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CAPÍTULO DOIS

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ELA SE MUDOU PARA a estação Docklands Light em Canary Wharf com uma vista bem movimentada, próximo ao condutor. Não tanto um condutor, ela pensou, mas alguém que joga um vídeogame. Olhe para a enorme janela frontal que parece uma tela de plasma de sessenta polegadas e gire o botão que coloca o trem em movimento. Gire de volta para reduzir, e então pressione algo que abra e fecha as portas. Deveria ganhar pagamento extra para evitar que eles fugissem pela porta e ao descer na plataforma, esmagados pelo tédio. Atriz em ascensão num resgate heróico de trem. Salva a vida de 54 passageiros que estavam muito ocupados lendo The Girl with the Squirrel Tattoo (A Garota com a Tatuagem de Esquilo) para perceberem que o trem estava sem condutor...

Ela alugou um apartamento em uma casa Georgiana em Greenwich, cinco minutos da estaçao. A casa em si estava à venda em um dos mais legais escritórios imobiliários locais, por quase um milhão de libras (aproximadamente quatro milhões e duzentos mil reais), a proprietária tinha decidido que a vida no sul da França oferecia mais oportunidades que o sul de Londres para laçar um marido rico. Consequentemente a casa lentamente seguia a lei do caos e desmoronava pelo mau estado de conservação – porta frontal arranhada, janelas sujas, calhas quebradas, aquecedores com chiados de gansos de infantaria. O Volvo de Billie já estava estacionado em uma das vagas da frente, tão grande que estava espremido dentro da vaga como um adulto amontoado numa cama infantil.

Quando ela destrancou a porta do apartamento e entrou, os cachorros correram até ela imediatamente, pulando e empurrando suas pernas, fazendo barulhos ofegantes. Billie veio da cozinha com uma caneca em suas mãos.

Mai disse, ‘Sinto-me como um marido chegando em casa vindo de uma mina de carvão. Deveria estar perguntando se o meu chá está pronto.’

‘Pensei que deveria esperar até você chegar. Guardar as coisas e tudo mais.’

Billie era uma mulher de aproximadamente trinta anos com cabelos ruivos ondulados e um rosto amigável. Ela vestia jeans e um suéter azul escuro: roupa especial para uso externo. Ela caminhava com os cães da Mai desde que ela os pegou, quase um ano atrás, mas era agora o máximo que Mai poderia ter de uma amiga, todos os outros tinham se espalhado como o vento quando sairam da escola. Às vezes ela pensava se não era estranho não precisar de outras pessoas, mas isso era uma característica que ela já reconhecia em si mesma desde os quatorze anos. Ela tinha companhia suficiente no trabalho e não sentia necessidade de companhia em casa.

Ela tirou seu casaco, afagou as costas dos seus dois cachorros, que se entrelaçavam em forma de oito entre suas pernas, balançando o rabo vigorosamente.

‘Desculpe, estou atrasada. Tive um trabalho extra.’

‘Como foi? As coisas no seu primeiro dia.’

Mai mexeu os ombros. Ela nunca gostava de falar sobre seu trabalho. Parecia pretensioso, até mesmo para seus próprios ouvidos.

‘O diretor é um idiota, mas as outras pessoas são legais. Está frio lá fora. Não vá congelar até a morte.’

‘Roupa especial para uma passeadora de cães moderna. Nenhuma chance de congelar.’

‘Quanto tempo vai levar?’

‘Estarei de volta em uma hora e meia, a menos que você queira mais tempo.’

‘Eu posso estar no banho.’

Billie achou as coleiras dos cachorros e as colocou neles. Era o único momento em que eles ficavam parados, pelo menos até travar as coleiras. Então ficavam frenéticos novamente, girando em volta das pernas da Billie como sabonetes até ela mandá-los parar e caminharem até a porta.

Quando Billie saiu, Mai foi até a geladeira e pegou a outra metade de uma lasanha que ela tinha preparado no dia anterior. Ela colocou no microondas por alguns minutos, se sentou no sofá em frente à televisão e colocou no canal de notícias das dezenove horas. Políticos estavam sendo entrevistados em um cenário azul brilhante. Então mostrou uma reportagem filmada no México. Uma reunião esportiva. O mundo monótomo e comum.

