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Capítulo 1

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Aproximou-se da Maria’s, em Melbourne, um minuto antes de fecharem, numa tarde quente de Verão. Era um homem mediterrânico, alto, que sobressaía entre os outros.

– Boa tarde e bem-vindo à Maria’s. Posso ajudá-lo em algo? – perguntou Arabella Gable, de maneira profissional e educada.

Mas quando o homem se virou para ela, uma rajada de memórias apoderou-se da sua mente; há seis anos, aquele homem tivera o seu coração nas suas mãos.

Sentiu um nó na garganta, enquanto a fúria, a dor e a desilusão lhe percorriam o corpo. Perguntou-se porque estaria ali.

– Quando te explicar o que se passa, não te vai restar outro remédio, senão ajudares-me.

O sotaque italiano marcado de Luc fez com que Bella estremecesse…

– Luchino – sussurrou ela, que o achara fora da sua vida para sempre.

Olhou-o como fizera em Milão há tantos anos; analisou o seu cabelo escuro, os seus olhos castanhos e aquela boca feita para seduzir. Luchino Montichelli emanava sensualidade e poder.

– Sim, sou Luc, o próprio e insubstituível. Passou muito tempo, Arabella – disse, analisando-a com o olhar. – Parece que os anos te favoreceram.

O coração de Bella disparou e perguntou-se como se atrevia a olhar para ela daquela maneira. Nervosa, passou uma mão pelo seu coque loiro.

– Também te favoreceram – admitiu. – Estás… com bom aspecto.

Então, recordou que arrebatara a sua filha à sua mãe, para depois a abandonar.

– O que fazes aqui, Luchino? Como posso ajudar-te?

– Nunca planeei voltar a ver-te, Arabella – Luc esboçou uma expressão dura. – Garanto-te que preferia não estar aqui.

– Preferias não me ver? Receio que o sentimento seja mútuo – espetou ela.

Mas, então, viu uma expressão doce reflectida nos olhos de Luc e recordou algo que lhe parecera muito especial e correcto. Uma leve vulnerabilidade apoderou-se dela. Mas tudo aquilo era uma ilusão!

– Estou quase a fechar, portanto, seja qual for a razão pela qual vieste…

Maria, a sua chefe, matá-la-ia por tentar expulsar um cliente, mas ela estava fora e Luc não estava ali na qualidade de cliente.

– Fecha a loja – Luc apontou para a porta principal. – Melhor ainda, dá-me a chave e eu fá-lo-ei por ti, enquanto tu fazes a caixa. O que tenho para te dizer é melhor que to diga em privado.

– O que sabes tu de fazer a caixa?

Mas a família dele era dona de joalharias ao longo de toda a Europa e outras partes do mundo. E, certamente, seguiam o mesmo procedimento de fazerem a caixa.

– De qualquer forma, não sei se quero falar contigo a sós. Caso te tenhas esquecido, não ficámos precisamente amigos.

– Não me esqueci de nada – disse ele, olhando para ela. – Tenho uma loja a alguns quarteirões daqui – então, dirigiu o olhar para a roupa da loja. – Acho que sei como assegurar este lugar.

Bella sabia que uma loja de Diamantes Montichelli abrira perto dali há duas semanas, mas afastara-o da sua mente.

– Pensava que a loja era uma filial da loja de Sidney e que haveria um gerente local. Pensava que tu te dedicavas ao desenho.

Cada vez que as irmãs de Bella tinham sofrido durante os últimos anos, ela encontrara uma ligação com Luchino, já que ele também abandonara a sua filha. Também brincara com ela, enganando-a e divertindo-se às suas custas.

– Agora, encarregas-te da administração? Estás aqui para deixares tudo preparado e, depois, deixares a loja a cargo de alguém? A loja de Sidney tem um gerente local…

Bella desejou que assim fosse e que Luchino fosse partir.

– Já não trabalho com a minha família. A Diamantes Montichelli é uma loja minha, uma entidade separada de todas as outras. Talvez partilhe o nome familiar, mas a loja terá sucesso pelo meu trabalho, pelos meus desenhos e pela minha reputação.

Luc esboçou uma expressão dolorosa e baixou o olhar.

– Tenho muitas funções para desempenhar aqui… proprietário, desenhador chefe, gerente, vendedor. Farei tudo o que for preciso fazer. Estou aqui para ficar.

