Читать книгу A Atriz - Keith Dixon, Keith Dixon - Страница 11
ОглавлениеCAPÃTULO QUATRO
BILLIE PUXOU OS cães do local onde estavam farejando e depois os seguiu, segurando-os de volta enquanto eles a puxavam em direção ao bolo de casamento do Museu Nacional MarÃtimo, no centro do Parque Greenwich. Eles puxavam implacavelmente suas guias, tossindo de forma rouca, alegres por estarem indo a algum lugar, em qualquer lugar.
Ela achou que estavam animados para ver a Mai. Se ela conseguisse o papel de Deannah, isso seria um nÃvel total de fama para ela. Seria comparado à Kristen Stewart ou à quela garota de Harry Potter, cujo nome ela não se lembrava. Seria um grande passo para sua carreira â estaria à s portas de Hollywood. Ela provavelmente teria que contratar William Morris no lugar de Eric, mas isso seria uma grande perda. Ela seria capaz de comprar sua casa própria em Londres ao invés de ter que alugar.
Ela de repente percebeu que tinha muito que investir para que Mai ganhasse a enquete. Isso era imprescindÃvel, uma obrigação. Ela já tinha escutado rumores de que a estúpida da Helena Cross estava liderando as pesquisas depois de apenas um dia. Mas isso era compreensÃvel porque ela tinha recentemente participado como celebridade em uma maratona televisiva, dançando com cinco membros do parlamento em um evento beneficente. Quando souberem que Mai está pensando seriamente em concorrer para o papel, as pesquisas certamente mudarão, ela estava certa disso.
Billie via que a responsabilidade para o sucesso de Mai poderia estar sobre ela. Ela se sentia sempre responsável quando as pessoas não conseguiam viver de acordo com seu potencial. Era como se tranferisse um peso dos ombros para os dela â mas que ela poderia suportar. De fato, ela aceitou essa condição porque isso a permitia encontrar algum valor real em sua vida. Geralmente não havia nenhum reconhecimento ou recompensa pelo stress que ela impunha a si mesma, mas ela sabia que com o tempo as pessoas iriam reconhecer o sacrifÃcio que ela fazia e iriam reconhecer seus dons. Era apenas uma questão de tempo.
Ela pensou em Mai por um momento, puxando os cães da estátua do Capitão Cook descendo a ladeira em direção ao centro do Greenwich. Ela estava trabalhando para Mai há um ano, desde que ela pegou os cães, e ela sabia que Mai levava a sério tudo o que ela tinha realizado como atriz. Ela desejava melhorar e ser a melhor atriz que ela poderia ser. Billie concordava com isso â era uma boa forma ética de trabalho para alguém tão jovem e inexperiente.
Por outro lado, desde que terminou com Dennis, Billie começou a ver que havia outras coisas mais importantes na vida do que o trabalho. Se vocês pensam que o trabalho é suficiente para satisfazê-los, vocês estão enganados. A vida não é um ensaio. Você faz o que pode para se satisfazer com isso e conseguir o que quer quando isso está ao seu alcance.
Mesmo que isso signifique ter que quebrar o galho para alcançar isso em primeiro lugar.
âAssista ao filme comigo,â Mai disse quando Billie entrou.
âOk. Você é quem manda.â
Billie estava secretamente emocionada pelo convite de Mai. No último ano, elas tinham assistido juntas à vários filmes e ela sempre gostava das explicações dadas por Mai sobre o que os atores estavam fazendo. Elas iriam praticamente assistir a um velho filme que já haviam assistido antes, para que elas pudessem se concentrar nas técnicas dos atores e na filmagem e não no enredo.
Ela acalmou os cães e se juntou a Mai na sala de estar. Ela tinha baixado um filme de Hitchcock e utilizou um cabo para conectar o laptop dela à TV, que estava sobre um suporte na parede. Billie a ajudou a mover o sofá para a frente da TV, e então elas desligaram as luzes da mesa, com exceção de uma.
Doris Day e James Stewart estrelaram O Homem Que Sabia Demais. A história começou em Marrakech, onde Stewart, um médico, está passando o feriado com sua esposa e seu jovem filho. Eles se envolvem com um homem francês que, deixa claro ser membro do serviço secreto francês, e é assassinado na frente deles em um Mercado em Marrakesh. Antes de morrer, ele conta um segredo para Stewart â um homem será assassinado em Londres. Stewart não conta a ninguém essa informação porque ele recebe um telefonema com uma ameaça de que seu filho estaria em perigo se ele contasse a alguém.
Toda essa trama levou-as a cerca de metade do filme. Mai estava tranquila, sentada sobre seus pés no sofá e enrolada em um roupão. Billie abriu uma garrafa de vinho branco sul-africano e estava pronta para servir. Ela inclinou-se para frente e pausou o filme no laptop.