Ela terminou a lasanha, tirou seu iPad da bolsa e foi verificar seus e-mails. Recorrentes e-mails de fãs, marketing de feriado, piadas enviadas pela sua mãe, que parecia pensar que ninguém mais acessava o Facebook, então ela precisava reenviar tudo que encontrava lá.

Recebeu uma notificação de mensagem no celular, então ela o tirou do bolso de seu casaco. Seu amigo Stefan: Você quer sair com a gente esta noite? Todo mundo vai pro Dereks.

Ela digitou de volta: Pode ser. Não vou beber. Que horas?

Um momento depois veio a resposta: às 9. Não vá furar.

Ela respondeu: Não se preocupe. Te vejo lá.

Assim que desligou o telephone voltou sua atenção à televisão. Um repórter estava do lado de fora da fachada de vidro dos escritórios do Daily Paper, um jornal sensacionalista que tinha iniciado suas atividades poucos meses antes, financiado por um oligarca russo que procurava por alguma coisa interessante para investir sua fortuna. O que tinha atraído a atenção de Mai era o fato de que o reporter tinha mancionado o nome de ‘Deannah’. Esse era o nome de uma heroína do ultimo livro que Mai havia lido, uma fantasia de uma Jovem Adulta pela qual uma garota de uma origem comum descobriu que ela tinha o poder de viajar dentro de um mundo alternativo, onde ela era conhecida como a filha problemática de um todo-poderoso, porém doente rei.

Ela aumentou o som.

‘Uma ação em que muitos estão dizendo que é a última tentativa deseperada do proprietário russo de aumentar o número de seus leitores, o Daily Paper firmou colaboração com um estúdio britânico a fim de encontrar uma grande estrela para seu próximo filme. O jornal irá fazer uma pesquisa com seus leitores, pedindo a sugestão de uma atriz para fazer o papel de Deannah no filme Deannah’s Quest (A Questão de Deannah), o best-seller da autora reclusa, Beatrice M. Kirwan. A ganhadora da pesquisa fará o papel de Deannah e fechará um contrato de três filmes no valor acima de cinco milhões de libras (mais de vinte milhões e quinhentos mil reais). Os comentáristas da indústria têm sido rápidos em condenar tal decisão arriscada, como assim consideram, dizendo que um papel tão importante deveria ser escolhido por meio de uma audição apropriada. O Daily Paper respondeu que eles estão procurando por uma nova brilhante estrela em seus primeiros passos para o sucesso. Ainda não houve nenhum pronunciamento por parte do estúdio sobre esse assunto.’

As notícias retornaram ao estúdio e Mai desligou a televisão. Houve uma estranha sensação de um buraco em seu estômago. Ela percebeu que não era por causa da lasanha mas porque sentiu um desejo pelo papel de Deannah.

Ela se levantou e foi até o banheiro para tomar banho. Ela adicionou algumas gotas de ylang-ylang com propriedades calmantes, e então ela tirou a roupa e deslizou para dentro da água perfumada, o aroma agridoce a envolvia.

Ela conhecia Deannah: a opinião de que ela não era quem todos pensavam que ela fosse; a sensação de ser uma princesa incompreendida; a habilidade de se transpor facilmente entre o mundo real e o mundo da fantasia ... todas as características que ela reconhecia e compartilhava. Não seria nenhum problema para ela fazer esse papel. Se seu papel como Steffi no Terraço Amberside era de um realismo melancólico, o de Deannah destroçaria sua própria identidade oculta – uma garota engraçada, inteligente e vivaz que bem poucas pessoas tiveram a oportunidade de conhecer.

Deus, ela quer esse papel.

Ela estava secando seu cabelo quando Billie retornou com os cães. Eles entraram alvoroçados em casa, correndo um atrás do outro e correram para o quarto de hóspedes, onde seus brinquedos ficam guardados. Billie foi para a cozinha e preparou seu jantar. Os cães correram assim que ouviram suas tijelas serem colocadas no piso de cerâmica e, momentos depois, Billie veio com um copo de café, fazendo um sinal com a cabeça em direção à cozinha.

