinho e respeito.
– Desculpa, se se estragou alguma coisa…
– Não se estragou nada, não te preocupes. Além disso, que trabalhes para os Bellini já é recompensa mais do que suficiente.
– Eu gostava do teu pai – disse Meg. – E era um chefe muito atencioso.
– E esperas que eu continue com a tradição, não é?
– Sim, bom…
– Pois, lamento, mas eu não me pareço nada com o meu pai – interrompeu-a Gianni. – Para começar, ele estava desesperado por se casar e ter filhos, mas eu fui o seu pior erro. E aprendi com isso, garanto-te. Quando a minha mãe morreu no parto, o meu pai ficou arrasado e passou trinta anos a lamber as suas feridas, de modo que pretendo demorar o meu tempo a escolher uma esposa. Não quero uma menina bem-disposta, que pretenda arrancar-me tudo o que possa.
– Pois, parece-me muito sensato da tua parte.
– A sério? – ele sorriu, irónico. – E essa foi a única razão pela qual aceitaste que te levasse a Florença? Não foi porque estás a pensar em renegociar os termos do teu contrato, pois não?
O seu olhar dizia-lhe que estava a recordar o beijo e Meg reagiu, ficando corada. Embora soubesse que nunca conseguiria livrar-se da tentação.
– Enquanto viver na propriedade Castelfino, não estou interessada em nada que não seja o trabalho – disse-lhe, olhando pela janela. – Quando te disse que tinha vindo trabalhar para aqui porque o teu pai me tinha oferecido o cargo, tu olhaste-me como se fosse uma caçadora de fortunas. Que ilusões poderia ter com um homem que trata assim uma empregada?
– É uma pena que não haja mais mulheres que pensem como tu. As mulheres que conheço só estão interessadas em casar-se com um homem rico, mas eu não pretendo uma mulher como a que arrasou a vida do meu pai. Neste momento, tenho o orgulho de dizer que não sou dos que se casam.
– Espero que não o tenhas dito a raparigas inglesas. No meu país, essa expressão tem um significado do qual não gostarias nada – brincou Meg.
– De qualquer forma, quando uma mulher está comigo sabe que sou um homem a cem por cento.
Gianni virou a cabeça para olhar para ela, um olhar carregado de intenção, e Meg teve de fazer um esforço para disfarçar o seu nervosismo.
Mas então viu que um tractor se dirigia para eles e gritou:
– Gianni, cuidado!
– Inferno! Achas que me arriscaria a ter um acidente agora? – perguntou ele. – Com um carro novo? – acrescentou rapidamente, antes que Meg pudesse ler qualquer outra intenção nas suas palavras.
Gianni decidiu deixá-la na loja mais próxima, assim que chegaram a Florença. Sem prestar atenção às buzinadelas dos carros à sua volta, parou o Ferrari e saiu para lhe abrir a porta.
– Quanto devo dar-te de gorjeta? – brincou ela.
– Pô-lo-ei na conta.
Quando lhe agarrou a mão para a beijar, Meg ficou sem palavras. Se não tivesse voltado a entrar no carro a toda a pressa, ter-se-ia atirado nos seus braços ali mesmo. Espantada, ficou na calçada, a ver como o Ferrari desaparecia entre o trânsito da cidade.
Ter uma tarde livre para escolher um vestido nas lojas mais caras do mundo era uma coisa, que Gianni beijasse a sua mão como tinha feito em Chelsea era um sonho que nunca pensara que pudesse repetir-se. Sentia-se dez centímetros mais alta e inclusive começava a entusiasmar-se com a ideia de ir às compras.
Aquele homem fazia milagres.
Para Meg, ir às compras era, em geral, uma tortura, mas aquilo era completamente diferente. Naquele dia, tinha instruções de Gianni Bellini para comprar uma coisa de que gostasse realmente… Enquanto ele pagava a conta. Normalmente, entrava numa loja e comprava a toda pressa qualquer coisa que lhe parecesse adequada, mas, naquele dia, demorou o seu tempo, desfrutando do sol vespertino. Ainda sentia o toque dos lábios de Gianni na mão e só havia uma nuvem escura no horizonte: a vergonha pela qual poderia passar quando entrasse naquelas lojas tão luxuosas.
E demorou algum tempo a ganhar coragem para empurrar a porta da primeira boutique. Quando ia a entrar, uma jovem elegante e magra estava a sair da loja, carregada de sacos. Meg afastou-se, mas alguém a chamou do interior:
– Menina Imsey?
Atónita, Meg viu uma mulher a segurar a porta.
– Como sabia que era eu?
– O conde de Castelfino acabou de telefonar a dizer-nos que viria. Entre, por favor, aí fora faz muito calor.
Meg sentiu-se imediatamente como em casa, apesar das marcas famosas, e foi quase uma desilusão encontrar o vestido perfeito em poucos minutos. Era azul-claro, sem mangas, com um bolero a condizer.
