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Capítulo 5

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Ela chamara imediatamente a atenção dele. Com um leve vestido preto e um discreto colar de pérolas, aquela loira movia-se com a elegância e a dignidade de uma duquesa. Mas o que capturara o seu interesse não fora o seu estilo, mas a indiferença que viu nos seus olhos azuis quando o descobriu a olhar para ela.

Dario não estava habituado a ser ignorado pelo sexo oposto, especialmente no seu território.

A mulher que estava com ela, com um vestido muito chamativo, parecia a típica turista norte-americana, demasiado produzida e que chamava demasiado a atenção.

– Guarda-me o lugar, Maeve – pediu-lhe, reunindo as suas fichas. – Vou à casa de banho retocar a maquilhagem.

– É verdade que as mulheres vão mesmo retocar a maquilhagem? – perguntou Dario, sentando-se no lugar que ficara vago.

– Desculpe? – perguntara-lhe a duquesa.

– É mesmo verdade que as mulheres vão mesmo retocar a maquilhagem?

– Não faço ideia – respondeu ela. – E esse lugar está ocupado.

– Pela sua amiga, eu sei. Eu guardo-o até ela voltar – sorriu Dario. – Não vai apostar?

– Não, estou aqui para fazer companhia a Pamela e não tenho fichas.

Dario empurrou uma pilha de fichas na direcção dela.

– Agora já tem.

– Não posso aceitar. Nem sequer o conheço…

Divertido, e picado pela sua sinceridade, ele apresentou-se:

– Sou Dario Costanzo, um nome absolutamente respeitável, como poderá constatar.

A jovem ficou corada.

– Não queria ofendê-lo.

– Eu sei.

– Mas não posso aceitar o seu dinheiro.

– Não é dinheiro, são fichas.

– Mas não penso apostar porque não faço sequer ideia de como se joga a isto.

– Eu posso ensinar-lhe.

– Não, obrigada.

– Não se está a divertir muito, pois não?

– Não – admitiu ela. – Não estaria aqui se não fosse por causa da minha amiga. Eu não gosto de casinos.

– E de que lugares gosta?

– Lugares menos barulhentos e com menos gente.

– Então venha comigo, conheço o lugar perfeito.

A resposta a tal convite foi um olhar que teria deixado petrificado qualquer homem menos decidido.

– Não, obrigada.

– Continua a pensar que sou o estrangulador de Portofino?

Ela cerrou os lábios, mas não pôde disfarçar um sorriso.

– Tinha-me ocorrido, sim.

– Então permita-me que corrija o seu erro – Dario chamou o gerente do casino, um homem de cabelo branco e aspecto respeitável que o conhecia desde sempre. – Frederico, importas-te de dizer a esta jovenzinha que sou uma pessoa decente? Parece que não confia em mim.

Frederico encolheu os ombros.

– O signor Costanzo é um dos nossos melhores clientes, signora. Garanto-lhe que está em perfeita companhia.

– E então? – Dario sorriu enquanto o gerente se afastava. – Isto fez com que mude de opinião?

– Admito que me sentiria tentada se não fosse por Pamela. Não posso deixar a minha amiga sozinha.

Mas Pamela, com Dario imaginava, já tinha encontrado diversão com um homem que poderia ser seu pai e aproximou-se da mesa para se despedir.

– Vemo-nos mais tarde… ou amanhã, não tenho a certeza.

– Muito bem – murmurou a duquesa.

Dario sorriu.

– Podemos ir dar um passeio agora?

– É uma boa ideia. Aqui dentro não consigo respirar.

Embora o seu objectivo fosse levá-la para o iate, primeiro levou-a a um restaurante situado na piazzetta. O empregado, que o conhecia bem, acompanhou-os até uma mesa no pátio.

– Melhor, agora? – perguntou.

– Muito melhor – ela suspirou, tirando as sandálias de salto alto.

Encantado, Dario tirara a gravata e desabotoara o primeiro botão da sua camisa antes de pedir uma garrafa de champanhe.

E, felizmente, o champanhe desatara-lhe a língua. Contara-lhe que se chamava Maeve Montgomery e que era de Vancouver, Canadá. Depois de dois anos na universidade tinha começado a trabalhar numa loja de noivas e aos vinte e dois anos fora promovida a gerente. Mas encontrara o trabalho dos seus sonhos ao tornar-se conselheira de moda para clientes com muito dinheiro e muito mau gosto. Adorava a roupa, fazia muitos dos seus vestidos e vivia num apartamento de onde se via o estreito da Georgia.