‘Você não precisa cozinhar quando chegar em casa. Eu poderia deixar alguma coisa pronta para você. Eu tenho minhas habilidades.’

‘Você está querendo dizer que minha perícia com o microondas não é boa o suficiente? Quero que saiba que eu preparei aquela lasanha com as minhas unhas quebradas.’

Billie sentou-se na ponta do sofa e ficou olhando Mai enxugar vigorosamente seus cabelos. Ela parecia sempre se interessar em observar Mai se arrumar, como se ela estivesse aprendendo segredos profissionais. Para ela, ela parecia ter feito o mínimo de cerimônia – jeans, um modelo desestruturado de blusa e botas pesadas que eram do tipo alfa e ômega do seu guarda-roupas. Seu cabelo estava lavado, passou o secador de cabelos por dez segundos e então, partiu para encontrar seu próprio caminho no mundo.

Mai tinha conseguido uma cópia da edição de Deannah’s Quest. Estava no sofa ao lado de Billie, aberto no meio.

Billie pegou o livro, olhou a sinopse na parte de trás e disse, ‘Você ouviu falar sobre isso, então? Eu imaginei que você pudesse ter se interessado.’

Mai não quis demonstrar que estava tão interessada.

‘Pode ser que eu me interesse. Eu li o livro.’

‘Você seria louca se não se interessasse. Isso foi feito para você.’

‘Por que você diz isso?’

‘Você está na idade certa, você se encaixa com a descrição, você tem mais chances do que qualquer outra pessoa, não concorda?’

‘Eu não tinha pensado nisso.’

Billie levantou as sobrancelhas. ‘Minha mãe costumava dizer que há apenas uma chance em uma boa carreira. Depois disso, você pode reorganizar as palavras sorte e chance em uma única sentença. Obviamente eu ainda estou trabalhando nisso, mas você já está voando alto. Você não quer que eu te conte a história do Dennis de novo, quer?’

O ex-namorado dela tinha se recusado a se promover como o novo James Morrison e no final Billie tinha o desencorajado. Escolher uma carreira era algo pela qual ela tinha começado recentemente a se considerar uma especialista.

Mai disse, ‘Eu tenho que falar com o Eric.’

‘Querida, ele é seu assessor. Ele fará o que você pedir que ele faça. É assim que as coisas funcionam, não é?’

Mai não disse nada e foi para o seu quarto. Ela vestiu um jeans e uma blusa larga, penteou seus cabelos e passou um pouco de maquiagem que ela costuma usar fora do horário de trabalho.

Billie ainda estava no sofa, acariciando a cabeça de um dos cães, Mai não tinha certeza qual deles era. Ele apoiou sua cabeça na coxa de Billie, e ficava olhando fixamente para ela com uma adoração doentia.

Mai disse, ‘De qualquer modo, eu não tenho certeza se quero entrar nessa disputa. Será como um reality show na TV, sem nenhuma classe.’

‘O que preocupa você?’

‘Quem disse que estou preocupada?’

‘Eu sei que você quer isso, mas não está demonstrando nem um pouco de entusiasmo.’

Mai procurou um casaco leve em seu guarda-roupas e encontrou sua bolsa Hermès.

‘Para realmente ser honesta eu não sei se eu tenho tempo. Ficarei presa aos ensaios pelas próximas quatro semanas e depois tem o Tornado – haverá estréias e assim por diante.’

Tornado era um filme que ela tinha terminado de gravar quase um ano atrás, enquanto ainda estava fazendo o Terraço Amberside, e tinha levado muito tempo para o CGI (efeitos especiais) e a trilha sonora ficarem prontos. A abertura da peça tinha sido inteligentemente preparada para coincidir com a abertura do filme – os produtores esperavam ganhar dinheiro com qualquer burburinho que o filme pudesse gerar.

Billie mexeu os ombros mas Mai pôde sentir que ela estava decepcionada: ela estava olhando para fora da janela observando os telhados escuros de Greenwich, como se de repente eles se tornassem interessados no assunto.

‘Diga o que você acha, Billie. Não tenha medo de falar, como se eu fosse morder você.’

