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CAPÍTULO TRÊS

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A MANHÃ DE TERÇA-FEIRA deu os primeiros sinais do fim do outono. Uma pequena onda de frio que exigia luvas e cachecóis. Quando ela chegou nos portões da velha escola, Mai ficou atrás de um grande pilar feito de pedra, protegida do vento persistente e telefonou para Alfie. Era apenas oito horas e quarenta e cinco minutos da manhã mas ela estava cheia de esperança. Folhas rodeavam seus tornozelos e o céu cinza ficava pontilhado de pássaros estridentes e impacientes para voar em direção ao sul.

Ele atendeu no segundo toque.

‘Alô.’

‘Passou a noite acordado ou acabou de acordar?’

‘Acordado desde às sete, fazendo ginástica. Uma grande turnê está por vir, não posso adoecer.’

‘Impressionante. Eu estou do lado de fora de uma escola no sul de Londres.’

‘Teve sorte com os garotos da escola?’

‘Sou muito velha para eles. Eles não se interessam nem se eu lhes oferecer doces.’

‘Passei por isso nos meus vinte anos. Não há nenhuma esperança para nós, então.’

Ambos fizeram uma pausa e ouviram a respiração do outro. Mai sentiu o frio subindo pelo seu rosto, uma sensação de aperto nos lábios e nas orelhas. Ela pensou por que estava tendo aquela conversa naquela hora. O que ela queria?

Alfie disse, ‘Então você virá amanhã? Consiga um lugar na primeira fila. Venha nos bastidores para ver a banda e depois atire tulipas em nós, ou calcinhas, você escolhe.’

‘Ainda tem o mesmo nome?’

Ela tinha tentado persuadí-lo a não usar The Gastric Band como nome da Banda, mas os amigos sarcásticos e adolescentes crescidos de Alfie se recusaram a mudá-lo. Com o tour agendado, isso agora era provavelmente tarde demais. A pequena gravadora tinha desistido de gravar após duas reuniões de três horas terem resultado em um silêncio taciturno por parte dos membros da banda. Apesar das ameaças vindas da crítica, pode-se incluir frases como ‘The Gastric Band’ não são suficientemente unidos e ‘The Gastric Band’ não consegue nem resolver seus próprios problemas. ‘

Alfie disse, ‘Não comece, Mai. Está feito. Então você estará lá?’

‘Eu vou tentar. O diretor dessa peça é um nazista, então não posso confiar que terminaremos em tempo.’

‘Os nazistas são conhecidos por não serem pontuais.’

‘Você sabe o que eu quero dizer.’ Ela não podia evitar dizer, com a voz na defensiva operando dentro dela, ‘Não seja exigente.’

Ao invés de lhe dar uma resposta, ele não disse nada, como de costume. Ela sabia que ele não era capaz de lidar com qualquer tipo de conflito, então ele fingia não existir nenhum. Ironicamente, isso foi o início de um conflito entre eles.

Após um momento ele disse, ‘Você não ligou ontem.’

‘Você também não, garoto esperto.’

‘É verdade, desculpe. Foi por falta de tempo. Eu terminei somente à meia-noite. Não quis ligar por causa dos seus ensaios e tudo mais.’

‘Tudo bem, aconteceu o mesmo comigo. Por isso não liguei.’

Ela ficou pensando por que não mencionou que tinha saído com Stefan. Ela não se sentia totalmente culpada.

Alfie disse, ‘Então foi bom ou o quê?’

‘Não, na verdade foi um lixo.’ Ela de repente sentiu vontade de chorar, seus olhos ficaram marejados. ‘O diretor é um déspota. Um pretensioso. Ele quer me quebrar, como um cavalo ou algo assim, para que eu faça exatamente o que ele quer.’

‘Você precisa de um homem forte para bater nele?’

‘Seria bom.’

‘Eu vou ver se eu acho um ... ‘

Mai sorriu suavemente – isso é exatamente o que ele diria. O interessante é que Alfie poderia ser tão dinâmico e substancial por trás de sua figura, entretanto, tão reservado na vida real. Talvez seja isso que o tenha feito extravasar toda sua raiva e frustração.

Ela disse, ‘E tem outra coisa. Você pode ouvir falar muito de mim nos jornais em breve.’

‘Deannah ha-ha.’

‘Acertou.’

‘Fácil. Joe me contou sobre isso. Ele viu você lendo o livro quando chegou para o ensaio. Perguntou se você poderia se interessar. Eu procurei por isso na internet ontem à noite.’

‘Entâo, o que você acha? Devo participar?’

‘Ela definitivamente é você, não é? Uma garota comum que se torna uma princesa de meio-período.’

Mai deu risada. ‘Seu bobo. De qualquer forma, eu não preciso da sua permissão. Eu já disse a eles que estou na disputa.’

‘Um pouco de concurso de beleza. É isso o que quer?’

‘Parece que sim, uma vez que eu aceitei participar. O que você acha?’

‘Hey, é a sua carreira. Você decidiu fazer a peça. Você decidiu fazer o lixo do filme.’