Era muito unida aos seus pais, que tinham morrido há cinco anos. O seu pai sofrera um aneurisma enquanto via televisão e morrera antes de puderem chamar a ambulância. Trinta e quatro meses depois, a sua mãe, que sofria de asma, morrera de uma pneumonia.

– Sinto a falta deles – confessou.

Ir a Itália fora uma decisão de última hora e uma espécie de presente da senhora Elliott-Rhys, uma cliente agradecida que, além disso, era mãe da Pamela.

– A amiga que devia ter vindo com ela partiu uma perna na semana passada e a senhora Elliott-Rhys convenceu-me a vir com Pamela porque não queria que a filha viajasse sozinha.

– E quanto tempo ficarás em Portofino? – perguntou, tratando-a por tu.

– Cinco dias. Voltamos para casa na próxima quarta-feira.

Perfeito. O tempo suficiente para se divertir sem receio a compromissos.

– Mais champanhe? – sugeriu Dario.

– Não, obrigada. Eu não gosto de beber demasiado.

– Será possível beber demasiado de uma coisa tão boa?

– Não sei, mas se não te importas prefiro passear.

– Como queiras – Dario levantou-se da cadeira e inclinou-se para lhe calçar as sandálias, um gesto que Maeve agradeceu e a fez corar.

Passearam pelas ruas empedradas até ao porto e ela não pôs nenhuma objecção quando a levou pela rampa do porto.

– Tem cuidado. Esses saltos não foram feitos para caminhar por aqui e não quero que escorregues.

– Preocupa-me mais que nos prendam – confiou ela, olhando para a frota de luxuosos iates. – Tens a certeza de que podemos estar aqui?

– Claro que podemos. O meu iate está ancorado no porto.

– Se o teu iate se parecer com algum destes, acho que não estou no meu elemento.

– Não deixes que te impressionem, a maioria são alugados – sorriu Dario. Embora não se preocupasse em explicar-lhe que o seu era o maior de todos.

Ancorava-o sempre o mais longe possível do porto, uma decisão inteligente porque quando sentia vontade de navegar era mais fácil chegar a mar aberto. E quando o que queria era seduzir uma mulher bonita, tinha mais intimidade. E naquela noite, definitivamente, precisava de intimidade.

Assim que entraram na lancha Dario arrancou e, uma vez no iate, começara a preparar o ambiente de sedução: champanhe, música suave e uma luz acesa na coberta para não tropeçar.

Ele não vivia no iate, mas passara muitos dias ali a fazer um cruzeiro pelo Mediterrâneo. E levá-la-ia a navegar no dia seguinte se Maeve desejasse. Enquanto isso, convidou-a para dançar.

– Se puder dançar descalça…

Poderia despir-se se preferisse, pensara Dario. Embora, é claro, não o dissesse em voz alta. A noite estava a começar, logo haveria tempo para isso mais tarde.

– Claro que sim – respondeu, agarrando-a pela cintura.

Ao princípio ela mostrara-se um pouco rígida, mas Dario tinha escolhido bem a música. Agora os nomes importantes são outros, mas para uma noite de sedução não há como Nat King Cole.

Com um metro e oitenta e oito, era mais alto do que a maioria dos italianos, mas Maeve também era alta, com um metro setenta e sete pelo menos… sem os saltos.

Enquanto o encanto eterno da música os envolvia, ela relaxara o suficiente para se deixar levar. O seu cabelo cheirava a bergamota e a tomilho, a sua pele era suave e quente como a pétala de uma gardénia acariciada pelo sol.

Dario pôs uma mão nas suas costas e apertou-a contra o seu corpo para que sentisse a erecção que não se incomodava em esconder… e, ao fazê-lo, sentiu a respiração de Maeve sobre o colarinho da camisa, o toque das suas pestanas na sua face.

A música acabou e, levantando a sua cara com um dedo, procurou os seus olhos, deixando que o silêncio os envolvesse; a tensão sexual entre eles era tão poderosa que, quando por fim a beijou, Maeve derreteu-se entre os seus braços.

Como ele nunca apressava os seus prazeres, e sem a menor dúvida Maeve era a promessa de um prazer extraordinário, voltou a beijar a sua têmpora, o seu nariz, a sua garganta. E quando voltou a procurar a sua boca, sentindo que se rendia perante a dele, soube que tinha a vitória na mão.

Mesmo assim, não tinha pressa. De que serviria apressar-se a comer o bolo todo de uma vez, se tinha a noite toda pela frente?