A mulher ajudou-a a escolher uns sapatos de seda, com um salto vertiginoso, e garantiu-lhe que os forrariam com o mesmo tecido do vestido. Vendo-se ao espelho, Meg ficou maravilhada com a transformação. Sentia-se uma nova mulher. Era espantoso, aquele vestido fazia-a parecer mais magra e dava-lhe uma confiança que nunca tinha tido.
Jamais teria sonhado que pudesse ficar tão elegante e, pela primeira vez, gostou de se ver ao espelho. Em vez de ver a festa de Gianni como uma tortura, começava a desejar que chegasse o dia.
Aproveitando essa nova confiança, anunciou que levava o vestido, o bolero e os sapatos… Tudo colocado na conta do conde de Castelfino.
A mulher abanou a cabeça.
– Não, ainda não, menina. Tenho instruções de lhe perguntar quantas lojas visitou até agora, antes de lhe vender alguma coisa.
– Esta foi a primeira – respondeu Meg, embora desejasse não o ter feito, porque outra empregada lhe tirou o vestido das mãos.
– Não se preocupe, nós guardamo-lo – a mulher que a tinha atendido sorriu. – Mas, conhecendo o conde de Castelfino, é melhor seguir as suas instruções.
Meg não conseguia acreditar, mas a única coisa que queria era voltar para a propriedade para trabalhar. Era o único sítio naquela terra estranha onde se sentia cómoda. Ela sabia tudo sobre plantas, mas ir às compras era um mistério que, por falta de dinheiro, nunca tinha podido investigar. Felizmente, era Gianni quem pagava a conta.
– Isso significa que tenho de visitar todas as lojas da lista? – murmurou, olhando para o papel que tinha na mão.
– Talvez não seja assim tão mau – a mulher riu-se.
E aquela frase devolveu-a à realidade.
– Sim, claro, quem me ouvir a queixar-me pensará que é um trabalho muito difícil – Meg sorriu. – Se a única coisa que tiver de fazer para lhe agradar for ver vestidos, não demorarei tempo nenhum.
As coisas não correram exactamente como Meg tinha imaginado. Entrou e saiu da segunda loja a toda a velocidade, mas, à medida que fazia progressos na lista, as visitas eram mais longas. Embora não tivesse encontrado nada tão perfeito como o vestido azul, a verdade era que começava a divertir-se.
Todas as empregadas eram atenciosas com ela, como se fosse uma pessoa importante. Ofereceram-lhe sandes, champanhe, água mineral de todas as marcas, café… e experimentar a roupa começou a ser divertido. Meg aprendeu que as roupas de boa qualidade eram uma coisa de que se devia desfrutar e apreciar, e não uma coisa que se pudesse vestir e despir, como nas lojas baratas.
E, quando chegou à última loja, descobriu, surpreendida, que não queria ir-se embora.
Mas, finalmente, depois de vários cafés e cantuccini, voltou para trás, para comprar o vestido ideal.
Tinha combinado com Gianni na Ponte Vecchio e ele já estava ali, a falar ao telemóvel, mas, assim que a viu, interrompeu a chamada e aproximou-se dela, com um sorriso nos lábios.
– Não demoraste tanto como eu pensava.
Meg estava convencida de que não poderia ter mais calor, mas o brilho dos seus olhos provocou-lhe um incêndio. Estava muito bonito. O contraste entre a sua pele morena e o branco da camisa sempre lhe tinha parecido muito atraente e, naquele dia, além disso, tirara a gravata e desabotoara os dois primeiros botões, deixando ver os pêlos escuros do seu peito.
O pulso de Meg acelerou e teve de fazer um esforço para disfarçar.
– Não te preocupes, Gianni. Já tenho tudo para a festa, exactamente como tu querias. E muito obrigada – disse-lhe. – O mais curioso é que encontrei tudo na primeira loja. Enviá-lo-ão para a propriedade assim que tenham feito alguns pequenos arranjos. Mas, enfim, voltemos para a villa. Estou desejosa de chegar a casa, de tirar as botas e…
Meg ficou calada, apercebendo-se então de que não tinha parado de falar.
– Mulheres! – Gianni riu-se. – Se estiverem em casa, querem ir às compras e, quando vão às compras, só querem voltar para casa. São todas iguais – acrescentou, com uma condescendência tipicamente italiana.
«Não, eu não. Eu adoraria ficar aqui contigo. Se tu soubesses…», pensou ela, mas mordeu a língua. Não era a primeira vez e não seria a única.
Os dias anteriores à festa passaram num redemoinho de preparativos.
– Sabia que tinha tomado uma decisão inteligente ao contratar-te – disse Gianni, enquanto Meg estava de joelhos, a colocar arranjos florais à volta da lareira.