‘Eu acho que você vai se arrepender se o filme for um sucesso. Dizem que um diretor arrogante já se inscreveu.’

‘Isso não quer dizer nada. Os produtores poderiam até dizer que Spielberg e Lucas tinham demonstrado interesse, mas isso não significa que eles estariam por trás das câmeras quando começasse a gravação.’

Billie desviou de novo o olhar, numa incursão da crítica, no entanto oblíqua, demonstrando uma certa ofensa. Ela não tinha nenhum envolvimento real com o show-business e não gostava quando Mai – ou qualquer pessoa – deixasse claro que os pensamentos e as ideias dela eram essencialmente de uma amadora.

Mai não queria ferir seus sentimentos. ‘Eu vou pensar sobre isso,’ disse. ‘Eu só preciso descobrir como fazer.’

Billie sorriu. ‘Eu sei que você seria ótima.’

‘Eu tenho que lutar com essa maldita peça primeiro. O diretor já me odeia e continua falando sobre o ‘contrato social’ que Chekhov está tentando criar com o público. Estou tentando achar sentido para a personagem.’

‘Querida, faça o que você sempre faz – utilize o sentimento humano. Não importa o contrato social, todos aqueles russos vitorianos eram humanos, não eram?’

‘Quando eu tiver alguma evidência, eu vou te contar.’

O taxi a levou diretamente para a porta do clube, de vez em quando o motorista olhava para ela, mas foi educado e agradeceu quando ela deixou a gorjeta.

O clube estava discretamente situado em um armazém reformado não muito longe de Canary Wharf, tinha concessão exclusiva para o comércio, com um pequeno pórtico marrom em forma de meia concha sobre a porta. Derek estava atrás do bar com sua habitual jaqueta branca e camisa preta, dando instruções ao novo bartender sobre como misturar um de seus coquetéis. Há uma alta rotatividade no clube, em grande parte porque Derek é um tirano quando as portas se fecham, no entanto, agradável quando está com seus clientes. Ele olhou para cima, sorriu abertamente para Mai e fez um sinal com a cabeça apontando para a parte de trás do salão.

Embora houvesse uma caverna no andar de baixo que abrigava o espaço do DJ, Mai sabia que a maioria das pessoas que ela conhecia estava reunida no fundo do salão. Era um local mais tranquilo e mais fácil para fofocar. O salão estava sutilmente iluminado como a câmara escura de um fotógrafo, facilitando evitar pessoas simplesmente por ficar de costas e ignorar a presença deles. Assim que ela passou pela porta, dezenas de pares de olhos brilhantes se voltaram para ela, da mesma forma que uma alcateia de leões que tinha acabado de avistar uma gazela.

Stefan a notou imediatamente, o rosto dele estava iluminado sob seus cabelos loiros e curtos. Ele veio até ela, pegou-a pelo braço e a conduziu para uma mesa vazia, uma forma solícita e comicamente exagerada. Ele vestia uma camisa justa cinza da Pineapple Studios e uma calça preta de sarja e estava com um leve brilho em sua pele, como se ele estivesse trabalhando. Eles se sentaram nas cadeiras de couro que Derek tinha garimpado de um falido clube de cavalheiros.

Stefan se inclinava intencionalmente.

‘Agora, minha jovem, conte-me tudo. Como foi seu primeiro dia?’

‘Eu tenho que te contar?’

‘Você não me negaria a possibilidade de fofocar, negaria? Há alguma coisa que deva saber?’

‘E eu que achava que você estava interessado em mim ... ‘

Os olhos de Stefan se arregalaram ainda mais. ‘Oh, minha querida, eu estou. Eu realmente estou. Mas você precisa estabelecer algumas prioridades. Não vou negar a possibilidade de um romance. Agora me fale, como foi realmente? Assustador ou prazeroso?’

‘Eu não conheço mais ninguém que usaria a palavra prazeroso numa conversa.’

Stefan abriu os braços como para dizer, Esse é o milagre que eu faço.

Mai disse, ‘Eles pararam de servir bebidas aqui?’

‘Hmm ... será que estou percebendo alguma relutância em falar sobre hoje? Foi ruim?’