Dario voltou a beijá-la, mais profundamente desta vez, passando a língua pelos seus lábios que se abriram para ele. Tinham o sabor do champanhe, embriagadores, irresistíve. Mas ele queria mais. Muito mais.

Lentamente desabotoara o seu vestido, que caiu ao chão, ao redor dos seus pés. Não usava sutiã e as cuecas eram tão pequenas que até ele, que julgava conhecer todos os mistérios da roupa interior feminina, não podia imaginar como se seguravam. Mas, colocando um dedo sob o elástico, livrou-se da roupa com um simples puxão.

Obedientemente, Maeve levantou os pés para se libertar do vestido. Vestida era linda, nua era de cortar a respiração: pernas longas, cintura estreita e curva suaves, pura simetria, com uma pele tão suave como o seu colar de pérolas.

E, de repente, olhá-la não era suficiente. Desejava-a toda e desejava-a com uma urgência que deveria havê-lo envergonhado.

O desejo de seduzi-la a pouco e pouco mergulhou nas profundezas do mar e Dario tirou a roupa com toda a pressa, atirando-a ao chão. Pensara beijar cada centímetro da sua pele até que ela lhe suplicasse que fizessem amor, em vez disso, encontrou-se a si mesmo a suplicar-lhe a ela, a sua voz estava rouca de desejo enquanto a urgia a tocá-lo intimamente.

Maeve fê-lo, os seus dedos fechavam-se sobre o seu membro com tal suavidade que esteve prestes a explodir… quando planeava levá-la ao orgasmo com a língua.

Isso não ia acontecer. Estava demasiado perto do final para adiar o inevitável. De modo que, ou se arriscava a fazer uma figura ridícula ou faziam amor imediatamente, rezando para se aguentar o suficiente.

Escolheu a última opção. Sentando-a sobre um banco acolchoado, Dario pôs-se sobre ela, abrindo-lhe as suas pernas com um joelho. Num momento de loucura roçou-a entre as pernas com a ponta, mas foi tão excitante sentir o seu calor que apenas teve tempo de colocar um preservativo antes de entrar nela.

Inesperadamente, encontrou-se com uma barreira e sentiu que Maeve se agarrava convulsivamente aos seus ombros. Isso dizia-lhe tudo o que precisava de saber e, se tivesse alguma integridade, ter-se-ia afastado. Mas Dario tinha passado o ponto de retorno e, esquecendo a decência, empurrou com mais força e tremeu dentro dela uns segundos depois.

E ela? Maeve tremia, os seus olhos eram como dois lagos escuros na penumbra.

– Mi dispiace – murmurou quando voltou a falar, acariciando o seu cabelo. – Maeve, lamento… Eu não fazia ideia…

Ela virou a cara para beijar a sua mão.

– Não deves lamentar. Fico feliz que tu tenhas sido o primeiro.

Amaldiçoando-se a si mesmo em voz baixa, Dario levantou-se e voltou pouco depois com dois roupões de banho.

– Como estás? – perguntou, envolvendo-a num deles. – Magoei-te?

– Não, não – Maeve enterrou a cara no seu peito como uma menina.

– Quantos anos tens?

– Vinte e oito.

Ele deixou escapar um suspiro de alívio… e de surpresa.

– E continuas virgem aos vinte e oito anos?

– Nunca tive tempo para uma relação séria.

Dario começou a ouvir o alarme a disparar na sua mente. Pensaria Maeve que fazer amor equivalia a uma relação? Não, certamente que não. Aos vinte e oito anos não podia estar tão afastada da realidade.

– A primeira vez de uma mulher deveria ser uma coisa especial. Imagino que eu te decepcionei.

– Não, pelo contrário – ela sorriu. – Recordarei esta noite enquanto viver.

E assim seria, mas não pelas razões que ele imaginara.

Um relógio nalguma parte do iate bateu as horas e Dario deixou escapar um suspiro antes de procurar os seus lábios num beijo cheio de ternura.

– Foi uma noite muito longa e deves estar esgotada – sorriu, inclinando-se para apanhar o vestido do chão. – Anda, vou mostrar-te onde te podes vestir e depois levo-te ao hotel.

– Ah, claro.

A desilusão que havia na sua voz era evidente, mas Dario levou-a a um dos camarotes.

– Não precisas de ter pressa. Espero-te na coberta.

O motor da lancha já estava a trabalhar quando ela saiu do camarote e ele não perdeu um segundo a levá-la ao porto. Desejava despedir-se. Não porque depois de fazer amor com ela não quisesse voltar a vê-la, mas porque se sentia como um verme e não se atrevia a olhá-la na cara.