Luchino, agarrando na chave da porta principal, dirigiu-se para a porta.

– Acaba o que estavas a fazer, Arabella, para que assim possamos falar.

– Demoro um minuto – disse Bella, tentando controlar o tremor das suas mãos enquanto esvaziava a caixa registadora.

Luc olhou para os manequins vestidos com roupas que ela desenhara e Bella, apesar do seu aborrecimento, susteve a respiração, esperando para ver qual era o seu veredicto.

– És uma mulher de talentos ocultos, Arabella. São bons. Pelo menos, a tua destreza com os desenhos e com as criações deixa claro que há uma possibilidade de resolveres a confusão que criaste.

– Confusão? Que confusão?

– Passaste de modelo a obrigares mulheres de meia-idade a gastarem quantias enormes em negócios que não têm garantia de sucesso. Deves estar muito orgulhosa de ti.

– Fui modelo para poder sustentar as minhas irm… – parou ao dar-se conta de que estava a tentar explicar-se diante dele. – O que queres dizer? Eu não obriguei ninguém e, de qualquer forma, o que tens a ver com isso?

Bella fizera um contrato com Maria Rocco, através do qual apresentava na loja desta, em exclusivo, os seus trabalhos durante um prazo de cinco anos.

– Maria Rocco é a minha tia – disse Luchino. – O que faz com que isto também seja o meu negócio.

Bella ficou impressionada. Maria era milanesa, mas vivera na Austrália durante quase toda a sua vida adulta.

– Maria é uma Rocco, não uma Montichelli, e ela mesma me disse que não tinha família.

– A minha tia partiu de Milão, deixou a família e mudou o apelido há muito tempo. Sem dúvida, ela considerava que estava sozinha – disse ele, zangado. – Tenho a certeza de que pensaste que isso era uma vantagem, quando decidiste roubar-lhe uma grande quantia de dinheiro.

– Eu não fiz isso! Como sabes sequer alguma coisa do acordo que fiz com ela?

Mas estava claro que ele sabia algo. Bella observou como Luc levava uma mão ao peito, para se certificar de que ainda tinha algo no bolso da camisa. Talvez uma fotografia?

– Disse ao meu novo assessor de negócios que queria conhecer Maria. Ele tinha ouvido dizer que Maria tinha uma protegida. Quando mencionou o teu nome, pedi-lhe que descobrisse pormenores sobre ti.

– Isso é uma invasão da privacidade de Maria. E da minha!

– Foi uma invasão muito oportuna. Embora estejamos afastados, não vou deixar que Maria tenha problemas financeiros por tua causa. De alguma forma, obrigaste-a a contratar-te para desenhares para ela, a um preço astronómico e sem nenhuma garantia de que os vestidos se venderiam.

Bella franziu o sobrolho. Não era um acordo injusto, porque Maria sabia que o seu objectivo era que ambas tivessem sucesso.

– Na verdade, é um acordo, não um contrato – esclareceu ela, que não quisera pagar a um advogado.

Henry Montbank, antigo chefe de Chrissy, ajudara a realizar o acordo sem falhas.

– É um roubo disfarçado de acordo de negócios.

– Estás a chamar-me ladra? Como… te atreves? Investigaste a minha vida nas minhas costas, como se tivesses todo o direito de o fazeres. O que descobriste sobre mim e as minhas irmãs? Até onde foste?

– Investiguei as tuas finanças, Arabella, o que fizeste durante estes anos, desde a última vez que te vi. E descobri tudo sobre o acordo a que chegaste com a minha tia. Não vou perdoar-te isso – disse, com uma expressão dura reflectida nos olhos.

Então, continuou a falar.

– Pretendo reclamar Maria como minha tia – disse Luc, suavizando um pouco a sua expressão. – É da família e… se for possível, quero ter essa ligação com ela. Teria vindo vê-la antes, se não tivesse estado fora da cidade.

Aquele amor pela família, tendo em conta o seu historial, era estranho.

– Apesar do que dizes, não deves ter investigado muito bem, Luchino, porque Maria não está em perigo financeiro por minha causa.

– Pelo contrário, a aquisição da tua colecção quase a deixou na bancarrota.

– A tua tia é muito rica, Luchino. Tem umas águas-furtadas na melhor zona da cidade, conduz o último modelo de um carro desportivo e vai, frequentemente, de férias para o estrangeiro. Não hesitou em aceder às minhas condições e pode seguir em frente até os meus modelos gerarem lucro.