‘Vamos dizer que o Pedro não escolheria ser muito diplomático. As perspectivas de carreira dele são limitadas.’

‘Ele foi grosso?’

‘Eu acho que ele preferia dizer que foi honesto.’

‘Bem, minha opinião é ... dane-se.’

‘Estou feliz que você demonstrou o que pensa.’

Stefan deu um sorriso forçado. ‘Deixe-me pegar um drink para te consolar. O de sempre?’

‘Por favor. Não com muito vinho branco.’

Stefan foi até o bar para buscar o spritzer que ela tinha escolhido como sua bebida preferida. Agora que os olhos dela estavam aclimatados, ela olhou ao redor para as pessoas no salão – eles aparentavam na maioria vinte ou trinta anos, penteados deslumbrantes, sapatos brilhantes, incluindo seus dentes. Eram da mídia ou outro tipo – televisão, revista, moda. Ela conhecia muitos deles, ou pelo menos sabia o que faziam: Stefan era um experiente guia sobre quem era quem na mídia em Londres. Ele era um ano mais velho que ela e tinha ido direto da escola na área rural de Northampton para o centro de Londres, primeiro para estudar dança e depois para praticá-la. Ele tinha acabado de conseguir seu primeiro trabalho em uma companhia de dança contemporânea. Ela estava orgulhosa dele.

Ele voltou e sentou-se próximo à ela, direcionando sua cadeira para dentro do salão e ficou como se estivesse assistindo à televisão.

‘Estão todos bem esta noite, bom para uma segunda-feira. Veja aquele garoto com bigode falhado – você o reconhece?’

‘Não, nem o bigode.’

‘Ganhou a semifinal da Generation Ex na semana passada. Veio com aquela garota que está no bar, com os braços finos e com uma blusa azul do Exército da Salvação. Logo ela será uma ex, eu acho.’

‘Como você sabe essas coisas? Recebe algum e-mail que eu não recebo?’

‘Uma hora de manhã fazendo ginástica – sintonizo nas estações certas e o mundo todo está lá. Além de um fluxo de informações do aplicativo MailOnline.’

‘Linha direta com o Inferno.’

‘Eu sei, o que um viciado em fofoca poderia fazer? Então me diga, como é o Alfie?’

‘Vou dizer quando eu puder vê-lo.’

Stefan adquiriu uma feição simpática e se virou para ela.

‘Oh querida.’

‘Ensaios – piores que os meus. Parece que isso está acontecendo há meses. O primeiro show deles será esta semana.’

‘Avise-me e eu irei com você. Você pode precisar de uma desculpa se eles falharem. Só estou dizendo.’

‘Eu não me importaria mas ele não está mantendo contato. Você sabe, meu primeiro dia de ensaio. Um pouco de interesse não seria nada mal.’

‘Ele é um garoto ocupado.’

‘Não o defenda, Stefan. Você se diverte muito com a situação para ser um mediador.’

‘Você tem certeza que não estudou em uma universidade? Grandes palavras.’

‘A universidade da vida, meu filho. Um estúdio de televisão. Ou você aprende rápido ou afunda. Você cresce na velocidade da luz.’

‘E se torna forte como velhas botas.’

Mai sorriu pela primeira vez. Stefan sabia que descrevê-la uma pessoa forte ativaria sua ironia. Ele tinha recebido muitas ligações dela, tarde da noite nos últimos dois anos, para acreditar que ela tivesse qualquer traço de resistência.

Ele disse, ‘Então você está bem, é sério?’

‘Eu vou ficar.’

‘Não basta, querida. Estou exigindo demais de mim mesmo porque eu quero fazer o que estou fazendo. Não gostaria de pensar que você está apenas se divertindo com isso. Não é o nosso caso. É questão de querer ou não fazer isso. Há muitas pessoas que estarão na mesma situação.’

‘Meu Deus, Stefan, eu estou bem, é sério. Foi apenas um primeiro dia difícil. Se eu não pudesse reclamar com você, com que meu reclamaria? Há alguém a quem eu posso contar?’