âPosso encher?â
Mai disse, âDoris Day está lá, não é a personagem, ela está realmente presente.â
âO que quer dizer?â
âVocê pode vê-la ouvindo os outros atores, mesmo quando não aparece na tela. Quando eles aproximam a imagem o outro ator está lá com o texto, lendo-o. Doris não permite que isso mude o modo dela reagir. Os olhos dela estão se movimentando para cima e para baixo enquanto ela está observando a fala do personagem, olhando dos olhos à boca. Então quando ela sorri, ela realmente sorri. Não é um sorriso forçado â isso sobe para seus olhos também. E fica perfeitamente natural. Emma Thompson faz isso â dando a sensação de que há um ser humano lá, e não alguém atuando como um ser humano.â
âEu gosto do Jimmy Stewart â pela maneira como ele mudou de um Americano mediano de férias em uma terra estrangeira, para um homem com força de caráter e determinação.â
âEle também é inteligente. Ele sabe que isto está nos olhos. Essa parte agora quando ele abraça Doris para confortá-la e seu rosto está sobre o ombro dela ... viu o que ele fez com os olhos e com a boca? Os olhos para um lado procurando fugir, a boca levemente aberta, e então, um rápido olhar para Doris e desvia novamente â tudo aconteceu de uma forma rápida, porém perfeitamente controlada. Demonstrou medo, pânico e determinação.â
âE ele também é engraçado.â
âAquela parte no restaurante marroquino, comendo o frango com as mãos. Ele é capaz de fazer graça e cinco minutos depois está totalmente sério, dando ordens aos policiais ao redor. Ele muda a sua linguagem corporal, movimentos mais angulares, mais diretos, mais verticais. Coloca hesitação na sua voz, fala mais lentamente.â
Billie se levantou e foi até a cozinha para encher seu copo de vinho. Ela gritou, âQuer uma xÃcara de chá ou alguma outra coisa?â
Mai disse que não queria nada e Billie entrou na sala de estar â a grande tela da TV tinha imagem de Doris Day e Jimmy Stewart congelada em um abraço apaixonado, e o rosto pálido de Mai virou-se para a tela de maneira suplicante, absorvendo todo o talento deles. Billie ficou parada por um instante na soleira da porta. Ela teve um repentino pensamento de que momentos como aqueles eram perfeitos ... e ao mesmo tempo sentiu medo. Sua vida era de uma dependência, como uma daquelas aves que viviam atrás dos elefantes e rinocerontes ... seria um pássaro secretário? Quando ela foi embora à noite, ele dirigiu de volta até um pequeno apartamento em Twickenham, que ficava em cima de uma agência de seguros. Ela subiu as escadas, tomando o cuidado com a saliência dos degraus que poderia rachar sua testa se não se desviasse ao subir, virou-se à esquerda no hall e abriu a terceira porta à direita. Uma cama, uma pia, uma janela guilhotina. Uma cadeira, uma cômoda, um guarda-roupas estreito. Era um quarto escuro nos fundos disfarçado de apartamento, com um acesso compartilhado a um banheiro. Era um inferno, mas o único inferno que ela podia pagar depois que se separou de Dennis. Ela estaria miserável e infeliz se tivesse que voltar à cidade de Bude, apesar do atrativo e revigorante ar do mar.
Então ela temia que tudo isso pudesse terminar â sua vida atual, a amizade e a proximidade. Tudo o que ela tinha era o inferno de Twickenham. Desde que terminou com Dennis ela se preocupava com o fato de nunca mais ter amigos novamente. Ela dizia para si mesma que era uma pessoa muito exigente e muito velha para mudar isso. Ela tinha medo que em algum momento, a domesticidade ao redor dela â entre seus clientes, sua famÃlia, seus amigos â pudessem frustrá-la para sempre. Ela dizia a todos que ela tinha um espÃrito livre, que não queria ser amarrada, que estava muito ocupada se divertindo ... mas as palavras tornavam-se cinzas na sua boca ao mesmo tempo em que as dizia.
Ela tinha percebido há algum tempo que ela tinha medo do compromisso com alguma linha de raciocÃnio ou algum modo de vida ... mas tinha igualmente medo da solidão que isso pudesse lhe causar.
Portanto, sua solução era a de ser amada. Certificar-se de que as pessoas gostassem dela e quisessem a sua companhia, sua amizade. Ela trabalharia para eles, por dinheiro, mas ela também poderia bajulá-los. Ela queria tornar-se insubstituÃvel. Ela seria honesta, contanto que a honestidade não fosse dolorosa e convencional, enquanto não houvesse nenhuma crÃtica subentendida. Ela caminhava em uma linha tênue, para parecer prestativa e carinhosa mas ao mesmo tempo, era capaz de falar francamente quando necessário.
Mai disse, âVocê está vindo? Eu quero ver se eles irão conseguir resgatar a criança.â
âà Hollywood, é claro que irão resgatar a criança. E os bandidos serão punidos.â
âBem diferente da vida real,â disse Mai de forma sarcástica.
Por muitas vezes Billie ficava pensando o que motivava Mai. Ãs vezes ela se comportava como uma criança que tinha sido mantida de castigo por um tempo, ansiosa para sair dos limites de ser Mai Rose. Outras vezes parecia passiva e observadora, como se fosse mais divertido olhar os outros lutarem com a vida e talvez falharem, do que ela própria se arriscar.
Talvez essa disputa pudesse esclarecer qual versão dela mesma fosse a real.