Dario acompanhou-a à porta do hotel Splendido Mare, mas não entrou com ela. Porque se Maeve o convidasse a entrar não seria capaz de recusar.

– Obrigada por esta noite tão especial – murmurou, beijando-a em ambas as faces. – Dorme bem, Maeve. Buona notte.

– A que horas é que nos encontramos amanhã?

– Amanhã? – repetiu ele.

– Disseste que me ias levar a navegar, lembras-te?

Infelizmente tinha-o feito. Se fosse outra mulher ter-lhe-ia ocorrido alguma desculpa, mas Maeve olhava para ele com tanta expectativa que não teve coragem para lhe dizer que não.

– Às duas no porto?

– Óptimo. Vemo-nos então.

– Sim – murmurou Dario. – A domani.

No dia seguinte, às duas, tinha reunido um grupo de amigos e a tripulação do iate andava de um lado para o outro a servir copos e aperitivos.

Uma vez superada a sua timidez inicial, Maeve misturou-se com os convidados, conversando alegremente com todos… apesar das suas humildes origens, movia-se e agia como se fizesse parte da alta sociedade.

– São muito simpáticos os teus amigos – disse depois de jantar, quando o resto dos convidados, talvez para lhes dar um pouco de intimidade, tinham saído para a coberta. – Obrigada por me os teres apresentado. Agora tenho a impressão de te conhecer melhor.

– Eles também gostaram muito de ti, especialmente Eduardo. Não te surpreendas se te pedir que saias com ele antes de te ires embora de Itália.

– Como se eu aceitasse!

– Porque não? Ele conhece a história da zona muito melhor do que eu e pode mostrar-te lugares que não aparecem nos guias turísticos.

– E não te importarias que saísse com ele?

– Eu não tenho o direito de dizer nada… não és propriedade minha.

Maeve não pôde disfarçar a sua desilusão.

– Não, claro que não – murmurou, afastando o olhar. – Mas… parece-me que apanhei demasiado o sol e dói-me um pouco a cabeça. É melhor voltar para o hotel.

– Tens a certeza?

– Sim.

– Nesse caso, acompanho-te.

Maeve não disse mais nada até que chegaram ao porto.

– Adeus, Dario.

– Espera um momento. Não queres que te acompanhe?

– Posso ir sozinha para o hotel.

– Mas insisto em acompanhar-te…

– Não – disse ela, negando com a cabeça. – Não sou uma criança, Dario. E embora certamente tu penses que sou pouco sofisticada, não sou ingénua de todo. Passámos um bom momento e já não queres saber nada de mim. Entendo perfeitamente.

Ele sentiu-se envergonhado.

– Não sei como responder a isso.

– Então vou facilitar-te as coisas: fizemos amor, ou o que quer que fosse, por consentimento mútuo. Foi uma coisa de uma noite, portanto vamos despedir-nos sem rancores.

Poderia não ter experiência em assuntos sexuais, mas era uma profissional quando era preciso fazer com que um homem se sentisse como um canalha.

– Se te sentes enganada, lamento muitíssimo. Em minha defesa devo dizer que tu também me enganaste, embora não fosse essa a tua intenção.

– Porque não te adverti de que era virgem?

– Sim.

– Isso e teria mudado alguma coisa?

– É claro que sim – respondeu ele. – Não te teria tocado, por mais desejável que te achasse.

Maeve pestanejou várias vezes para controlar as lágrimas.

– Nunca pensei que lamentasse ter esperado até que aparecesse o homem adequado.

– Infelizmente, eu não sou o homem adequado para ti.

– E eu não tenho intenção de ser o brinquedo de um playboy – Maeve inclinou-se para lhe dar um beijo na face. – Adeus, Dario. Obrigada por tudo.

Estava enganada, pensou Dario, contendo o impulso de correr atrás dela. Ele não via as mulheres como brinquedos. Sentia um grande respeito por elas e, em geral, mantinha sempre boas relações com as suas ex-amantes.

Embora procurasse um certo nível de sofisticação nas suas relações. Era directo e não fazia promessas que não tencionasse cumprir. Quando uma aventura acabava esperava que ela aceitasse o facto sem discussões, sem lágrimas, sem cenas.

E, por essa razão, uma rapariga encantadora e ingénua não era para ele. Pelo menos não tinha sido até que Maeve Montgomery apareceu na sua vida.

Recordações de um amor - Uma amante temporária

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