Stefan olhou-a de forma severa, e então piscou. ‘Só para confirmar. Você é boa, não se subestime.’

Mai deu um tapa em seu braço. ‘Sendo assim, vou ao banheiro.’

Ela se levantou e se dirigiu até o fundo do lounge lotado. O próprio ar parecia brilhar com o resplendor de homens e mulheres jovens, que estavam sentados heroicamente em frente ao bar ou em uma intimidade forçada às mesas enclausuradas. Ela sentiu o ruído do andar de baixo e o estrondo da música, como uma brisa quente, quando ela passava pela porta de saída de incêndio.

Quando ela estava empurrando a porta do banheiro, alguém chamou-a pelo nome. Ela reconheceu a voz e suspirou sobriamente antes de se virar.

Helena Cross estava sentada com dois jovens à uma mesa baixa e a estava olhando com um sorriso falso; ela demonstrava toda a sinceridade de um apresentador de TV, sem o charme da discrição. Esta noite ela vestia um vestido curto azul claro e um decote que deixava seus seios inchados voltados para frente e convidativos, como se tivessem sido empurrados por mãos bobas.

Ela disse, ‘Mai, que legal. Ouvi dizer que você iniciou os ensaios.’ Ela manteve aquele sorriso plastificado o tempo suficiente para preparar Mai para um desafio. ‘E então, como foi? Disseram que seu diretor é um pequeno Hitler.’

‘Helena – bom ver você.’ Ela olhou para cada homem ao lado dela: jovens pálidos com cabelos escuros cheios de produtos. ‘Quem são esses garotos?’

Helena era alguns anos mais velha que Mai e entendeu a crítica. Ela preferiu ignorar.

‘Eles são bons sujeitos.’ Ela olhou um e depois o outro e então se levantaram para apertar as mãos de Mai, como se Helena tivesse enviado uma mensagem telepática.

‘Jasper.’

‘Tarquin.’

Mai disse, ‘Uau, ainda colocam esse tipo de nome em alguém?’

Eles balançaram a cabeça de forma quase idênctica. Eles iriam preferir serem chamados de Harry ou Max, ou até mesmo Jude.

Helena disse, ‘Não consigo fugir deles. Posso ir a qualquer lugar de forma incógnita e eles aparecem, como Paparazzi sem câmeras. Eu acho que eles devem estar pagando alguém para me seguir. Eles descobrem onde estou indo, então eles lavam seus cabelos, escovam seus dentes e me encurralam como uma presa ... ‘ – ela sendo caçada por uma foto – ‘... Bambi. Quem me dera poder dizer que não gosto de atenção, mas nem sempre isso é possível, não é?’

‘Tenho certeza que eles são muito bem comportados.’ Ela olhou para eles. ‘Não são?’

Ambos deram um sorriso sem graça, devotos como vigários que permanecem inofensivos. Um único ataque de ofensa significaria banimento total da mesa de uma celebridade – a menos que fosse pelo dono da mesa.

Helena disse efusivamente, ‘Então, você soube da história de Deannah. É claro que você vai participar.’

‘Você vai?’

‘Os primeiros votos são para que eu esteja lá. Eu não queria, mas Finn me convenceu. Você sabe que ele é um pássaro difícil. Ele está mais para um pequeno papagaio cruel no meu ombro do que para um assessor. Alguém me disse que já sou a favorita. Muito chique!’

‘Que bom. Isso deve ser muito bom.’

‘Oh, é sim muito bom. Não posso imaginar como será essa competição – você pode?’

Ela saiu mantendo seu sorriso brilhante por um segundo a mais. Ela está preocupada, Mai pensou. Ela não quer que eu participe.

Mai tinha tirado de Helena o papel de Steffi no Terraço Amberside dois anos antes, e ela nunca mais esqueceu, nem mesmo quando se destacou diante dos olhos do público como uma celebridade, por ter atuado de tempos em tempos em musicais no Teatro West End e dançado em programas de TV. Mai não era de se vangloriar, mas no caso de Helena, ela estava perfeitamente disposta a abrir uma exceção.

Ela disse, ‘Tenho que ir. A natureza me chama.’

‘Então você não vai disputar por Deannah?’