– Então, não foste tu quem ameaçou despedir-me assim que cheguei? – brincou ela.
Gianni, ocupado a verificar a decoração floral da sala principal, não se incomodou em responder.
– Diz-me uma coisa: que homem poderia ter feito arranjos de flores tão fabulosos?
– O meu tio-avô e os seus contemporâneos, por exemplo – respondeu Meg, acrescentando orquídeas minúsculas ao arranjo de líquenes e troncos cobertos de musgo.
Ela tinha desenhado tudo, das misturas de cores das grinaldas aos arranjos exóticos sobre as mesas. E tinha sido um prazer. Os elogios de Gianni eram muito satisfatórios e sorriu, enquanto dava o toque final ao arranjo da lareira.
– Há muitos anos, a arte do enfeite floral fazia parte do trabalho de qualquer jardineiro, por mais rude e masculino que fosse. E se retrocedermos no tempo, era uma habilidade com a qual contavam até os samurais no antigo Japão.
– Eu prefiro as gueixas.
– Sim, imagino – Meg riu-se, olhando-o por cima do ombro.
Mas o que viu deixou-a perplexa. Ainda faltavam alguns minutos para que chegassem os convidados, mas Gianni já vestira o smoking e estava magnífico, um verdadeiro aristocrata, e Meg não conseguia deixar de olhar para ele, espantada.
– Embora a tua expressão seja muito lisonjeadora, não tens tempo para continuar aí agachada – ele sorriu. – Vá, Cinderela, o teu grande momento começa dentro de menos de uma hora. Quero que todos estejam prontos antes que os convidados cheguem.
Meg levantou-se, alisando distraidamente as suas calças. Não queria ir-se embora e Gianni apercebeu-se.
– Tenho a impressão de que não te apetece muito.
– Na verdade, não, para te ser franca.
– A mim, também não, na verdade.
Meg olhou para ele, incrédula. A sua resposta tinha sido tão inesperada que teve de sorrir.
– Mas adoras festas. Como é possível que não te apeteça?
Gianni estava ocupado a tirar uma folha da manga do smoking, mas levantou o olhar.
– Não é uma festa, é uma reunião de trabalho, Megan. E, na minha opinião, uma coisa não combina com a outra. Antes de o meu pai morrer, podia relaxar e divertir-me, mas, agora que sou responsável pela propriedade Castelfino e pelos seus empregados, não posso perder uma oportunidade de fazer negócios.
Parecia tão triste que Meg sentiu pena dele.
– Ainda bem que tenho um trabalho que adoro.
Sorrindo, Gianni aproximou-se para lhe dar uma palmadinha no ombro.
– Não te preocupes, Megan. Vai correr tudo bem, vais ver.
Embora Meg não conseguisse partilhar a confiança de Gianni, não demorou muito a tomar banho e a vestir o vestido que tinha comprado em Florença. Mas então começou a preocupar-se a sério… Não sabia que perfume usar e se devia ou não maquilhar-se. Era o caso clássico de prolongar o assunto para não sair de casa. Só a lembrança do sorriso de Gianni e das palavras consoladoras dele a tiraram do seu santuário.
E, quando saiu do pavilhão, o primeiro veículo já era visível ao longe, a atravessar o portão da propriedade.
– Bravíssimo! Estás linda – ouviu uma voz por cima da sua cabeça.
– Gianni! – quando levantou a cabeça e o viu apoiado no corrimão de uma varanda, recordou que tinha dito que a observava… De modo que aquele devia ser o seu quarto. – O que fazes aí?
– Estava à espera que aparecesses, querida. Mais dez minutos e teria enviado uma equipa de resgate e salvamento.
O seu olhar de admiração fez com que Meg se mostrasse audaz.
– És um chefe tão atencioso… – brincou. – Devias ter ido buscar-me tu mesmo.
– Não, para te fazer uma visita ao pavilhão deveria ter tempo e, neste momento, não tenho. Quando começo uma tarefa, só paro quando a acabo.
Era uma frase que podia ter muitos sentidos e Meg sabia-o. Até àquele momento, tinha estado convencida de que o seu desejo por ele nunca chegaria a lado nenhum, mas agora via o seu destino, estava escrito nos olhos de Gianni e a sua temperatura aumentou vários graus. Só uma coisa a satisfaria agora e ele sabia-o, via-o na expressão, na atitude segura e confiante dele. Gianni sentia-se confortável consigo mesmo. E esse era o melhor dos afrodisíacos.
A brisa agitava o bambu ornamental que ladeava o caminho, transportando o ruído dos motores poderosos que se aproximavam da casa.
– Tenho de ir para o meu lugar na estufa – disse Meg, sem deixar de olhar para ele.
– Não te preocupes, cara – sorriu, com total confiança em si mesmo. – Não começarei sem ti.