‘Ainda não sabemos se será um lixo. Isso dependerá dos efeitos especiais. Um garota tem que começar em algum lugar.’

Mai não estava gostando da direção que a conversa estava tomando. Alfie parecia agressivo sem motivo esta manhã, como se ele estivesse liberando alguma tensão interna por testar sua resiliência.

Ela disse, ‘Está tudo bem com você?’

‘Sim, por que?’

‘Não sei. Você parece ... conciso.’

‘Você também estaria concisa se estivesse ensaiando dez músicas para daqui a três semanas sem nenhum descanso. Meus braços estão doendo continuamente e eu não posso sentir os meus dedos. Estão como bananas nas extremidades dos meus pulsos para servir como experimento de um cruel médico cirurgião.’

Da mesma forma como aconteceu muitas vezes quando ela estava nos ensaios, Mai começou a examinar o que ela estava sentindo. Não sabia se queria expressar a leve sensação de raiva e frustração que ela estava sentindo naquele momento, o que ela faria agora? Poderia olhar nos olhos de Alfie? Queria tocá-lo? Esbofeteá-lo? Beijá-lo?

‘Você ainda está aí?’ Sua voz estava afiada.

Ela voltou para o presente, para o frio no seu rosto e a sensação da tela de vidro do seu celular na sua orelha.

‘Estava apenas pensando,’ ela disse. ‘Eu tentarei ir amanhã. Pode ser que eu traga Stefan. Ele pode fingir ser meu namorado, deixando o caminho livre para você com seu fã-clube de garotas de dezesseis anos.’

‘Elas têm vinte anos e eu posso ter mais problemas com elas. Elas discutem mais.’

Mai sorriu ao telefone novamente.

Alfie disse, sua voz está mais suave, ‘Não se preocupe com a peça. Você é boa e sabe disso. O Pedro é um estúpido. O que ele irá fazer – demitir você? Provavelmente não.’

‘Ele já fez isso antes, evidentemente. Não tem consideração.’

‘Mas ele terá que enfrentar a ira do meu baterista depois.’

‘Um espetáculo.’

‘É o barulho que eu faço que realmente os assustam.’

Pedro deu início ao segundo ato, onde o grande símbolo da peça faz uma aparição – um pássaro morto a tiros por um dos personagens que o oferece ao personagem interpretado por Mai. Ao invés de utilizar um objeto cenográfico real, Pedro tinha trazido um macaco de pelúcia, fazendo com que todos caíssem na risada enquanto revisavam o seu potencial simbolismo na peça. Ele riu com os outros por um tempo mas logo ficou entediado e começou a gritar com eles.

Já era hora do almoço e eles estavam ensaiando o segundo ato em uma série de cenas chatas. Muitos personagens tinham cenas com falas longas, fazendo com que Pedro tivesse que dar a eles a sua cópia pessoal do texto, e os atores, desinteressados, suspiravam em alívio e voltavam para os bancos alinhados à parede. Mai ficava pensando quando isso começaria melhorar.

Quando pararam para almoçar, ela viu uma familiar jaqueta esportiva bege no fundo do auditório. Eric estava lá, ela percebeu que ele estava lá por mais ou menos meia hora, provavelmente para observar como as coisas estavam indo.

Ela indicou com os olhos que iria vê-lo do outro lado, pegou seu sanduíche e caminhou para a porta de saída de incêndio, próxima à uma pilha de mesas sobre cavaletes.

Ela se sentou perto dele na parede do parquinho infantil da escola e de repente sentiu-se novamente como uma colegial em Northampton, tipicamente de lado ouvindo as outras garotas de sua idade falarem sobre garotos e música. Elas provavelmente morreriam ao saber onde ela está agora – se encontrando com um namorado que é atualmente ­­integrante de uma banda.

‘Minha mãe ligou para você, então.’

Construtores, decoradores e eletricistas estavam cantarolando enquanto passavam pela rua em furgões brancos. Eric esperou até que houvesse silêncio.

‘Você não acha que eu devo verificar periodicamente? Ver se está tudo bem com você? Você não confia em mim, garota.’

Ela ofereceu a ele um sanduíche, mas ele recusou. Como de costume, ele precisava cortar o cabelo e não seria pedir muito se fizesse também a barba. Quando ela estava mais generosa, ela preferia pensar que ele estava muito ocupado cuidando dos seus negócios, que não tinha tempo para se preocupar com sua aparência pessoal. Quando ela estava chateada, ela achava que ele era apenas um desleixado.

‘Você alguma vez já lustrou os seus sapatos? Eles parecem exatamente os mesmos de quando fomos naquele lugar da fazenda em Amberside. Lembra?’

Eric mexeu os ombros. Ele nunca se sentiria envergonhado a ponto de mudar a sua aparência.

Ele disse, ‘Parece que você tomou uma outra decisão sem me consultar. Eu não acho que as condições dos meus sapatos têm tanta importância em comparação com a natureza precária do nosso relacionamento profissional.’

Mai suspirou irritada e se voltou para seu sanduíche. Sempre que Eric tinha que dar início a uma difícil discussão, sua linguagem tornava-se complexa, como se ele pudesse evitar que a mensagem real fosse transmitida pelo uso criterioso das sílabas.