Mai deu um sorriso falso. ‘Isso seria divulgado.’

‘Porque dizem que no Daily Paper eles estão torcendo por mim. O russo, que é o proprietário, aparentemente gosta de mim. A competição é apenas uma maneira de obter alguma publicidade, mas ele quer que eu ganhe.’

Assim que ela empurrou a porta e entrou no banheiro feminino da caverna, iluminado como a ponte da Nave Estelar Enterprise, Mai pensou: Ela realmente não deveria ter me dito aquilo. Ela já tinha decidido que não iria se envolver nessa competição. Ela tinha muito que fazer nas próximas quarto semanas para perder tempo em outro lugar. Mas alguma coisa tinha ascendido o seu espírito competidor: talvez por ter pensado que o papel estaria sendo dirigido para alguém que não o entendia. Atriz em ascensão toma importante decisão no banheiro de uma casa noturna. Foi um daqueles momentos decisivos que deixam uma pequena marca em sua consciência e que ela sabia que nunca seria capaz de apagá-la ou esquecê-la, como um entalhe em um armário Chipperfield.

Quando ela saiu do banheiro, Helena ainda estava sentada àquela mesa, porém sozinha. O sorriso já não mais existia e a atmosfera havia mudado. Mai percebeu que ela tinha dispensado os garotos para que eles não testemunhassem o que iria acontecer. Helena levantou-se da sua cadeira e chegou tão perto de Mai que ela pôde ver onde sua maquiagem tinha manchado causando-lhe novas sardas. Tão perto, rosto largo, olhos amplamente espaçados e a boca grande – tão impressionante em fotos profissionais – agora parecia feia e nojenta. Um alerta selvagem vinha de dentro de suas pupilas escuras.

‘Eu sei o que você está fazendo,’ disse ela a Mai. ‘Eu já vi você fazer isso antes e eu não vou deixar que isso se repita comigo novamente.’

Mai sentiu-se inferior, diminuída.

‘Estou aqui para encontrar um amigo. Desculpe-me se você não pode lidar com isso.’

‘Ha ha, sempre cruelmente inteligente e espirituosa. Nunca se perde com as palavras, não é mesmo, espertinha? Eu tive que lidar com pessoas assim como você a minha vida toda e eu não vou perder novamente. Eu vou conseguir o papel de Deannah e vou te derrubar.’

‘Eu acho que você deveria parar de ir à academia de ginástica, isso está lhe causando alucinações.’

‘Você está sendo legal agora porque é isso o que você sempre faz. Sempre no controle, com aquele sorriso de garotinha, não entra e nem sai do jogo. Eu conheço os seus métodos. Você quer que as pessoas venham até você ao invés de ir você mesma, mas não, você não pode demonstrar que realmente está querendo alguma coisa, não é? Assim as coisas ficam fáceis para você, não é mesmo? Fingindo tranquilidade.’

‘É você quem está dizendo isso. Está sendo repetitiva. Posso passar?’

‘Lembre-se, Mai, você não irá ganhar desta vez. Você conseguiu da última vez, filha de Geraldine Rose, fracassada estrela de filme, mas desta vez eu tenho algumas pessoas do meu lado. Agora é a minha vez, não ouse esquecer-se disso.’

Mai estava evitando olhar para ela e estava sendo empurrada para trás em direção à porta do banheiro feminino. Ela agora ergueu-se ereta, olhou diretamente nos olhos de Helena e inclinou-se para a frente para que a outra mulher tivesse que passar por trás dela.

‘Para sua informação,’ disse Mai, saboreando o som vindo de sua boca até mesmo a ponto de repetir as palavras, e repetindo disse, ‘Para sua informação, eu não iria entrar no jogo. Eu iria dizer, Obrigada, mas não, se eles tivessem me oferecido, mas agora, sou grata a você. Obrigada por ajudar-me a decidir. O jogo começou, sua vadia.’

Ela se voltou para trás, sabendo que Helena a estava olhando fixamente pelas costas e imaginando que ela estivesse com aquela boca larga ainda mais aberta – ela nunca ficava bem assim.