– Maria gastou mais do que devia durante anos. As águas-furtadas são alugadas, assim como o carro, e todas aquelas viagens fizeram-na ficar com dívidas. Não estava em condições de se meter numa aventura especulativa como a tua.

– Os meus vestidos vender-se-ão. Maria fez um bom investimento e pretendo prová-lo.

Bella sentiu um aperto no estômago. Nunca perguntara a Maria pela sua situação económica, simplesmente assumira pelo que tinha tido diante dela. Mas se realmente Maria não tivesse dinheiro…

– Não posso falhar – afirmou, severamente.

A palavra fracasso já não era uma opção para ela. Não era desde que os seus pais a tinham abandonada a ela, a Chrissy e a Sophia.

– À medida que for criando uma carteira de clientes, vender-se-ão mais vestidos e Maria receberá lucros pelo investimento que fez.

Mas nada daquilo resultaria se Maria entrasse na bancarrota…

– Vou telefonar a Maria para descobrir como estão as coisas.

Maria poderia dissipar o medo que estava a apoderar-se de Bella. Tudo ficaria novamente bem, excepto a intenção de Luc de fazer parte da vida da sua tia, o que faria com que tivesse contacto com Bella.

– Não posso permitir que telefones à minha tia. Não quero que saiba que comprei… que a investiguei. Quero uma oportunidade de poder conhecê-la, sem que os assuntos comerciais se interponham.

Bella sentiu necessidade de falar com as suas irmãs, de ouvir as suas vozes para que a reconfortassem, mas, se lhes telefonasse, falaria demasiado. E sabia que não devia fazê-lo. Elas sabiam que tivera um problema em Milão com um homem, mas não lhes contara os pormenores daquela experiência devastadora. Ela só tinha dezanove anos naquela época…

– A prevaricação é uma perda de tempo, Arabella. O acordo favorece-te. Maria tem problemas financeiros porque tu exerceste pressão para conseguires desenhar os teus vestidos. Conhecendo os seus problemas económicos ou não, as tuas exigências eram inaceitáveis e espero que o remedeies. Estes são os factos. Agora, vou dar-te duas opções para reparares o mal que fizeste.

A expressão de Luc endureceu enquanto olhava para Bella.

– A primeira opção é que pagues cada cêntimo do que ela te emprestou e que, depois, partas.

– Isto não é só uma questão de dinheiro, Luchino. Maria acedeu a lançar a minha marca, o meu nome. Se pedisse um empréstimo para pagar o que ela me deu, não conseguiria estabelecer-me noutro lugar. Já não tenho dinheiro. Investi-o em tecidos e ideias para novos vestidos.

– Suponho que isso nos leva à segunda opção – disse ele, dando um passo em frente.

– Oh? E qual é? – perguntou Bella, tentando não pensar no quão perto estavam um do outro, tentando não se sentir intimidada, nem confusa.

– É bastante simples, Arabella. Tens de te certificar de que cada vestido que a minha tia te comprou se venda depressa e a um bom preço.

– Claro! Farei com que isso aconteça – disse, pensando que procuraria uma fada madrinha nas Páginas Amarelas para que agitasse a sua varinha mágica por ela. – A rapidez não é o principal ingrediente no meu plano de trabalho. Maria sabia disso. Foi por isso que acordámos um prazo de cinco anos.

– Esses cinco anos já não são válidos. Deves sair e atrair clientes das altas esferas para venderes até ao último desses vestidos… e depressa!

– Lamento decepcionar-te, Luchino, mas não tenho acesso a esse tipo de gente.

– Estando ao meu lado, abrir-te-ão essas portas – disse ele, esboçando um sorriso malvado. – Passear-te-ás entre eles até que as finanças de Maria se equilibrem. Colar-me-ei a ti para que o consigas.

– Não. Nem sequer sei se estás a dizer a verdade.

Bella irritou-se. Todo o aborrecimento que guardara na sua alma explodiu.

– Afinal de contas, esconder a verdade é o que costumas fazer, não é, Luchino? Fingiste não ter esposa. Diz-me, doeu-te perdê-la? Ou, simplesmente, alegraste-te por te livrares dela, para assim continuares com os teus romances, sem que te pesasse a consciência?

Amor italiano - Mistérios do deserto

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