Ela disse, ‘Ontem um amigo fez-me lembrar que você é meu assessor e não o meu chefe.’

‘Verdade, verdade, e eu poderia infligir algum dano físico a alguém que dissesse o contrário. Mas há algumas coisas que precisamos considerar de forma estratégica. Afinal, sua carreira não é a mesma coisa que agendar um horário com o cabeleireiro. É um compromisso de longa duração, e toda decisão, cada momento decisivo em um compromisso assumido precisa ser considerado por uma infinidade de ângulos diferentes.’

‘Como um diamante.’

‘Se quiser, sim. Como um diamante.’

‘Ou quartzo.’

‘Você não pode me hostilizar, Mai.’ Ele parou e olhou para uma mulher negra que passou pelo portão da escola, resmungando para ela mesma. ‘Estou aqui para cuidar dos seus interesses. Você se lembra quando sua mãe a colocou em contato comigo, há dois anos? Nós assinamos o contrato e naquele contrato eu dizia que eu sempre trabalharia para maximizar tanto a sua renda como seu sucesso profissional. Trata-se disso. Você pode fazer a piada que quiser, e ocasionalmente até participarei, mas quando se referir a uma importante decisão como esta, eu gostaria apenas de um pouco de consideração. Você não pode tomar o controle e decidir participar de algo sem me consultar.’

‘Eric, olhe para mim. Eu cresci. Eu nem tinha dezoito anos quando assinei aquele contrato e eu precisava de toda ajuda que você pudesse me dar. E eu lhe agradeço por isso. E agradeço por conseguir trabalho para mim nessa peça e no Tornado, que tenho certeza que quebrará todos os recordes de bilheteria e que ganhará dez Oscars. Mas quanto ao papel de Deannah, se afaste, tudo bem? Isso é algo que eu quero fazer. Eu quero o papel porque eu acho que será bom para mim, porque eu acho que o livro é popular e eu sei que eu posso fazê-lo. Eu li o livro e eu conheço aquela garota. Se eu conseguir o papel, eu o farei bem e com o vento soprando a meu favor, o filme será bom para a minha carreira.’

Houve uma longa pausa. Eric ergueu-se na sua estatura total.

‘Então você está dispensando os meus serviços.’

‘Não, por Deus!’

‘Mas é o que parece deste lado da mesa.’

‘Agora você está sendo melodramático. É o meu trabalho, dentro daquele congelante auditório. O que estou dizendo é que nosso trabalho agora é de nos certificarmos de que conseguirei o papel de Deannah. Nós podemos tramar e planejar para que eu ganhe daquela bruxa loira da Helena Cross novamente.’

Eric levantou bruscamente a cabeça.

‘O que ela tem a ver com tudo isso? Quem a indicou?’

Mai terminou seu sanduíche e amassou o papel alumínio como uma bola e o colocou dentro da sacola.

‘Ela mesma se indicou. Ela quer o papel, somente para tirá-lo de mim. Eu realmente não posso culpá-la. Eu fiquei dois anos em Amberside e ela esteve por dois anos escolhendo números de Loteria na TV e fazendo coreografias com membros do parlamento. Que poderia ter sido eu.’

‘Dificilmente. Pelo menos você tem talento.’

‘Obrigada por notar. Podemos começar outra vez?’

Ela sabia que no final Eric era sempre pragmático. Ele tinha explosões de orgulho intolerante mas no final, ela era sua estrela ativa e ele não queria perdê-la se pudesse evitar. Ao longo dos dois últimos anos ele tinha concentrado cada vez mais sua atenção nela enquanto sua popularidade crescia, sendo que ele tinha deixado de lado alguns de seus fãs. A mãe de Mai tinha dito a ela que isso era um erro, porque ele deveria querer aumentar seu público, e não reduzi-lo por causa dela, mas ele provavelmente a enxergava como um ticket refeição – o primeiro que ele tinha tido em quase trinta anos de trabalho de representação.

Ele inflou suas bochechas e colocou suas mãos nos bolsos da sua calça de veludo cotelê. ‘Você é uma fulana pequena e cruel quando quer, não é? Gostaria de saber de onde você tirou isso – não foi da sua mãe, que era tão doce quanto uma torta de maçã da Bramley.’

‘Olhe, eu tenho que voltar agora. Ligue para mim amanhã e faremos uma reunião. Você pode chamar isso de uma reunião estratégica se você se sentir melhor assim. Agora dê-me um beijo e vá para casa.’

Ele deu um passo à frente e eles trocaram beijos dignos de Hollywood.

Ele disse, ‘Não vá fazer nada às pressas sem antes falar comigo. Tem certeza que quer fazer isso? Você sabe que isso é um vício, não sabe?’

‘Helena Cross não pode fazer nada para me prejudicar.’

Eric recuou. ‘Você nunca deveria dizer esse tipo de coisa. Ela é como uma bola de praia – você até pode tentar colocá-la em uma caixa, mas ela sempre salta para fora novamente.’

A Atriz

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