Ela ascenou para Stefan enquanto passava por ele e seguia em direção a Patty Leading, editora de entretenimento do Daily Paper. Ela segurava o que parecia ser um coquetel Bloody Mary em uma de suas finas mãos, e uma câmera Canon de alta definição na outra. O corpo dela era de uma magreza profunda de alguém que se punia com exercícios físicos ao invés de fazer dieta. Ela estava conversando com um jovem rapaz com cabelos ruivos em cascata, que Mai pensou que era um membro ‘rebelde’ de uma nova banda formada por garotos. Ele vestia um agasalho de treino vermelho brilhante, em público.

Ela pegou Patty pelo braço e puxou-a para o lado.

‘Você pode me garantir que a votação da enquete para o papel de Deannah será justa?’

Patty pareceu confusa, desconfortável, porque as rugas ao redor dos seus olhos de repente revelaram uma idade que o resto do seu espírito tentava fortemente esconder.

‘Helena falou com você, não é, querida? Alguém do trabalho deve ter contado a ela alguma coisa em que acreditou. Valentin não seria capaz de discernir Helena Cross de Helena Bonham Carter. Exceto se houvesse a probabilidade de ele ter assistido ao Planeta dos Macacos.’

‘Como funciona isso? Eu preciso fazer formalmente a minha inscrição para o papel em algum lugar, ou algo assim?’

‘Não, não é necessário nada disso. Nós queremos que as pessoas votem por quem elas querem, embora estejamos dando algumas sugestões, é claro. Isso foi anunciado ontem na nossa edição de Domingo e o primeiro dia de votação foi hoje, e você já perdeu um dia, sua tonta.’

‘Por que tonta?’

‘Você já poderia ter iniciado a sua campanha com fotos e assim por diante.’

‘Eu estava trabalhando. Você sabe como é o dia de trabalho.’

Patty sorriu e tomou um gole do seu drink. ‘Estamos em busca de uma pequena lista com cinco nomes, por isso pedimos para que as pessoas votem dentro de poucas semanas.’ Ela olhou Mai mais de perto. ‘Você tem certeza que quer participar?’

‘Por que? Não é genuíno e confiável?’

‘Claro que sim. Os produtores disseram que utilizarão o resultado da enquete para lançar Deannah, por aclamação popular ou algo desse tipo. Eu apenas acho que você é muito inteligente para isso. Há quanto tempo nós nos conhecemos?’

‘Desde que você estava na Hello! Umas duas semanas depois que eu comecei na TV.’

‘Exatamente, e em todo esse tempo, quantas vezes você veio a mim dessa forma para tentar se promover? Não responda, eu lhe direi. Nenhuma vez, precisamente. Você nunca foi atrás de holofotes. Por que iria agora?’

Mai não disse nada, sua mente ainda estava se recuperando do veneno lançado por Helena. Ela percebeu que estava apertando cada vez mais o braço de Patty. Então ela o soltou fazendo-a baixar sua mão.

Ela disse, ‘Talvez seja a hora de ir atrás de holofotes. Desde que eu comecei na TV, as pessoas diziam que isso um dia iria acontecer.’

Patty mostrou-se incrédula.

‘Você não acredita nisso.’ Ela levantou sua camera e a direcionou para o rosto de Mai. ‘Posso tirar uma foto sua, momentos depois de ter tomado uma decisão assim tão importante?’

‘Não!’

Ambas deram risada.

Patty disse, ‘Então me diga por que você está fazendo isso? Por que quer ser Deannah?’

Mai pensou por um instante.

‘Eu me sinto como se eu já estivesse atuando nesse papel. E eu não posso imaginar ninguém mais além de mim para fazer isso.’

‘Isso tudo parece uma grande bobagem. Nem parece você.’

‘Eu sei. Mas há uma conexão entre mim e Deannah que nem eu compreendo. Senti isso quando estava lendo o livro e nunca mais esqueci. Tenho apenas vinte anos e parece que nasci para interpretar esse papel. Isso é muito estranho, não é?’

‘Além de estranho é também assustador. Não leve isso tão a sério, Mai. Isso é apenas a indústria do entretenimento, não é a vida.’

‘Aí é que você se engana.’

A Atriz

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